Combinaram num bar. Ele chegou antes. Pediu uma cerveja e ficou olhando pra rua, folhando um jornal.
Ela com seu jeitão de moleca vinha tranqüila fumando um cigarro. Como se não estivesse em São Paulo e sim no Rio. Ela veio a pé, morava ali perto.
Deu um sorriso e mostrou o cigarro. Ele entendeu. Ela queria terminá-lo na rua. Ele fingiu que voltara a ler o jornal.
“Oi.”
“Oi.” Ele riu.
“Que foi algum problema?”
“Você é engraçada.”
“Engraçado é ler jornal de ontem.” Ela disse.
Foi aí que ele percebeu que o jornal era de ontem.
“Você é bem inteligente sabia?”
“Inteligente? Só porque eu vi que o jornal era de ontem?” Ela disse e fez um não com a cabeça. Depois riu.
“Quer tomar alguma coisa?”
“Não”. Pausa. "Você é engraçado.”
“Um amigo meu diz que quando um casal de namorados ri um do outro, é porque eles se amam.”
“Acho que quero uma cerveja.”
“Traz mais um copo.” Ele pediu ao garçom. E ela riu de novo. “Já te disseram que você se parece com...”
“Já.”
“Quem disse?”
“Você.”
“Nossa, como eu estou repetitivo.” Ela riu.
“Você é engraçado.”
“Você não costuma tomar muito sol?”
“Nós não somos namorados.” Ninguém riu.
Ele pediu a quinta cerveja. Estavam agora falando de religião.
“Você está rindo porque eu vou numa igreja?”
“Não, eu estou rindo porque não somos namorados.” Ele disse.
“Na verdade eu nunca tive um namorado.”
O garçom trouxe a conta.
“Estamos fechando.”
Já não tinha mais ninguém e as portas quase todas abaixadas. Pagaram à conta. E quando estavam quase na rua, ele parou, olhou as paredes e perguntou para o garçom e o caixa:
Já não tinha mais ninguém e as portas quase todas abaixadas. Pagaram à conta. E quando estavam quase na rua, ele parou, olhou as paredes e perguntou para o garçom e o caixa:
“Cadê o quadro da foto do beijo?”
“O que?” Fez o garçom. Olhando para parede também. Havia várias fotos, mas não aquela. A foto de um casal que se beijava, enquanto um garçom que já colocara as cadeiras em cima das outras mesas observava pronto para fechar o bar.
“Eles tiraram.” Disse com tranqüilidade o caixa.
Ele deu de ombros. Estava frio.
“Eu ando um pouco com você.” Ele disse a ela.
“Você que sabe.”
Começaram a caminhar. Ele a olhava, ela realmente era uma moleca.
Chegaram à esquina. Uma noite estrelada e fria.
“Tinha um quadro lá que era uma foto de um beijo. Linda a foto. Um beijo de fim de noite.” Ele disse.
“É... Tem gente que espera uma noite toda para dar um beijo.” Ela riu.
“Do que é que você está rindo?”
“De nada, eu estou cansada.”
Despediram-se. Com um abraço. E ele ainda disse:
“Eu acho que o trabalho vai ficar ótimo. Eu gosto de trabalhar com você.”
“Eu também. Você é legal.”
E cada um foi para um lado.