quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A menina da mochila

Bem antigamente, há uns vinte e quatro anos atrás, toda segunda feira, o clube Paulistano fechava seus bares e restaurantes às oito horas da noite. E os vigias eram dispensados mais cedo.


Aproveitando isso, eu e os outros meninos saíamos do treino de pólo aquático e nem tomávamos banho. Corríamos para um telhado próximo ao vestiário feminino, onde deitados de barrigas para baixo, víamos pelas frestas das janelas, as meninas tomarem banho. Nunca soube se elas tinham conhecimento disso ou não. Nessa época eu era fascinado pelas mulheres mais velhas. As de dezesseis anos.

Nessa época a menina da mochila ainda não tinha nascido.

“Leo, você quer uma mochila? Uma que eu não uso mais? Já que você está sem”.

Aceitei. Era uma mochila que ela usou quando estudante. Tem o nome dela escrito dentro à caneta. Sempre imagino, ela pequena abraçando a mochila. Jogando ela longe com raiva. Aflita por tela perdido e depois de encontrá-la dar um sorriso de alívio.

Hoje nadando, eu vi uma bola amarela ali na minha raia. Puxei com o pé direto pra mão. Surpreendi-me. Anos depois e eu ainda tenho os mesmos reflexos de jogador de water pólo. Lancei a bola para a outra piscina.

“Obrigada”.

Disse uma jovenzinha jogadora de water pólo. Bem mais jovem que a moça da mochila.

Ontem vi uma mulher, dessas de capa da vogue, de filmes de hollywood tomar banho. E dessa vez ela sabia que eu a estava vendo. Ela me deu um chocolate e outras coisas mais.

Disse que não entendia como eu tinha uma “mochila” velha e ruim se eu podia ter qualquer “mochila”. Chegou com os olhos junto aos meus e me disse que eu era melhor do que eu achava ser. Bem melhor.

“Você pode tudo”. Ela disse.

Talvez ela tenha razão. Não sou mais aquele menino voyeur.

Só que será que eu melhorei? Talvez eu gostasse mais das aventuras do que a vitória dos jogos.

Adoro levar um fora. Poder sofrer, sonhar, invejar os grandes conquistadores.

Sobre a mochila não é um apego por uma peça de roupa dessas extravagantes que não conseguimos doar.

Não é tão pouco uma maneira de ter algo que ela a menina, hoje mulher, me deu. E que eu a sinta quando abraço a mochila e vendo o seu nominho escrito.

Não leitor, não sou esse tipo de doente. Sou pior.

É uma forma de ter um objeto que represente meu fracasso amoroso. Porque um chocolate é bom, mas dura pouco.

Alice, a menina dona da mochila, não virá buscá-la, pois ela foi para o país das maravilhas.

E eu talvez entre para o Guines, com essa mochila mais batida do mundo. Mais até que a do vendedor de revistas Oca da Vila Madalena.

Melhor seria imprimir esta folha, colocar dentro da mochila e voltar no tempo.

“Leo, você quer uma mochila? Uma que eu não uso mais? Já que você está sem”.

“Não. Não quero a mochila. Quero você.”