quinta-feira, 23 de julho de 2015

Tipos de diretores de Teatro:

Existem infinitos estilos de diretores de teatro. Aqui apenas faço uma brincadeira. Colocando alguns tipos mais comuns, que fui conhecendo durante a minha trajetória.
 Em absoluto acredito que exista um jeito, regra ou fórmula de dirigir. Seja um diretor invisível, que de mais espaço para o texto aparecer, ou ainda um diretor com cores mais fortes, que atravesse o texto, tanto faz. Sou e sempre fui a favor da diversidade. Da possibilidade infinita. Dito isto, lá vão os tipos:




O INSEGURO:



 O diretor inseguro, já começa indeciso quanto ao texto que irá montar. Clássico ou contemporâneo? Texto nacional ou estrangeiro? Comédia ou drama?
 Como ele é inseguro, suas decisões são tomadas junto a outras pessoas. Ele pergunta o que o produtor acha, o que os atores acham. Chega até perguntar para sua esposa, para sua mãe e até para sogra.
 Ora se decide por Molière, ora resolve fazer teatro físico. A frase que mais diz durante os ensaios é: “O que vocês acham”?
 O diretor inseguro, deixa toda equipe insegura. O autor, se é vivo, fica inseguro. O produtor fica inseguro, o elenco fica inseguro. As vezes a própria plateia fica insegura.
 O diretor inseguro, deixa os técnicos inseguros. Será que é para dar o terceiro sinal já?
 O bilheteiro fica inseguro se cobrou certo, se era convite, ou inteira. O público, fica inseguro quanto ao lugar, a poltrona.
 Até o crítico fica inseguro, quanto a crítica. “Será que era ruim mesmo”?
 O cenógrafo nem se fale. “Acho que era pra ser um verde mais escuro ali”.
 A temporada toda, mesmo se forem meses, todos os dias, todos se perguntaram: “E se mudarmos ali”? Acho que aquela cena deve sair. Colocar mais luz no fundo. A música tava melhor quando era mais alto o volume.
 A atriz, que faz a japonesa, era melhor quando era a negra, e não esta loira. A negra tinha mais cara de coreana.
 Já para o pai dela, melhor o ator parar de ser gago. E tirar a barba. Já o policial, melhor se ele falar mais baixo, mais doce.
 O que? Não tem policial? Mas o crítico disse que aquele personagem ali, é na verdade um policial.
 O que? O crítico voltou atrás e deu mais estrela? É claro que eu gosto da atriz. Só não sei se ela é boa atriz. O que você acha? Você acha que eu troco ela? Trocar a roupa dela? Mas se já vai trocar o figurino, já troca o elenco também.
 Você acha que eu deveria ter feito o clássico de uma vez?
 Às vezes acho que é melhor mudar de Teatro. Ou deixar de ser sexta, sábado e domingo. Ser sábado, terça e domingo. O que você acha de mudar o título?
 O diretor inseguro não decide nem a cantina apoiadora que vão comemorar após a estreia. Se é a Piolim, ou a Planeta’s.




 O DORMINHOCO:


 Este tipo acredite ou não, é pontual. O diretor dorminhoco chega até antes, pois adora ficar conversando com os atores. O ensaio atrasa uma meia hora, as vezes até mais. Mas sempre termina no horário, nem um minuto a mais. Como um terapeuta encerrando a sessão.
 O diretor dorminhoco, tem sempre um excelente assistente. Destes mais sargentos. O diretor lhe dá toda autoridade de ensaiar com braço com forte. Anotar bem as marcas. Afiar a luz. Um assistente pouco criativo, mas executor, e autoritário com o elenco.
 O assistente passa um aquecimento bem puxado. Com vários exercícios físicos. Isso dá a impressão ao elenco que eles estão rendendo, ensaiando.
 Depois o diretor pega um caderno, uma caneta, um lápis, e começa a desenhar. O elenco terá a sensação de que ele está anotando coisas referentes ao ensaio, ao espetáculo. Mas não são notas que o diretor dorminhoco faz. E sim desenhos. Sua cabeça vai longe. Viaja.
 Desenha, desenha, e quando o assistente o questiona sobre o que fazer. Ele manda repassar a cena, ou escolhe outra para ensaiarem.
 Avisa que está indo tomar um café na padaria, que depois no fim do ensaio quer ver tudo passado. E sai. Volta dez minutos antes de acabar o ensaio.
 Ele está lá sempre sentado, calmo. Muitas vezes o diretor dorminhoco, tem dúvidas sobre a profissão que seguiu. Mas também como não estudou mais nada. E já tem alguns espetáculos na carreira, ele continua sempre em frente. No automático.
 Muitos críticos, teóricos e observadores de teatro, acreditam que este tipo de direção ausente, até pode acarretar um excelente espetáculo, quando feito por bons atores.
 Porque a verdade é que bons atores, sabem fazer as cenas. Mas bons atores também gostam de que sempre tenham alguém a observa-los. Coisa que fica a cargo do assistente sargento.
 Mas a verdade é que alguns dias antes da estreia, o diretor dorminhoco, acorda e passa a achar seu próprio espetáculo lindo. Fica levemente mais empolgado. Pois o este tipo, adora teatro, adora ser plateia, o que ele não gosta é de trabalhar, ensaiar e claro atuar.
 Eles são ótimos para formar novos diretores. Porque eu mesmo leitor, confesso, que a primeira assistência de direção que eu fiz, primeira e única, foi para um diretor dorminhoco. Ele me mandava repetir e repetir a cena com os atores exaustivamente, e saia.
 A única vez que ele levantou da poltrona, tomei até um susto. Ele estava atrás de um cinzeiro a poucos metros. Pegou o cinzeiro e voltou a ficar no seu mundo.
 Depois da estreia, o diretor dorminhoco, sai de férias. Ou dorme dois, as vezes até três dias seguidos. Pois está exausto.





 O CRIATIVO:


 Dizem que este tipo surgiu com a invenção da lâmpada. Lá pelos idos de 1880. Em Paris, e depois se difundiu pelo mundo. Antes poucos recursos eram disponibilizados numa apresentação de teatro. Poucos, mas suficientes.
 Texto, atores e plateia. Mas agora, com a lâmpada o céu era o limite. Aliás, dizem que o diretor em geral surgiu com a eletricidade. O estilo de direção. Mas isto é outra polêmica, para teóricos e historiadores.
 Ele agora, o diretor de teatro, pode deixar os atores no escuro, pode fazer a tudo amarelo, pôr do sol, tudo azul. Pode colocar música que quiser, enfim, fazer a atmosfera que quiser. Apagar e acender as luzes, o tempo todo. Até mexer no ar condicionado, ele pode.
 Claro que todos estes recursos, vieram para colaborar, para servir. O problema é quando o texto e os atores, ficam servindo os efeitos. 
 O diretor criativo, é o pesadelo dos autores. Porque bem da verdade ele é apaixonado pelo palco, e não por histórias (estórias).
 Ele se preocupa única exclusivamente com a equipe técnica. Iluminador, sonoplasta, cenógrafo, e muito, mas muito dinheiro no orçamento para gastar.
 Aqui vão três anões, ali duas loiras, perto da piscina, atrás do leão.
 Geralmente os criativos se cansam dos palcos Italianos convencionais. O edifício do teatro como conhecemos, o auditório com o palco.
 Preferem explodir o espaço cênico. Encenar a peça em Igrejas, em barcos, na fachada de prédios. Sim isso mesmo, na fachada, com atores pendurados como o Homem Aranha. Por que não? Vai ver quem quer.
 O texto? O texto é pretexto. Desde que o ponto de partida, seja um nome como Saramago, Tolstoy, Dostoyevsky, Machado de Assis, e as vezes um texto baseado em pintores, ou arquitetos, ou em chefes de cozinha, Picasso, ou Le Corbusier, Ferran Adria...  Em cineastas, em atrizes que já morreram, ou em qualquer coisa, artística ou não. Não importa. Pode ser baseado até neles mesmos, ou em uma notícia de jornal.
 Colocam os atores dando falas no escuro. Colocam um ator fazendo Shakespeare em grego contracenando com um ator alemão fazendo Nelson Rodrigues em japonês. Convidam celebridades para atuar, misturam vídeo, fazem cenas na rua.
 Colocam a plateia no palco, e o elenco na plateia. Às vezes acho que são para o teatro, o que arte conceitual é para as artes plásticas.
 Quando este tipo, criativo, tem de verdade uma personalidade forte, é seguro, pode sim acarretar um ótimo espetáculo. E as vezes até aparecer com uma forma narrativa interessante.
 Mas alguns aparecem com coisas que já foram feitas e refeitas há mais de cem anos. E vendem isso como inovação. Mas o que seria do mundo das artes convencional, sem os verdadeiramente criativos? Aliás, o que seria do mundo sem eles?
 Cabe lembrar que um destes diretores, que era outras coisas também, vereador, autor, teórico, era tão criativo, mas tão criativo, que fazia coisas sem dinheiro.
 Inventou o Teatro Invisível, o Teatro Fórum. Mas me acorre que Augusto Boal, fosse realmente um inventor, e não um criador.





 O BREGA: 


 O Diretor Brega, não tem muito segredo não. Ele tira toda forma de reflexão, polêmica, filosofia, sofisticação de um espetáculo. Ele simplesmente faz o famoso Teatrão. Ele possui um gosto duvidoso. Não é questão de fazer pizza, ou gastronomia refinada. Seria o famoso restaurante Paris 6, por exemplo. A função é agradar.
 Não que algo mais reflexivo, caprichado, não agrade tanto quanto.
 Alguns são bem resolvidos com apenas agradar o público em geral.
 O problema, se dá com os não verdadeiramente assumidos diretores bregas, que passam a querer ter uma imagem mais aceita pela opinião dita mais culta.
 E aí que se tornam mais bregas ainda. Pois muitas vezes são artesões que desejam parecer artistas. Mas um artista mais para o lado de um cantor sertanejo, astro de rock. Claro que as referências, serão Marco Nanini, Possi Neto, misturados com Tom Cruise e Suzana Vieira.
 O diretor Brega, é aquele indivíduo que não abrir mão de nada. No seu inconsciente ele quer ser como a rede Globo. Chique, com audiência, e ainda esbanjando cultura.
 Acontece que a Globo não faz teatro, tentou e quebrou a cara. Ou bem da verdade nunca quis. Nem tem nada a ver. Teatro não é indústria, propriamente dita. Se bem que os números financeiros dos atuais musicais, desmentem isso.
  Enfim, voltando, o cara quer ter tudo, beleza, dinheiro, Oscar de Hollywood, prestigio, e ainda ser um grande artista. Não dá. Pois pouquíssimas pessoas têm tudo. Se é que alguém tem tudo.
  O que eles fazem? Leis e mais leis Rouanets, correm atrás de atores famosos e assessores de imprensa que invariavelmente os acabam mandando para programas televisivos bregas, e frequentando estreias de espetáculos ditos mais artísticos, onde artistas fogem deles.
 De cinco em cinco em anos, arrumam uma enormidade de dinheiro, fazem um espetáculo caro, com elenco televisivo, um pé no musical, e seguem em frente.
 O espetáculo as vezes pode vir a ser até bom. Pois apesar de tudo, o diretor Brega, é sim um obstinado. Um lutador.
 Quem já não teve noites agradáveis com aquela menina brega, bem breguinha mesmo, mas com um sorriso lindo, e uma enorme vontade de vencer?
 Eu já tive. Desconfio as vezes que o teatro só não morre, por conta dos bregas. As vezes a peça toda é ruim, mas as vezes tem alguma cena, uma só que seja, tão brega, mas tão brega, que ela fica até verdadeira.
 É quando a alma deles é revelada.
 Agora ninguém, mas ninguém supera o coquetel de estreia de um diretor Brega. São os melhores.
 Porque para uma equipe brega, por mais que desejassem serem reconhecidos como artistas, o que define o sucesso pra eles, é sim, o lugar comum, uma casa cheia.
 E numa estreia a casa é sempre lotada. É muita felicidade. E muito champanhe.





 O TÉCNICO:


 Este tipo de diretor, é aquele prático. Objetivo. Ele pega o texto, destrincha ele todo. Quando reúne o elenco, ele lê cada personagem, para cada ator, que fará o personagem especifico.
 Define todos os gestos, o volume de cada fala, cada intenção, é extremamente matemático, metódico.
 A palavra que ele mais gosta é método. E é claro, ele tem o método dele. Que na verdade seria um método mais clássico desenvolvido para os dias atuais, para o ator contemporâneo. Mas é dele.
 O diretor Técnico, obviamente é professor. Já foi diversas vezes para Europa. Já morou em Moscou, em Londres e até estudou teatro oriental na Índia e no Japão. Ou pelo menos diz, que já fez tudo isso.
 Suas influências são Freud, Stanislavski, Lacan e Buda. Tudo parte do ator, e seu método. Até o cenógrafo tem que fazer os laboratórios do método. Porque tudo parte do ator, o cenário, o texto, o figurino, a luz, a direção, partem do ator.
 O ator é o centro do seu teatro. Aliás, centro do universo. Bonito, né? As atrizes jovens adoram.
 Deus é o método, e o método é Deus. E o ator sem ele, diretor técnico, não é nada. Pois ele, o diretor técnico, estudou com o discípulo do grande outro mestre.
 Ele possui a mágica que fará você, ator e atriz, serem grandes. Sem ele, e sem o método, vocês não são verdadeiros. Vocês não são nada.
 O diretor técnico cria então uma seita. Promete um fazer um teatro que nunca foi feito antes. Grita para o mundo que todos os outros teatros não estão certos. A não ser alguns trabalhos do Antunes, e do Grotowski.
 Geralmente este tipo de diretor, não sabe fazer comédia. E nem quer. Pois comédia não se encaixa nos seus laboratórios.
 Adora colocar atores andando para trás, esbugalhando os olhos. Em silêncio. Atores sentindo. Com desequilíbrio.
 Dizem que seus atores sentem muito. A plateia também sente. Sente arrependimento de estar lá.
 Muitos deles no Brasil colocam guardas chuvas em cena, em tentativa de copiar o mestre Antunes Filho, este realmente um diretor técnico. Técnico, mas genial.
 Por mais que o diretor técnico se torne uma caricatura dele mesmo, são eles que topam enfrentar a profunda busca no ator dentro dele mesmo.
 Acaba que o ator realmente sai valorizado do processo. O ruim é quando o ator não sai do processo.
 Muitos atores tendem a se apaixonar pelas teorias de teatro. Uma bobagem, pois teatro é prático e físico. Mas acaba que muitos atores se apaixonam também pelo seu mestre, o diretor Técnico. E não poucas vezes se tornam fanáticos, como em qualquer seita.
 A estreia geralmente é sem plateia. Pois o diretor técnico está em busca de um teatro puro.
 E as plateias nunca são puras, pois não estão preparadas para o seu teatro. Na verdade, os atores também não estão.























segunda-feira, 13 de julho de 2015

Tipos de ricos.

Tipos de Ricos:

 O conceito de rico é relativo. Para alguém com uma renda de 15.000 reais mensais, que convive com pessoas, com renda de até 2 mil, este alguém, é rico para os demais. E para ele mesmo.
 Já alguém com renda de 30 mil, mas que convive com pessoas com renda de 80 mil reais, também mensais, este alguém vai se sentir pobre.
 Uma curiosidade, existem uns 150.000 milionários no Brasil, destes, só uns poucos 35, tem um patrimônio maior do que um bilhão de dólares. Mas não é necessariamente dinheiro, que faz uma pessoa entrar nos nossos tipos. Às vezes, a postura, a caricatura, e a atitude, vem desacompanhadas de patrimônio. Basicamente, o que faz um rico existir, é a presença de um pobre.
 Se enxergarmos o indivíduo, e não o grupo à qual ele pertence, teríamos que ser complexos na descrição de cada ser. Por isso, isto aqui é um retrato das qualidades, características mais comuns, e não pretende ser a definição final.
 Tento também, apenas colocar uma visão talvez, mais para a artística, e não cientifica, nem marxista, muito menos religiosa.     
 Agora, chega de desculpas e vamos aos tipos:


O rico simples:


 Este tipo é aquele que realmente aprecia a pobreza. Quando vê pedreiros, pintores de paredes, jardineiros, faxineiros... trabalhando, lá vai o rico-simples puxar conversa. Seus assuntos basicamente são de temática cristã. Posta-se ao lado do trabalhador, e fala, fala, fala sem parar.
 Debocham de empresários, políticos, e falam da beleza de São Francisco de Assis. Da necessidade de ricos aprenderem a servir, para respeitar os pobres. Da inutilidade do consumo. Raramente quer saber a opinião do pobre. Trata o pobre como criança, animal de estimação. Adora chamar o pobre para sentar à mesa, tomar café.
 Leva os funcionários para almoçar, e até para beber junto. O rico-simples aprecia realmente a companhia do pobre. Gosta de verdade da comida, arroz feijão, pinga e piadas infames. Geralmente este tipo não trabalha, é herdeiro.
 Podem ser encontrados em clubes, hotéis de veraneio, principalmente fora de temporada, condomínios na praia e em classe turística em viagens de avião. Se veste com camisetas, tênis, e sem cores, nem luxo. Adoram ônibus vazios, onde apresentam notas de cem para os cobradores.




O rico babaca:


 Existe em qualquer país do mundo. Mas aqui, falo dos brasileiros. Quer sempre tudo do bom e do melhor. Adora a divisão de classe social. Perde muito tempo fiscalizando pessoas de classes inferiores, fazendo, agindo fora das regras, estas regras, por sua vez, que geralmente são delírios, do próprio rico-babaca.
 Ou repreender simplesmente, quando o pobre, ou indivíduo de classe inferior, localiza-se em lugares, ditos “fora da cozinha”.  
 Da pelo menos uma carteirada por dia. Nunca anda a pé, nem de ônibus. Seu carro é sempre blindado. E vê sujeira em tudo. Tem pavor de sol, pois tem pavor de sua pele escurecer. Não assiste nem filmes, nem peças de teatro, nacionais.  Aliás, não vai a cinemas, pra que? Se pode ver series americanas em casa?
 Se veste basicamente com roupas importadas e novas. Geralmente seu trabalho é chefiar, ou ainda ser puxa saco de poderoso. No caso, alguém maior que ele na escala das classes.



O rico- Moema:


 Como o próprio nome diz, trata-se de alguém que mora num bairro como o de Moema. E não, em um bairro dito mais aristocrático, Morumbi, Jardins e Higienópolis. O rico-Moema, não dá a mínima para tradição, sobrenomes e carteiradas.
 Ele é alguém que trabalha muito, quer qualidade de vida, mora próximo ao parque, é contido, quer um bom vinho, mas não o mais caro.
 Num país desenvolvido, ele seria alguém da classe média. Mas aqui no Brasil é rico.
 É visto com desdém tanto por ricos, quanto por pobres. Os primeiros dirão que é uma pessoa com ambições pequenas de classe média. Já os pobres, os acusarão de ser um fracassado.
 Ele sempre estará fora dos livros de história. É o chamado setor médio urbano. Não possui terras, nem fábricas, nem empresas.
 Geralmente são profissionais liberais. Ou trabalham em grandes empresas.
 No vestir, tentam seguir algo chamado “estilo”. Mas sempre desanda para algo sem muita criatividade. Politicamente são os mais conservadores. Pois querem conservar o pouco que têm.






O rico- Ipanema:


 Este tipo, apesar do nome, pode estar em qualquer grande Capital do Brasil. Recife, Rio, Belo Horizonte, Curitiba.  Trata-se do rico descolado. O famoso culturetes. Se considera melhor que um rico, ou intelectual Americano, ou mesmo o Europeu, pois o rico- Ipanema, seria o mais completo.
 Tem a mesma educação que os gringos, geralmente fez até colégio Americano, mas alega que conhece também a maravilhosa cultura Popular Brasileira.
 Antigamente eram fanáticos pela França, hoje eles têm uma ligação, ou predileção maior por Nova Iorque.
 Não se relacionam com funcionários. Adoram diaristas, e gostam de trabalhar com pobre que faz faculdade. Incentivam o pobre a estudar, mas ironicamente o rico- Ipanema autêntico, não tem muita formação acadêmica.
 Tem sim uma boa base. Geralmente os pais o mandam estudar fora, na Suíça, na Califórnia, em Londres.
 Se vestem com roupas dos amigos estilistas, são criativos, e até muito originais.
 Não produzem nada, seu trabalho é transformar a herança em ONGs, ou editoras de arte, reformas de apartamento, festas, vernissages...




O rico de verdade.


 Este tipo, meu leitor, é o rico, que é dono do banco que você deve. Do canal de televisão que você assiste. Da cerveja que você bebe. Do ônibus que você toma.
 Ele muitas vezes acorda, e passa o dia todo sem ver uma pessoa mais rica do que ele. Ou seja, com certeza, se ele não tem uma reunião, um jantar, um evento, onde seus pares vão comparecer, o rico- de verdade, só irá conviver com pessoas mais pobres do que ele.
 O sonho do rico de verdade, é ser mais rico dos que os Chineses. Comprar mais bancos, mais cervejas, mais televisões, mais construtoras.
 Seu medo, por sua vez, é perder dinheiro e deixar de ser rico de verdade.  E de algumas semanas para cá, alguns têm também medo de serem presos, detidos.
 Certa vez ouvi que este tipo, nunca fica louco. Pois o rico de verdade fica é no máximo excêntrico.
 Inexplicavelmente este tipo, também possui uma motivação, um desejo, assim como o rico- simples, de conviver com pobres, bem mais pobres do ele.
 E também uma propensão para consumir coisas simples. Como arroz e feijão.
 Para não dizer uma vontade de fazer atividades simples, como pegar uma enxada, fazer churrascos, pintar paredes.
 Por incrível que pareça, o rico de verdade, pode ser confundido com um pobre, pelo seu portar, e vestir.
 Porque a verdade é que as pessoas mais elegantes e educadas que existem são os ricos de verdade, e os pobres. 




O rico Golfe. 


 Este tipo, é aquele rico brasileiro, que decide viver no Brasil, mas como se estivesse nos Estados Unidos. Ele surge com o desenvolvimento da indústria Aeronáutica. Faz milhagem no cartão, por isso está sempre em Orlando, ou esquiando em Aspen.
 Conhece toda a Califórnia, no Brasil, mora em condomínios de casas, com nomes Americanos, que em nada diferem dos originais.
 O interior de suas casas seriam perfeitamente cópias dos subúrbios americanos, não fossem a quantidade de câmeras de segurança, e quartinhos de empregadas.
 O Rico Golfe, odeia samba, feijoada, é um verdadeiro cameleão, não fosse algo que o trai.
 Ele é mais colorido no vestir do que um americano comum. Uma calça vermelha, as vezes uma meia amarela, um tênis roxo, de resto até seus carros são aqueles enormes, iguais aos americanos
  O Rico Golfe, gosta de fartura. Louças grandes, muita comida, casa extremamente espaçosas, em condomínios ao lado de imensos campos de golfes.
 Ele vive no Brasil, como se o Brasil fosse marte. Tudo ao seu redor é blindado, carros, casas, shoppings.
 O Rico Golfe, nunca, mais nunca mesmo, foi ao centro de São Paulo, ou andou numa calçada fora de condomínio.
 Ele anda de ônibus, só em aeroportos, mesmo assim, com uma claustrofobia imensa.
 Metrô, nunca andou. Mesmo em NY, ele alugou limusines blindadas.
 Hoje ele vai numa reunião de condomínio, para tentar colocar ar condicionado no campo de golfe, afinal o Brasil ainda é um país tropical.




O rico saudosista.


 O rico saudosista, bem da verdade nunca foi rico. Ele aquele indivíduo que tem uma enorme vocação para rico, mas não tem dinheiro. Nem sabe como ganhá-lo. Tem amigos ricos, maneiras de ricos, gestual, oratória, de ricos, conhece tradições.
 Geralmente usa algumas palavras em francês. Sabe quem são as famílias tradicionais, e não raras vezes é monarquista.
 Tem loucura por brasões, e adora os anos 50. Cria toda uma fantasia de que sua família até os anos 50, teria um grupo empresarial. Fazendas, palacetes, criados, e faziam festas enormes. Ah! Os bons tempos, suspira o rico- saudosista.
 Depois passa a viver de saudosismo, pois começa a acreditar nesta fantasia. Tem um discurso de que se acostumou com a nova vida, de menos dinheiro, e menos glamour.
 Geralmente aluga um apartamento um dormitório, bem pequeno, mas muito bem localizado. No bairro dos Jardins de preferência. Compra algumas peças, objetos em feirinhas do Bixiga, e decora seu espaço como um fiel representante da decadência.
 Os amigos ricos então, revezam-se para leva-lo a bons restaurantes e casas de praias e fazendas aos finais de semana.
 Ele acaba sendo sempre convidado para vernissages, e eventos da alta sociedade. Sai em colunas sociais. E é sempre consultado sobre arte moderna, pintores principalmente, até os anos 60. Ele sempre alega que teve uma enorme coleção. E que seu avô era o melhor amigo e conselheiro de Juscelino Kubitschek.
 Mas numa entrevista, disse que sua família, originaria da França, foi rica mesmo, rica de verdade no período de Dom Pedro II.




O novo rico.


 Este talvez seja o mais clássico, e o que mais desperta a curiosidade das pessoas. O novo rico, seria o indivíduo que até uma semana atrás ainda era classe baixa. Logo todo seu comportamento se transforma, num curto período de tempo. E nem tudo pode ser tão rapidamente assimilado.
 O novo rico, com certeza é o mais excêntrico de todos os ricos. E bem da verdade ele quer frequentar a classe alta, não por gostar de ricos antigos, mas para se exibir para os antigos amigos pobres.
 Sua frase predileta é: “Antes novo, do que nunca”.
 Ele vai agora comprar tudo bom e do melhor, ou seja, vai adquirir o que é caro. Vai comprando tudo, misturando as coisas caras. Somando-se a isso uma estética que destaque ainda mais. Suas casas são ostentosas, suas festas também.
O som é alto, a felicidade é enorme, as risadas sem limites, seus closets labirintos infinitos de cores, e fantasias.
 Sua casa possui pomar, pianos de caldas, esculturas gregas, colunas romanas, com arquitetura moderna, formas e mais formas, sem unidade.
 Chafarizes, fontes, cascatas e escorregadores nas piscinas. Música sertaneja, pagodes, e televisões de última geração em todos os 15 banheiros de sua casa.
 Botões que fazem a sala girar. O novo rico tem uma propensão ao estilo Las Vegas de ser, misturado com o Shopping Internacional de Guarulhos.
 Ou ainda, não tem estilo algum. Só coisas extremamente caras, desajustadas, confusas e sobrando.
 Outra frase, e que serviria bem para este tipo, é: “O mais é menos”.




 O Rico Avarento.



 Este é fácil, existiu muito no século XX. São geralmente migrantes ou imigrantes. O Português da padaria, que se tornou milionário. O comerciante Turco. Fizeram dinheiro trabalhando muito, e economizando mais ainda.
 Eles nunca têm mais do que precisam em casa. Na própria casa digo. Porque alguns chegam a ter tantos imóveis, que nem sabem quantos são ao todo.
 Estão sempre reclamando de que a vida está difícil. É são extremamente desconfiados. Desconfiam de todos os prestadores de serviços. Têm pesadelos constantes de que foram roubados.
 Geralmente por não terem formação, morrem de medo de serem enganados.
 Não têm timidez nenhuma em pedir desconto, e possuem uma energia sobrenatural para uma negociação, nem que seja um desconto num café expresso.
 Desconfiam que a nova privada da reforma, de um de seus imóveis foi trocada. Que a faxineira está roubando cuecas usadas.
 Andam com as chaves de toda a casa e gavetas na cintura. Tudo está sempre trancado.
 Em hotéis, dormem com um dos olhos abertos.
 Em restaurantes, que só vão, se extremamente necessário, dão um show à parte.
 Se o garçom simplesmente pronunciar a palavra couvert, é capaz do rico avarento passar mal.
 Sempre leva as sobras para viagem. A água só é boa se for da torneira. E não se enganem, o rico avarento não aceita cortesias, nem presentes. Pois é muito desconfiado.
 A não ser um presente de casamento, que quando não considera bom o suficiente, devolve o presente e cobra um melhor.
 Se você leitor, considera isso muito exagerado, saiba que eu tive e ainda tenho parentes assim. E quando você tem acesso a lógica deles, as privações e as perseguições que passaram, tudo faz sentido.
 Este tipo não admira ninguém, não inveja ninguém, não odeia ninguém. Só tem medo. Muito medo e desconfiança. Seria cômico, se não fosse trágico.
 O rico avarento, geralmente começa a trabalhar aos oito anos de idade, e só para quando morre.




O rico- Forbes.



 E finalmente o rico Forbes. Este tipo, que na minha opinião deveria comprar a revista Forbes, e assim fazer com que seu nome constasse sempre da lista, mas não. Ao invés disso, o rico- Forbes, sofre todo ano.
 Será que meu nome vai estar na lista este ano? Será que cai de posição?
 É um ilusionista. É rico claro. Mas ele faz com que pensemos que ele é dez, as vezes até cem vezes mais rico do que ele realmente é.
 Por isso tudo na sua vida, tem de ter um significado de marketing. Não basta ser bilionário, tem de parecer bilionário, é o seu lema.
 O rico Forbes, faz selfies na frente de navios, edifícios novos de 50 andares. Sempre possuem carros milionários, helicópteros, festas extravagantes milionárias, e sempre pagam para serem rodeados de celebridades.
 Vivem intensamente. Perdem cem milhões num dia, ganham 150 milhões no outro dia.
 São adrenalina pura. Mas nem sempre a frase do 007: “Eu nunca perco”. Funciona.

 Mas a verdade é que as mulheres lindas tendem a gostar dos ricos Forbes.  

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Sobre verticalização.

Agora virou moda, falar que verticalização é prejudicial a cidade, a qualidade de vida, e seria um estilo de vida ultrapassado. 
E que os bairros deveriam ser, ou estritamente residenciais, ou estritamente comerciais. 
Eu que trabalho em casa onde ficaria? Tem uma balada, bar, de coxinhas, em frente de casa. Se eu gosto? Claro que não. Se tocasse um jazz, ao invés de música de academia, eu teria mais tolerância? Claro que sim. Adoraria. 
No que concluo, além de o inferno serem os outros, que numa cidade, para ser bela, interessante, não contam só as edificações, a música, o barulho e o verde (mesmo porque 99 por cento da arquitetura do mundo, não são obras de arte, pelo contrário, é ruim), contam outras variantes também. O ar por exemplo. E a cultura.
O que São Paulo tem de bom? São Paulo só é bom, quando o que tem de ruim, está um pouquinho melhor. O trânsito calmo, a balada dos coxinhas vazia, o calor mais ameno, e a oferta cultural maior.
De maneira, que não são os prédios novos a serem construídos, que me amedrontam. O que me amedronta, é estes novos prédios, serem parecidos com os antigos, que já existem.
E eles continuarem a serem habitados, por adoradores de shoppings, carros, barulho e condomínios.
Deixem os prédios em paz. Eles não são os culpados.

Ipanema, 1,6k quadrados de talento.

Acho que fui injusto com Ipanema, no meu último post. Ou ainda não tão bem compreendido. Ao compará-la a Copacabana. Eu causei conflito com alguns bairristas, e apaixonados por Ipanema. 
Tentarei concertar. Antes de mais nada, Ipanema, tem em mim, talvez, a maior de todas as influências culturais. Meus pais são da geração Ipanema. Todos os escritores, teatrólogos, divas, jornalistas, músicos, poetas, estilistas, pintores, formadores de opinião, cineastas, que eles me apresentaram, ou que eu tenha descoberto por mim mesmo, quase todos, vieram de Ipanema.
Por este motivo, acredito que temos um paradoxo, me sinto tão a vontade em Ipanema, que acabo ficando incomodado. Ainda muito criança, eu rodava as boutiques da rua Oscar Freire e Augusta com a minha mãe, e ainda muito criança minha mesma mãe me apresentou a Rua Visconde de Pirajá, dizendo que era como a Oscar Freire do Rio.
São Paulo não tem nenhum pedaço tão concentrado, onde tenham vivido tantos talentos juntos. Mas o que eu sinto hoje, é que aqueles nomes todos, aqueles anos todos, ficaram lá para trás da década de 80.
E se já em criança, comecinho dos anos 80, eu já reconhecia a similaridade, entre meu bairro Paulistano e Ipanema, agora então, constatar que onde havia o Píer, temos hoje o Fasano e o Bar Astor, é a concretização do que eu disse no post anterior.
Ipanema mudou o mundo. Ipanema foi uma explosão cultural, das mais importantes da história da humanidade. Podendo ser comparada a Firenze e a Atenas facilmente, sem exageros.
Mas o que teria acontecido, para que em tão pouco tempo, sucumbisse a discutível cultura dominadora paulistana?
Não existe lugar no mundo, em que um Paulistano de classe alta, se sinta mais em casa do que Ipanema. Só por isso, concluo que há algo de podre no reino de Ipanema.

Copacabana de novo.

Sem querer passar por elitista, mas aos 40 anos, conheço algumas grandes cidades. Buenos Aires, Lima, São Paulo, Cidade do México, Los Angeles, Nova Iorque, Londres, Paris, Roma (grande na idade), Tóquio, Cairo, Seul...
Por isso sei que cidades deste porte, são muito heterogêneas nas suas regiões, bairros, zonas, distritos. 
Sexta feira, tomo um avião em Congonhas, as 12h e desço no Santos Dumont, as 12:45h. De um bairro central de São Paulo para exatamente o Centro do Rio. É quase como pegar um metrô.
Mas o que eu quero dizer aqui, é de como as praias de Copacabana e Ipanema- Leblon são culturalmente tão distintas.
Seja na arquitetura, comportamento ou ainda etnias.
Como um Paulistano da gema, sinto que Ipanema tenha se tornado uma filial dos Jardins. As mesmas boutiques, restaurantes, hotéis, celebridades, bares, caras e nomes. A mesma comida inclusive e até o mesmo partido político.
Aquela brincadeira de dizer a Tijuca é a Mooca, a Lapa e Santa Tereza, são a Vila Madalena, Botafogo e Flamengo, equivalem a Higienópolis, Barra é Moema. São Conrado é Vila Nova Conceição. Urca é Pacaembu. Lagoa, Gávea e Jardim botânico, são Ibirapuera e Itaim.
Mas e Copacabana? Seria o Bixiga? A Avenida São Luis? Não.
Copacabana, no meu entender, é um caso único. É uma cidade dentro de uma cidade.
Há uma magia dentro de Copacabana. É um paradoxo. É, ao mesmo tempo, o que há de mais cosmopolita no Brasil, e mesmo assim, é, ao mesmo tempo, o que há de mais carioca, regional.
Alguns autores, dizem que Ipanema, foi uma maternidade cultural, um celeiro, berço nos anos 60, 70 e 80. Mas me desculpem, com o metro quadrado mais caro do Brasil, o natural foi o que aconteceu, o establishment Paulistano e os caboclos do “Cantri” Club, tomaram Ipanema.
Já em Copacabana, me sinto as vezes em Paris, as vezes em Havana, outras caminhando por Buenos Aires e principalmente em Nova Iorque. Onde se não em Copacabana, ou NY, se veem Negros e Judeus convivendo pacificamente, lado a lado? E ambas etnias serem tão cariocas, ou tão nova-iorquinas?
Eu que nasci em 74, e nunca cheguei a ver o Asdrúbal, o Píer, o Circo Voador, a Bossa, me apaixonei por Copacabana. Sua decadência, seu Glamour, grandeza, elegância, cultura e cosmopolitismo. Aquilo sim, foi Capital do Brasil. Não Ipanema, me desculpem.

A melhor mentira já contada.

Eram seis na mesa. O ideal são cinco, mas eram seis. Com cinco pessoas a conversa flui. Com seis já não flui. Dispersa em duas, ou até três diferentes papos. Assim diz a regra. 
Mas três deles eram fumantes, que passam mais tempo fora do bar fumando, do que dentro. Daí a conversa também flui. Quanta matemática.
Uma turma hyppe de 40 anos. O que hoje se chama de hyppe. Sendo atendida por uma garçonete de 20 anos. Uma garçonete também hyppe. Já notaram como as pessoas de vinte anos se vestem iguais as pessoas de 40?
Foi assim que se conheceram. Num domingo a tarde. Ele solteiro, grisalho, desquitado. Ela, universitária, engajada, politizada, alternativa, e porque não, aberta a novas experiências. 
No caso a nova experiência era pegar a estrada com o quarentão hyppe, para fotografar o interior do Brasil. 
Ele fora do mercado financeiro. Mas nunca se entendeu, ou se achou nesta profissão. Seu pai era da área, seu tio, irmão, por isso ele tinha relativa familiaridade com alguns termos, mas nunca teve um caso de amor com bolsa de valores, nem identificação. 
Casou-se com uma colega de faculdade. Faculdade de economia. Sua esposa abriu com duas sócias, nada hyppes, nada alternativas, um buffet de festa infantil. 
Um dia o fotografo faltou. No desespero, a mulher o chamou as pressas, para ocupar o lugar do fotografo e retratar a festa infantil, da menina que fazia 4 anos de idade. 
Ele adorou aquilo. As fotos ficaram melhor do que as do fotografo de costume, que havia adoecido. 
Gostou tanto, que fez um curso no MAM de fotografia. Passou a fotografar agora todas as festas infantis. 
Em pouco tempo se demitiu do mercado financeiro, e também se separou da mulher. Virou um fotografo de vez. Conheceu outros fotógrafos, conheceu galerias, se encontrou. 
Mudou de bairro, aprendeu a cozinhar, passou a frequentar todos os eventos culturais da cidade de São Paulo. Estava feliz e realizado. 
Nunca mais ouviu falar da ex-mulher. Sua turma mudou, seus interesses também. 
Como pôde viver tantos anos convivendo com a fotografia, sem nunca ter se dado conta, de que ela era sua vocação, sua paixão?
A universitária fazia cerâmicas. Ou melhor estudava artes. 
Foi uma viagem incrível. Era o final dos anos 80. O Brasil se democratizava. A menina tinha longos cabelos ruivos. Branca, ela contrastava com sertão do Brasil, ou melhor, o completava. 
Leila, puxou a mãe. Tem lindos cabelos ruivos. Coisa rara, pois os ruivos estão em extinção. Mas diferente dos pais, fez direito. Nada de artes visuais. 
Leila, entrou no escritório de Rita, uma senhora de uns 60 anos. Era Rita quem organizava e decidia todo o evento. No final ao se despedirem, Rita disse algo que pegou Leila de surpresa:
“Às vezes, a paixão de uma pessoa, está bem debaixo do nariz dela. Mas se você não mostra, não aponta, para esta pessoa, talvez ela passe uma vida inteira sem perceber. Sem se encontrar.”
Leila sem entender nada, perguntou de quem Rita falava. E a senhora respondeu, que era de Celso, pai de Leila. 
“A senhora conheceu meu pai?”
“Não só conheci, como contei pra ele uma mentira, que foi talvez a melhor coisa que aconteceu na vida dele. Uma mentira, sem a qual você menina, nem seu filho tão pouco, existiriam.”
“E posso saber qual é esta mentira?” Perguntou Leila. 
Rita riu, deu de ombros. 
“Claro que pode”.
“E qual é?”
“O fotografo adoeceu. Você Celso, precisa ficar hoje no lugar dele"