Leo,
Eu sempre imagino que eu posso sair na rua e esbarrar com você. Acaba que eu nunca o encontro, afinal São Paulo é enorme. E hoje nessa sexta feira nublada e eu lá, encostada na parede do “espaço Unibanco”, vendo as pessoas passarem pela Augusta. Eu ali no frio dessa sexta nublada, esperando dar o horário do filme, vejo um rapaz passando e ele também me vê. Ele me reconhece e para.
Como sempre ele me dá um abraço bem caloroso, que ele dá sempre em todo mundo. Ele esboça um meio sorriso e eu dou um sorriso de uma menininha que acaba de ganhar uma boneca linda que ela sonhava.
Ele mal para e só pergunta:
-Você vai ao cinema?
Pergunta assim só para preencher uma fala, ouvir a resposta afirmativa que ele já sabe e poder continuar seu caminho e cinco ou dois minutos depois se esquecer de ter me visto.
Eu ainda tento falar algo mais, acontece que ele nem ouve só diz já subindo a Augusta:
-Bom te ver.
Imaginei quer dizer sonhei que ele pudesse ter parado naquele dia frio e ter se convidado para me acompanhar no filme. Depois iríamos jantar, tomaríamos umas cervejas e ele confessaria que sempre me amou. Ou que sempre me achou linda. Falaria que meus cabelos curtos ficaram sensacionais.
E já de noite, com todo aquele movimento de sexta à noite na Rua Augusta, aqueles jovens indo e vindo dos bares, nas boates, nos cafés e nos teatros, ele de repente me beija. E os nossos dois corpos no vento frio se aquecem. Ele me olha nos olhos e diz:
-Você é a mulher mais linda que existe.
Não preciso dizer quem era esse rapaz, você estava lá Leo. E essa sexta seria sublime. Mas você não parou e eu assisti ao filme sozinha, um casal falava atrás de mim, um outro homem se levantou para atender ao celular e o filme me deu um resto de contentamento. Uma saída da realidade que é a função de um filme ou das drogas.
Eu sei que um dia eu vou te esquecer. Que você nunca mais vai querer saber de mim. Eu vi hoje nos seus olhos que eu sou só uma conhecida. Que eu sou um filme que você já viu. Um filme que você não quer rever. Um filme que você não quer participar.
Mas você Leo é o filme da minha vida! Eu nunca amei ninguém assim. E tenho certeza que eu jamais amarei. Você é perfeito.
E esse seu jeito correto, esse seu caráter honesto me faz só ficar mais apaixonada. Somado a este seu jeitinho único de andar, com esses cílios e esses cabelos despenteados. Nunca alguém me provocou tanto.
Agora vou continuar saindo pela Augusta procurando entre os rapazes aquele que me faz tremer e terei fé, afinal milagres acontecem todos os dias. Você mesmo é um milagre.
P S: Eu recomendo o filme apesar de tudo. E você? Continua indo muito ao teatro? Está escrevendo? Adoro os seus textos. Beijos.
Não leitora eu nunca recebi um e-mail desses. Aliás, eu nunca recebo e-mails nem parecidos com este. E lamentavelmente eu já os escrevi as centenas. Mas quem sabe leitora se numa dessas sextas frias nós não nos cruzamos por aí nesta cidade de São Paulo. É quando a gente menos espera. Não é assim nos filmes?