quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Capítulo 16- Os irmãos Chavez

Olga Benário


 É fim de tarde, a garoa parou e um lindo por do sol se abre no parque do Ibirapuera. Rubens aguarda Carla na porta do prédio da Bienal de artes de São Paulo. Eles tinham combinado de visitá-la juntos. Seu celular toca:

-Alo Rubens?!

-Sim quem é?

-Preste muita atenção. Aqui é o investigador Jair, foi muito difícil conseguir seu celular.

-Você parece ansioso.

-Caralho! Escute você não é suspeito de nada. Eu quero protegê-lo! Vá imediatamente a uma delegacia.

-O que está acontecendo?

-Eu sei que você ficou mais tempo no restaurante lá da Faria Lima, falamos com os funcionários, logo não se preocupe. Repito quero protegê-lo você não é suspeito. O delegado Fiúza foi atropelado hoje às duas e meia da tarde.

-Ele está bem?

-Não Rubens ele morreu. Vá imediatamente para uma delegacia.

-Ele me disse que ia para uma operação policial.

-Ele mentiu. Fui eu quem ligou quando vocês almoçavam...

-Desculpe, seja lá quem for você eu vou desligar.

-Rubens não tinha operação nenhuma, ele me disse que eu estava certo sobre o caso Gabriela Chavez.

-Certo em que?

-Sobre Caio Haddad.

-O que é que tem esse Caio Haddad?

-Ele foi encontrado morto meses antes de Gabriela Chavez. Ele era o vocalista da banda “Tapete voador”. A mesma banda em que Cris Chavez tocava. Na época foi dado como suicídio. Ele teria pulado do nono andar de sua casa.

-Desculpe Jair, mas eu vou desligar...

-Rubens, o delegado foi atropelado por um mini cooper grafite prata. Testemunhas afirmam terem visto uma mulher ao volante.

Aquilo foi demais para Rubens. Agora era certeza, Carla tinha um mini cooper grafite prata.

-Rubens não fale com ninguém. Não fale de jeito nenhum com sua esposa. Vá para uma delegacia.

Foi quando Rubens avistou Carla chegando e sorrindo.

-Inspetor preciso desligar...

-Onde você está? Onde você está?

-Bienal Ibirapuera.

Foi o tempo de Rubens desligar o celular e cumprimentar Carla com um beijo.

-O que foi? Você está estranho.

-Nada.

-Então vamos entrar que eu estou louca pra ver a bienal há semanas. Eu tenho uma novidade pra te contar. Aliás, como foi seu dia? Onde você almoçou?

O casal passou pelo detector de metais e entraram no prédio que estava lotado de visitantes. Turistas, escolas, jovens... Carla estava sorridente e deu a mão para Rubens.

Jair e mais dez policiais rumaram com as sirenes ligadas para o parque do Ibirapuera.

Carla e Rubens estavam no primeiro andar.

-Vamos tomar um café? –Disse Carla puxando Rubens.

-Carla quem é Caio Haddad mesmo?

Carla contou de quem se tratava rapidamente.

No caminho Jair que já havia sacado a arma se lembrava de dez anos atrás. De quanto ele e Fiúza seguiram Carla meses esperando qualquer desdize que nunca aconteceu. Mas agora ele poderia provar. O carro que matou Fiúza era o dela. O próprio marido já percebera que estava casado com uma homicida em série. Pegou o rádio e disse:

-Atenção todos: A suspeita é uma mulher de um metro e oitenta, perigosa. É treinada no exército israelense. O prédio está cheio. É para derrubá-la. Repito: É pra derrubá-la. Acertem na cabeça ou peito. Ela é canhota.

O casal tomou o café e seguiram. Carla disse que queria ver a obra do Nuno Ramos. Para Rubens tudo estava claro. Lembrou-se de Caio em Paraty. De quando viu Carla beijando ele num show do “Tapete voador”. Primeiro Gabi roubou Caio. Depois ficou com Ícaro e ainda tentava ficar com ele Rubens. Aquele era o motivo. Ela devia guardar um ódio de Gabi. Um ódio profundo e silencioso.

Domingo passado quando viu Ícaro no Genésio não o reconheceu. Achou que era uma menina por causa da tiara e os longos cabelos de Ícaro. Então também podia ser o contrário, uma mulher ser confundida com um homem. Meu Deus, seria ele realmente marido de uma serial killer?

-Rubenzinho você vai ser pai!

Carla disse isso e deu um beijo em Rubens.

-O que? Ele ainda estava avoado.

- Estou grávida.

Realmente Jair tinha razão Carla fora muito bem treinada. Ela percebeu olhando pelos lados quando quatro homens se aproximavam com pistolas na mão. Num movimento rápido ela puxou Rubens e o empurrou em direção ao chão.

Jair não pensou, nem ele nem um outro policial. Antes de gritarem “policia”, de se identificarem, dispararam contra Carla pra derrubá-la. E derrubaram. A multidão corria. Rubens abraçava a mulher que sangrava. Morreu na hora e o rádio de Jair tocou:

-Jair? Gusmão estou no estacionamento com o mini cooper.

-Prossiga Gusmão.

-Sinto muito inspetor. O carro está intacto.

-Como assim?

-A vítima é inocente. Abortar a operação.

Jair ficou tonto. Deixou a pistola cair no chão. Olhou para Rubens e disse sem som. Só movendo os lábios.

-Desculpe.

E o sol se pos.