Prólogo
O texto: “Os irmãos Chavez” foi escrito há dez anos. Trata-se de uma novela ou ainda um pequeno romance canastrão.
Numa época em que eu vivia entre o clube Paulistano, Vila Madalena e a praia de Juquehy, aqui transformada na fictícia praia de Lucrecia, na Bahia e uma ilha em Paraty.
A trama mostra algumas facetas sexuais dos jovens de classe alta, de vinte anos no final dos anos 90. Retratados nos Chavez, seus amigos e amantes.
Gabriela, a caçula, é linda, desejada por todos os homens da história e invejada pelas mulheres, porém namora um menino feio e inexpressivo.
Duda é masculino, violento, esportista, visceral e ama as meninas negras.
Cris é feminino, músico, meigo, e é também apaixonado pela irmã Gabriela.
Gui, o mais velho, é clássico, gay e namora um menino sarado.
Nenhum deles, da família dos Chavez é baseado na minha família. Fora a minha própria exceção. Creio que eu mesmo sou metade Duda e metade Cris, os filhos do meio.
Publicarei pedaço por pedaço dessa história. Espero imensamente que os leitores se identifiquem e acreditem se tratar de pessoas reais.
Também não tenho certeza se continuarei a publicar as crônicas durante esse período, tudo depende da audiência.
Então vamos lá, o terceiro sinal foi dado. Abrem-se as cortinas.
Com vocês:
OS IRMÃOS CHAVEZ
Choque
Ela saiu da loja de roupas em que trabalha, atravessou o Shopping Iguatemi, cumprimentou três ou ainda dois conhecidos na multidão. Era uma sexta-feira de fim de ano, seguiu para casa e no outro dia amanheceu morta. Fora assassinada com facadas ou talvez com tesouradas na barriga.
O porteiro do prédio afirmou tê-la visto entrar com seu carro em companhia de um homem sentado no assento do passageiro, para dentro da garagem. O mesmo funcionário do condomínio disse ainda a polícia não ter visto o tal homem sair.
A vítima se chama Gabriela Chavez e beleza igual nunca se viu. Era filha do mais bem sucedido cirurgião plástico do Brasil de então, doutor Américo Chavez.
Gabriela havia a pouco deixado à casa dos pais para ir morar com seu namorado Ícaro, um artista de circo que nesse dia estava visitando a família em Londrina, tendo mais de trinta pessoas como álibi.
Já os irmãos mais velhos da caçula Gabriela, Duda, Cris e Gui, nenhum deles tinha estado com testemunhas ou evento que servisse de álibi. Mas não vamos ser ansiosos e já no início do livro lançar suspeitas, ainda mais essas que com a repercussão da tragédia em toda a sociedade da capital paulista nem foram notadas no começo. Exceto por alguns mais curiosos por desvendar mistérios do que chorar por uma desconhecida ou mesmo afirmar que foi obra de um monstro. Humano ou não, é difícil saber, mas, contudo a população concordava em um aspecto: existia um criminoso e aquilo não fora um suicídio.
Às quatro horas da madrugada de sexta para sábado Ícaro recebeu um telefonema de Gabriela:
— Desculpe, acho que fiz... Uma burrada.
Depois desta frase ela ou alguém teria desligado o telefone. Ícaro tentou umas quatro ou cinco vezes chamá-la de volta em vão, conforme ele relatou em seu depoimento. Tendo fracassado, ligou imediatamente para a mãe de Gabriela, dona Anita Chavez, esposa do Dr. Américo.
O casal não tardou em acionar a polícia e às cinco da manhã, eles já se encontravam no apartamento de Gabriela com mais uma equipe de vinte pessoas que dobrava de número a cada cinco minutos.
A menina semiviva foi posta em uma ambulância. O dia amanhecia enquanto a sirene cruzava a cidade. Um anjo sangrava genes que foram se encontrar em uma loteria cósmica de quase infinitas probabilidades, que nem matematicamente seguida de uma explicação em português seriam suficientes para tentativa de descrição desta Afrodite, uma deusa mortal que agora sumia.
Não poucas vezes pensamos: não é a pessoa ideal que eu queria como filho, ou como irmão, mas já que o são eu os amo. Gabriela era realmente amada pelos familiares que quando tentavam imaginar um outro ser que não ela para irmã ou filha, essa figura criada era sempre inferior à sombra de Gabriela Chavez.
Mas de todos os Chavez, talvez Cristiano, o segundo filho, era o que mais demonstrava seu amor. Tinha a irmã como um objeto sagrado a ser posto em altar para ser reverenciado.
Voltemos então ao tempo para melhor entendermos a relação de Cris e Gabriela, prometo depois retornar e descrever o velório e o que se passou dali em diante.