terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Museu de armas

Personagens:

Jovem Alexandre o grande

Aristóteles

Um ator magro

Um ator gordo



Cena:



Antiguidade, escritório do jovem Alexandre da Macedônia, manhã.



Cenário:



Uma mesa, a qual debaixo de um dos seus quatro pés há um livro de calço. Algumas cadeiras.



(Alexandre e Aristóteles discutem durante a aula.)



ARISTÓTELES- Mas que idéia Alexandre, um museu de armas?



ALEXANDRE- É isso mesmo professor Aristóteles. Quero investir em marketing.



ARISTÓTELES- Então construa bibliotecas, centros esportivos, teatro, dança para juventude. Mas não posso concordar com um museu de armas.



ALEXANDRE- Blá,blá,blá... Além do mais já construí uma biblioteca em Alexandria.



ARISTÓTELES- Sim mas essa fica no meio do deserto.



ALEXANDRE- Tanto melhor assim ninguém lê aqueles livros.



ARISTÓTELES- Não entendi? Para que fazer uma biblioteca onde ninguém lê os livros?



ALEXANDRE- Porque passa a imagem de um bom governante preocupado com o social. Depois se as pessoas começam a ler vão ficar instruídas e se ficarem instruídas irão querer derrubar o meu governo.



ARISTÓTELES- Isso é censura!



ALEXANDRE- Eu sou o dono do mundo, faço o que eu quiser. E além do que nenhum daqueles livros fui eu que escrevi, não levo os méritos e sim os autores, já um museu de armas.... (Suspira). A glória é só minha, pois sou um guerreiro. O maior do mundo e chega de teoria Aristóteles.



ARISTÓTELES- Não permito.



ALEXANDRE- Você acha que sempre tem razão não é? Pois saiba que descobri furos em suas teorias.



ARISTÓTELES- Furos? Impossível!



ALEXANDRE- Achei.



ARISTÓTELES- Furos?



ALEXANDRE- Furos.



ARISTÓTELES- Furos?



ALEXANDRE- SIM! E testei. E comprovei.



ARISTÓTELES- Em qual delas por exemplo?



ALEXANDRE- Na da gravidade. (Pega a apostila e lê.) Aqui você diz que objetos mais pesados caem mais rápidos do que os objetos leves.



ARISTÓTELES- E está correto.



ALEXANDRE- Não. Não está e vou te provar. (Vai até a porta e grita para fora.) Mandem entrar os dois voluntários. (Entram o ator gordo comendo um saco de pipoca e ator magro, o gordo encontra-se feliz e não percebe a gravidade do que vai acontecer já o magro está distante um tanto quanto melancólico.) Estes são os voluntários, já testei em outros e vou agora te provar.



ARISTÓTELES- Mas afinal o que você vai fazer com estes homens Alexandre?



ALEXANDRE- Como assim? O que eu vou fazer? Vou jogá-los.



ARISTÓTELES- Jogá-los aonde?



ALEXANDRE- Pela janela, vou jogá-los exatamente juntos para vermos quem chega primeiro ao solo, se é o mais pesado (Aponta para o gordo) ou se é o mais leve? (Aponta para o magro, nisso o ator gordo fica desesperado e para de sorrir e comer pipocas.)



GORDO- (Olha para o magro, mas este está olhando para o infinito e não muda a expressão, depois diz para Alexandre.) Mas não vai machucar a gente?



ALEXANDRE- Qual nada.



GORDO- (Vai até a janela e olha para baixo.) Mas é muito alto, não estou treinado. (Volta a olhar para o magro, que continua imóvel.) Você não acha? (O magro dá de ombros).



ALEXANDRE- Você que é mais fortinho não dá nada.



GORDO- Não quero.



ALEXANDRE- Cala a boca é pela ciência. (Empurra os dois, o gordo e magro, em direção a janela. No que o magro ao ver o livro de Aristóteles calçando a mesa corre até ele e o retira.)



MAGRO- Mas este livro sobre existencialismo é ótimo. Fez-me sentir tão leve.



ARISTÓTELES- (Bravo, tira o livro da mão do magro.) Não acredito Alexandre! Você colocou o meu livro calçando o pé da mesa?



ALEXANDRE- Eu dei uma utilidade a ele. Ou a mesa ia ficar bamba?



ARISTÓTELES- Vou me embora daqui.



ALEXANDRE- Mas não é para tanto!



ARISTÓTELES- Vou para o Brasil, aceitar o cargo de reitor numa universidade federal, com cartão corporativo e tudo. (Sai.)



ALEXANDRE- (Corre até a porta e fala para o lado de fora do palco.) Espera ainda nem jogamos os caras. É divertido, precisa ver o jeito que eles gritam. (Ninguém responde ele volta e encara o magro.) E você precisava mostrar que o livro era o dele? Eu nem tinha reparado.



GORDO- Estamos liberados Seu Alexandre?



ALEXANDRE- Estão nada, pode pular é já. (Tira uma faca o gordo sai correndo de cena como se pulasse uma janela, ouvimos os gritos e depois uns gemidos.)



GORDO- Estou vivo! Ai! Ai! Estou vivo. Escapei! Consegui! Não acredito! Uhuh! (Barulho de caminhão buzinando que atropela o gordo.)



ALEXANDRE- (Para o magro.) Bonito, agora quem vai resolver o meu problema? Se meu filósofo, ministro de assuntos especiais foi embora?



MAGRO- (Olha em volta e depois confiante.) Eu?



ALEXANDRE- (Irônico.) Claro, você um peão qualquer, vai me dizer como construir um museu de armas sem tirar dinheiro do estado, porque a oposição vai dizer que eu estou gastando dinheiro público em benefício próprio e sem tirar da minha fortuna pessoal porque eu não sou bobo nem nada. Como então? Você tem um minuto para me dizer. (Mostra a faca ao magro.)



MAGRO- (Depois de refletir um pouco.) Essa é fácil.



ALEXANDRE- Fácil?



MAGRO- Faça como eu e minha patroa fazemos todo mês.



ALEXANDRE- E o que vocês fazem?



MAGRO- Reservamos quatro por cento do nosso ganho para atividades culturais.



ALEXANDRE- Não entendi qual a relação?



MAGRO- Museu não é cultura?



ALEXANDRE- Sim e daí?



MAGRO- Então faça os comerciantes e grandes banqueiros tirarem todo mês quatro por cento... Digamos do imposto de renda deles, seria assim uma isenção fiscal, o contribuinte ou a empresa contribuinte ficaria isenta desses quatro por cento e se tornaria um mecenas.



ALEXANDRE- (Fazendo as contas.) Taí gostei. A lei do mecenato. Todo mundo fica feliz e meu museu sai.



MAGRO- Já que gostou, que tal uma bolsa de estudos para mim em Atenas?



ALEXANDRE- Farei melhor que isso.



MAGRO- Melhor?



ALEXANDRE- Qual o seu nome?



MAGRO- Rouanet.



ALEXANDRE- Darei o seu nome a lei. Agora suma. (Magro sai correndo.)

(Pano.)