quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Capítulo 15- Os irmãos Chavez

Fiúza fora quem marcara naquele restaurante. Ele almoçava umas duas, às vezes três vezes por semana lá. Estava em casa por assim dizer. Sabia os nomes dos garçons. Cumprimentava os clientes assíduos. Talvez por isso e também por ele, Fiúza ser um policial, percebeu que Rubens já tinha uma história. E que os fatos que ele ia contando não modificavam em nada a conclusão de Rubens. Só temperavam, como um molho. Por isso resolveu guardar munição e saber o que aquele sociólogo tinha para lhe falar.


-Escute Rubens antes de continuar eu quero lhe dizer que estudei muito esse caso. Por tratar de pessoas bem relacionadas e poderosas, pode parecer um clichê, mas foi por isso que me colocaram no caso. Desculpe-me a prepotência, mas eu sou um dos melhores. As coisas não podiam vazar.

-Mas você mesmo disse agora a pouco delegado, lá se vão dez anos.

-Rubens, na época eu calculei distancias. Fiz mapas, perfis psicológicos. Investiguei álibis. Procurei motivos... A verdade é que nunca desconfiei de nenhum irmão da vítima.

Fiúza disse ainda acreditar que o assassino fosse alguém de fino trato. Alguém, aliás, da convivência dos Chavez. Um tipo de assassino que poderia estar num período de silencio, mas poderia como um vulcão ser acionado rapidamente. É uma pessoa comum, finalizou.

-Esse assassino, poderia estar quieto por conta de um evento como um casamento? Ou nascimento de um filho?

-Ou um emprego novo. Sim exatamente. –Disse o delegado. Ele o assassino pode ser acordado em qualquer instante. Rubens o que eu vou lhe dizer pode ser estranho, mas lembre-se é o meu trabalho. O delegado esperou um momento, repirou e falou:

 -Você foi um grande suspeito.

Rubens abriu os olhos. Não podia acreditar no que ouvira. Ele um suspeito?

-Sim. Num depoimento, Guilherme Chavez me contou que você certa vez o procurou em uma pousada em Paraty. E lhe disse estar loucamente apaixonado por Gabriela e que faria uma besteira do tipo se matar, se ela não correspondesse.

Aquilo era verdade. E Giovanni confirmou a história ao ver uma foto de Rubens.

-Eu sempre amei minha esposa. Mas qual mortal não se apaixonaria por Gabriela? Eu sei, ela não era para mim. Queria me usar e depois jogar fora.

-Ela te usou Rubens e te jogou fora, mas você não desistiu. O próprio Guilherme Chavez te viu certa vez num posto de gasolina seguindo Gabriela.

-Mas ele também a estava seguindo.

-Na verdade não.

Foi ai a revelação. Guilherme já não mais namorava Giovanni. Aquele era o posto em que a família Chavez tinha conta. Por isso tudo não passou de uma coincidência. Guilherme e Gabriela no mesmo lugar.

Giovanni já não mais entusiasmava Guilherme que na verdade havia começado um romance com a sua grande paixão, seu companheiro até hoje. Um ministro do Supremo, que na época já era um ministro do supremo. Para um rapaz clássico como Guilherme aquele homem representava poder, cultura e sei lá mais o que. O fato é que Giovannis se acham em qualquer balada, ministros não.

Rubens entendeu então o que o delegado queria dizer com cair a republica. Um ministro Gay? Há dez anos atrás? Seria um assunto maior do que o próprio crime. Foi quando o celular de Fiúza tocou e ele levantou-se e foi atender num lugar em pé em que Rubens não pode ouvi-lo. Ao retornar se desculpou, mas disse que era chamado com urgência em uma operação policial.

-Rubens eu ainda quero terminar nossa conversa. Falta esclarecer muita coisa a você. Adianto-te algo que lhe disse. Gabriela era adotada. Cris sabia. Não sei com certeza se Gabriela sabia. Mas devia imaginar três irmãos e pais altos e morenos e ela loira de olhos verde e era baixa...

-Delegado antes de você ir, me responda: Você nunca cogitou de o assassino ser ela e não ele?

-Ser uma mulher você diz?

-Sim o porteiro pode ter se enganado. Algumas mulheres são altas e tem cabelos curtos.

-Eu sei. Sua esposa, Carla Tornemberg tem a mesma altura que você, um metro e oitenta.

Rubens tomou um susto. Aquilo o atravessou. Era talvez uma confirmação?

-Sociólogo, não se esqueça, eu sou um dos melhores, talvez o melhor.

Despediram-se e prometeram continuar a conversa. Ainda naquela semana. Rubens permaneceu sentado no restaurante.

Fiúza se dirigiu a Rua Gabriel Monteiro da Silva, tinha estacionado dois quarteirões para baixo. Pegou o celular e discou para Jair seu investigador há doze anos.

-Jair sou eu escute. Acho que fizemos uma burrada há dez anos atrás. Gabriela Chavez. Você tinha razão. Espera aí to atravessando a rua.

O investigador Jair pode ainda ouvir o celular cair no chão.

-Fiúza! Fiúza!

Mas ninguém respondeu e o carro não parou seguiu em frente. A rua tranqüila a garoa caindo e molhando o corpo do delegado.

Capítulo 14- Os irmãos Chavez

Fúria!


Fiúza quis organizar as coisas.

-Vamos falar de um irmão por vez.

Disse que Duda poderia ser sim um homicida em potencial. Foram necessários na época 5 policiais para imobilizá-lo. Mas seu álibi começou bem antes. Meses antes, em Paraty mesmo. Em um outro final de semana. Em que desta vez só Gabriela e os amigos encontravam-se na Ilha. Rubens mesmo estava lá.

A caseira abriu a porta do quarto aos berros. Eram sete da manhã e foi depois de muito custo que Gabriela, que ainda nem acordara direito, entendeu. Seu irmão recebera um telefonema que o deixara tão transtornado que o fez quebrar o aparelho, dizendo “Eu mato!” Com os olhos bem vermelhos correu até a lancha e seguiu para o continente.

Gabriela não acordou nenhum hóspede. Reuniu os empregados e perguntou se alguém sabia para onde poderia ter ido seu irmão. Nercito, o caseiro, respondeu-lhe que com certeza era coisa relacionada com a “neguinha”, que era como ele se referia a Jéssica, namorada de Duda.

Gabriela foi rápida, colocou um segurança e Nercito em outra lancha e partiu junto com eles para socorrer seu irmão, fosse qual fosse à encrenca na qual ele se metera.

Jéssica tinha uma amiga que a ajudava a enganar a mãe para que ela pudesse se encontrar com Eduardo. Ambas diziam a mãe de Jéssica que ela tomava conta de Laurinha, filha de Bianca, sua amiga, quando essa ia a um restaurante trabalhar como garçonete.

Quando a mãe descobriu a tramóia armada para que sua filha saísse por aí para “galinhar”, como ela se referia ao namoro com o jovem apaixonado Eduardo, jurou dar uma surra que deixaria a filha de cama.

Jéssica, ao saber através dos vizinhos da promessa da mãe, correu para a casa de Bianca e permaneceu lá por três dias na esperança da mãe se acalmar. Como Bianca morava embaixo do morro e a mãe de Jéssica não ir até lá há muito tempo, e também por não saber com exatidão o endereço de Bianca, foram três calmos dias, durante os quais a linda menina descobriu-se grávida.

Doce ilusão das amigas, pois a fuga, em vez de acalmar a mãe, só fez com que ela se tornasse ainda mais furiosa. Abandonou o tanque quando viu ao longe sua filha que chegava com cautela, mostrando os lindos dentes com um sorriso. Bianca, que também era mãe, entrou na frente e por não ser mais adolescente disse à outra que era crime bater em menor, o que daria cadeia, na certa.

Não foi a argumentação de Bianca que brecou a mãe de Jéssica, mas sim o tamanho e a confiança da amiga da filha. Só que por mais coragem que as amigas tivessem, ainda assim eram mulheres e quando o terrível padrasto de Jéssica, com seus noventa e cinco quilos, puxou-a pelos cabelos, a mãe não teve maiores dificuldades em espancá-la e humilhá-la na frente de toda a rua. Nem mesmo os histéricos avisos de Bianca de que a amiga estava grávida, detiveram o religioso casal. E uma não caridosa, porém bem paga vizinha, que ganhava muitos presentes de Duda, não vacilou e telefonou-lhe.

Já era tarde quando as buzinas da camionete que vinha subindo o morro como um trovão foram ouvidas. Jéssica, no colo de Bianca, já estava desmaiada na frente da humilde casa.

- Foi o padrasto e a mãe. Mas ela ficará boa, não foi à primeira vez. — disse Bianca para Duda.

- Mas foi à última vez. — ele emendou.

Chutou a porta e entrou. Duda vestia uma macia camiseta azul e calças bem leves, na cor cáqui ou creme. De resto, o que o casal de pedagogos viu foi Átila e eles nem conseguiam se mexer. Duda agarrou o pescoço do pai de Jéssica e levantou-o do chão, depois lhe deu um empurrão e mandou que ele fosse embora de Paraty e nunca mais voltasse, caso contrário o jovem Chavez prometeu matá-lo. O homem obedeceu e ao que consta nunca mais foi visto na cidade. Nunca mais foi visto em lugar nenhum.

Gabriela, avisada por Nercito de que a menina no chão com a amiga, que agora recobrava os sentidos e chorava, era sua cunhada, abaixou-se para ajudá-la e disse à Jéssica:

- Eu sou Gabi, sua cunhada.

Bianca disse à Gabriela que a menina delirava e estava grávida. Gabriela colocou-as no jipe em que viera e junto com o segurança seguiu para o pronto socorro. Deixou Nercito com Duda para que viessem atrás.

-Foi esse o começo de muitas encrencas Rubens. Jéssica é uma jovem extrovertida, gentil, linda e muito charmosa. Duda não foi o único playboy a se interessar por ela. Um amigo dele, Ricardo Freitas, tentou assediar a moça. No dia do assassinato de Gabriela, Duda foi preso em flagrante. Foi na porta do prédio de Ricardo. Duda quase o matou com uma surra. Dezenas de testemunhas. Não sei como a imprensa não soube. Acho que foi o pai de Ricardo que conseguiu abafar o caso. Quer um conselho? Nunca se aproxime de Jéssica.


Rubens quis então saber sobre Guilherme. Afinal esse sim tinha um motivo: Giovanini.

-Sociólogo, segure-se. O álibi de Guilherme Chavez na época poderia ter abalado a república do Brasil. Foi o ponto mais delicado da investigação. Toda a minha carreira esteve por um triz. Mas hoje, dez anos depois, um governo de oito anos de outro presidente, quem se importa.

Com essa revelação Rubens não contava. Realmente dissera que estava escrevendo um livro ao delegado, pura balela. Mas agora, não é que talvez desse algo grandioso.