segunda-feira, 11 de julho de 2011

16 Capítulo 4

E necessário o leitor ler os capítulos 1,2 e 3 antes de ler o 4. Valeu.  

 O nome do delegado era Elias. Ele me contou que se formara em São José dos Campos e há dois anos tinha assumido a delegacia de Piabú. Realmente o Brasil estava se transformando. Mesmo a polícia às vezes surpreende. Além de gato era um policial competente. Deu a entender que sabia da minha origem e da minha vida profissional. E ainda disse me considerar um grande jornalista investigativo e corajoso.  
 “A declaração que dei sobre a morte da sua amiga Luana foi para não prejudicar uma investigação em que trabalho há cerca de quatro meses. Nunca achei que Luana tivesse se afogado. Ela inclusive me procurou no dia anterior a sua morte”.
 “E o que ela queria?”
 “Disse que estava prestes a conseguir provas para incriminar o assassino de duas meninas daqui do Piabú e uma outra do Cacau”.
 “Você teve três assassinatos aqui em quatro meses?”
 “Sim. Três meninas na idade de dezesseis anos. As vítimas tinham em comum além da idade, de serem bonitas, usuárias de droga e de baixa renda”.
 “O que isso quer dizer?”
 “Que se fossem turistas de São Paulo, me mandariam reforços para ajudar na investigação.”
 “Entendi. E Luana não lhe deu nada?”
 “Foi tudo muito rápido, ela não queria que o suspeito soubesse que ela tinha me procurado.”
 “E o senhor sabe quem era o suspeito?”
 “Sei. Um garoto que você chegou a procurar hoje. Foguinho.”
 “E você acha que o Foguinho poderia ter cometido estes crimes?”
 “Victor, eu tenho dúvidas. A primeira morte foi por pauladas. A segunda por estrangulamento e a terceira com facadas. Nas três houve violência sexual, inclusive anal. Não posso afirmar que um garoto de dezesseis anos tivesse força e maldade suficientes. Mas claro posso estar enganado. Não tenho pessoal suficiente, por isso não pude colocar ninguém vigiando e seguindo Foguinho. O que sei é que duas testemunhas o viram na manhã em que Luana foi encontrada. Ele estava andando pela praia. O que também não quer dizer muito, as pessoas vão à praia.”
 “Mas Elias, digo Delegado Elias...”
 “Pode me chamar de Elias, Victor.”
 “E se Foguinho fosse uma fonte. Veja eu conhecia muito bem Luana, eu sei como ela seduzia para trabalhar.Para conseguir informações. Nós fazíamos uma equipe”.
 “Diga-me Victor você e Luana já namoraram?”
 Eu sorri. E fiz um gesto de não com a cabeça.
 “Imaginava que não mesmo.”
 Elias me propôs trabalharmos juntos. E me deu uma pasta com cópia de toda a investigação e informações sobre os assassinatos das meninas de 16 anos.
 “Ajude-me Victor a encontrar semelhanças nas vítimas, algo em comum. Aqui pessoas morrem frequentemente. Jovens. Muitas vezes mortes por vingança. Seja por dívidas de droga ou infidelidade. Mas estas meninas não estavam comprometidas. E eram usuárias casualmente. E existe a violência sexual. Estupro mesmo”.
 “Não passou pela sua cabeça as vítimas conhecerem o agressor?”
 “Eu entendo o que você quer dizer Victor. Mas lembre-se de que aqui todos se conhecem. Somos cerca de cinco mil habitantes. Vamos fazer assim, eu preciso sair agora. Por que não jantamos a noite?”
 “Claro Elias. Eu conheci um lugar... Constantinopla. Que tal?”
 “Lugar bem caro tanto para um jornalista quanto para um delegado. Mas para minha sorte eles não me cobram e eu erradamente aceito. Não sou nenhum anjo.”
 “Não tenho tanta certeza assim. Você parece um anjo da lei. Nove horas?”
 “Combinado.”
 Eu já ia deixar a sala com a pasta na mão, quando parei ao ouvir de Elias:
 “Victor só mais uma coisa. Eu sei que ela era sua amiga, mas aqui eu resolvo as coisas da maneira correta. Se você vai me ajudar, vamos fazer isso direito”.
 “Claro Elias.”
 Eu fingi concordar com aquilo. Entendi o recado. Um filho de bicheiro se vinga matando. E Elias achou que apesar de tudo eu era diferente. Mal sabia ele que meu pai perto de mim equivale a um carneiro perto de um lobo. Se uma merda de Serial Killer tivesse matado Luana, este ser iria se arrepender de cada morte cometida e iria implorar por piedade. Iria não. Vai.
 Antes de voltar para a pousada, fui conhecer Piabú. Andar pela praia. 




  

16 Capítulo 3.

O leitor deve antes ler os capítulos anteriores 1 e 2. Valeu.

  A música logo na entrada era muito agradável. Agradável, que palavreado é este Victor? O restaurante Constantinopla era bem iluminado e com muita vegetação. Uma linda garçonete, Catarina, veio me receber. Havia só mais duas mesas. Um jovem casal bem vestido e na outra, duas senhora e um senhor. Comi uma massa ao dente maravilhosa. Surfe da muita fome. Um vinho italiano acompanhando.
 Perguntei a Catarina se ela conhecia Foguinho. Este era o nome do menino.
 “O que é que você quer com ele? Coisa boa não pode ser.”
 “Disseram-me que ele da aula de surfe. Confere?”
 “Olha se ele não estiver ocupado assaltando nenhuma casa de turista pode até ser, porque ele é bom surfista. Mas todo cuidado é pouco.”
 Tentei mudar de assunto.
 “Por acaso Catarina você sabe de casas para alugar por aqui?”
 “Claro que sei. O meu amigo tem uma imobiliária, a Sun Time. Procure pelo Juca e diga que a Catarina é que te mandou.” Pegou a bandeja e se mandou.
 Quantos anos esta linda mulata poderia ter? Com certeza menos de vinte. A sobremesa uma deliciosa torta de limão.
 Voltei para o hotel e mal entrei uma mulher de uns quarenta anos e muito em forma me chamou:
 “Hei não quer me acompanhar num espumante?” Ricardinho estava atrás do balcão do bar da pousada e ria meio como piscando para mim. Meu Deus só podia ser a tal Verônica, e agora? Se eu disser a ela que sou gay terei um Ricardinho em cima se achando íntimo para sempre. Se continuar a bancar o heterossexual fazendo turismo, eu vou ter de pegar esta... Nossa que mulher vulgar!!!
 Tentei simular um mal estar e corri para o quarto. Mas Verônica bateu na porta junto com Ricardinho e me ofereceram remédios. Não teve jeito, tive de voltar ao bar e vencê-la no álcool. Pensei que uma mulher de 40, já alta não agüentaria muito. Ilusão, eu acordei numa resseca. Pelo menos acordei sozinho. Já era meio dia.
 O café da pousada já tinha sido tirado. Encontrei uma padaria e foi lá mesmo que tentei me informar sobre Foguinho, o menino de 16 anos.
 “O senhor está atrás de aula de surfe?” Me perguntou um rapaz de uns 25 anos que me atendia.
 “Isso”.
 “Sinto muito moço, o Foguinho faleceu ontem à noite. Hoje é o enterro dele.”
 “Como? Morreu ontem, de que?”
 “Provavelmente ou foi droga ou foi alguma coisa que ele roubou. O Foguinho mais uns por aqui vivem roubando as casas dos turistas. Trabalhar ninguém quer, uma hora daria nisso.”
 Minha única pista havia desaparecido. Pelo que eu soube depois com Ricardinho, Foguinho tinha levado umas facadas num beco que tem acesso à praia. Resolvi então visitar uma imobiliária. Ricardinho me sugeriu a mesma que Catarina. Sun Time, Juca.
 “O Juca é um cara sensacional. Se você quer uma casa boa ele te arruma.”.
 Conclui que o Juca era um cara bonito. Mas não imaginava que fosse tão bonito. Recebeu-me com um lindo sorriso. Tinha quase a minha altura, uns 35 anos. Cara de bem sucedido e de esportista. Um lindo corpo. Nossa comecei a me apaixonar.
 Com certeza Luana ficaria mexida com um tipo desses, apenas um detalhe ela não iria gostar, Juca era simpático, lindo mas sem conteúdo nenhum.
 Levou-me ver algumas casas para alugar. Eu disse que queria comprar um terreno também.
 “Juca eu ouvi dizer que para construir é muito difícil aprovar a planta na prefeitura?”
 “Rui, eu nunca soube de nenhuma casa que não teve a planta aprovada pela prefeitura, para tudo se dá um jeito.”
 Depois me disse que o governo vai duplicar a estrada e com isso os imóveis vão duplicar o valor.
 “Aqui o único problema é o transito nos feriados. Mas com a estrada nova, isso aqui não vai mais ter preço.”
 “Achei que estávamos na bolha.” Eu disse.
 “Rui a dez anos que eu escuto que o litoral norte chegou ao máximo, e por mais incrível que pareça todo ano os imóveis se valorizam”.
 Incrível, achei eu, porque se ele estava já há tantos anos como não havia ficado rico? Ele não me parecia muito feliz em morar lá. Era um tipo que se daria muito bem em São Paulo, no Itaim. Mas me contou que havia se casado com uma local e já tinha um filho de dois anos.
 Perguntei sobre a violência, e ele disse que tinha diminuído muito. Falei do assassinato de Foguinho.
 “Quer saber? Ainda bem que o mataram. Aquele garoto era um marginal.”
 Realmente Luana não teria gostado deste Joca, Juca sei lá.
 O que Luana tinha feito com Foguinho? Será que duas mortes não fariam a policia suspeitar de uma conexão? Será que Ricardinho não tinha contado a policia sobre os encontros de Foguinho e Luana?
 Fui até a delegacia, que ficava em outra praia. Na praia do Piabú. Qual foi não foi a minha surpresa ao reconhecer o Delegado. Era o bonitinho que estava ontem final de tarde surfando e havia sorrido para mim.
 E qual não foi uma surpresa ainda maior ao ouvir:
 “Queira sentar-se senhor Victor Montale, eu o estava esperando.”.


16 Capítulo 2

 Se o leitor ainda não leu o capítulo 1, não pode ler o dois. Para tanto é só ler, ele é a postagem anterior a esta. Valeu. 


 A praia estava linda naquele final de tarde. Ela tinha um quilometro e meio de extensão. Bem na frente da pousada é onde ficavam os surfistas. Uma linda coincidência. Se não fosse a dor da perda de Luana, eu estaria muito feliz.
 Não entendo como algumas pessoas se preocupam com a estética das casas na praia. Dentro da água o que se vê são as enormes montanhas verdes da mata atlântica, a praia, o mar e que Deus existe. Existe?
 Havia cinco caras na água, mas só um me cumprimentou. Era um cara bem definido. Passou e me deu um sorriso. Depois ficava me olhando, meio curioso. Acho que vou me dar bem aqui no Cacau.
 Depois do banho, uma bichinha da recepção passou a me perseguir.
 “Senhor Amaral está tudo bem com a sua estada? Precisa alguma coisa?” Rui Amaral, este era o meu disfarce.
 “Oi, você é?” Eu vi o crachá escrito Richard. Mas não queria dar a entender que eu fosse alguém esperto. Quanto mais tonto, mais informações nos dão.
 “Richard, mas pode me chamar de Ricardinho.” Sei... Eu hein! 
 “Ricardinho? Mas Richard é tão bonito. Combina com você.” É as vezes eu sou meio afetado.
 “Olha Ricardinho para falar a verdade sim. Você pode e ajudar.” O jovenzinho magrinho e muito feinho, ficou extremamente contente em ajudar.
 “Um amigo meu me disse de um lugar chamado... Que o nome era um número?”
 “O senhor Amaral quer uma sugestão de um restaurante?”
 “Sim, não existe nenhum lugar aqui com nome de número?” Claro que eu já tinha dado um google com todas as possibilidades possíveis: Cacau imobiliárias 16. Cacau 16, Dezesseis litoral norte. Restaurante 16.... Enfim, era a última tentativa.
 “Aqui no Cacau? Não.”
 “Acho que me confundi. Mas de qualquer maneira onde você me recomenda jantar?”
 “No Constantinopla! Sem dúvida o melhor restaurante da região. Não faz feio em nenhum de São Paulo.”
 “Ótimo, você poderia me reservar uma mesa?”
 “Sim claro.”
 “Me diga uma coisa Ricardinho... Eu estou aqui de férias, atrás de umas gatas, você entende, não é?” O Ricardinho ficou vermelho de vergonha. Parecia desapontado, mas ao mesmo tempo um papo tão direto assim o tirou da mesmice, da monotonia da portaria.
 “Tem uma moça de uns 35 anos acabou de separar, está no quarto 18. É muito bonita e tem um corpão.” Ele dizia isso num sussurro.
 “Sei, mas fora esta recém divorciada...”
 “Verônica, Dona Verônica, um charme e muito simpática.”
 “Sim Verônica, mas muitas outras mulheres sozinhas vêm para a pousada, não?”
 Foi aí que ele deu um suspiro.
 “Seu Amaral... Se o senhor soubesse... Se o senhor soubesse...”
 “Rui, pode me chamar de Rui. Mas então me conte, estou de férias adoro histórias.”
 Foi aí que ele falou de Luana. Não disse o nome, mas a descrição e as datas era ela.    Mas eu não podia acreditar no que eu ouvia. Um garoto de 16 anos vinha visitá-la no quarto? E eles ainda saiam juntos, sempre.
 Ela era a minha melhor amiga, e eu nunca soube que ela gostasse de garotos. Pelo contrário seus grandes amores sempre foram homens mais velhos do que ela. Mesmo assim consegui saber quem era o menino. E o mistério do número 16 estava resolvido.
 Conhecendo minha amiga, este garoto deve ter relação com a investigação imobiliária. O computador de Luana foi roubado no mesmo dia em que ela se afogou logo este menino era a minha única pista naquele momento.
 A fome apertou e segui a pé pela rua principal em direção a Constantinopla, o restaurante contemporâneo do cacau.