domingo, 30 de julho de 2017

O Terceiro Elemento.

 Me abordaram no meio da escada. Estavam em três, era a primeira semana de aula. Um deles muito feliz, tinha lá os seus quase dois metros de atura. Outro gordo, rabo de cavalo e cara fechada. O terceiro tão discreto que nem me lembro dele.

 Eram todos Astecas e Maias, talvez misturados com Ibéricos. 
 "Se algum branco mexer com você nos chame".  Me disse o mais alto. Depois quando viu a minha a cara de não ter assimilado aquilo, concluiu. 
 "Agora você é do Brown Power!" 
 A irritação do gordo de rabo de cavalo contrastava com a alegria do gigante. 

 Eu estava agora com 17 anos me mudara para o Colorado, numa cidade de 50 mil habitantes, nos pés das Montanhas Rochosas. As vacas ficavam na outra extremidade, logo quando o vento batia a cidade toda cheirava a gado. 

 Os Hispânicos trabalhavam nos açougues e fazendas. Eles se consideravam os verdadeiros cowboys. Explicavam que o hambúrguer e toda a cultura de peões eram originárias do México. O Hambúrguer era hamburguesa, não tendo nada a ver com Hamburgo na Alemanha. 

 Não seria eu a falar sobre Barretos e música brasileira sertaneja eletrônica que estava nascendo e iria dominar todo hemisfério sul.
 Fingia acreditar naquilo tudo. A verdade é que os "brancos" nunca mexeram comigo. Talvez porque ignorassem aqueles pobres imigrantes e filhos de imigrantes Astecas e Maias, e me viam como sendo só mais um deles, ou talvez porque tivessem realmente medo daqueles vaqueiros final do século 20. 

 Já as brancas, as Irlandesas católicas e as Alemãzinhas luteranas eram tão fascinadas por aquele brasileiro, que tinha a "cor" dos Mexicanos, mas dizia conhecer a Europa e tinha traços dos quais elas só haviam visto em Al Pacino no cinema. 

 Ficavam espantadas como que a pele do brasileiro se bronzeava. Ele já tinha ido para Nova York e visto museus. 

 O Colorado doméstico, não o turístico, mas o rural, é o encontro do Canadá com o México. São duas culturas que convivem lado a lado e não se misturam. Ou ainda as unidades não se misturam. 

 Era possível ver uma construção Canadense anunciando comida Mexicana. 

 A verdade é que as meninas mexicanas pouco se interessaram por mim, assim como os meninos brancos. 

 E eu que tenho uma capacidade natural, não em imitar pessoas propriamente mas antes em começar a pensar e me portar como elas na medida do convívio.  

 Explico. Como não haviam outros brasileiros, ora eu ia me tornando um vaqueiro mexicano e ora eu ia me tornando uma americana branca frequentadora de shoppings. 

 Analisando hoje, eu não era só um terceiro elemento naquela cultura, naquela escola. Eu era uma espécie de ponte entre os Astecas e Maias e as Irlandesas e Alemãs. 

 Hispânicos que buscavam mulheres menos femininas e do outro lado Brancas que queriam homens mais masculinos. 

 O problema não era de classe social, pois todos eram "pobres", ou classe média baixa. 

 A questão é tempo. 

 Tempo para eles assimilarem os impérios Britânico, Asteca, Espanhol. 

 Tempo pra decidirem de quem de fato era aquela terra. Para quem não sabe Colorado nada mais é do que "Vermelho" no México. Assim como Texas é Terras. Califórnia é Forno Quente. Nevada, Novo México... 

 De certa forma eu era o futuro. Algo meio mestiço de Hispânico com Branco. 

 Se em 1992 ainda era tão difícil amar para aquelas bandas, imagine agora com este Trump MURO.