quarta-feira, 30 de março de 2011

A Trupe. Capítulo 5


 Lapa.

 Rodolfo foi o mais fácil. Ele já nos esperava, Bia ligou avisando. O lugar parecia um misto de shopping center com galpão industrial. Ele estava numa mesa na lanchonete, com uma mulher, mais para menina. Era bonitinha e alternativa.
 Levantou-se e veio correndo nos abraçar. Dizia alto para a menina:
 “Aprendi tudo o que eu sei com esses caras”.
 Rapidamente nos disse que estava tudo resolvido que ele iria produzir o espetáculo, que já tinha o “Teatro do Lado”, um novo lugar que trabalhava com montagens nem tão offs e nem tão comerciais. Um meio termo entre qualidade e público. Eu já conhecia e adorei a idéia de estrearmos no Rio.
 Enquanto Rodolfo falava comigo e Duda, Mari se entretinha com a nova amiga.
 “E afinal qual é a condição?” Perguntei.
 “Que ela participe.” Rodolfo apontou a menina que parou de falar com Mari e nos olhou.
 “Não tem papel eu disse. E não vou mudar a peça.”
 “Ela não é atriz.”
 “Então... Duda você quer uma assistente?”
 “Eu sou cenógrafa aqui no Rio eu já fiz muita coisa boa.”
 "Cenógrafa?" 
 Mari foi rápida:
 “Ok fechado.”
 Tudo começou a ir numa velocidade muito mais rápida do que eu e Mari imaginávamos. Em 48 horas estava tudo acontecendo. Frederica foi buscar Napoleão no aeroporto. O humorista de satand-up disse que tinha tirado férias de humor solo.
 Rodolfo disse que eram só mais duas semanas de gravação, mesmo assim havia possibilidade de horários a noite.
 Fomos jantar na Lapa, todos nós reunidos. Os sete. A Trupe do Sol. Dez anos depois juntos novamente. Foi uma alegria. Depois ainda saímos para um show de samba.
 Não lembro como aconteceu, Bia dançando na minha frente e de repente o beijo. Um beijo de dez anos de espera. De onze na verdade. Fugimos de todos e fomos para um hotel ali na Lapa mesmo. 
 Bia sem roupa ficara até mais bonita com a idade. Sua beleza clássica a deixara extraordinariamente perfeita. Foi lindo.
 No dia seguinte Duda colocou todos para se mexer. E andávamos por um espaço que Rodolfo tinha providenciado. Era nosso primeiro ensaio. Duda antes da leitura queria que nos mexêssemos, afinal como ele dizia, um texto deve servir e não servido.
 Duda era um paradoxo, maluco e desorganizado por fora era um metódico perfeccionista por dentro.
 Andávamos pelo espaço ouvindo uma música e nos olhando, todos extremamente alegres. Foi quando eu passei correndo por Mari e pude ver seus olhos irem para cima e em seguida o desmaio.
 Todos ficaram perplexos, pois só eu sabia do que se tratava. Corri para pegá-la ao mesmo tempo em que Bia pedia:
 “Alguém chame uma ambulância.”
 “Não há tempo, vamos com o seu carro.” Eu disse, já com Mari nos meus braços.    

A Trupe. Capítulo 4


 Um por todos e todos por um.

 Quem abriu o elegante apartamento no bairro do Jardim Botânico, foi ninguém menos do que Frederica. Ele estava mais magro do que antigamente. Convidou-nos para entrar e eu Mari com não entendíamos nada, ainda mais com o sumiço do Duda que não apareceu de manhã. De manhã, entenda-se ao meio dia, que foi o horário em que acordamos.
 “O que você está fazendo na casa da Bia?” Eu quis saber.
 “Eu moro aqui.” Frederica respondeu.
 Explicou-nos que quando estava em cartaz na cidade, e ele estava num musical, um grande musical como ele disse se hospedava na casa da amiga Bia.
 “E cadê o Rodolfo e a Bia?” Perguntou Mari.
 Fred fez uma cara de espanto. “Então vocês não sabem?”
 Não. Não sabíamos que Bia e Rodolfo já não estavam juntos há um ano. Frederica nos contou que Rodolfo conhecera uma menina, uma atriz de 19 anos e se apaixonara. Bia por sua vez havia conhecido um publicitário quarentão. A separação foi numa boa porque nenhum dos dois, mas se aturavam.
 Depois de separados voltaram a sair junto e resolveram sair de casal. Bia com o publicitário e Rodolfo com a atriz adolescente. Dois meses depois, Bia pegou o publicitário quarentão com a menina adolescente.
 “A mesma?” Mari colocou a mão na boca.
 “A mesma.” Contou Frederica que agora estava satisfeita com tanta fofoca.
 Minutos depois Bia chegou. Entrou na sala nos viu e parou. Ficamos os três nos olhando. Até que Frederica cortou o silencio. Vieram almoçar conosco. Eu já mandei a Marlene ir ao supermercado.
 Foi uma choradeira. Dez anos sem nos ver e sem conversar.
 “Por que ficamos tanto tempo sem nos falar?” Quis saber Bia. Ninguém sabia. Ninguém se lembrava. Napoleão brigou com Fred, eu com Bia, Duda brigou com o Rodolfo, e Mari?  Mari não brigou com ninguém.
 Contamos a história toda aos dois. Que queríamos juntar a Trupe, fazer teatro novamente. Que nunca esquecemos o quanto, nós fomos felizes.
 “Eu te assistir na sua última peça Mari.” Disse Bia.
 “Eu sei Bia. Quando uma atriz da novela das oito vai ao teatro todos a vêem, mesmo que ela fuja sem ir ao camarim falar comigo depois.”
 “Eu amei sua peça. Eu estou adorando que vocês estejam aqui. Mas eu não posso aceitar este convite. E mesmo porque vocês dois estão loucos. Por que voltar uma coisa que já aconteceu? Ok nós fomos felizes, mas temos de seguir em frente. Eu já não sou aquela Bia. A Frederica também já não é mais a Frederica daquela época. Mesmo que vocês dois estejam lindos e o Leo embora com uns fios grisalhos no cabelo, mesmo assim não mudou quase nada. Mas nós envelhecemos. Tudo tem um começo, um meio e um fim. Foi o Leo que me ensinou isso. Lembra querido? Meu Deus! Dez anos sem nos falar!”
 “Bia, nós poderíamos ensaiar aqui no Rio para não te atrapalhar na Televisão.” Tentou Mari.
 “Mari eu não faço mais teatro. E eu estou feliz. Depois quem iria me dirigir aquele maluco do Duda, que até hoje é louco e socialista?”
 A empregada entra na sala e diz:
 “Dona Beatriz o porteiro disse que tem um homem lá embaixo procurando à senhora, diz que parece um mendigo e o nome dele é Carl Marx. Deve ser do teatro também, né?”
 “Falando nele.” Eu disse.
 “Mande subir.”
 Duda salvou o plano. Quando Bia o viu entrar, tremeu toda. Dizem que a primeira transa a gente nunca esquece e nem o primeiro diretor.
 “Sinto lhe dizer Beatriz que a sua interpretação caiu muito pelo que eu ando vendo na televisão.”
 “E você tem me assistido Eduardo?”
 “Que jeito se a TV do instituto Bairral não sai da Globo.”
 “Instituto o que?” Quis saber Frederica e depois continuou. “Desculpe-me Mari, o problema ainda é outro mesmo se aceitássemos...” De repente parou. Começou a chorar. “Eu quero Bia! Eu quero Bia! Eu amo essa gente cadê o texto?”
 Bia prometeu que ia pensar e a noite nos responderia. Despedimos-nos e seguimos para a Rede Globo. Faltava um ainda.
 “Eu acho que ela nunca deixou de te amar.” Me disse Mari.
 “Mas eu acho que eu deixei.” Respondi.
 "Me engana que eu gosto." 
 Não sei se era verdade o que eu dizia. Nós nunca sabemos. A voz de Bia me atravessou. O olhar era o mesmo e parecia que ela só melhorara com o tempo.
 No caminho me deu saudades de Rodolfo. Enfim ele não era mais um concorrente. E eu tinha um personagem para ele.
 “Afinal aonde você se meteu Duda?” Mari perguntou.
 “Eu fui rezar. Vocês podem não estar levando isto a sério, mas eu sou o Diretor desta Trupe eu sou o responsável. E eu não vou desaparecer. Afinal já pensaram em que teatro?”
 E o táxi chegou à rede Globo. Em 36 anos de vida assistindo a Globo eu nunca estivera lá pessoalmente. E acho que tanto Duda quanto Mari também não.
 "É aqui?"
 "Deve ser." 
 "Então vamos".
 E entramos.