“Diário de um jornalista bêbado” é um filme em que eu gostaria de fazer parte do roteiro. Como personagem. Não se trata de uma comédia propriamente dita, mas há personagens estereotipados. Ou ainda caricatos. Antes de tudo quero deixar claro que pra mim isto é uma benção. Vamos ao resumo, não da trama, mas dos personagens.
Troquemos aqui, Americanos por Paulistanos. E Porto Riquenhos por Porto Segurenses. Ou ainda colonizadores e nativos.
Príncipe:
Características da personagem:
Fez uma faculdade média. Afinal gente bonita não precisa de GV. Tem um sorriso lindo, sedutor. Esportista, pode variar entre 30 a 45 anos. No auge da forma. Tem todos os cabelos. Com certeza mais de 1,75 metros.
Bronzeado, contrata um arquiteto descolado e constrói uma casa de 1500 metros quadrados. Sendo 120 metros quadrados de área útil. E o resto nem o próprio arquiteto sabe dizer direito pra que serve. A casa fica num sítio, fazenda de frente para o mar. Com uma praia “particular”. Ou duas praias.
Tem o kit completo. Modelo de família, não ele, a jovem de 22 anos, que é modelo e tem família. Veleiro, helicóptero, roupas da oskley, richards e de Miami. Um Land Rover, ou qualquer coisa que lembre o casamento de um Jipe com um carro de luxo.
Nunca conversou com nenhum nativo. Talvez seus criados. Cachaça só se forem aquelas fashion que ele mesmo está penando em investir. Aquelas que parecem vidro de perfume e bebida escandinava dos anos 90.
Ele é o relações públicas do grupo local de capitalistas investidores. Graças ao seu sorriso sedutor e a sua total alienação.
Seu sonho:
Dentre alguns: Ouvir que sua casa lembra a do Steve Jobs. Hospedar uma celebridade internacional. Saber que sua casa é maior do que a do príncipe concorrente.
Jornalista bêbado:
Características da personagem:
Total falta de foco. Se apaixona pela modelinho de família. Mas compreende a situação. Ele mesmo se fosse uma modelinho de família daria para o príncipe. Não entende a obsessão que o príncipe tem com ele.
Talvez o príncipe não se conforme de que o único bem material, dele príncipe, que o jornalista inveje, seja a modelinho de família.
Capacidade de ver defeito na desigualdade entre nativos e colonizadores. Qual o problema afinal? Os colonizadores estão dando emprego, gerando turismo.
Total indiferença pelos nativos coronéis. Capacidade de se misturar com os nativos e ainda curtir a situação.
Mesmo desprezando as oportunidades de empreendedorismo imobiliário, como criar enormes condomínios seguros, cercados para os colonizadores. Mesmo assim, escreve bem e se mete nas melhores aventuras.
O Príncipe não tem aventura nenhuma.
Sonho:
Encontrar a sua voz interior como artista. Ser lembrado como um pioneiro na descoberta daquela nova cultura. Mas seu maior sonho mesmo é comer a modelinho de família. Aliás, o público todo deseja a modelinho. Não só a plateia do cinema, mas também os nativos. Já as moças querem o Príncipe. Vamos logo para o terceiro personagem, tão falada até aqui.
A modelinho de família.
Características da personagem.
O ideal era uma foto dela. E só. É uma menina num corpo de mulher, que seduz a todos e fica maluquinha. Ela quer é curtir. E alguém a condena?
Sonho:
Dar pro nativo (um negro alto e lindo, sarado), e pro jornalista bêbado.
E que o Príncipe não descobra nada. Tem gente que acha que em determinada ora, ela se apaixona pelo jornalista. Porque ele é escritor.
Eu não acredito não. Ela nem lê.
Chefe de peruca.
Características da personagem:
Um herói fracassado, que quando jovem queria salvar os nativos, agora é um vendido aos colonizadores capitalistas.
Sonho:
Ter paz e sossego num mundo sem direita e nem esquerda.
Colonizador branco e gordo.
Características da personagem:
Sujeito, egoísta, hipócrita, direitista, racista, homofóbico, consumista, materialista, capitalista... Capitalista é ofensa?
De bom, ele... Horas bolas, de bom, ele também quer comer a modelinho de família. Neste sentido ele tem bom gosto.
Sonho:
Colesterol baixo, Viagra, ar condicionado e uma vidinha confortável.
Amigos do jornalista bêbado.
Características das personagens:
Perdedores, com meio talento. São seres que faltam alguma pecinha, ou uma ambição por menor que seja. Cultos dentro da contra cultura, apreciam arte, culinária local, sonham. Prestigiam a boa música, sonham com mulheres, se divertem, se misturam.
Do tipo de gente que tem história para contar. O que alguns chamam de irresponsáveis, transgressores, radicais enfim bêbados de certa forma felizes.
Sonhos:
São tantos. Basicamente eles se alimentam de sonhos.
Bem da verdade o filme mostra a visão do colonizador em cima dos nativos. Os personagens dos nativos são estereótipos, ora do opressor, ora do oprimido, do preguiçoso, todos com aquele ar latino americano que eu amo.
Eu sei que está na moda dizer que a América Latina é bem diversificada, que aqui vivem inúmeras culturas e etnias bem distintas uma das outras. Pode até ser.
Conheci Porto Rico bem jovem. Um dia sai do Hotel five star, estilo internacional, e caminhei até o que eles chamam de: “Old San Juan”.
Tomei Run, olhando o mar e sonhando com piratas. Vi turistas felizes, dançando a música caribenha.
Assim como a Bahia, o caribe é um lugar aparentemente pacifico e cordial. Desde que você não queira levantar o pano. Desde que você seja um turista neutro. No meio. Como o jornalista bêbado se define no filme.
O Haiti pode não ser aqui. Mas os soldados de lá são Baianos.