domingo, 19 de dezembro de 2010

Aeroporto internacional de Salvador

5 ou 4 atores.

Personagens:


Funcionário 1

Funcionário 2

Dom Quixote

Sancho Pança

Jesus

Rei da Espanha

Turista Alemão



(Guichê de alfândega do aeroporto, um funcionário graduado conversa com seu inferior.)



SUPERENTENDENTE- Com toda a opinião pública em cima, temos de usar a lei de reciprocidade. Está me entendendo?



FUNCIONÁRIO- Sim senhor.



SUPERENTENDENTE- Qualquer vôo vindo da Espanha os passageiros têm de estar com todos os requisitos básicos necessários para adentrar no Brasil: Passagem de volta, cartões de crédito, quatrocentos reais por dia, documentos que provem laços fortes com o país de origem, no caso a Espanha.



FUNCIONÁRIO- Sim senhor. Mas se me permite chefe tenho de ser assim tão rigoroso? Afinal aqui é Salvador.



SUPERENTENDENTE- É para barrar mesmo. Não interessa! E digo mais, se gringo fazer barulho, achar injusto leva para salinha e mete o braço. (Olha para o público.) É ou não é? Não é assim eles fazem com a gente?



FUNCIONÁRIO- O senhor mandou ta mandado. Pode levar para salinha mesmo?



SUPERENTENDENTE- Pode não, é para levar. Fez barulho mete a mão. (Sai, voz em off.)



AUTO FALANTE- Vôo vindo do aeroporto de Barrados em Madri acaba de pousar. (O funcionário do guichê mimetiza estar vendo uma fila.)



FUNCIONÁRIO- Próximo! (Eis que Dom Quixote e Sancho Pança se aproximam, Dom Quixote age como se aquilo fosse algo trivial, como que acostumado a viagens internacionais. Já Sancho vem bem nervoso com a situação nada casual, ele sabe que o funcionário percebe sua origem humilde, os dois param em frente ao funcionário que aguarda os documentos, porém nada acontece.) E então?



DOM QUIXOTE- Pois não?



FUNCIONÁRIO- Passaportes e documentos! Vamos! Vamos! Que gente lerda.



DOM QUIXOTE- (Dá um passo atrás e começa uma falação descritiva.) Meu caro servidor do estado. Eu sou o fidalgo Dom Quixote, proveniente de La Mancha. Este, que aqui vos encontra, é Sancho Pança, meu fiel escudeiro...



FUNCIONÁRIO- Sei. Sei! Mas não está faltando alguma coisa?



SANCHO- Ah! O Rocinante, o cavalo do patrão, como não. Nós despachamos em Madri.



FUNCIONÁRIO- O que diabos é isso? Cadê os documentos?



SANCHO- (Pegando o passaporte.) É esse doutor?



FUNCIONÁRIO- E o do velho?



SANCHO- Ele é um cavaleiro andante..



DOM QUIXOTE- Sou o Fidalgo...



FUNCIONÁRIO- Lamento, mas assim não será possível a sua entrada. Que hotel vão ficar?



SANCHO- Bem o senhor conhece alguma boa pousada?



FUNCIONÁRIO- Cartão de crédito, passagem de volta? (Se irrita com a demora de Sancho.) Vamos é para hoje! (Sancho procurando numa sacolinha.) Dêem licença à fila é grande aguardem no canto aí ao lado. (Os dois vão para o lado.) Próximo! (Surge um travesti espanhol.) Documentos, por favor?



TRAVESTI- (Colocando tudo sobre o balcão.) Passapoerte, cartones, dineiro, documentos, reserva de hotele... (Funcionário checa tudo.) Me poedo ir?



FUNCIONÁRIO- Motivo da viagem?



TRAVESTI- Me voi a uno congresso de travestis em Salvador e depois sigo para Gay parede em San Paolo.



FUNCIONÁRIO- (Olhando o travesti de cima a baixo.) Como eu posso acreditar que você é realmente um profissional?



TRAVESTI- Tieno cá a carta de meu cafeton assinada, fotos... (Dá um álbum com fotos que o funcionário começa a ver.)



FUNCIONÁRIO- Há quanto tempo você está com este cafetão?



TRAVESTI- No copreendi?



FUNCIONÁRIO- Entendeu sim. Quanto tempo? É ponto próprio ou paga aluguel?



TRAVESTI- No, a mas de oitcho anhos que trabarro em lá mesma avevida.



FUNCIONÁRIO- Sinto muito, mas a senhora não vai poder entrar no Brasil, deve retornar a Espanha?



TRAVESTI- Piero, por que no? Tieno toda la documentacion, o dinheiro, soi una profissional...



FUNCIONÁRIO- Insuficiência de provas que atestem o seu vinculo com seu país de origem.



TRAVESTI- Mas ta piensando o que? Los travecos brasilenhos é que van a Espanha.



FUNCIONÁRIO- Quanto o senhor cobra pelo mixe?



TRAVESTI- Pelo programa? Mas isto é uma cosa particular, donde está la dignidade humana?



FUNCIONÁRIO- Abaixa a voz!



TRAVESTI- Exijo ver um funcionário do consulado imediatamente.



FUNCIONÁRIO- Não vai ver.



TRAVESTI- (Levantando a voz.) Diga-me por que razion no me poedo adentrar?



FUNCIONÁRIO- Não interessa! (Dom Quixote intervem.)



DOM QUIXOTE- (Para o travesti.) Donzela o que este infame lhe disse?



TRAVESTI- (Se assusta.) Es uno covarde. Faltou-me com o respeito!



DOM QUIXOTE- Vais ver seu mouro, como respeitar uma donzela ingênua.



SANCHO- Calma meu senhor.



DOM QUIXOTE- Calma porra nenhum.



TRAVESTI- Joi soi castelhana tieno sangue caliente.



FUNCIONÁRIO- Com uma enorme chave. Vai tudo para salinha. Vão já! (Vai empurrando eles para fora do palco e dá uns cascudos em Dom Quixote.)



TRAVESTI- Donde está o consulado de Espanha. Joi no soi de Costa Rica ou Bolívia cabron! Joi soi espanhola! Uma potencia européia.



FUNCIONÁRIO- (Sancho em pânico, travesti e Dom Quixote tentando argumentar.) Para salinha. (Saem, ouvem-se gritos, funcionário volta.) Próximo! (Surge Jesus cristo.)



JESUS- Salve irmão!



FUNCIONÁRIO- Bom dia, passaporte?



JESUS- Perdi.



FUNCIONÁRIO- Nacionalidade?



JESUA- Cidadão Romano.



FUNCIONÁRIO- Idade?



JESUS- Não me reconhece? (Funcionário olha para Jesus sem mostrar reação amigável). Eu sou Jesus.



FUNCIONÁRIO- Ah me desculpe, é que a gente fica atordoado e temos ordens de pedir identificação mesmo para celebridades, o senhor me entende não é?



JESUS- (Feliz, se divertindo.) Mas eu sou eu. Sou Jesus.



FUNCIONÁRIOS- Mas não tem aí nada que prove que você é você? Uma carteirinha da igreja?Um milagre?



JESUS- (Pensando.) Não. A cruz eu despachei.



FUNCIONÁRIO- Cartões? Reserva em hotel?



JESUS- Não tenho posses, não me preocupei com o hotel.



FUNCIONÁRIO- Sinto muito, vai ter de voltar para Espanha.



JESUS- Mas eu cansei de lá, quero pegar uma praia aqui.



FUNCIONÁRIO- Sinto muito, relaxa e goza. Além do que o antigo dono aqui da Bahia não gostava de você o Toninho Malvadeza.



JESUS- Ah ta bom então. Eu volto para Espanha. (Vai saindo depois para.) Mas tem de ser de primeira? (Sai.)



FUNCIONÁRIO- Próximo! (Entra Juan Carlo, rei da Espanha.) Passaporte, documentos, passagem de volta, cartões, dinheiro, reserva em hotel, vamos ligeiro.



REI- Joi soi rei de Espanha, tonto?



FUNCIONÁRIO- Sei, mas aqui é o Brasil.



REI- Es mui petulante em dirigir la palavra a minha persona!



FUNCIONÁRIO- Olha Seu rei, ou mostra os requisitos necessários, prove que não vai ficar ilegal no Brasil, ou de volta para a aeronave!



REI- Posso lhe fazer una pegunta?



FUNCIONÁRIO- Sim, claro.



REI- Piero, por que no te calas!



FUNCIONÁRIO- (Para a platéia.) Tão achando que é fácil trabalhar em aeroporto? (Para o Rei.) Para a salinha já. (Leva o Rei que é pego desprevenido, pois não esperava este desfecho, funcionário voltando.) Próximo! (Aparece um alemão.) Passaporte? (O alemão mostra o passaporte alemão.) Está liberado senhor, boas férias.



ALEMÃO- Eu vir fazer turismo sexual em salvador! Pedofilia!



FUNCIONÁRIO- Ótimo seja bem vindo a salvador. Permite-me uma pergunta?



ALEMÃO- Clara?



FUNCIONÁRIO- Menininhos ou menininhas?



ALEMÃO- Eu gosta menininhos!



FUNCIONÁRIO- Então leva esse cartão. Meu cunhado o Mauro, trabalha com isso, tem uns meninos lindos, diz que foi o Maciel que indicou. (Alemão pegando o cartão.)



ALEMÃO- Poda deixar, Maciel. E cunhado Maura trabalha pedofilia?



FUNCIONÁRIO- Isso. Isso até logo e boas férias! . (Alemão sai.)

(Pano.)