segunda-feira, 28 de março de 2011

A Trupe. Capítulo 1


Trata-se de uma novelinha (pequeno romance) ou ainda um conto esticado. Vou escrevendo e publicando, como agora. Fala sobre teatro e as pessoas que amam o teatro e se amam. É isso, espero que gostem. Abrem-se as cortinas.

A casa da atriz.

 “Eu quero juntar a Trupe de novo”.
 Foi o que Mariana me dissera pelo celular. Ela com seus trinta anos era uma mulher sensual, peitos grandes, bunda maravilhosa, uma das pessoas mais incríveis que eu conheço. Sofisticada, culta, transitava tanto pelo drama como pela comédia.
 Mas tinha lamentavelmente um defeito, o mesmo gosto meu para meninas. Isso mesmo leitor, Mariana é gay ou ainda uma linda Sapatinha.
 A casa dela é a casa que eu gostaria de ter. Numa vilazinha. Cheia de fotos de teatro penduradas na parede. Bonecos, fantoches, pôsteres e figurinos. Lá estava a foto de uma outra menina que há dez anos eu só via na televisão e nunca mais conversara.
 “Dez anos depois e você quer juntar este bando de malucos? Para fazer o que?”  Perguntei a Mariana. 
 “Para montar um texto seu Leo.”
 “Ah, mas não era Leo Martins Pena pra cá, Leo Suassuna pra lá... E de repente juntar pessoas que brigaram faz uma década para montar um texto meu? Uma Farsa?”
 Éramos a “Trupe do Sol”, talvez o período mais feliz da minha vida. Nunca chegamos a ter um reconhecimento, nem de público e nem de crítica. Mas nós nos amávamos. Na verdade eu amava Beatriz, Mariana amava Beatriz, Duda amava Beatriz, Rodolfo amava Beatriz, Fred amava Napoleão e Napoleão, Fred. E Beatriz amava...
 “Ela te amava Leo.”
 “Se me amava como é que se casou com o Rodolfo?”
 “O Rodolfo é muito mais gostoso.” Provocou Mariana.
 “E como uma Sapinha com você pode saber que tipo de homem é gostoso ou não?”
 “Sabe que você às vezes pega pesado?”.
 “Sei. Mas comparado a você eu sou um doce.”
 O fato é que o grupo terminara. Duda nosso diretor estava num sanatório. Fred agora fazia musicais, Napoleão embora não tivesse muito talento para Stand-Up havia cismado que era um humorista. Já Bia e Rodolfo haviam se casado e moravam no Rio onde trabalhavam na televisão.
 “E você está fazendo o que agora?”
 “Eu tenho um blog.” Eu disse.
 “Para quem dizia que iria ser um grande dramaturgo.”
 “Eu nunca disse isso.”
 “Uff! Um blog”. E deu de ombros. “Temos que começar tirando Duda do hospício.”
  Eu já ia indo embora, mas parei. Minha raiva não era da Mariana. Como ter raiva de uma mulher talentosa, linda e que ainda acreditava que eu era um “grande” dramaturgo. Minha ira era ela ser homossexual. Era Bia ter casado com Rodolfo e não comigo. Era Bia ser famosa. Era... De nunca mais ter sido feliz como eu fui com eles, com a Trupe. No fundo até o Rodolfo eu amei. Amei todos eles, Napoleão, Fred, Duda.
 “Mari, um grupo precisa de uma fé para existir. A nossa era de sermos profissionais. Tivemos começo, meio e fim.”
 “A nossa fé era a de sermos felizes e fomos”.
 Eu ainda tomei mais uma cerveja. Me deu uma vontade de dormir lá na casa da Mari. Aquela mulher linda, inteligente, sensível... Mas o que ela precisava de mim? Do que? Fora indicada ao premio Shell. Estava com dinheiro. Tinha talento e por último eu não era mulher, logo...
 “Você merece Leo. Chegou a sua hora de ser reconhecido”.
 “Sem essa Mari. Agradeço, mas se eu continuar aqui... Nos falamos. Vamos ao cinema essa semana.”
 Levantei. Deixei o copo de cerveja na mesa e comecei ir em direção da porta.
 “Eu estou morrendo Leo.”
 Voltei e virei o corpo para vê-la. Seu olhar era sincero. Demos um abraço. E ali prometi que não contaria isso para ninguém. Reuniríamos a Trupe sim. Dez anos depois, mas eles não precisavam saber da doença da Mari. Ou seja, seria bem mais difícil. No fundo a caçula, Mariana,  sempre fora a mais amada e a mais talentosa.
 A segunda jornada seria reunir todos. Iríamos atrás de um por um a começar por Duda, claro o diretor, no hospício.
 “Você deveria pedir um texto para Maria Adelaide Amaral.” Eu disse. Ela sorriu e respondeu.
 “Leo você é bom, acredite.”
 Bebemos ainda uma vodka e fui para o quarto de hospede na casa da atriz. O dia seguinte seria puxado.