segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Capítulo 2- Os gêmeos anões de Nova Orleans.



Capítulo 2

 Ainda era bem cedo quando Joe Parker e Sonny Wayne chegaram a rua de paralelepípedo onde ficava a pensão de Herbie cabeção. Joe estacionou o carro em frente à casa, estilo colonial Frances. Eles não souberam se a rua é que era tranquila ou se ainda era muito cedo.
 “Afinal como você conhece este outro anão?” Quis saber Sonny, que embora convencido do plano, parecia estar preocupado.
 “Herbie? Ora quem não conhece o Herbie? É um sujeito pacato, todos estão sempre mexendo com ele. Eu as vezes almoço no restaurante que ele trabalha.
 “E como você sabe onde ele mora?”
 Neste instante surgiu Mily, uma garota de dezesseis anos. Ainda da varanda ele cumprimentou Joe:
 “Vejam se não é o rapaz dos refrescos”.
 Sonny não estava achando a menos graça naquela adolescente que parecia conhecer Joe.
 “Olá Mily.”
 “Você chegou cedo, cedo demais. Não estou de bom humor neste horário.”
 “Lamento querida, mas não vim atrás de você.”
 “Veio fazer o que então? Procurar um quarto aqui na pensão de Dona Mangnólia?”
 “Na verdade... Acredite ou não, eu vim atrás do anão.”
 “E que você quer com o anão?”
 Joe estava se divertindo com tudo isso. Sonny queria saber como ele conhecia o anão? Ok, ele conhecia Herbie de tanto ir visitar a pequena Mily. Dizia a todos que vinha jogar cartas com o anão.
 Herbie por sua vez, tinha muito medo de Joe, e sempre que possível o evitava. Dona Magnólia, uma tia de Mily e proprietária da penção, tomava café próxima a janela e ouviu a conversa.
 “Se você está tão ansioso para jogar cartas com o anão, você vai encontrá-lo no rio.”
 Dona Magnólia fingia nem ligar para Joe. Mas a verdade é que ela o achava um homem muito interessante e tinha uma atração enorme por ele. Não entendia como um sujeito como Joe podia se interessar por uma moleca como Mily sua sobrinha. Que andava com Maria-Chiquinha no cabelo. Usava óculos e uns vestidos ridículos.
 “E este negro quem é?”
 Quis saber Mily. Seus pais a tinham mandado para Nova Orleans ajudar a tia na pensão. Eram gente do campo. Mas também nos anos 20, quem não era do campo?
 “Ele é um grande músico de jazz, um dos maiores.”
 Os olhos de Mily brilharam. Seu sonho era ser cantora de jazz.
 “Estou ajudando Sonny num show hoje, no Tiffany’s club. “
 Joe convidou Mily para o show a noite, ouviu a explicação de Dona Magnólia onde ela achava que o anão estaria. Fazendo a sua natação matinal dos sábados.
 “Na estrada para Fort Mallins, não tem como não ver a minúscula bicicleta amarela dele.” Disse Dona Magnólia.
 Sonny calculou que a Dona ia lá pelos seus quarenta anos e estava bem em forma. Bem que ela poderia acompanhar a sobrinho no show a noite, mas ficou tímido em convidá-la. Depois se meter com uma branquela poderia dar confusão.
 Se bem que mais confusão do que ele já estava. No caminho perguntou a Joe:
 “Se é uma bicicleta minúscula, como a mulher diz que não temos como não ver?”
 Calma você é um pessimista Sonny.”
 Iam eles fazendo as curvas da estrada para Fort Mallins.
 Herbie gostava de olhar para as árvores depois que saia da água. Nadava todas as manhãs de sábado durante o verão. Descobrira na estrada de Fort Mallins, um braço de rio, que vinha do Rio Mississipi. Contou isso certa vez para Dona Magnólia.
 “Não é porque sou mais baixo que não sou um esportista. “Gabava-se do seu corpo. Ele não tinha nenhuma barriga.
 O lugar era praticamente deserto. Ali Herbie via a natureza, ninguém ao seu redor para lembra-lo do seu tamanho. Ninguém por perto a o chamar de cabeção. Só ele e as folhas das árvores, o silencio da mata.
 Por isso tomou um susto ao ouvir, os gritos de Joe Parker:
 “Herbie! Herbie Cabeção!“
 Não teve dúvida, achou que Sonny era um dos capangas de Joe, e que eles estavam lá por conta de sua dívida do bar Fort Mallins, ou qualquer outra coisa ruim. Com certeza descobriu que a tonta da gorota Mily estava de caso com todos os garotos do bairro. E alguns pais dos garotos também. Ou que Mily contou que ele Herbie havia a visto tomando banho.
 A garota percebia que o anão com uso de banquinho a observava no banho, do banheiro coletivo na pensão. Ele conseguia na ponta dos pés ver a menina se ensaboando. Mas ela gostava da plateia. Teria ela dito algo ao Joe?
 O fato é que coisa boa não devia ser, já que o próprio Joe Parker o achara no seu esconderijo.
 Se Joe Parker tivera o trabalho de ir até lá atrás dele... Era para usar de violência com certeza. Conhecia a fama de sádico de Joe. Ou a fantasia que as pessoas faziam dele. E a coisa ficou realmente ruim depois que Joe há uns dez metros dele, parar.
 Joe estava ofegante, e com um sorriso gritou.
 “Graças a Deus te achei Herbie!”
 O anão diferente de George o outro anão, não estava acostumado com gente sorrindo atrás dele que não fosse outra coisa além de se divertir a suas custas. E ali parecia que seria algo ainda pior do que as humilhações de sempre, ainda mais que não havia testemunhas por perto. Diferente da pensão, ali Joe Parker poderia fazer o que quisesse com ele.
 Saiu correndo nu. Joe e Sonny no seu encalço.
 Joe percebendo o mal entendido do anão gritava e ria.
 “Pare Herbie, não é o que você está pensando! Você está sem roupas!”
 Já estavam na estrada, Sonny e Joe quase tocando o anão e Herbie pedindo socorro:
 “Socorro! Me ajudem! Socorro!”
 O Xerife Soflerck de Fort Mallins vinha passando com dois guardas em sua viatura no mesmo instante e parou.
 “Que diabos! O está acontecendo por aqui?” No início achou que Joe e Sonny perseguiam um gambá ou um bicho qualquer.
 Não sabiam eles que a temporada de caça estava proibida? Assim como a venda de bebidas?
 O Xerife tomou um susto ao ouvir o gambá falando Inglês. E um susto maior ainda quando o gambá correu para ele pedindo ajuda. Mas era um anão ele percebeu.
 Saiu do carro com a arma na mão. Era um sujeito gordo, forte e corajoso, adorava proteger a população.
 O anão suava e chorava. Joe e Sonny pararam e levantaram as mãos.
 Foi quando Soflerck reconheceu Joe Parker. Seu sábado não poderia ser melhor. Agora ele tinha um bom motivo para colocar um traficante de segunda classe atrás das grades.
 Ganguesteres pequenos como Parker eram ao mesmo tempo, desprezado por grandes traficantes, e perseguidos pelas autoridades locais. Os chefes do crime da região de Nova Orleans até agradeciam quando o Xerife dava certa canseira em tipinhos como Joe Parker.
 Aquela manhã prometia. Xerife levou Sonny, Joe e Herbie para delegacia e os prendou na mesma cela. Um dos guardas veio dirigindo o caro de Joe e todos os outros na viatura com o xerife. Deram um uniforme de polícia para Herbie vestir, o que ficou ridículo, aqueles trajes imensos num anão.
 Todos falavam ao mesmo tempo. O xerife achava que era tudo coisa de bêbados boêmios. Show? Empresário de Chicago? O que ele tinha com isso? Mesmo porque a região estava ficando muito bagunçada. Se Nova Orleans gostava de badernas, ali em Fort Mallins a coisa permaneceria calma enquanto ele ocupasse o posto de xerife.
 Aliás, iria antes almoçar e só na volta é que iria esclarecer o incidente. Quem sabe com isso os três presos não ficassem menos agitados. Até lá os três esperariam. Ou esperariam ainda mais, pra que a pressa?
 “Vocês fiquem aí. Rezem, reflitam e se perguntem se todo esse desequilíbrio não é falta de Deus na vida de vocês? Dois sujeitos adultos perseguindo um anão nu. Este tipo de abuso de vocês é crime! E se chama pesdonfilia.”
 “Pedofilia” Corrigiu um dos guardas.
 “Isso. Pendos...  Tilia.”
 “Mas Xerife temos aqui um caso de vida ou morte! Alguns dos melhores músicos de Nova Orleans dependem da gente!”
 “Bons músicos não se metem com tipinhos como você Parker. Passar bem, depois do almoço eu volto.”
 Dito isso o xerife e outro policial se foram, fechando a porta atrás deles. Agora Sonny estava realmente começando a se preocupar, o relógio parecia correr mais rápido. E ele queria tanto aquela chance. Mudar de vida. Estava olhando Joe tentar explicar para Herbie o que se passava.
 Achou até perda de tempo. De que adiantava explicar o plano ao anão se eles com certeza não seriam soltos até de noite. Eles não tinham um bom advogado. Alias, não tinham advogado algum.
 Baixou a cabeça, fechou os olhos desesperançados. Foi quando surgiu uma luz, ou melhor, uma voz.
 “Cara você não é o grande Sonny Wayne? Adoro o seu som”.
 Era o policial que havia ficado sozinho na delegacia. Talvez nem tudo estivesse perdido.