segunda-feira, 18 de abril de 2011

Despedida de solteira.


Eu estava numa mesa de bar na Vila Madalena ela chegou e sentou.
 “Lembra de mim?” Ela perguntou sorrindo.
 Claro que eu me lembrava, uns cinco meses antes eu tinha emprestado dinheiro para ela pagar uma conta numa balada. Ela e uma amiga, a mesma que logo veio nos acompanhar.
 Agora éramos quatro na mesa. Eu, ela, sua amiga e Flávio.
 “Posso te pagar uma cerveja?”
 “Uma cachaça. Pode sim, claro.”
 "Então você se lembra ou não?" 
 Aquela boyzinha achava que eu ia esquecer a cara de pau dela. Detesto povo que passa o dia sério em algum escritório, faculdade, estágio e a noite vai para um bar bancar o transgressor. Dar o golpe na balada? Sair sem pagar, roubar um copo, nossa como eu estou chato e acho que é pessoal com essa menina.
 “Lembro. Você se chama Paula, estudou na GV, trabalha num banco, e tem propensão para alcoolismo.”
 “E você continua escrevendo teatro?” 
 “Eu não gosto de você, sabia?”
 Quando eu digo isto para uma menina muito bonita, pode ter certeza que eu estou mentindo. E era este o caso, eu estava louco de desejo por ela. Eu não gostava do que ela era, mas dela, eu adorava. Aquela pele morena, cabelos compridos, e uma boca carnuda.
 “Então eu vou embora.” Foi se levantando.
 “Espera você ia me pagar uma bebida.”
 “Como é o seu nome mesmo?”
 “Leo.”
 “Pois é Leo, eu te acho um cara legal, mas você faz questão de ser grosso. Será que não dá pra gente conversar numa boa?”
 “Que assunto que eu posso ter com você?”
 Desta vez foi à amiga dela quem disse.
 “A Paula tem um blog sabia?”
 “E quem não tem? Ter blog é que nem ter e-mail.”
 Paula fechou a cara, deixou cinqüenta reais na mesa e se mandou, a amiga foi logo atrás.
 “Você sabe quem é esta menina?” Me perguntou Flávio.
 “Uma bêbada que se chama Paula.”
 “Acontece que esta bêbada não só é uma das maiores fortunas do Brasil, como também vai se casar com um dos maiores playboys de São Paulo.”
 “E como você sabe tudo isso?”
 “Eu leio coluna social. Além do que eu já a vi de biquíni em Maresias, e acredite-me ela tem um corpo que nem dá para descrever de tão gostosa!”
 “Dá sim Flávio, dá sim. Mas quanta vulgaridade, ela nunca nem respondeu meus telefonemas.”
 “Você tem o número dela?”
 “Nem sei se tenho mais.”
 “Tente de novo. Ligue e peça desculpas.”
 “Por que ela é rica?”
 “O fato de ela ser rica, significa meu amigo que você tem chance. Porque se ela fosse dura, ela nunca com este corpão iria dar para um autor de teatro. Aliás, nem viria neste boteco na Vila.”
 “Nunca mais quero ver na vida!”
 “Sei...” Flávio vai até o banheiro. Acha uns amigos e vai fumar. Minutos se passam, começo a conversar com um garçom. 
 De repente Paula volta. Senta-se e pega na minha mão.
 “Eu fui levar a Renata até o carro dela. Não quero que ela saiba o que eu vou fazer hoje.”
 “Nem ela e nem eu.”
 “Vamos até ali fora.”
 Em pouco mais de cinco minutos eu estava beijando Paula. Fomos para minha casa e transamos a noite toda. De manhã ela me disse que se casaria dali a dois dias. Mas que agora estava na dúvida.
 Disse que seu namorado andava com dois seguranças. Que não tinha o mínimo de sensibilidade. Que ela gostava de arte e queria escrever um livro, quem sabe um romance. E não esta vida fútil e sem sentido. 
 “Você pode ir para Maresias comigo?”
 Claro que eu podia, se bem que vê-la de biquíni agora depois de tê-la visto nua, não seria nenhuma surpresa.  
 Fomos para a praia. Rolamos na areia, entramos no mar e na piscina da casa dela.
 “Paula você não vai desistir do seu casamento por mim, vai?”
 “Não Leo, não é por você é por mim. Eu quero amar. Trabalhar com arte. Eu não tenho tempo de trabalhar nos negócios da família e ao mesmo tempo me dedicar a escrever. Eu conheci o Marino eu era muito criança, não sabia de nada. Não sabia o que eu queria. E ao contrário de você ele é um puta gato, sarado, feliz, carinhoso e meigo, mas ele não gosta das coisas que você gosta.”
 Eu só queria entender o que estava acontecendo. Por acaso aquilo ali era despedida de solteira? Paula tinha desligado o celular. E eu comecei a ficar com medo de que aparecesse ali o tal Marino, namorado com seus dois seguranças. A noite chegou e eu a convenci de irmos para Juquehy, uma praia próxima, na minha casa.
 Fomos. No dia seguinte quando eu acordei, ela não estava mais lá, nem ela nem o carro. Eu descobri que não tinha o mais o celular dela. E que também não pedira. 
 Fiquei meses sem saber notícias. Um dia meu telefone toca.
 “Oi, você não quer ir beber hoje na Vila?”
 Era Paula. Aceitei o convite, mesmo bar à noite. Quando eu cheguei, ela já estava lá, sozinha numa mesa. Linda como sempre e uns cinco caras em volta, loucos por ela.
 “E aí maluquinha. Vai me contar o que houve aquele dia e como está a sua vida?”
 “Desculpe Leo, eu precisei voltar da praia.”
 “Então você se casou?” 
 Ela deu uma pausa antes de responder.
 “Casei. Mas isso não quer dizer que eu não gosto de você e que a gente não vai poder ficar se vendo. Quando você quiser me ligar eu também vou atender.”
 “Mas e o seu marido?”
 “Olha Leo, querido, o negócio é esse... Vamos até ali fora um pouco?”
 Sei que você leitor vai dizer que eu sou um idiota, e que ela não me ama. Mas por outro lado, talvez seja por isso que de certo. Ela me faz companhia no bar, depois na cama. Nunca vai me cobrar casamento. Não acha ruim o que eu faço ou deixo de fazer. Nunca mais depois daquela primeira vez me pediu dinheiro. Quer coisa melhor?
Acontece que ontem à noite ela me disse algo no ouvido, eu fingi que não ouvi que eu estava dormindo, mas ouvi:
 “Leo, se você tivesse me pedido, eu não casava. Juro que não casava. Mas você nunca me diz nada. Nunca diz que me ama.”
 Eu fiquei por alguns minutos quieto na cama. Repassando toda aquela história. Desde a primeira vez que ela fingiu que não tinha dinheiro. De como ela sempre quis que eu a salvasse e eu que sempre achei que era um fraco perto daquela mulher tão forte. Então abri os olhos e disse:
 “Paula eu te amo.”
 Mas ela já dormia.