segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Homem a beira de um ataque de nervos.

 ADVERTÊNCIA: Isto não tem qualidade para ser uma crônica, é na verdade um desabafo. 

 Fim de semana passado eu fui a um almoço de uma amiga. Uma feijoada. Sábado lógico. Fazia tempo que não via o pai dela. Ele me perguntou o que eu andava fazendo.
 “Bem eu ando a beira de um ataque de nervos!!!”
 “Por quê?” Ele quis saber.
 Claro que eu não contei tudo. Mas o pai da minha amiga é que nem um detetive. Ele é um grande psicanalista. Vai sacando.
 Eu não disse que a minha relação com as mulheres lésbicas anda muito estreita. E que uma delas me convenceu de que eu sou uma “mulherzinha”. Isso eu não conto para ninguém, nem para você leitor.
 O que pega é que quando eu tinha sei lá... Era adolescente o que eu queria eram todas as mulheres do mundo.
 Na verdade eu queria era ser o 007. Nem muito por conta de Mônaco, Itália, Caribe, carrões e bebidas. Eu queria era ser 007 por causa das mulheres que são apaixonadas por ele. Mulheres lindas, e que nunca ficam de TPM.
 Quando eu tinha vinte anos, meus pais diziam que eu era gordo. Eu me achava gordo e velho. Já hoje em dia, com trinta e seis anos, os meus pais continuam me achando gordo. E agora eles me acham gordo e velho.
 Mas agora eu não me acho mais velho. Eu me acho gordo e baixinho.
 “Eu estou fazendo um curta metragem. A história de um cara com 36 que se apaixona por uma menina de vinte. Mas em 15 minutos de filme, ele se descobre apaixonado pela esposa de trinta. Ele percebe que não ama a menina de vinte e sim a mulher de trinta. E se aceita como adulto. O problema é que eu estou confundindo ficção com realidade e acho que me apaixonei por uma menina de vinte. Na verdade por uma só não. Mas por três. Uma de vinte, uma de vinte um e outra de vinte e quatro.”
 Foi aí que ele me disse a frase:
 “O eterno sair e voltar.”
 Acho que ele quis dizer que passamos à vida entrando e saindo da infância. Entrando e saindo da adolescência e da vida adulta. Não só em relacionamentos, mas em tudo.
 Acontece que eu fujo ao padrão. Eu não terminei a faculdade, eu nunca trabalhei num escritório e eu nunca quis ser jogador de futebol. Vocês conseguem imaginar o 007 jogando futebol?
 O que eu quero dizer é que eu não sinto falta da turma da faculdade, do primeiro emprego, primeira namorada, eu não tenho este tipo de nostalgia.
 Eu sinto falta daquele cara, que se acha alto, magro, cafajeste, seguro e sedutor. Que consegue pegar a mulher que quiser.
 Acontece que ele vem só às vezes, e tem fases que ele demora a aparecer.
 No mais sou obrigado a conviver com este aqui. Que escreve blog, afetado, inseguro e apaixonado pela primeira criatura que cruza a sua vida.
 Outro dia saí com uma mulher de trinta. Engraçada, louca, linda, segura, promíscua, sensual, um puta papo e sofisticada. Uma pele e um corpo lindos.
 Me bateu uma saudades dela. Daquela bunda, daquela informalidade. Das risadas. De beber com ela.
 Mas eu queria era eu ser o 007 e não ter uma mulher 007.
 “Acho que você quer dormir sozinho, não é? Vou te deixar dormir a vontade na sua cama e vou embora.”
 E se foi.
 Liguei então para uma amiga lésbica e contei a história.
 “Leo são quatro da manhã e você está me contando sobre uma mulher que você acabou da transar e foi embora. Sabe o que você é?”
 “Sei um homem a beira de um ataque de nervos.”
 “Não. Você não é um homem a beira de um ataque de nervos. Não. Você é uma mulherzinha.”
 “Na verdade minha amiga, todos nós homens somos. Eu só não disfarço.”
 “Leo você é uma lésbica e boa noite.”  
 Então sozinho comecei a lembrar do diálogo. Do que ela a menina, a mulher tinha falado. O que será que ela quis dizer? Será que eu tinha que ter insistido para ela ficar? Será que eu ligo? Será que ela gostou de mim? Será que eu estou gordo? Será que eu estou velho? Nossa Leo...
 Será que o 007 fica se perguntando essas coisas? Não. Acho que não.
 Ah se eu fosse um pouquinho mais alto! Ah se eu tivesse olhos verdes! Uns cinco centímetros a mais, de altura... E não tivesse alguns fios brancos. O que mata é um ossinho que eu tenho aqui... Ah! Se eu fosse mais jovem... Amanhã começo um regime. Será que eu tinha que ter insistido? Será que o problema é a minha barba? Será que eu falei alguma bobagem? Algumas? Devo ter falado. Eu sempre falo. Daí eu bocejei.  
 E peguei no sono.