quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Carlos um malandro paulista de sucesso.



 CARLOS AOS 20 ANOS:



   Carlos aos 20 anos era ambicioso. Enquanto Álvaro tinha ambições artísticas, Carlos queria ser um empreendedor. Sonhava com um império. Nem terminou o colégio e entrou numa agencia de publicidade. Era redator.
 Carlos era um garoto de comunicação. Algo intrínseco. Ele era gordo. Mas era um gordo carismático. Sua rede de relacionamentos aumentava todos os dias. E dos quatro era ele quem conhecia mais meninas.
 Era convidado para todos os lugares e eventos. Ninguém se lembra de vê-lo beijando ninguém, mas sempre havia meninas lindas a sua volta. E elas estavam sempre sorrindo.
 Carlos começou a despontar na agencia por conta de uma campanha, e logo seu salário era muito bom para alguém da sua idade.
 Carlos começou a viajar pelo mundo. Fazer contatos. E por incrível que pareça Carlos era reconhecido nos lugares como um formador de opinião da nova geração.
 Um dia num grande evento com inúmeros jornalistas, Carlos foi visto com uma atriz da Globo lindíssima. Depois num restaurante com uma modelo fantástica. Elas diziam que eram só amigas.
 Mas a fama estava feita. Quando os amigos perguntavam das beldades, ele só pedia descrição. Fingia que realmente era rodeado delas.
 Carlos aos 20 anos era realizado. Mas não era feliz. Sabia que seu mundo era uma farsa.





 AOS 25 ANOS: 



 Carlos aos 25 anos faz uma campanha histórica. Com este sucesso, funda a sua própria agencia de publicidade, a Bollívia. Compra um Loft e um carro do preço de um loft. Vive entre a ponte aérea porque tem clientes no Rio.
 Torna-se sócio de um restaurante e de uma balada no Rio. Aluga um apartamento na Barra.
  Contrata uma grande assessoria de imprensa, e saí em todas as revistas e jornais. Engorda dez quilos. O que o deixa muito deprimido. Quanto mais engorda, mais quer ganhar dinheiro.
 Começa um curso sobre vinhos. Compra uma enorme adega. Mulheres? Não faltam mulheres nesta época para Carlos. Não que ele as pagasse, mas um jantar aqui, um contato ali, um presentinho acolá... Se não podemos agradar as “amigas” pra que ser rico e poderoso?
 Ele estava no Aeroporto do Rio quando veio à notícia. “Você ganhou em Cannes!”
 Desligou o celular. Sorriu. Agora sua vida não era mais uma farsa.




 AOS 30 ANOS: 


  Mudara seus negócios para o Rio. Vivendo agora em Ipanema. Já tinha dinheiro suficiente para se aposentar, mas ao contrário trabalhava cada vez mais. Sócios em vários negócios. Publicidade, campanhas políticas, produtoras de vídeo, rádios e igrejas evangélicas. Sim igrejas.
 Carlos começou a apoiar e trabalhar para os barões evangélicos e em pouco tempo tornou-se ele mesmo um magnata evangélico.
 Resolveu se casar com uma garota de família tradicionalíssima da zona sul. Seria o maior casamento evangélico da história. Pois seria um casamento evangélico para o dinheiro antigo. Para a classe alta tradicional da ponte aérea Rio- São Paulo. Filha de um senador.
 Viriam todos os políticos importantes de Brasília e o empresariado de São Paulo. Mas duas semanas antes, Carlos ao ver uma secretária muito sensual e suburbana, não aguentou e a levou jantar e saiu com ela na night carioca.
 Os fotógrafos paparazzis aproveitaram e clicaram tudo. Um verdadeiro estrago no dia seguinte.
 Carlos mandou todos passearem. Afinal o que ele ganhava com aquele casamento? Uma patricinha gastadeira, que nunca trabalhou e chata pra caramba? Nem gostava dela, e ela estava engordando. E ele queria ser o único gordo do casal.
 Rico, muito rico e poderoso, cheio de mulher no mundo, casar pra que? Resolveu que esperaria pelo menos mais uma década.
 Já sua noiva, esperou só dez meses. E casou-se com um rapaz de uma também tradicional família da zona sul.  





 AOS 35 ANOS: 



Apesar de ter sido sempre um empreendedor da iniciativa privada, Carlos aos 35 anos tinha vários negócios com o Estado.
 Seus principais clientes eram políticos, muitos deles representantes de eleitores evangélicos.
 Mas Carlos começou a se meter em tudo, não só em propaganda política, mas também livros escolares, universidades, fundações, lobby propriamente dito.
 Vendeu todas as suas participações em pequenos comércios como baladas, restaurantes, e postos de gasolina. Agora investia tudo em imóveis, escolas, universidades e negócios variados com o governo.
 Mas uma investigação da policia federal chegou até ele. Seu império desabou. Seu nome caiu na imprensa e seus clientes do governo se afastaram.
 A sociedade naquele tempo pedia fim da corrupção. Os políticos se safaram, mas para isso colocaram a culpa no corruptor Carlos.
 Gastou uma fortuna com advogados, e no fim não adiantou, foi condenado a cinco anos de prisão.
 A devassa da polícia constatou que seus bens valiam menos do ele devia de imposto de renda.
 Então aos 35 anos, Carlos estava novamente pobre e condenado à prisão.
 Seria agora muito difícil se levantar. E para piorar Carlos não estava com ninguém, suas namoradas interesseiras desapareceram.
 Os amigos também. A faculdade que fora vendida continuou empregando Dudu.
 Aquilo o deixou feliz. Por mais que seus amigos estivessem distantes, ele Carlos nunca deixou de gostar deles.
 Carlos era um homem com ambição. Aquela temporada da prisão só iria dar um novo curso a sua vida, mas não tiraria a sua vontade de fazer, realizar e crescer.




 AOS 40 ANOS: 




  Depois de três anos preso, Carlos consegue a liberdade. Continuou a viver no Rio. Procurou emprego como corretor de imóveis, mas só conseguiu numa imobiliária do subúrbio. Acabou demitido um mês depois.
 Pensou em virar taxista. Mudar o nome. Entrou em contato com várias agencias de publicidade. Tentou convencer de que ainda era um ótimo redator. Ninguém o recebeu.
 Procurou sua ex-noiva, agora divorciada, Catarina. Ela disse não o conhecer e também não o recebeu.
 Arrumou outra imobiliária na zona Norte do Rio e se mudou para uma quitinete. Um dia bebendo num bar da zona Norte ficou bêbado, e contou toda sua história para um senhor aposentado.
 O velho perguntou, por que ele não escrevia um livro contando sua vida? Daria até um filme.
 É isso! Carlos pensou. Com isso vou me reerguer. Entrou em contato com vários jornalistas e escritores. Mas nenhum se interessou. Mas pra que chamar um escritor? Afinal eu sei escrever.
 Foi ele mesmo para frente de um velho micro e começou a digitar. Passou praticamente três semanas escrevendo o livro.
 Mandou o material para algumas editoras. Todos amaram a história. Pegou a melhor oferta.
 Pouco antes do lançamento foi ao programa da Jô. A entrevista foi um sucesso. A noite de autógrafos tanto em São Paulo como no Rio, foi um evento de enorme proporção.
 Carlos se viu sem agenda para tantas entrevistas e programas. Os jornalistas não saiam mais da sua quitinete. Até que tiveram a ideia de fazer um programa na TV, com ele como apresentador.
 O programa foi um sucesso. Em um ano Carlos era de novo um homem rico e respeitado. Mas diferente do jovem deslumbrado, era um cara de 40 anos calejado.
Pensou em reabrir a sua agencia Bollívia. Mas desistiu. Começou um regime. Era uma nova fase na sua vida. Uma virada.
 Quem disse que não podemos nos reerguer e fazer tudo de novo?
 Com a diferença que agora era tudo dentro da lei. Carlos descobriu aos 40 anos, que a maior malandragem que existe é ser honesto.
 Deu uma enorme festa de quarenta anos no Rio. E convidou todos os seus amigos do colégio, Álvaro, Dudu e Rodriguinho. No dia seguinte foram os quatro para praia.
 Vinte anos se passaram, mas é como se eles ainda fossem os mesmos. Prontos para recomeçar tudo de novo. Ou mesmo começar.
 Afinal tudo, o mundo, a alegria e a vida começam aos 40.


   

Dudu o pai solteiro.



 DUDU AS 20 ANOS:



  Dudu aos vinte já andava de terno pra cima e pra baixo. Estudava direito de manhã e a tarde ele era estagiário num escritório de direito trabalhista.
 Tentava sempre pegar uma colega de trabalho, mas a menina era noiva. Dava conversa, mas não cedia.
 Dudu adorava encher a cara. Uísque de preferência. Por ele trabalhar e estudar o pai ainda lhe dava um bom dinheiro. Mesada. Achava o filho esforçado.  Com este dinheiro ele frequentava os inferninhos. Os cabarets e os puteiros. Naquele tempo a prostituição ainda não havia chegado à internet.
 Dudu era um inseguro. Não era feio, porque também aos vinte anos quase todos são bonitos. Mas o seu tipo de conversa era muito maduro e sofisticado para garotas de 20 anos. E sua conta bancária ainda não lhe permitia extravagâncias com mulheres também sofisticadas.
 Na verdade permitia, mas era tão inseguro. E com as prostitutas tudo era uma festa. Dudu foi muito feliz aos 20 anos.  




AOS 25 ANOS: 




 Dudu aos vinte cinco anos se tornou um adulto. Já é um homem, um advogado. Seus gestos, conversa em nada lembram um jovem atual. Ele era um ser clássico nesta época. Como um Argentino nos anos 50.
 Um dia, digo uma noite, entrou num Cabaret e viu uma linda dançarina. Ficou fascinado por aquele corpo.
 E para sua sorte aquele corpo o entendia. O admirava. Ele decidiu que tiraria a moça daquela vida. Não. Decididamente ele não estava apaixonado. Mas a levou passar um feriado no Rio.
 A moça engravidou. Sim era uma garota de programa. Mas e daí? Não estamos mais nos anos 50. Casaram-se. Digo juntaram-se, igreja também era demais. Foram para um pequeno apartamento. Um lar. Uma família.
Afastou-se dos amigos. Porque os amigos recusaram-se a apoiá-lo.
 Mas a relação durou pouco. A garota voltou para seu destino. O juiz com razão deu a guarda para Dudu.
 Então Dudu aos 25 era um pai solteiro. Um pai de um lindo menino. E vamos à luta.
 Os avós ajudaram a pagar uma babá, às vezes a creche também era necessária.
 Nessa época Dudu começou a fazer muito sucesso entre as mulheres. Um advogado jovem e pai solteiro? Abandonado. Que mulher resiste? Nenhuma.





  AOS 30 ANOS:



   Pedrinho foi crescendo. E Dudu trabalhando. Um dia o escritório dele se fundiu com um escritório gigante. O endereço mudou. Saíram do centro e foram para a Avenida Paulista.
 Lá ele conheceu Marta. Uma advogada divorciada de cinquenta anos e um filho e uma filha na faculdade. Juntaram-se numa grande família. Foi tudo muito divertido. Pedrinho adorou ter uma mãe. Uma não duas. Pois sua irmã torta Raquel o tratava como filho. Fazia tudo por ele. Lhe comprava presentes, levava passear, as amigas dela também. O irmão torto, Rafael jogava futebol com ele. Viam os jogos juntos.
 Dudu estava feliz porque Pedrinho estava feliz. Mas um ano depois. Ao acordar e olhar para Marta, pensou: “Eu ainda sou tão jovem”. Fez as malas.
 Pegou Pedrinho, levou-o para casa da avó. E começou a sair em todas as baladas. É como se tentasse recuperar um tempo perdido.
 Queria meninas novinhas, gemidos novinhos. Chegou a ligar para Raquel, filha da Marta. Saiu com a Raquel e com a Joana amiga da Raquel.
 Voltou a frequentar os inferninhos. Os cabarets, os puteiros. E aprendeu tudo de sites de acompanhantes. Pegava até as babás do Pedrinho.
 A promiscuidade estava de volta. Era novamente o eterno sair e voltar para a vida adulta. Dudu no caso estava querendo voltar a ser um garotão. Comprou um skate e foi para o parque do Ibirapuera.





 AOS 35 ANOS: 




   Dudu nessas de skate e vídeo game conhece Vanessa. Uma menina que trabalha eventos.  A garota não tinha nada de especial a não ser quinze anos a menos do que ele.
 No começo não percebeu, mas a garota gastava muito. E como ela era jovem, cabia a Dudu proporcionar tudo. Isso fez com que ele gastasse muito do salário dele. As vezes gastava mais do que o salário.
 E então veio a noticia, o demitiram do escritório de advocacia. Claro que para todos ele dizia que havia saído por vontade própria. Até mesmo para a Vanessa ele contava essa história. Mas ser demitido é como perder um parente, deixa qualquer um arrasado.
 A menina não diminui os gastos. Manteve a rotina, como se nada houvesse acontecido. Dudu passou a pedir ajuda aos pais para pagar o colégio de Pedrinho.
 Vanessa desapareceu por vontade dela mesma. Dudu nem se importou, estava tão preocupado com o que iria fazer agora, que mal dava tempo de ir andar de skate e paquerar garotinhas.
 Novamente ele tornou-se o homem clássico de antes. E de tanto falar que ira abrir um negócio próprio, ele mesmo passou a acreditar nisso.
 Mas abrir o que? Ele não tinha a natureza de um empreendedor. Uma franquia?
 De tanto mandar currículo, veio uma proposta de uma faculdade para ele dar aula. Aceitou claro.
 Ficou maravilhado com a faculdade de direito. Ele nunca ouvira falar na instituição. Era nova, nasceu deste boom econômico dos últimos anos do Brasil. Um dos donos era o seu antigo amigo Carlos.
 Dudu estava solteiro e com 35 anos. Ficou maravilhado com tantas alunas que admiravam tanto o seu professor. Saiu com meia dúzia delas. O que só aumentou o seu carisma e confiança. No final de um ano ele era o novo diretor da jovem faculdade.




 AOS 40 ANOS: 



 Pedrinho já completara 15 anos. O garoto começou a namorar uma menina da escola. Joana. A menina queria ser cheff de cozinha. Os dois passavam a tardes testando receitas na cozinha.
 Uma sexta à noite, Pedrinho chegou bêbado. Dudu sabia que mais dia menos dia, o menino teria seu primeiro porre. Mas o que aconteceu é que Pedrinho tomou corajem para falar. Ele queria conhecer sua mãe.
 As lágrimas eram tantas, que comoveram Dudu. Ele então entrou em contato com a ex-sogra e soube do endereço da mãe de Pedrinho.
 A mulher que agora beirava os 40 morava na perifeira e estava no seu terceiro ou quarto casamento com um zelador de condomínio. Marcaram uma visita.
 Ela os recebeu e Pedrinho conheceu seus outros irmãos menores. A mulher não quis manter o contato.
 Aquela visita deixara Pedrinho mal. Talvez tivesse sido melhor nem ter conhecido a sua mãe. E a partir daquele momento, pai e filho se uniram ainda mais. Eles não se largavam, iam a todos os lugares juntos.
 Resolveram fazer uma viagem pela Europa juntos. E lá se foram. Pedrinho revelou que queria estudar Direito. E disse que assim que formado teria um escritório junto com pai. Aquilo deixou Dudu muito orgulhoso. Seriam sócios.
 Mas durante a viagem o garoto se mostrava tão entusiasmado com gastronomia. Voltaram para o Brasil e começaram pai e filho um blog de crítica gastronômica. Saiam umas duas vezes por semana.
 Se entendiam perfeitamente. Dudu estava feliz. Já tinha passado por muita coisa na vida. E entrou aos quarenta, leve e sossegado. Se julgava um afortunado por ter um filho tão bacana. Quem é que tem um filho como o meu? Ele se perguntava.