segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Esconderijo.


 Certo dia um produtor me procurou e me encomendou um texto. Ele queria algo que falasse de política aos jovens. Claro que adorei a proposta.
 Pensei então em escrever sobre as questões femininas. Verdade é que pensei em tanta coisa. Isso foi antes de termos uma presidenta. Eu estava eufórico com a idéia. Eu havia passado por um seqüestro relâmpago também, muito recente.
 Fui buscar lá onde pra mim tudo começou. No final dos anos 60 e início dos 70. Para as pessoas da minha idade e para mais velhos é um tema não muito sedutor. Eu sei. Acontece que pensei nestes jovens de hoje.
 Em como eu poderia falar de temas de tão jornalísticos e de certa forma didáticos históricos também, sem serem essas mesmas coisas? Digo como transformar pauta do momento em ficção? Como ter uma visão minha, que logo ninguém teve ainda. Sem maniqueísmos.
 Em três dias ou quatro eu tinha o rascunho. Um texto policial que instigava a curiosidade da platéia ao mesmo tempo em que colocava inúmeros elementos polêmicos e atuais. Principalmente o tema do desarmamento na sociedade civil.
 Eu fora “seqüestrado” logo após ter acabado de votar no plebiscito. Tinha saído do local de votação e estava procurando um churrasco, em plena luz do dia. Quando dois sujeitos entraram no meu carro armados. Dois criminosos. Mas esta é outra história.
 Acabou que criei três personagens, que amam tanto. Como eu gostaria de amar, um terço que fosse, do que eles amam.
 Com o texto pronto, percebi só um problema, não era uma comédia. E foi isso que o produtor, que havia encomendado, também notou. E desapontado disse:
 “Desculpe Leo, te procurei porque eu queria uma comédia.”
  Eu não sei classificar este texto. Policial, de idéias, drama, melodrama, suspense ou até mesmo comédia de suspense dramática?
 Ele ficou então anos na gaveta. Confesso que só me lembrei dele quando vi uma mulher ser empoçada presidente deste país.
 Que mais? Vocês acreditam que este texto me emociona toda vez que escuto os atores? Ora concordo com um, ora com outro.
 Alguns dirão: “O que tem isso a ver com a sua geração?”
 No que eu respondo que não acredito em geração. Em algum lugar do século xx estas pessoas, personagens, amaram, sonharam e caíram.
 Eu vim do século xx. Acredito que este trabalho, é também uma tentativa minha de entender um período tão intenso. Tão violento e tão pacifista ao mesmo tempo.
 Faça amor não faça guerra. Ou não faça nada. Ou faça os dois. Talvez em toda guerra haja um pouco de amor. E em toda paz, um pouco de ódio. Não sou matemático, mas constato que logo, paz e amor, é um resultado raro, em se tratando de seres humanos. 
 Leitor querido, se você chegou até aqui, venha nos assistir. A partir do dia 11 de fevereiro. No teatro Augusta. "Esconderijo".