Eu estava feliz e ao mesmo tempo nervoso. Afinal a maioria deles, eu não os via há exatos 25 anos.
Desde a quinta série. Era um colégio alternativo. Bem alternativo. O nome era “Soma”. Isso mesmo Soma.
Alguns, já tinham filhos com dez anos. Um tornara-se médico. O outro um publicitário, uma nutricionista, outro grafiteiro, produtora musical... Judeus, japoneses, árabes, nordestinos. No "Soma" havia de tudo. Digo, era uma escola que refletia a própria cidade de São Paulo.
Tiramos fotos. Bebemos umas cervejas. Verdade é que nos emocionamos, mas não tínhamos muito a dizer um para os outros.
Todos estavam iguaizinhos. Como pode uma criança de onze anos ser igual há um adulto de 36,37?
As meninas me disseram que eu fora mais alto. Parecia mais alto há 25 anos. Meninas não. As mulheres.
Olhei o relógio, já era hora de ir para o teatro.
Como é que eu posso começar esta história? Bem eu sou diretor de teatro. Estou tendo um caso com a minha atriz. Ela é casada. É a atriz que faz a minha peça.
Aconteceu domingo retrasado. Ou domingo passado, já que ainda é domingo, são dez e trinta agora. Da noite.
Letícia, este é o nome dela. Ficou uma fera porque eu quando cheguei ao camarim, perguntei:
“Oi, dormiu bem?”
Acontece que o resto do elenco ouviu e ela não gostou. Claro ela é casada. O marido trabalha numa multinacional. Sujeito bem sucedido, mas a verdade é que eles não têm nada em comum. Não sei o que ela disse, inventou pra ele, mas ela passou a noite anterior na minha casa.
Deve ter dito que dormiria na irmã. Sei lá.
“Não. Não dormi. E você?”
Ela tentou disfarçar e uma atriz que estava ouvindo, riu alto.
Naquele dia uma jovem, outra atriz que está num outro projeto comigo, uma futura comédia, bem esta menina apareceu para finalmente assistir ao nosso drama.
Eu a vi descendo do taxi, que parou em frente ao teatro. Ela estava parecendo uma noviça. Não tinha um ar muito feliz. Me contou que terminara com o namorado. Um poeta, que nas horas vagas era músico, num teatro underground bem próximo dali.
Na verdade fora o poeta quem terminara. Não sei por que o técnico de olhos verde nos observava no café do teatro. Faltavam 15 minutos e o técnico desceu. Quinze minutos para começar.
Ao final do espetáculo eu e Fernanda, este era o nome da jovem atriz, fomos jantar. Não leitora, não aconteceu nada. Eu ainda estava, estou apaixonado pela atriz casada.
Eu e Fernanda ficamos falando de autores norte americanos “clássicos” e montagens contemporâneas.
Deixei Fernanda em casa e no dia seguinte ela havia desaparecido.
O investigador da homicídios, não me achava um suspeito. O sujeito, uns 45 anos, era bom. Logo chegou a Letícia.
Verdade é que não havia ainda um corpo. E que corpo Fernanda tinha. Mas já era quinta feira.
O investigador Vieira, tinha o seguinte raciocínio, diretor de teatro envolvido com duas atrizes. Se uma sumiu é porque a outra a matou.
Conversara com todos no teatro, os funcionários, elenco, técnicos, pipoqueiro, bilheteiro, segurança e também todos no restaurante em que eu e Fernanda havíamos jantado.
Por via das duvidas resolveu conhecer o antigo namorado de Fernanda, o tal músico underground. Não é que ao perguntar no local pelo rapaz, o investigador Vieira achou ter reconhecido outro personagem?
Na hora, o estiloso rapaz de olhos verdes, se despediu rápido.
Deixando o investigador e Paulo a sós. Realmente aquele músico não tinha nada com a história. Depois de uma pequena conversa, o investigador seguiu para a casa de Letícia.
Já era noite quando o marido de Letícia abriu a porta. Seu nome era Rogério, e em pouco tempo o investigador Vieira, teve a certeza, se é que já não tinha, de que Letícia realmente, tinha um caso comigo. Todos sabiam.
Rogério disse que há dois dias Letícia dormia na casa da irmã. O que Vieira já sabia ser mentira. Mas quando me procurou e eu lhe disse que desde domingo não vira mais Letícia. Foi então que ele entrou em contato com a irmã dela, que também tão pouco sabia o paradeiro dela.
Vieira foi tomar um chope, e enquanto fumava um cigarro, de repente se lembrou do rapaz dos olhos verdes.
“É isso! Mas como fui tolo! É o operador de luz e som do teatro”.
O músico Paulo e o técnico dos olhos verdes eram amantes! São gays. Sabia que já o tinha visto antes. Mas onde estaria Letícia nesta história toda?
Ligou no teatro para saber qual era o endereço do técnico. Já não havia mais ninguém lá que pudesse ajuda-lo então voltou até a minha casa. E me contou tudo. Foi quando perguntei.
“Mas como então explicar o sumiço da Letícia? Será que ela descobriu tudo isso antes de nós?”
Neste momento o meu celular tocou era Letícia.
“Leo me encontre no Bar Seleto em meia hora.”
“Letícia, onde você está?”
“Não posso falar agora, só vá até o bar em meia hora. E me encontre lá.”
E desligou. Já estávamos saindo do meu apartamento quando damos de cara com o técnico de olhos verdes. Seu nome era Antonio.
“Leo, investigador Vieira, tem algo que vocês precisam saber. Me falaram que vocês estão atrás de mim.”
Aquele dia eu nem fui ao Bar Seleto. O técnico me mostro às fotos. Nada poderia desmentir aquilo.
Fernanda e Letícia passaram o resto da temporada toda indo para praia, juntas.
Sim leitor, os ciúmes que Letícia tinha de mim com Fernanda, era mais por conta do amor dela por Fernanda, do que sentimentos dela por mim.
“E onde você conseguiu essas fotos?”
Perguntou Vieira ao técnico dos olhos verdes.
“No facebook.”
Numa coisa o investigador Vieira acertou, ele o técnico, havia ido lá para mostrar as fotos para Paulo, o poeta e músico. E sim ele estava apaixonado por Paulo.
E pensar que há 25 anos elas nem eram nascidas. E lá fomos os três: Eu, Vieirinha, e o técnico de luz e som, tomar um chope num bar muito longe do Seleto.
“Saudades do meu tempo de colégio. A gente podia fumar em qualquer lugar”. Suspirou o investigador.