sábado, 20 de novembro de 2010

Capítulo 4- Os irmãos Chavez

Advertência: O leitor deve antes ler os capítulos anteriores a esse.

O beijo daquela noite de luar fora diferente. Já no quarto os dois irmãos tardaram a pegar no sono.


Gabriela virou o rosto para a parede e Cris ficou a mirar o contorno do seu corpo que era desenhado pela luz da lua no lençol branco.

— Boa noite, Gabi!

— Boa! Mas podia ser melhor.

Esta última frase foi dita bem baixinha. Dormiram.

Eram onze da manhã quando o estômago dos dois irmãos os despertou. Lucrécia deveria ter uns dois quilômetros, mas ficava praticamente selvagem, fora um ponto onde todos os turistas e vendedores locais se concentravam. A irmã não se conteve e soltou um suspiro após passarem uma pequena duna e finalmente encararem o verde mar da mesma cor dos seus olhos. Metade da freqüência diária já estava lá.

A banda já era conhecida no pedaço e se instalavam com mais uns quarenta agora conhecidos.

De repente chegou Caio, com olhos ainda meio fechados e a mão em cima, imitando um boné para se proteger da claridade. Não estava de bom humor e completamente estragado da noite passada que fora como ele disse um trash! Mesmo assim foi até o carrinho do Cecílio e pediu uma batida de coco com leite condensado e vodca. Gabriela o seguiu e sentou ao seu lado com uma água de coco. Acabaram indo os dois andar na praia e quando atingiram um local mais reservado, decidiram nadar e no meio das ondas se beijaram e estava tudo indo bem até Gabriela resolver ir embora depois de Caio tentar arrancar seu biquini.

De volta ao guarda-sol não viu ninguém, mas todos a chamavam:

— Vem Gabriela!

— Vem jogar.

Uma pelada havia se iniciado, a qual foi dividida em dois times: o masculino versus o feminino. Essa partida não foi a primeira da vida de Gabriela, mas a segunda, por isso logo na primeira dividida se desequilibrou e veio de encontro à areia fofa. O jogo não parou e a jogada prosseguiu em gol, um garoto veio, agachou-se em gesto de vocação de médico humanista e lhe tocou levemente o pé e com um sorrido perguntou:

— Tudo bem com você, Gabriela?

Seu nome era Ícaro e tinha os cabelos pretos cacheados e a pela branca. A menina agradeceu e sem perder tempo voltou em campo e depois de quinze minutos fez até um gol. Suspeito mas fez, depois de driblar Cris e Pedro.

Foram todos se refrescar no mar e ao final ninguém sabia ao certo quem havia vencido. Ícaro nunca vira pessoa tão maravilhosa e pensou que nunca mais a veria, por isso se empenhou em guardar o retrato de Gabi em sua mente. Como somos impotentes ao destino. E quão errado estava o jovem artista de circo sobre sua sorte.

Estavam agora todos em um pátio que lembrava um cenário de teatro. Janelas de vários tamanhos e formatos, escadas que pareciam ir para os lados e não para cima, varandas ou terraços que sugeriam diálogos amorosos e uma mesa colocada com comida ao centro. A quarta parede com um muro preenchido com árvores em sua frente bem como em suas costas, em alguma propriedade vizinha ou parque.

“Tapete Voador”, esse era o nome da banda de Cris, que se juntara a uma segunda voz local, um regueiro negro de nome Ronaldo, que vestia uma camisa verde camuflada de exército e os cabelos grandes e pontudos para cima e era acompanhado por três violões e Caio.

— Tem bolo. Se você quiser.

— Não, obrigado!

— Cerveja na geladeira.

— Não, obrigado!

— Maconha.

— Ah, isso eu quero.

Tereza, a menina de Ribeirão Preto, tentara ganhar a confiança de Gabriela. Há um mês estava apaixonada por Cris.

— Você tem mais dois irmãos, não é?

— É. E você?

— Eu tenho duas irmãs. Aquela ali sentada, tomando cerveja, viu?

— Vi. É mesmo a sua cara. Quem é a mais velha?

Era Tereza, a outra, a mais nova de todas, era muito jovem e havia ficado em Ribeirão Preto.

Tereza quis saber se os outros Chavez eram também parecidos com ela e Cris, ao que Gabriela respondeu que não e que ela amava mais Cris do que aos outros.

Disse ainda que tinha uma relação muito complicada com Duda e que com certeza eles nunca se dariam bem.

— É um boy babaca. Dirige igual um imbecil, não respeitas as outras vidas, briga no trânsito e quer dar porrada em todo mundo. É um bêbado irresponsável, mau caráter com todas as namoradas... Também bem feito para elas, pois ele só namora putas.

Já o Gui é diferente, é um cavalheiro, é culto, calmo e eu tenho boas conversas com ele. Só que nem tudo ele me conta, ele me esconde muita coisa.

As duas continuaram a conversa, Tereza mais ouvia que falava. A banda fez um intervalo e depois das palmas muitos garotos, inclusive Caio vieram assediar Gabriela. Ela ainda permaneceu sentada e pode ver Cris se dirigindo para o interior da casa com a mão em volta do ombro de Tereza.

Já lá dentro nenhum dos dois tinha pressa em tirar as roupas; Tereza estava com uma camisa justa e tinha enormes seios naturais.

Cris sentou na cama e Tereza em seu colo. Enquanto conversavam se beijavam um pouco, como em um namoro se faz.

— O que você e minha irmã estavam conversando? Falavam sobre mim?

— Que convencimento! Quem disse que o assunto era você?

— E quem mais poderia ser?

— O Caio, por exemplo.

Dizendo isso Tereza partiu para cima de Cris e os dois deitaram na cama, mas ele imediatamente parou e quis saber o que e como Caio havia entrado na história. Tereza já sem camisa nem sutiã em cima de Cris não queria mais namoro e sim sexo.

Mas como Cris não tomou iniciativa apesar de se surpreender com os seios de Tereza que eram mais belos do que supunha a sua vã filosofia. Os bicos eram de um tamanho proporcional, avantajados e de um brilho intenso. Tereza é que uns chamam de cavala, um mulherão, com umas costas lindas, um cabelo liso, uma guerreira germânica, o sonho de qualquer bezerro...

— O que é que Caio tem com Gabriela?

— Olha se for para você desistir de qualquer coisa hoje à noite eu me arrependo agora de ter mencionado o nome de seu amigo. É só um achismo meu, mas como tem muito irmão que é cego...

— Mas Caio é feinho!

— Também não é assim; ele tem seu charme, não é príncipe como tu, mas também não chega a ser um bufão!

Tereza veio e mordeu o lábio inferior de Cris, depois lhe deu um beijo e o puxou de volta para rolarem na cama.

Ele levantou e foi olhar pela fresta da janela e viu Gabi na ponta oposta de onde os músicos estavam, sentada, bolando um baseado, tranqüila, naquele festivo pátio. Tereza, deitada de costas, apoiada em seus cotovelos, observava a paranóia do irmão ciumento.

— Deixa a menina se divertir, eu não achei que você fosse do tipo irmão conservador machista!

— Não é nada disso...

— Vem cá, relaxa!

Ela calou a boca de Cris e o puxou de volta para a cama, mas foi um sobe não sobe que terminou por não subir mesmo.

A menina lhe fazia sexo oral e quando ele colocava o preservativo novamente desanimava.

Cris largou Tereza olhando o teto, se vestiu, desceu as escadas, saiu ao pátio e pediu que Caio, que a essas alturas estava de mãos dadas com Gabriela, fosse comprar jornais, o que ele entendeu e saiu fora. Convidou sua irmã para...

— Vamos transar?

Ela adorou, riu e disse:

— Cris, a gente é irmão.

— Como que você foi ficar com Caio, ele tem as pernas peludas e é sujo, tem bafo e é feinho.

— Não sei, sou louca!

— Então é verdade, e eu estava jogando verde.

— E eu te gozando.

— Tá, mas o convite ainda está de pé.

A irmã, fingindo levar na brincadeira, aceitou e disse não ter pressa, afinal estavam os dois na mesma suíte. E foram dançar forró.

Mas não pensem vocês que Tereza perdeu a noite. Jaime, o baterista, entrou por engano no quarto dela, do mesmo jeito que por engano Cabral veio parar ali no Monte Pasqual. E que noite tiveram!

Os Irmãos Chavez- Capítulo 3

Advertência: Se o leitor ainda não leu o capitulo um e dois, textos anteriores a esse, não entenderá o capítulo 3. Pois trata-se de uma continuação.

 O bar ficava próximo da praça onde uma catedral barroca era iluminada. Um quarteirão cinqüenta por cento rural e metade urbano continha os três bares de Lucrécia; a cor predominante eram o branco e o amarelo da nave e torres do templo. Já o “Beco do Sucesso” era edificado em madeira. O vento penetrava com facilidade tanto quanto os clientes, que circulavam também pelos outros dois botecos.


Era meia-noite e o lugar já estava cheio. Em uma das mesas Gabriela em um vestidinho de estampas vivas observava Caio conversando com uma garota no balcão, enquanto bebia whisky com Cris e os outros.

Ela notou que a menina pouco olhava para Caio e estava começando a dar sinais de retirada. Foi então que Gabriela perguntou a si mesma: “Como eu fui transar com esse feinho e baixinho?” “Se com ele tinha sido bom com outro poderia ser até melhor.” Olhou então em volta, mas não viu ninguém que a interessasse, e acabou dando de cara com Cris que vestia uma camiseta preta. Começou a tocar um CD dos Rolling Stones. Cris era realmente lindo, mas que droga! Além de lindo ele tinha um sorriso que com certeza desconcertaria qualquer mulher casada.

— Cris, se você precisar eu trouxe camisinha!

— Para cima de mim, sua punkinha virgem!

— Nem de signo, Cris!

— Então passa para cá que eu vou precisar.

Levantou-se e foi atrás de uma das muitas neo-hippies do lugar.

Caio agora a olhava, mas ela já ocupara os olhos tentando ver aonde o irmão fora.

— Pronto, o Cris deu uma folga! — disse Caio, que viera sentar ao seu lado. Mas ela nem lhe escutou e o álcool agora a fazia rir à toa só de olhar para Guga e Jaime. (É muito nome eu sei).

— Vamos dar role? — propôs Pedro que dizia ter arrumado um beque. Foram.

Subiram para uma colina mais afastada, não para se esconderem com medo de serem pegos por uma autoridade local, mas sim para ficarem mais à vontade e terem uma vista do mar. Era lua cheia e duas garotas vieram se juntar. A brisa morna levantava o cabelo de todos que em formação de roda passavam o baseado de mão em mão, um ou outro apesar da boca seca introduzia com o dedo umas porções de saliva para a seda não descolar. Quando Cris ensinou essa manha para Gabriela ela achou um tanto não higiênica, mas agora nem se dava conta e também o fazia automaticamente.

Caio puxou Gabriela pelo braço até a praia; ficou nítido ao vocalista apesar de estar “doidão” e um tanto alcoolizado, que a menina não estava mais apaixonada e isso reverteu o jogo, ainda mais depois de Gabriela se esquivar das tentativas do vilão em tentar roubar-lhes alguns beijos.

— Você ficou mais doce agora à noite. Disse a mocinha.

— Que calcinha mais linda essa sua Gabi, que você abre as perninhas... Sem querer eu vi lá no bar, com esse vestidinho.

— É me enganei. Você não ta mais doce e sim amargo.

— E você não está mais a fim de mim, não é?

De repente Caio largou seu braço e se afastou. Mal Gabriela teve tempo de virar as costas e Cris surgiu com uma menina.

— Essa é minha irmã e esse é o meu amigo Caio que você conhece bem, ele está tomando conta dela para que nenhum malandro se aproveite da sua falta de experiência.

— Nossa você é linda! — cumprimentou a menina.

—E malandra! — concluiu Caio.

— Ai, como vocês dois estão chatinhos, ninguém precisa tomar conta de mim! Já de vocês...

Cris contou que sua amiga, se é que era só amiga, daria uma festa no dia seguinte na casa onde ela e outras meninas de Ribeirão Preto estavam.

— Vem, vamos dançar forró. — propôs Cris. A irmã aceitou, então os dois desceram a colina em direção ao bar, deixando a menina e Caio atrás, ao luar.

Dançaram algumas músicas e todos ficaram admirados de ver um casal tão apaixonado, e eram lindos diziam alguns. “Tão bonitos que até parecem irmãos.”

Gabriela quis ir dormir e Cris a levou de volta para a pousada. Os dois estavam altos por causa do whisky, mas o sistema neurológico dos dois ainda estava bem coordenado, ainda mais depois da dança. A irmã quis saber se Cris estava beijando a menina de Ribeirão Preto ao que ele bobamente respondeu ser só dela. Estavam agora na porta do chalé que estava trancado.

— Cadê as chaves, Gabriela?

— Onde está Cris, Chaves?

Cris tirou um molho de chaves que caiu no chão. Os dois se abaixaram para pegá-lo e um rápido beijo na boca foi trocado, mas logo interrompido. Cris se apressou em abrir a porta e os dois não se encararam mais. Não fora um beijo de irmãos como já acontecera sempre na presença de testemunhas, apenas o chamado selinho.