Personagens:
Jovem Alexandre o grande
Aristóteles
Um ator magro
Um ator gordo
Cena:
Antiguidade, escritório do jovem Alexandre da Macedônia, manhã.
Cenário:
Uma mesa, a qual debaixo de um dos seus quatro pés há um livro de calço. Algumas cadeiras.
(Alexandre e Aristóteles discutem durante a aula.)
ARISTÓTELES- Mas que idéia Alexandre, um museu de armas?
ALEXANDRE- É isso mesmo professor Aristóteles. Quero investir em marketing.
ARISTÓTELES- Então construa bibliotecas, centros esportivos, teatro, dança para juventude. Mas não posso concordar com um museu de armas.
ALEXANDRE- Blá,blá,blá... Além do mais já construí uma biblioteca em Alexandria.
ARISTÓTELES- Sim mas essa fica no meio do deserto.
ALEXANDRE- Tanto melhor assim ninguém lê aqueles livros.
ARISTÓTELES- Não entendi? Para que fazer uma biblioteca onde ninguém lê os livros?
ALEXANDRE- Porque passa a imagem de um bom governante preocupado com o social. Depois se as pessoas começam a ler vão ficar instruídas e se ficarem instruídas irão querer derrubar o meu governo.
ARISTÓTELES- Isso é censura!
ALEXANDRE- Eu sou o dono do mundo, faço o que eu quiser. E além do que nenhum daqueles livros fui eu que escrevi, não levo os méritos e sim os autores, já um museu de armas.... (Suspira). A glória é só minha, pois sou um guerreiro. O maior do mundo e chega de teoria Aristóteles.
ARISTÓTELES- Não permito.
ALEXANDRE- Você acha que sempre tem razão não é? Pois saiba que descobri furos em suas teorias.
ARISTÓTELES- Furos? Impossível!
ALEXANDRE- Achei.
ARISTÓTELES- Furos?
ALEXANDRE- Furos.
ARISTÓTELES- Furos?
ALEXANDRE- SIM! E testei. E comprovei.
ARISTÓTELES- Em qual delas por exemplo?
ALEXANDRE- Na da gravidade. (Pega a apostila e lê.) Aqui você diz que objetos mais pesados caem mais rápidos do que os objetos leves.
ARISTÓTELES- E está correto.
ALEXANDRE- Não. Não está e vou te provar. (Vai até a porta e grita para fora.) Mandem entrar os dois voluntários. (Entram o ator gordo comendo um saco de pipoca e ator magro, o gordo encontra-se feliz e não percebe a gravidade do que vai acontecer já o magro está distante um tanto quanto melancólico.) Estes são os voluntários, já testei em outros e vou agora te provar.
ARISTÓTELES- Mas afinal o que você vai fazer com estes homens Alexandre?
ALEXANDRE- Como assim? O que eu vou fazer? Vou jogá-los.
ARISTÓTELES- Jogá-los aonde?
ALEXANDRE- Pela janela, vou jogá-los exatamente juntos para vermos quem chega primeiro ao solo, se é o mais pesado (Aponta para o gordo) ou se é o mais leve? (Aponta para o magro, nisso o ator gordo fica desesperado e para de sorrir e comer pipocas.)
GORDO- (Olha para o magro, mas este está olhando para o infinito e não muda a expressão, depois diz para Alexandre.) Mas não vai machucar a gente?
ALEXANDRE- Qual nada.
GORDO- (Vai até a janela e olha para baixo.) Mas é muito alto, não estou treinado. (Volta a olhar para o magro, que continua imóvel.) Você não acha? (O magro dá de ombros).
ALEXANDRE- Você que é mais fortinho não dá nada.
GORDO- Não quero.
ALEXANDRE- Cala a boca é pela ciência. (Empurra os dois, o gordo e magro, em direção a janela. No que o magro ao ver o livro de Aristóteles calçando a mesa corre até ele e o retira.)
MAGRO- Mas este livro sobre existencialismo é ótimo. Fez-me sentir tão leve.
ARISTÓTELES- (Bravo, tira o livro da mão do magro.) Não acredito Alexandre! Você colocou o meu livro calçando o pé da mesa?
ALEXANDRE- Eu dei uma utilidade a ele. Ou a mesa ia ficar bamba?
ARISTÓTELES- Vou me embora daqui.
ALEXANDRE- Mas não é para tanto!
ARISTÓTELES- Vou para o Brasil, aceitar o cargo de reitor numa universidade federal, com cartão corporativo e tudo. (Sai.)
ALEXANDRE- (Corre até a porta e fala para o lado de fora do palco.) Espera ainda nem jogamos os caras. É divertido, precisa ver o jeito que eles gritam. (Ninguém responde ele volta e encara o magro.) E você precisava mostrar que o livro era o dele? Eu nem tinha reparado.
GORDO- Estamos liberados Seu Alexandre?
ALEXANDRE- Estão nada, pode pular é já. (Tira uma faca o gordo sai correndo de cena como se pulasse uma janela, ouvimos os gritos e depois uns gemidos.)
GORDO- Estou vivo! Ai! Ai! Estou vivo. Escapei! Consegui! Não acredito! Uhuh! (Barulho de caminhão buzinando que atropela o gordo.)
ALEXANDRE- (Para o magro.) Bonito, agora quem vai resolver o meu problema? Se meu filósofo, ministro de assuntos especiais foi embora?
MAGRO- (Olha em volta e depois confiante.) Eu?
ALEXANDRE- (Irônico.) Claro, você um peão qualquer, vai me dizer como construir um museu de armas sem tirar dinheiro do estado, porque a oposição vai dizer que eu estou gastando dinheiro público em benefício próprio e sem tirar da minha fortuna pessoal porque eu não sou bobo nem nada. Como então? Você tem um minuto para me dizer. (Mostra a faca ao magro.)
MAGRO- (Depois de refletir um pouco.) Essa é fácil.
ALEXANDRE- Fácil?
MAGRO- Faça como eu e minha patroa fazemos todo mês.
ALEXANDRE- E o que vocês fazem?
MAGRO- Reservamos quatro por cento do nosso ganho para atividades culturais.
ALEXANDRE- Não entendi qual a relação?
MAGRO- Museu não é cultura?
ALEXANDRE- Sim e daí?
MAGRO- Então faça os comerciantes e grandes banqueiros tirarem todo mês quatro por cento... Digamos do imposto de renda deles, seria assim uma isenção fiscal, o contribuinte ou a empresa contribuinte ficaria isenta desses quatro por cento e se tornaria um mecenas.
ALEXANDRE- (Fazendo as contas.) Taí gostei. A lei do mecenato. Todo mundo fica feliz e meu museu sai.
MAGRO- Já que gostou, que tal uma bolsa de estudos para mim em Atenas?
ALEXANDRE- Farei melhor que isso.
MAGRO- Melhor?
ALEXANDRE- Qual o seu nome?
MAGRO- Rouanet.
ALEXANDRE- Darei o seu nome a lei. Agora suma. (Magro sai correndo.)
(Pano.)