quinta-feira, 5 de abril de 2012

Os falsificadores. Integra.


Os falsificadores.

  Primeira parte
 Foi uma coincidência, fui almoçar no árabe perto de casa. Sentei numa mesa na calçada. Na mesa vizinha um senhor na casa dos sessenta, vestido com uma camisa marrom tomava uísque com mais dois senhores de uns cinquenta anos cada um.
 Era um sujeito magro, careca e sua roupa parecia dos anos setenta. Os outros dois, vestiam roupas contemporâneas. O de marrom acendeu um cigarro, desses que parecem pequenos charutos. Eu já estava quase desistindo de ficar ali fora e ia pedir para me mudar para dentro, quando ouvi o nome de Ismael Neto.
 Aquilo me chamou a atenção, porque Ismael Neto é o meu pintor brasileiro preferido. Eles falavam sobre uma onda de falsificação.  Eu havia lido qualquer coisa nos jornais. Mas a coincidência foi outra.
 Tempos antes, uma estudante de artes plásticas, esquecera sua carteira no meu carro. Foi depois de uma carona que eu a havia dado da balada de volta para sua casa. Ela devia ter uns vinte e um anos. Mas aparentava uns dezoito talvez. Enfim uma jovem. Piercing no nariz, cabelos curtinhos e um corpinho de bailarina. Um tipo alternativo.
 Quando ela foi buscar a carteira no dia seguinte, almoçamos no mesmo árabe, e depois fomos à livraria. Ela falava muito sobre artes plásticas, balé e artes em geral. Tinha uma cultura extensa para a idade. Vendo alguns livros junto com ela, na livraria, me chamou a atenção um do Ismael Neto.
 Começamos a folhar as páginas do livro e em determinada telas do pintor, Marta começou a rir. Eu quis saber o por que ? E ela disse simplesmente porque a tela da foto era ela quem tinha pintado e não Ismael Neto. Na hora eu achei que ela estivesse querendo fazer graça e não dei muita atenção.
 “Então você é uma falsificadora senhorita Callieri?”
 Callieri era o seu sobrenome. Marta Callieri.   Saímos da livraria e a levei pra casa.
 Como Marta é muito jovem, acabei que não a procurei mais. Ficamos de nos falar, mas nenhum dos dois se aproximou de novo.
 Aqueles três tomando uísque e fumando cigarros de charuto, no meio da tarde de um dia de semana, começou a me inervar. Mas a curiosidade fazia com que eu continuasse a prestar atenção. Ele o homem da camisa marrom, disse que os três casos vieram de um mesmo escritório de arte. Mas que havia outros, que foram abafados.
 Afinal tanto um comprador, como um marchand não gostam que este tipo de informação vaze. O primeiro para não parecer bobo e o segundo porque prejudicaria os negócios, claro.
 Talvez eu tivesse esquecido toda aquela história. Pedi a conta para a minha amiga dona do árabe. Segui para o ensaio. Os atores já estavam lá. Terminado o ensaio, eu e um dos atores fomos tomar uma cerveja na Vila Madalena.
 Escolhemos o bar de sempre, um lugar frequentado por artistas e boêmios. Não estava abarrotado, afinal era segunda feira. Marcelo, o ator da minha peça e também amigo, estava apaixonado pelo nosso produtor. Falávamos disso, quando surgiu Carol. 
 Uma amiga publicitária, ótima companhia, na casa dos trinta. Sabe sempre o que está rolando. O tipo de solteira que ainda tem um pé na vida universitária, apesar de ter se formado há anos. Ela quis saber como estava a minha vida. Contei que iríamos em breve estrear um clássico. Uma peça do Shaw, Bernard Shaw. Bebíamos e riamos. Mas Carol lembrou algo. Arregalou os olhos. Me olhou, como quem vai contar uma bomba, mas não sabe qual será a reação do outro. De repente ela me da à notícia:
 “Você viu o que aconteceu com aquela ninfetinha que você catou na festa do Dado?”
 Foi então que fiquei sabendo, a menina havia sido atropelada por um ônibus. Há uns cinco dias talvez. Ela morava com outra amiga em Santa Cecília, um bairro de São Paulo.
 Aquilo me deixou chocado. Eu pouco sabia da vida de Marta. Ela era uma menina interessante, seria em breve uma bela mulher. Inteligente, articulada. Verdade que eu havia visto só duas vezes. Mas deu pra fazer um bom retrato.
 Como Carol não tinha detalhes, voltamos a falar de outras coisas. Quando nos despedimos Carol quis saber se aquilo não me abalara. Imagina, mal conhecia a menina. Eu fico comovido afinal...
 Marcelo notou que eu ficara mais que comovido. A sensibilidade dele dizia que eu nem sabia ao certo, o que eu estava sentindo. Não falei sobre a coincidência do almoço do pintor Ismael Neto, mesmo porque muito provavelmente eles nem conheceriam Ismael Neto. E teriam a impressão de que eu delirava.
Só fui lembrar de Marta no dia seguinte. Ao sair de casa a pé o porteiro me entregou um DVD. Disse que um moto-boy havia deixado para mim. Pedi que o porteiro me lembra-se dele na volta.
 Tomei café na padaria. Depois resolvi passar na galeria de uma amiga. A Marina. Era uma galeria nova. Marina tinha mais duas sócias. Elas trabalhavam com artistas jovens. Não sei o que eu estava interessado ainda. Se minha curiosidade era em relação à Marta, as falsificações ou ainda o atropelamento em si.
 Eu havia beijado aquela menina há poucos dias, umas costas maravilhosas, zero de gordura. Também com vinte poucos anos. Uma voz doce, meiga, feminina. Gestos duros ao mesmo tempo suaves. Como de um menino afetado. Sei lá. Agora Marta não saia da minha cabeça.
 Marina não estava e foi sua sócia Renata que me recebeu. Uma menina de 1,80 metros e 25 anos, muito sorridente. Depois de me mostrar o trabalho de um fotógrafo que elas estavam expondo, fomos tomar um café no seu escritório. Eu contei o motivo da minha visita para Renata.
 “Mas Leo! Quem não conhece Marta Callieri no mundo das artes?”
 Aparentemente Renata não sabia que ela, Marta havia sido atropelada.
 “Há quanto tempo?”
 Eu disse o pouco que sabia:
 “Há alguns dias.”
 “Engraçado, eu pensei tela vista anteontem. Você não usa Google não, Leo?”
 Foi então que Renata me contou sobre Marta. Sim ela realmente era uma das maiores falsificadoras do mercado de arte de São Paulo. Era tão boa que nunca havia sido pega. Na verdade me disse que só se você assinar a tela é que se considera crime de falsificação.
 Marta não era boa só porque conhecia as cores certas. Como construir cores antigas, ou fazer a tela parecer envelhecida. Ela também captava o estilo do artista a ser falsificado.
  “Pelo que eu sei Leo, que é baseado no que eu escutei, a menina é um gênio. Você estava saindo com ela? Ou também tomou um golpe de algum falsário?”
 “Renata, deixe um beijo para Marina. Obrigado pelas informações.”
 Voltei para casa. Ao chegar à portaria, novamente o porteiro me lembrou do DVD. Sem outra prioridade, resolvi assistir ao DVD.
 Qual não foi a minha surpresa. Um ator fazia uma cena de Nelson Rodrigues de dois minutos. Claro que isto não tem novidade nenhuma. Atores interpretam Nelson. Acontece que o ator era eu. Tentei me lembrar de quando eu havia feito uma cena de Nelson Rodrigues na vida. A resposta era nunca. Nunca fiz Nelson Rodrigues.
 Eu estava ainda atordoado com aquilo. Meu celular tocou. Na tela do celular surgiu o nome: Marta Callieri.
 “Alo.”
 “Gostou da cena?”
 “Marta?”
 “Eu mesma Leo.”



 Segunda parte

“O que aconteceu? Onde você está Marta?”
“Não se preocupe, apenas escute. Eles vão tocar sua campainha a qualquer momento. Não diga que eu telefonei. Entrarei em contato mais tarde. Leo, não aceite trabalhar para eles.”
 “Eles quem? Alo!”
 “Confie em mim Leo, você não vai se arrepender. Até mais tarde.”
 Marta desligou o telefone. Pouco depois a campainha tocou. Era um casal. Uma mulher de uns quarenta anos e um cara de uns trinta e cinco. A mulher parecia estrangeira e o cara era bem grande. Convidei os para entrar. Não tenho ideia de como passaram pelo porteiro sem serem anunciados. A mulher me parecia bem esperta e ótima negociadora.
 “Leo sem rodeios, onde estão as telas?”
 Eu entendi rápido, aquele casal por algum motivo acreditava que eu estava fazendo parte da quadrilha de falsificadores. Maldita Renata da galeria, deve ter espalhado a notícia bem rápido.
 “Me desculpe a senhora está me confundindo. Não sou colecionador, nem tão pouco negocio arte.”
 “Leo sabemos que ela acabou de te telefonar.”
 “Ela?”
 “Isabella Cordiolla.”
 “Desculpe. Quem são vocês?”
  Desta vez foi o grandalhão quem falou.
 “Policia federal.”
 “Olha gente, eu não conheço nenhuma Isabella Cordiolla.”
 A mulher sorriu, estava calma, ao mesmo tempo parecia maternal.
 “Você a conhece por Marta Calliere. Este é sobrenome da mãe, Calliere.”
 “Talvez eu conheça. Mas alguém pode me explicar o que está acontecendo.”
 Mal terminei de falar e outro homem entrou na minha sala. Ele e a mulher cochicharam por estantes. Depois ele se virou para mim.
 “Senhor Chacra, temos tudo para acreditar que o senhor está envolvido numa quadrilha de falsificação de telas. Acontece que nossa especialidade não é falsificação de arte. Aliás, pouco me importa.”
 “Do que estamos falando então?” Eu perguntei. O homem me encarou com dúvidas e me perguntou:
 “Meu nome é Armando Gentil. Sou chefe da divisão antiterrorismo do Brasil. Uma agencia secreta dentro da policia federal. Agora me diga, pois não temos muito tempo, o que há de especial no DVD que você acabou de assistir?”
 Armando parecia realmente honesto. Então expliquei. Tudo, como eu conheci, Marta, agora Isabella. De nunca ter feito aquela cena do DVD. Mas então quem seria? Um irmão gêmeo? Armando, talvez por falta de tempo, foi bem objetivo:
 “Isabella vem de uma família de oito gerações de falsificadores. Os Cordiollas. Eles agiam na Itália até se mudarem para o Brasil nos anos cinquenta, depois da guerra. Os que ficaram na Itália partiram para outros ramos de atividade, mas os daqui do Brasil continuam. Acontece que a única realmente talentosa é Isabella. Talvez a mais talentosa das oito gerações. A Interpol diz que a menina é um gênio. Mas o tempos mudam, as tecnologias se aperfeiçoam. E Isabella sempre foi procurada por muita gente. Criminosos de todos os tipos, sempre se interessaram pelo talento da menina. Este vídeo que você acabou de ver é uma falsificação de você mesmo, senhor Chacra. Estela, esta linda policial que está aqui com Marcos, acreditavam que você tivesse algo a ver com estes criminosos. Mas a minha experiência diz que você só um contato desta menina com o mundo real. Ou ainda com o mundo artístico. De alguma forma ela precisa de você, senhor Chacra.”
 Aquilo me deixou atordoado, eram muitas informações.
 “Mas afinal quem morreu atropelada pelo ônibus?”
 Armando deu de ombros e disse.
 “Um boneco, ou ainda boneca. A falsificação dos tecidos, dos órgãos era tão perfeita, que os médicos legistas quase deixam escapar.”
 “Você está me dizendo que esta menina pode falsificar seres humanos?”
 “Mais ou menos. Ela pode fazer vídeos conseguir impressões digitais... Verdade que até hoje ela, e seus cúmplices não haviam conseguido ir tão longe. Mas agora ela nos amedronta.”
 Desta vez Estela foi quem falou:
 “Ela, ou eles, podem falsificar uma autoridade, um rico empresário, desviar dinheiro, entrar em salas de segurança... A vida da própria presidente da república corre perigo. Precisamos agarra-la o quanto antes, Mesmo porque este tipo de tecnologia que ela desenvolveu não pode cair em mãos erradas.”
 “Outras nações você diz?”
 “Sim”.
 Eu não tive escolha a não ser aceitar trabalhar para a polícia. Me disseram que eu seria vigiado vinte quatro horas por dia, para deixar o meu celular ligado. E não se preocupar, o celular estava grampeado, e todos meus passos monitorados.
  “Acontece que ela sabe que vocês entraram em contato comigo.”
 Armando Gentil me olhou e disse:
 “Sabemos disso senhor Chacra. E se ela o fez é porque existe um motivo. Como eu lhe disse anteriormente você deve ter algo de que ela precise.”
 O celular de Estela tocou. Sua cara deixou de ter o tem maternal. Ela parecia apavorada.
 “Senhor acharam a casa onde estavam as telas falsificadas.”
 “Ótimo.”
 “Um homem estava armado e foi rendido.”
 “E já o identificaram?”
 “Sim. É o senhor.”


Terceira parte

 A situação parecia agora for a do controle. Aqueles três intrusos começaram a se estranhar dentro da minha própria casa. Até que Armando tirou do bolso da camisa um pequeno cigarrinho. E o ascendeu. Eu o reconheci. Era o mesmo senhor que esteve no Árabe almoçando no dia anterior. O mesmo que falava das telas falsas de Ismael Neto.
 Estela sacou a pistola. Seu parceiro o grandão fez o mesmo. Eles não sabiam em quem mirar as armas, se em mim, ou em Aramando. Este mantinha a calma e dava pequenas baforadas no cigarro.
 Acho que pensou que eu o ofereceria um cinzeiro, mas há muito não havia um cinzeiro na minha casa.
 “Me diga senhor Leo Chacra. Você inventou esta história de cena de Nelson Rodrigues. Não inventou?”
 Como eu não respondi ele continuou a olhar pela minha sala. Levantou e começou a procurar alguma coisa nos meus livros.
  “Você leu todos estes livros, estes romances policiais, senhor Leo Chacra?”
 “A maioria deles”. Eu respondi.
 Estala interrompeu Aramando. A outra detetive queria saber aonde o interrogatório iria nos levar.
 “Abaixe a arma e tenha calma Estela” Pediu Aramando. Então virou-se para mim e perguntou, ou ainda me acusou.
 “Estes contos você escreve...”
 “O que têm eles?”
“Até que ponto eles são seus?” Como eu e os o casal também fizeram cara de não estar entendendo nada, ele prosseguiu. “Vou me explicar.” Deu uma risada.
 “Você escreve tramas. Muitas vezes que não dizem nada. Só prendem a atenção do leitor. Um estilo que não é naturalmente seu. Você coloca o suspense pelo suspense.”
 “Por isto que este tipo de escrita é chamado de gênero.” Eu me defendi.
 “Você senhor Leo Chacra é apenas um falsificador”.
 Os três riram de mim. E começaram a folhear os romances policiais. Estavam distraídos. Não tive dúvidas. Fugi pela porta. Desci as escadas e corri para rua. Em frente a minha casa estava aquele mesmo bar da Vila Madalena.
 Entrei e pedi um chope. O mesmo chope que todos os bares de São Paulo têm. Minha amiga Carol surgiu e sentou-se a mesa. Marcelo voltou do banheiro.
 Mas como poderia ser o mesmo bar? Se eu nem na Vila Madalena moro. Bebemos, bebemos e bebemos.
 Quando atravessei a rua e cheguei em casa o porteiro me deu um livro. Embrulhado para presente. Havia um cartão.
 “Foi uma menina que passou e deixou. Bem menina. Não quis dizer o nome, disse que você saberia quem é.”
 Livros, livros, livros, livros.
 Cheguei em casa comi uma trufa e fui para quarto. Antes de dormir peguei um romance policial para ler.
 No dia seguinte, acordei fui à padaria tomar café. Na volta passei na galeria de arte. Desta vez foi Marina quem me recebeu. Fomos a sua sala tomar um café.
 “Eu nunca havia observado esta foto Marina.”
  Era uma foto na parede. Nela Armando e Estela, os detetives estavam num restaurante árabe, envoltos por fumaças de cigarro.
 Me despedi. Voltei pra casa. Abri o livro da noite anterior. Um livro de Ismael Nery.
 Junto com um cartão que dizia:
 “Obrigado pelo almoço. Saiba que agora também sou fã do Ismael. Beijos Marta”.
 Fechei os olhos e escutei o ônibus freando. A menina ria. Puxei-a pelo braço e fomos para a calçada. Mesmo dentro da livraria ela ainda ria.
“Você conhece Ismael Nery?”
 E ela ria. “Você sabia que você poderia ter morrido atropelada?” E aquela linda menina de cabelos curtos ria.
 “Leo, a bicicleta estava a dez por hora, Não tinha como ter morrido. Você tem uma imaginação Leo!”
 E ela continuava sorrindo. 

Os falsificadores. Terceira parte.


Terceira parte

 A situação parecia agora for a do controle. Aqueles três intrusos começaram a se estranhar dentro da minha própria casa. Até que Armando tirou do bolso da camisa um pequeno cigarrinho. E o ascendeu. Eu o reconheci. Era o mesmo senhor que esteve no Árabe almoçando no dia anterior. O mesmo que falava das telas falsas de Ismael Neto.
 Estela sacou a pistola. Seu parceiro o grandão fez o mesmo. Eles não sabiam em quem mirar as armas, se em mim, ou em Aramando. Este mantinha a calma e dava pequenas baforadas no cigarro.
 Acho que pensou que eu o ofereceria um cinzeiro, mas há muito não havia um cinzeiro na minha casa.
 “Me diga senhor Leo Chacra. Você inventou esta história de cena de Nelson Rodrigues. Não inventou?”
 Como eu não respondi ele continuou a olhar pela minha sala. Levantou e começou a procurar alguma coisa nos meus livros.
  “Você leu todos estes livros, estes romances policiais, senhor Leo Chacra?”
 “A maioria deles”. Eu respondi.
 Estala interrompeu Aramando. A outra detetive queria saber aonde o interrogatório iria nos levar.
 “Abaixe a arma e tenha calma Estela” Pediu Aramando. Então virou-se para mim e perguntou, ou ainda me acusou.
 “Estes contos você escreve...”
 “O que têm eles?”
“Até que ponto eles são seus?” Como eu e os o casal também fizeram cara de não estar entendendo nada, ele prosseguiu. “Vou me explicar.” Deu uma risada.
 “Você escreve tramas. Muitas vezes que não dizem nada. Só prendem a atenção do leitor. Um estilo que não é naturalmente seu. Você coloca o suspense pelo suspense.”
 “Por isto que este tipo de escrita é chamado de gênero.” Eu me defendi.
 “Você senhor Leo Chacra é apenas um falsificador”.
 Os três riram de mim. E começaram a folhear os romances policiais. Estavam distraídos. Não tive dúvidas. Fugi pela porta. Desci as escadas e corri para rua. Em frente a minha casa estava aquele mesmo bar da Vila Madalena.
 Entrei e pedi um chope. O mesmo chope que todos os bares de São Paulo têm. Minha amiga Carol surgiu e sentou-se a mesa. Marcelo voltou do banheiro.
 Mas como poderia ser o mesmo bar? Se eu nem na Vila Madalena moro. Bebemos, bebemos e bebemos.
 Quando atravessei a rua e cheguei em casa o porteiro me deu um livro. Embrulhado para presente. Havia um cartão.
 “Foi uma menina que passou e deixou. Bem menina. Não quis dizer o nome, disse que você saberia quem é.”
 Livros, livros, livros, livros.
 Cheguei em casa comi uma trufa e fui para quarto. Antes de dormir peguei um romance policial para ler.
 No dia seguinte, acordei fui à padaria tomar café. Na volta passei na galeria de arte. Desta vez foi Marina quem me recebeu. Fomos a sua sala tomar um café.
 “Eu nunca havia observado esta foto Marina.”
  Era uma foto na parede. Nela Armando e Estela, os detetives estavam num restaurante árabe, envoltos por fumaças de cigarro.
 Me despedi. Voltei pra casa. Abri o livro da noite anterior. Um livro de Ismael Nery.
 Junto com um cartão que dizia:
 “Obrigado pelo almoço. Saiba que agora também sou fã do Ismael. Beijos Marta”.
 Fechei os olhos e escutei o ônibus freando. A menina ria. Puxei-a pelo braço e fomos para a calçada. Mesmo dentro da livraria ela ainda ria.
“Você conhece Ismael Nery?”
 E ela ria. “Você sabia que você poderia ter morrido atropelada?” E aquela linda menina de cabelos curtos ria.
 “Leo, a bicicleta estava a dez por hora, Não tinha como ter morrido. Você tem uma imaginação Leo!!!!”
 E ela continuava sorrindo. E rindo.