Personagens:
Susana
Paulo
Garota que mora com Susana
Sonia, paciente do médico
Doutor Cássio, médico.
(O palco está dividido em duas partes. Uma sala de visitas onde uma garota dorme num sofá, ao som de uma música dançante alta e um consultório médico onde um médico aguarda um paciente. As duas estão com meia luz, ao subir o pano a sala de visitas sobe a luz, entra um rapaz.)
RAPAZ- (Vendo a menina dormindo.) Você desligou o celular? (A garota continua dormindo.) Cheguei! Eu me perdi foi difícil achar sua rua por isso que eu demorei, ta um puta transito. Você está me ouvindo? (Ele chacoalha a menina com as mãos.) Ei? Ta me ouvindo? Acorda Susana! (Vai até o som e desliga, tenta novamente chacoalha-la e acorda-la, mas não obtém nenhum resultado. Começa a ficar desesperado, saca o celular e liga.) Alo Renata, eu vim na casa da menina que eu falei. Acho que ela esta morta que é que eu faço? (Ouve.) Como ir embora eu toquei em tudo, com certeza alguém me viu entrar, meu carro esta na porta, vai ficar parecendo que fui eu que matei ela. (A luz muda para o consultório médico.)
MÉDICO- (Abrindo a porta.) Olá dona Sonia, faça o favor. (Ele dá passagem uma senhora que entra com uma pequena cadela.)
SONIA- Olá doutor Cássio. (Os dois sentam à mesa do médico, a paciente segura a cadela no colo.)
MÉDICO- Você parece ótima, como andam as coisas?
SONIA- Eu não poderia estar melhor.
MÉDICO- Pois então?
SONIA- O problema é com a Monique.
MÉDICO- Monique?
SONIA- Sim. Ela vem sentindo dores e não está comendo direito. Talvez tenha sido por causa do fim de semana que estive fora, pensei que ia passar quando eu voltei, mas na verdade Monique piorou.
MÉDICO- E onde esta ela?
SONIA- Ela quem doutor?
MÉDICO- Monique.
SONIA- O senhor está se sentindo bem?
MÉDICO- Quem eu?
SONIA- Estou achando o senhor meio confuso.
MÉDICO- Desculpe dona Sonia... Não estou realmente me lembrando, Monique é sua filha? Neta?
SONIA- Neta? Como ela poderia ser minha neta.
MÉDICO- Desculpe claro. Agora lembrei a sua filha Monique. (Ri.) Estava brincando, claro a Monique. Onde ela está?
SONIA- (Sem entender.) Aqui no meu colo.
MÉDICO- (Parando de rir.) A cachorrinha é Monique? (A luz troca para a sala de visita.)
RAPAZ- Espere Renata estou ouvindo alguém chegando. Acho que pode ser o assassino. (Ele desliga e se esconde atrás do sofá. A porta se abre e entra uma outra garota.)
GAROTA- (Vendo Susana aparentemente dormindo.) Susana! O que é que você esta fazendo? Não vinha um p.a. hoje aqui? (Vai até Susana e a chacoalha.) Susana acorda? Cadê o tal de Paulo? (O rapaz sai da trás do sofá.)
PAULO- Como você sabe o meu nome?
GAROTA- Que susto. O que é que você está fazendo ai atrás?
PAULO- Me escondendo não sabia quem poderia ser. (Garota vê Susana que continua dormindo.)
GAROTA- Por que a Susana não acorda?
PAULO- Não sei acho que ela morreu.
GAROTA- (Em pânico.) Não me mate por favor, pode me estuprar mas não me mate!
PAULO- Mas não fui eu. Quando eu cheguei, ela já estava morta, achei que você poderia ser o assassino.
GAROTA- Morta? Você já revistou a casa?
PAULO- Você vem comigo, revistar?
GAROTA- Não é melhor chamar a polícia. (Pega o celular.)
PAULO- Não! Espera, eles podem achar que fomos nós.
GAROTA- Tem certeza de que ela está morta?
PAULO- como é que eu posso ter certeza, nunca vi um morto, quer dizer um morto novo. Já vi avó e avô morrerem, menina eu nunca vi.
GAROTA- Tem um consultório médico vizinho, bem aqui do lado, muro com muro poderíamos leva-la até lá. (A luz volta para o consultório do médico.)
MÉDICO- Impossível! Isto não é uma clínica veterinária. Peço para a senhora se retirar.
SONIA- Vou denunciá-lo a sociedade protetora dos bichinhos além do que para mim Monique é gente. (A cachorra começa a se sentir mal, ou melhor a atriz finge que a cachorra esta mal.) Meu deus a Monique não esta bem, o senhor tem de operá-la imediatamente.
MÉDICO- Operá-la? Mas ela nem foi examinada. (Levanta e vai abrir a porta, Sonia puxa um revolver da bolsa.) Mas o que é isso? A senhora é maluca?
SONIA- O senhor é um médico e vai fazer o que eu estou mandando. Vai rasgar a barriga desta cachorra!
MÉDICO- Mas isso vai mata-la?
SONIA- Problema dela, já dei purgante ela não devolve a jóia que comeu. Eu tenho um casamento hoje e pretendo usar este anel na festa à noite. (Dá uma faca ao médico.)
MÉDICO-(Ainda relutante.) Cortar a pobre cachorrinha, que crueldade vamos esperar um pouco mais logo ela vai ao banheiro.
SONIA- Não há tempo, ainda tenho ,de ir ao cabeleireiro me maquiar. Vamos pegue um bisturi ou uma faca.
MÉDICO- Onde eu vou conseguir uma faca?
SONIA- Este abridor de envelopes em cima da mesa deve servir. (Médico pega o abridor de envelopes, Sonia coloca a cadela em cima da mesa. Médico fica parado acreditando que Sonia vá desistir da estupidez.) Vamos eu não estou brincando! (Aponta o revolver. Médico vai cortar a barriga da cadela quando surgem Paulo e a garota carregando Susana.)
GAROTA- Desculpe doutor, mas acho que minha amiga não esta bem. (Paulo vê Sonia armada e solta os pés de Susana.)
PAULO- A assassina!
SONIA- Vocês dois fechem a porta e entrem.
MÉDICO- Meu deus o que houve com sua amiga?
PAULO- Quando eu cheguei, ela já estava assim.
GAROTA- Eu não vou agüentar. (Desmaia.)
MÉDICO- (Para Sonia.) Eu preciso examinar esta garota. (Aponta Susana.)
SONIA- Ache o anel e você cuida dela. (Celular de Sonia toca. Ela atende.) Oi Marquinhos. Eu sei estou no transito, mas estou chegando. (Ouvindo.) Não segura a minha vez, pelo amor de deus. Um beijo. (Para Paulo, apontando a arma.) Vamos era o meu maquiador, não posso me atrasar, você abre a barriga da cachorra e o médico examina a garota.
MÉDICO- Qual das garotas?
SONIA- Sei lá a que já chegou desmaiada. (Médico dá o abridor de correspondência a Paulo e vai examinar Susana.)
PAULO- Mas por que você quer matar a cachorrinha?
SONIA- Chega de pergunta! Vamos logo enfia na barriga da cadela! (Toca o celular de novo. Sonia atende.) Oi Marta, vamos. (Ouve.) Eu sei estou atrasada daqui a pouco era para estar na igreja. (Paulo enfia faca na barriga de Monique que geme.) Deixa eu ir que o marquinhos esta me esperando para maquiar. (Vai guardar o celular na bolsa.) Para tudo. Que é isso. (Tira o anel da bolsa.) Estava aqui o tempo todo. (Olha a cadela toda ensangüentada. Para Paulo.) Isso não vai ficar assim, sabe quanto custa uma cachorra igual à Monique seu cretino? (Levanta guarda a arma e sai correndo. O médico e Paulo trocam olhares.)
MÉDICO- Que louca. (Para Paulo.) Sua amiga não morreu. (Pausa.) Ela abusou de algum entorpecente. (Susana levanta e começa a dançar.)
PAULO- Já a cachorra acho que eu... A matei. Que horror. (Chora.)
MÉDICO- (Tentando recobrar a garota amiga da Susana.)
GAROTA- (Acordando.) Nossa onde eu estou. (Vê o anel que Sonia na correria deixou cair.) Que anel é esse? (Médico pegando o anel.) Que tonta.
PAULO- Doutor, muito obrigado. Acho que nós vamos indo.
GAROTA- Precisa marcar um retorno? Exame?
MÉDICO- Se algum de vocês voltar a ter algum sintoma marque com minha secretária.
PAULO- Acertar?
MÉDICO- Tenha bondade, com a minha secretária.
GAROTA- (Da porta com Paulo e Susana saindo.) Obrigado doutor. (Vozes em off.)
GAROTA- Bonito, o p. a. vem te visitar e você esta doidona Susana?
PAULO- Afinal o que é p. a?
AS DUAS JUNTAS- Pinto amigo. (Risadas.)
MÉDICO- (Pega Monique joga em uma gaveta. Telefone toca.) É... Cobre duas consultas e marque um retorno. Pode mandar entrar o próximo. (Olha para o anel.) Minha mulher vai adorar esse anel.
(Pano.)
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
São Francisco e a loteria
Personagens:
Amante
Poeta
Empregada
Marido
Esposa
Cenário: Rua, numa noite de inverno.
(Um homem está aguardando uma mulher casada para um encontro. Ele hora sopra as mãos e tampa as orelhas, hora coloca as mãos no bolso da calça.).
AMANTE- Onde está ela? Que gelo! (Se movimenta de um lado para o outro, para tentar passar o frio.) Marcou comigo às dez horas e já são dez e meia. (Tenta fazer uma ligação no celular.) Inútil esta desligado. (Guarda o celular). Vou-me embora. (Faz o movimento de ir, mas logo para.) Ah, não essa mulher vale a pena. Tem uns peitos, uma bunda e depois o melhor de tudo, é casada. Parece que o marido não dá no coro, então eu entro em ação. (Ri.) Até hoje nunca tive um problema com marido corno, acho que eles finalmente estão ficando mansos com a modernidade. Vivemos uma época de ouro, onde se pode realmente sair com mulheres casadas, o que é ótimo, pois não temos o dever de ligar no dia seguinte nem nos preocupar com os maridos cornos. Ainda mais eu que não posso ver sangue que desmaio. Não nasci para agressividade física, só para o amor. (Um vendedor de poesia se aproxima.).
POETA- Gosta de poesia? Quer ver um trabalho meu...
AMANTE- Não odeio, e dá licença que eu estou esperando alguém... (Vê alguém vindo.) Mas quem é essa louca que vem correndo? (Vendedor de poesia se afasta.) Será que é Pauline? (A empregada de Pauline entra correndo e ofegante mal consegue falar).
EMPREGADA- Salve-se meu senhor! O marido da patroa descobriu tudo e esta vindo para cá, logo aí atrás! (Sem parar passa correndo e sai de cena).
AMANTE- O marido? (Empregada sai de cena, o amante olha em volta.) Para onde eu fujo? (Vendedor de poesia dá de ombros.) E agora o que será de mim? (Corre pelo palco.) Onde eu me escondo? (O marido entra correndo no palco e para, respira, pois esta quase sem fôlego, ele é visivelmente mais forte e agressivo do que o amante).
MARIDO- (Se repondo.) Você? (Olha para o amante que agora disfarça).
AMANTE- Pois não?
MARIDO- Quero falar com você, sobre Pauline. (Amante tenta fugir, mas marido o segura pelo ombro).
AMANTE- Não é nada do que o senhor está imaginando, eu na verdade sou um primo distante de Pauline...
MARIDO- Filho da tia Márcia?
AMANTE- Isso filho da tia Márcia.
MARIDO- Eu detesto a tia Márcia.
AMANTE- Eu sou maquiador...
MARIDO- Eu sou engenheiro civil, e daí? A conversa é outra primo.
AMANTE- Lamento, foi bom te conhecer, eu tenho uma cliente agora...
MARIDO- Eu não estou aqui para te agredir, eu sou um corno manso.
AMANTE- Como é que é?
MARIDO- É isso que você ouviu, eu sou um corno manso.
AMANTE- (Mais confiante e menos medroso.) Sei e em que eu posso ajudá-lo?
MARIDO- (Tira umas contas do bolso.) Está aqui oh! (Começa a dar as contas ao amante). Condomínio, seguro saúde, (Amante vai pegando as contas sem entender), cartão de crédito, celular...
AMANTE- Setecentos reais de celular?
MARIDO- Por que achou muito? Mês passado foram novecentos.
AMANTE- Novecentos?
MARIDO- E mês que vem vai ser mais, depois do feriado que vocês vão passar em Buenos Aires.
AMANTE- Mas o que significa tudo isso? De quem é esse celular? Essas contas?
MARIDO- Como de quem? De Pauline, quem mais? Quer dizer agora são suas e dela.
AMANTE- Como assim?
MARIDO- Eu estou caindo fora.
AMANTE- Como assim?
MARIDO- Fique tranqüilo, foi algo que eu refleti muito, não tem nada a ver com vocês. É uma decisão, claro que você vem em boa hora. Facilita, aí nessas contas. (Continua a tirar contas do bolso.) Clube, prestações do carro, (Para e olha o boleto bancário), puta carro caro! To vai pegando.
AMANTE- Mas... Nós só saímos uma vez. Você pode continuar com ela, eu não vou querer essas responsabilidades.
MARIDO- Tente entender, eu e Pauline não combinamos. Ela não vai ao cinema comigo.
AMANTE- Só por causa disso? Vá sozinho.
MARIDO- Mas é essa a idéia. Eu queria tanto ter visto “Tropa de elite 2”.
AMANTE- Eu assisti, gostei.
MARIDO- (Agora sem ouvir, só desabafando.) A exposição do Nuno Ramos que ela não me levou, o show do Geraldo Azevedo. Sem falar em outras coisas.
AMANTE- Ah é. Quais outras coisas?
MARIDO- A verdade é que Pauline é uma pessoa muito materialista. Já eu dou valor a outras coisas, jantares românticos... (Para o amante.) Você cozinha? Gosta de literatura?
AMANTE- Bem... Eu li um livro uma vez, não lembro o nome agora e faço bons sanduíches.
MARIDO- Sanduíches?
AMANTE- Saladinhas vez ou outra.
MARIDO- Sabe, eu tenho um sonho. Você pode até achar bobagem, como Pauline acha também.
AMANTE- E o que é?
MARIDO- (Com água nos olhos.) Eu gostaria de... Sabe aquele sonho de... Como eu posso explicar?
AMANTE- Não se acanhe, pode dizer.
MARIDO- Casar na Igreja. Eu gostaria de casar na igreja e de ter filhos sim senhor. (Entra o vendedor de poesia.)
POETA- Carlos?
MARIDO- Olha se não é o Guilherme.
POETA- (Dando um abraço no marido.) Carlos! Sumiu lá do Sarau, todo mundo ficou sem seu contato.
MARIDO- É que eu casei. Mas agora vou voltar... Descasar.
POETA- Ah que ótimo, anda escrevendo? (Entra Pauline, ela é só sorrisos logo atrás vem a empregada também só sorrisos).
PAULINE- Carlos, eu preciso te dizer algo.
MARIDO- Oh Pauline este é meu amigo Gui do Sarau de poesia.
PAULINE- (Sem ouvir). Nossa vida mudou Carlos, hoje eu descobri...
MARIDO- (Pega a mão do amante e junta com a dá mulher.) Não precisa me explicar nada já me entendi com o seu amante, ele até já assumiu as responsabilidades.
AMANTE- (Tirando sua mão da de Pauline.) Não é bem assim.
MARIDO- É assim sim. (Puxando o poeta.) Vamos Guilherme tomar uma cerveja.
PAULINE- Mas...
MARIDO- (Para todos.) Agora eu sou como São Francisco de Assis, amo o sol, a natureza e a poesia, as cabras... Sou livre... (Vai saindo.)
EMPREGADA- A patroa ganhou na loteria!
MARIDO- (Imediatamente volta.) Como é que é essa estória, Pauline?
PAULINE- É isso mesmo, ganhei sozinha o primeiro prêmio, sou uma milionária! (Pausa, todos se olham).
MARIDO- Vamos já para casa! (Vai puxá-la e o amante a segura).
AMANTE- Vai rodar o mundo, Alberto Caeiro, que esta agora é minha. (Cada um puxa um braço).
MARIDO- Pauline vamos embora! (A luz vai descendo).
PAULINE- Vocês estão me machucando.
MARIDO- É minha.
AMANTE- Você me deu. Junto com as contas. (Pano.)
Amante
Poeta
Empregada
Marido
Esposa
Cenário: Rua, numa noite de inverno.
(Um homem está aguardando uma mulher casada para um encontro. Ele hora sopra as mãos e tampa as orelhas, hora coloca as mãos no bolso da calça.).
AMANTE- Onde está ela? Que gelo! (Se movimenta de um lado para o outro, para tentar passar o frio.) Marcou comigo às dez horas e já são dez e meia. (Tenta fazer uma ligação no celular.) Inútil esta desligado. (Guarda o celular). Vou-me embora. (Faz o movimento de ir, mas logo para.) Ah, não essa mulher vale a pena. Tem uns peitos, uma bunda e depois o melhor de tudo, é casada. Parece que o marido não dá no coro, então eu entro em ação. (Ri.) Até hoje nunca tive um problema com marido corno, acho que eles finalmente estão ficando mansos com a modernidade. Vivemos uma época de ouro, onde se pode realmente sair com mulheres casadas, o que é ótimo, pois não temos o dever de ligar no dia seguinte nem nos preocupar com os maridos cornos. Ainda mais eu que não posso ver sangue que desmaio. Não nasci para agressividade física, só para o amor. (Um vendedor de poesia se aproxima.).
POETA- Gosta de poesia? Quer ver um trabalho meu...
AMANTE- Não odeio, e dá licença que eu estou esperando alguém... (Vê alguém vindo.) Mas quem é essa louca que vem correndo? (Vendedor de poesia se afasta.) Será que é Pauline? (A empregada de Pauline entra correndo e ofegante mal consegue falar).
EMPREGADA- Salve-se meu senhor! O marido da patroa descobriu tudo e esta vindo para cá, logo aí atrás! (Sem parar passa correndo e sai de cena).
AMANTE- O marido? (Empregada sai de cena, o amante olha em volta.) Para onde eu fujo? (Vendedor de poesia dá de ombros.) E agora o que será de mim? (Corre pelo palco.) Onde eu me escondo? (O marido entra correndo no palco e para, respira, pois esta quase sem fôlego, ele é visivelmente mais forte e agressivo do que o amante).
MARIDO- (Se repondo.) Você? (Olha para o amante que agora disfarça).
AMANTE- Pois não?
MARIDO- Quero falar com você, sobre Pauline. (Amante tenta fugir, mas marido o segura pelo ombro).
AMANTE- Não é nada do que o senhor está imaginando, eu na verdade sou um primo distante de Pauline...
MARIDO- Filho da tia Márcia?
AMANTE- Isso filho da tia Márcia.
MARIDO- Eu detesto a tia Márcia.
AMANTE- Eu sou maquiador...
MARIDO- Eu sou engenheiro civil, e daí? A conversa é outra primo.
AMANTE- Lamento, foi bom te conhecer, eu tenho uma cliente agora...
MARIDO- Eu não estou aqui para te agredir, eu sou um corno manso.
AMANTE- Como é que é?
MARIDO- É isso que você ouviu, eu sou um corno manso.
AMANTE- (Mais confiante e menos medroso.) Sei e em que eu posso ajudá-lo?
MARIDO- (Tira umas contas do bolso.) Está aqui oh! (Começa a dar as contas ao amante). Condomínio, seguro saúde, (Amante vai pegando as contas sem entender), cartão de crédito, celular...
AMANTE- Setecentos reais de celular?
MARIDO- Por que achou muito? Mês passado foram novecentos.
AMANTE- Novecentos?
MARIDO- E mês que vem vai ser mais, depois do feriado que vocês vão passar em Buenos Aires.
AMANTE- Mas o que significa tudo isso? De quem é esse celular? Essas contas?
MARIDO- Como de quem? De Pauline, quem mais? Quer dizer agora são suas e dela.
AMANTE- Como assim?
MARIDO- Eu estou caindo fora.
AMANTE- Como assim?
MARIDO- Fique tranqüilo, foi algo que eu refleti muito, não tem nada a ver com vocês. É uma decisão, claro que você vem em boa hora. Facilita, aí nessas contas. (Continua a tirar contas do bolso.) Clube, prestações do carro, (Para e olha o boleto bancário), puta carro caro! To vai pegando.
AMANTE- Mas... Nós só saímos uma vez. Você pode continuar com ela, eu não vou querer essas responsabilidades.
MARIDO- Tente entender, eu e Pauline não combinamos. Ela não vai ao cinema comigo.
AMANTE- Só por causa disso? Vá sozinho.
MARIDO- Mas é essa a idéia. Eu queria tanto ter visto “Tropa de elite 2”.
AMANTE- Eu assisti, gostei.
MARIDO- (Agora sem ouvir, só desabafando.) A exposição do Nuno Ramos que ela não me levou, o show do Geraldo Azevedo. Sem falar em outras coisas.
AMANTE- Ah é. Quais outras coisas?
MARIDO- A verdade é que Pauline é uma pessoa muito materialista. Já eu dou valor a outras coisas, jantares românticos... (Para o amante.) Você cozinha? Gosta de literatura?
AMANTE- Bem... Eu li um livro uma vez, não lembro o nome agora e faço bons sanduíches.
MARIDO- Sanduíches?
AMANTE- Saladinhas vez ou outra.
MARIDO- Sabe, eu tenho um sonho. Você pode até achar bobagem, como Pauline acha também.
AMANTE- E o que é?
MARIDO- (Com água nos olhos.) Eu gostaria de... Sabe aquele sonho de... Como eu posso explicar?
AMANTE- Não se acanhe, pode dizer.
MARIDO- Casar na Igreja. Eu gostaria de casar na igreja e de ter filhos sim senhor. (Entra o vendedor de poesia.)
POETA- Carlos?
MARIDO- Olha se não é o Guilherme.
POETA- (Dando um abraço no marido.) Carlos! Sumiu lá do Sarau, todo mundo ficou sem seu contato.
MARIDO- É que eu casei. Mas agora vou voltar... Descasar.
POETA- Ah que ótimo, anda escrevendo? (Entra Pauline, ela é só sorrisos logo atrás vem a empregada também só sorrisos).
PAULINE- Carlos, eu preciso te dizer algo.
MARIDO- Oh Pauline este é meu amigo Gui do Sarau de poesia.
PAULINE- (Sem ouvir). Nossa vida mudou Carlos, hoje eu descobri...
MARIDO- (Pega a mão do amante e junta com a dá mulher.) Não precisa me explicar nada já me entendi com o seu amante, ele até já assumiu as responsabilidades.
AMANTE- (Tirando sua mão da de Pauline.) Não é bem assim.
MARIDO- É assim sim. (Puxando o poeta.) Vamos Guilherme tomar uma cerveja.
PAULINE- Mas...
MARIDO- (Para todos.) Agora eu sou como São Francisco de Assis, amo o sol, a natureza e a poesia, as cabras... Sou livre... (Vai saindo.)
EMPREGADA- A patroa ganhou na loteria!
MARIDO- (Imediatamente volta.) Como é que é essa estória, Pauline?
PAULINE- É isso mesmo, ganhei sozinha o primeiro prêmio, sou uma milionária! (Pausa, todos se olham).
MARIDO- Vamos já para casa! (Vai puxá-la e o amante a segura).
AMANTE- Vai rodar o mundo, Alberto Caeiro, que esta agora é minha. (Cada um puxa um braço).
MARIDO- Pauline vamos embora! (A luz vai descendo).
PAULINE- Vocês estão me machucando.
MARIDO- É minha.
AMANTE- Você me deu. Junto com as contas. (Pano.)
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