sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Deus existe?

 Deus existe?

Outro dia eu descobri que está acontecendo uma revolução no jornalismo. Sim. Agora graças à nova tecnologia, qualquer um pode ser um repórter. Logo eu que sou um bombeiro, agora posso ser um jornalista também.
 Não que eu vá deixar de ser Bombeiro. Nem ator de novelas. Eu estou fazendo a novela das três da manhã.
 Escolhi fazer uma matéria sobre Deus. A vida dele, e todas as polemicas que envolvem seu nome.
 Tipo sua vida financeira, amores e a paternidade de Jesus. Este inclusive que eu já tive o prazer de conhecer. Lá num clube de campo que às vezes minha mãe me leva. Tem lá uma comida sofrível, mas a piscina é boa. Fico meses sem sair de lá.
 Jesus é um dos habitues. Quando me vê por lá grita: “Ator! Oh ator!”. O que me deixa até um pouco irritado porque não gosto de fãs histéricos.
 Mas seria muito difícil entrevistar Jesus sobre seu pai. A cada avião que passa, ele grita: “Isso aí, este barulho, não é avião não! É meu pai! Papai!” Para não contrariá-lo eu concordo. Mas como passa muito avião por este clube de campo, e ele gosta mais de falar de um acidente de carro que ele teve, do que de Deus, nossas conversas são sempre interrompidas. Mesmo porque o tal acidente aconteceu nos anos 70, quando Jesus disse que ganhou na loteria. Acho que naquela época a loteria era mais fácil.
 Bom voltando. Lembrei-me de um vizinho. Um cara que eu sempre visito umas duas, três vezes por semana. Ele conhece, sabe tudo sobre remédios. Não os remédios que o Jesus usava nos anos setenta. Outros. Uns para me deixar com, quer dizer, digo sem os delírios.
 Eu tomo todos. Não porque eu tenha delírios, mas para não desapontar este meu vizinho. Aliás, um vizinho de cidade, não de prédio. Meu vizinho me vê na novela das 3 da manhã, disse que estou melhor que o Marlon Brando. Grande coisa.   
 Cheguei ontem na casa dele. Sentei naquele sofá dele. Foi quando eu vi um quadro com uma montanha coberta de neve. Ele me disse que era o Canadá.
 Foi aí que eu adorei esta coisa da nova mídia, pós-industrial. Eu posso mudar de reportagem a hora que eu quiser. E convenhamos, gnomos no Canadá, é bem mais interessante do que Deus, Jesus... No Canadá existe até ursos. Sim, ursos e neve. E alces.
 O que eu não entendo é porque gnomos não acreditam em E.T.s? Meu vizinho disse que ele não era a pessoa mais indicada para falar sobre Deus. Eu deveria procurar um padre.
 O que me faz pensar. Toda vez que eu quero falar sobre Deus, as pessoas sempre ficam constrangidas, esquisitas e desviam a conversa. Será? Será...
 Será que eu sou Deus? Agora tudo faz sentido. Este mundo aí fora não existe. Tudo só acontece quando eu vou aos lugares e vejo as pessoas. Fora isso, as pessoas ficam descansando. Sim. Agora em Londres, por exemplo, está tudo vazio porque eu estou aqui em São Paulo.
 Mas e no Canadá? E no Canadá?
 “Jesus você acha que está acontecendo alguma coisa neste exato momento no Canadá?”
 “Não é avião não! É meu pai!” Ele grita. Depois de passar o avião ele vira-se para mim:
 “Aqui é o Canadá.”
 Afinal concluo que assim como o Canadá, Deus é tão grande, que não precisa existir.
 Eles existem nos quadros do meu psiquiatra, digo meu vizinho. Na cabeça dos padres da igreja. Nos atlas escolares...
 E nos milagres. E os milagres acontecem todos os dias. Por isso eu tenho fé. Tenho fé que um dia eu vou me curar. E vou, numa dessas máquinas que voam que o Jesus chama de pai, conhecer o Canadá.
 Vá com Deus. Sempre. Porque acreditar em Deus, não tem nada a ver com saúde mental. Uma coisa, uma coisa, outra coisa, outra coisa. Eu não preciso abandonar minha fé para ser saudável.

 Pronto, vou publicar.