domingo, 7 de novembro de 2010

A menina espera na esquina


“Poio (Pollo).” Eu digo.

O garçom me pergunta qual parte. Ao mesmo tempo em que coloca a mão no próprio peito e na própria perna. Quase desisto de pedir o prato só de pensar na perna humana do senhor e gordinho chileno. A fome falou mais alto e mostro a foto da coxa de frango no cardápio.

Ele se afasta e eu olho pela janela às duas horas da tarde de um sábado quente em Santiago. As pessoas fechando as lojas, indo almoçar. Os turistas, estudantes indo ver a Praça das Armas. Todos se movimentam como numa 25 de Marco, como num 31 de dezembro.

Então a vejo pela janela. Todos passam e ela lá. Parada, aflita procurando alguém naquela multidão. Alguém que não chega. A menina é linda seus pés estão grudados no chão para tentar enxergar por cima da multidão.

Imagino como será o menino que não chega. Se fosse comigo, eu moveria o mundo para não fazer aquela menina esperar. Talvez por isso ela não esteja me esperando e sim ele, que não chega. Descubro que talvez a idade tenha me trazido o desejo de ser um alcoviteiro, um cupido.

De tentar achar um garoto pra ela. Bonito como ela, aflito, apaixonado, fiel. Será que é um menino da idade dela que ela espera? Um estudante? Um amor colegial? Será que por ser jovem e belo ele não perceba a sorte que tem de ter uma mulher tão, tão... Meu Deus ela linda!

Virou o rosto. Viu-me aqui dentro do restaurante. Será que ainda sou um rapaz em condições de flertar com essa estudante? Voltou a olhar pra frente, acho que nem me viu, talvez imaginasse que ele o belo e jovem rapaz estivesse aqui dentro. Ou me viu por um instante e achou que eu era ele, e depois viu o engano. “É só um tiozinho me olhando”. Deve ter pensado. Ou ainda nem me viu como se eu fosse transparente, sei lá. Como vou saber se ela não esboçou nada? Reação nenhuma.

Agora ela vê o celular, se mexe um pouco e volta a olhar pra frente, aflita. Será que é um rapaz igual um que eu vi outro dia, sábado a noite no Pão de Açúcar com uma flor e um pote de sorvete? Aquele rapaz me comoveu, com dois objetos na mão e ele dizia tudo. Que combinação. Um artista.

Quem será que come as mulheres lindas? Sim porque essa não fica atrás da Helena de Tróia. quem são eles? Eu sempre me pergunto isso quando vejo uma bonita cantora, uma bailarina maravilhosa, uma extraordinária Hostess de um elegante restaurante. Quem será o felizardo por quem essa mulher linda se entrega?

Por Helena aconteceu uma guerra. E como por essa aí fora de igual beleza, ninguém se move? Eu vou levantar e ir ajudá-la. Saber onde está esse louco desse menino.

Perca o emprego menino, mate alguém se necessário, roube um banco, mas não deixe uma mulher dessas esperando.

Meu prato chega. Começo a cortar aquela coxa de frango. Levanto os olhos e ela se foi. Como numa novelle Vague. Olho ainda um instante. Procuro. Sim se foi.

Aonde será que ele a levará? Ao parque tomar sol no gramado e trocar beijos de baixo das árvores, como num pic -nic? Ao cinema? A um show de jazz ou ainda almoçar num bistrô?

Horas depois sozinho no museu de Belas Artes, comecei a imaginar que talvez eu encontrasse o casal ali. Mas espere. Que casal? Afinal a menina simplesmente parou na frente do boteco em que você Leo almoçava, olhou para você, esperou (talvez uma reação sua) e seguiu desiludida, talvez sozinha e talvez pensando:

“Quem será que os bonitões comem?” “Por quem eles se apaixonam?”.

Mas não Leo, a sua mente criativa e seu caráter pouco prático, prefiriram uma coxa de frango.

E você leitor prefere o que? Um constrangimento ou uma bela fantasia?

Amanha vou almoçar lá de novo. Agora sou eu quem espera. Será que ela virá?

O tigrão (eu) espera na esquina. Aflito...