sexta-feira, 19 de junho de 2015

Sobre verticalização.

Agora virou moda, falar que verticalização é prejudicial a cidade, a qualidade de vida, e seria um estilo de vida ultrapassado. 
E que os bairros deveriam ser, ou estritamente residenciais, ou estritamente comerciais. 
Eu que trabalho em casa onde ficaria? Tem uma balada, bar, de coxinhas, em frente de casa. Se eu gosto? Claro que não. Se tocasse um jazz, ao invés de música de academia, eu teria mais tolerância? Claro que sim. Adoraria. 
No que concluo, além de o inferno serem os outros, que numa cidade, para ser bela, interessante, não contam só as edificações, a música, o barulho e o verde (mesmo porque 99 por cento da arquitetura do mundo, não são obras de arte, pelo contrário, é ruim), contam outras variantes também. O ar por exemplo. E a cultura.
O que São Paulo tem de bom? São Paulo só é bom, quando o que tem de ruim, está um pouquinho melhor. O trânsito calmo, a balada dos coxinhas vazia, o calor mais ameno, e a oferta cultural maior.
De maneira, que não são os prédios novos a serem construídos, que me amedrontam. O que me amedronta, é estes novos prédios, serem parecidos com os antigos, que já existem.
E eles continuarem a serem habitados, por adoradores de shoppings, carros, barulho e condomínios.
Deixem os prédios em paz. Eles não são os culpados.

Ipanema, 1,6k quadrados de talento.

Acho que fui injusto com Ipanema, no meu último post. Ou ainda não tão bem compreendido. Ao compará-la a Copacabana. Eu causei conflito com alguns bairristas, e apaixonados por Ipanema. 
Tentarei concertar. Antes de mais nada, Ipanema, tem em mim, talvez, a maior de todas as influências culturais. Meus pais são da geração Ipanema. Todos os escritores, teatrólogos, divas, jornalistas, músicos, poetas, estilistas, pintores, formadores de opinião, cineastas, que eles me apresentaram, ou que eu tenha descoberto por mim mesmo, quase todos, vieram de Ipanema.
Por este motivo, acredito que temos um paradoxo, me sinto tão a vontade em Ipanema, que acabo ficando incomodado. Ainda muito criança, eu rodava as boutiques da rua Oscar Freire e Augusta com a minha mãe, e ainda muito criança minha mesma mãe me apresentou a Rua Visconde de Pirajá, dizendo que era como a Oscar Freire do Rio.
São Paulo não tem nenhum pedaço tão concentrado, onde tenham vivido tantos talentos juntos. Mas o que eu sinto hoje, é que aqueles nomes todos, aqueles anos todos, ficaram lá para trás da década de 80.
E se já em criança, comecinho dos anos 80, eu já reconhecia a similaridade, entre meu bairro Paulistano e Ipanema, agora então, constatar que onde havia o Píer, temos hoje o Fasano e o Bar Astor, é a concretização do que eu disse no post anterior.
Ipanema mudou o mundo. Ipanema foi uma explosão cultural, das mais importantes da história da humanidade. Podendo ser comparada a Firenze e a Atenas facilmente, sem exageros.
Mas o que teria acontecido, para que em tão pouco tempo, sucumbisse a discutível cultura dominadora paulistana?
Não existe lugar no mundo, em que um Paulistano de classe alta, se sinta mais em casa do que Ipanema. Só por isso, concluo que há algo de podre no reino de Ipanema.

Copacabana de novo.

Sem querer passar por elitista, mas aos 40 anos, conheço algumas grandes cidades. Buenos Aires, Lima, São Paulo, Cidade do México, Los Angeles, Nova Iorque, Londres, Paris, Roma (grande na idade), Tóquio, Cairo, Seul...
Por isso sei que cidades deste porte, são muito heterogêneas nas suas regiões, bairros, zonas, distritos. 
Sexta feira, tomo um avião em Congonhas, as 12h e desço no Santos Dumont, as 12:45h. De um bairro central de São Paulo para exatamente o Centro do Rio. É quase como pegar um metrô.
Mas o que eu quero dizer aqui, é de como as praias de Copacabana e Ipanema- Leblon são culturalmente tão distintas.
Seja na arquitetura, comportamento ou ainda etnias.
Como um Paulistano da gema, sinto que Ipanema tenha se tornado uma filial dos Jardins. As mesmas boutiques, restaurantes, hotéis, celebridades, bares, caras e nomes. A mesma comida inclusive e até o mesmo partido político.
Aquela brincadeira de dizer a Tijuca é a Mooca, a Lapa e Santa Tereza, são a Vila Madalena, Botafogo e Flamengo, equivalem a Higienópolis, Barra é Moema. São Conrado é Vila Nova Conceição. Urca é Pacaembu. Lagoa, Gávea e Jardim botânico, são Ibirapuera e Itaim.
Mas e Copacabana? Seria o Bixiga? A Avenida São Luis? Não.
Copacabana, no meu entender, é um caso único. É uma cidade dentro de uma cidade.
Há uma magia dentro de Copacabana. É um paradoxo. É, ao mesmo tempo, o que há de mais cosmopolita no Brasil, e mesmo assim, é, ao mesmo tempo, o que há de mais carioca, regional.
Alguns autores, dizem que Ipanema, foi uma maternidade cultural, um celeiro, berço nos anos 60, 70 e 80. Mas me desculpem, com o metro quadrado mais caro do Brasil, o natural foi o que aconteceu, o establishment Paulistano e os caboclos do “Cantri” Club, tomaram Ipanema.
Já em Copacabana, me sinto as vezes em Paris, as vezes em Havana, outras caminhando por Buenos Aires e principalmente em Nova Iorque. Onde se não em Copacabana, ou NY, se veem Negros e Judeus convivendo pacificamente, lado a lado? E ambas etnias serem tão cariocas, ou tão nova-iorquinas?
Eu que nasci em 74, e nunca cheguei a ver o Asdrúbal, o Píer, o Circo Voador, a Bossa, me apaixonei por Copacabana. Sua decadência, seu Glamour, grandeza, elegância, cultura e cosmopolitismo. Aquilo sim, foi Capital do Brasil. Não Ipanema, me desculpem.

A melhor mentira já contada.

Eram seis na mesa. O ideal são cinco, mas eram seis. Com cinco pessoas a conversa flui. Com seis já não flui. Dispersa em duas, ou até três diferentes papos. Assim diz a regra. 
Mas três deles eram fumantes, que passam mais tempo fora do bar fumando, do que dentro. Daí a conversa também flui. Quanta matemática.
Uma turma hyppe de 40 anos. O que hoje se chama de hyppe. Sendo atendida por uma garçonete de 20 anos. Uma garçonete também hyppe. Já notaram como as pessoas de vinte anos se vestem iguais as pessoas de 40?
Foi assim que se conheceram. Num domingo a tarde. Ele solteiro, grisalho, desquitado. Ela, universitária, engajada, politizada, alternativa, e porque não, aberta a novas experiências. 
No caso a nova experiência era pegar a estrada com o quarentão hyppe, para fotografar o interior do Brasil. 
Ele fora do mercado financeiro. Mas nunca se entendeu, ou se achou nesta profissão. Seu pai era da área, seu tio, irmão, por isso ele tinha relativa familiaridade com alguns termos, mas nunca teve um caso de amor com bolsa de valores, nem identificação. 
Casou-se com uma colega de faculdade. Faculdade de economia. Sua esposa abriu com duas sócias, nada hyppes, nada alternativas, um buffet de festa infantil. 
Um dia o fotografo faltou. No desespero, a mulher o chamou as pressas, para ocupar o lugar do fotografo e retratar a festa infantil, da menina que fazia 4 anos de idade. 
Ele adorou aquilo. As fotos ficaram melhor do que as do fotografo de costume, que havia adoecido. 
Gostou tanto, que fez um curso no MAM de fotografia. Passou a fotografar agora todas as festas infantis. 
Em pouco tempo se demitiu do mercado financeiro, e também se separou da mulher. Virou um fotografo de vez. Conheceu outros fotógrafos, conheceu galerias, se encontrou. 
Mudou de bairro, aprendeu a cozinhar, passou a frequentar todos os eventos culturais da cidade de São Paulo. Estava feliz e realizado. 
Nunca mais ouviu falar da ex-mulher. Sua turma mudou, seus interesses também. 
Como pôde viver tantos anos convivendo com a fotografia, sem nunca ter se dado conta, de que ela era sua vocação, sua paixão?
A universitária fazia cerâmicas. Ou melhor estudava artes. 
Foi uma viagem incrível. Era o final dos anos 80. O Brasil se democratizava. A menina tinha longos cabelos ruivos. Branca, ela contrastava com sertão do Brasil, ou melhor, o completava. 
Leila, puxou a mãe. Tem lindos cabelos ruivos. Coisa rara, pois os ruivos estão em extinção. Mas diferente dos pais, fez direito. Nada de artes visuais. 
Leila, entrou no escritório de Rita, uma senhora de uns 60 anos. Era Rita quem organizava e decidia todo o evento. No final ao se despedirem, Rita disse algo que pegou Leila de surpresa:
“Às vezes, a paixão de uma pessoa, está bem debaixo do nariz dela. Mas se você não mostra, não aponta, para esta pessoa, talvez ela passe uma vida inteira sem perceber. Sem se encontrar.”
Leila sem entender nada, perguntou de quem Rita falava. E a senhora respondeu, que era de Celso, pai de Leila. 
“A senhora conheceu meu pai?”
“Não só conheci, como contei pra ele uma mentira, que foi talvez a melhor coisa que aconteceu na vida dele. Uma mentira, sem a qual você menina, nem seu filho tão pouco, existiriam.”
“E posso saber qual é esta mentira?” Perguntou Leila. 
Rita riu, deu de ombros. 
“Claro que pode”.
“E qual é?”
“O fotografo adoeceu. Você Celso, precisa ficar hoje no lugar dele"

O que há em comum entre Galileu e Macbeth? Subtítulo: Ou aos “iniciados”.

A primeira coisa, que ambos têm em comum, os personagens de ficção, não o Galileu, personagem histórico, que realmente existiu, é que dão título a duas peças de teatro, das quais gosto muito. 
O texto: “A vida de Galileu Galilei”, de Bertold Brecht me foi apresentado pela primeira vez, por um professor de física, quando eu estava na quinta série ginasial, (não sei como chama hoje).
O que eu conto aqui, não estraga em absoluto, a trama, ou a surpresa do espetáculo, já que tanto Galileu, quanto sua vida são fatos conhecidos de todos. Vou fazer um breve resumo:
A partir da descoberta, ou melhor, da invenção do telescópio, Galileu provou que as luas de Júpiter eram satélites do planeta. Provou, por observação e métodos científicos, que os planetas giram em torno do sol, e não o sol e os astros e estrelas giram em torno da terra. 
Logo provou que a terra não é o centro do universo. Claro que depois os Americanos mostraram, que sim, a Terra é o centro do universo. Já que o mesmo universo não tem centro, logo, tanto faz qual é o centro. É geralmente onde você está. Ou não. Você escolhe. Mesmo porque o sol também se move. Enfim... 
Vou confessar uma coisa, as duas peças teatrais, não têm, talvez, nada a ver. Mas como eu assisti ao espetáculo, Galileu sexta e passei sábado e domingo estudando Macbeth, resolvi escrever de ambos no mesmo ensaio. Quem sabe não descubro algo. 
Galileu, é considerado por alguns, a peça mais importante do século XX. Coloca a ciência e suas responsabilidades no palco. Mas é ela a mais bonita? 
Não me identifico com Galileu. Sorry Brecht, não me provoca assim tanta polêmica. Mas a ideia de fazer um covarde um herói, ou ainda um herói em covarde, ou ainda um cientista em apenas um cara normal e cagão... É genial. Não acho Galileu mais humano por ter se acovardado perante a inquisição. Giovani Bruno, não se acovardou. Sei lá. 
O ponto, não ee se Galileu teve um grande amor, o ponto ee que Brecht me fez chorar numa única cena. Ok me fez refletir, e pensar e questionar em muitas cenas. Mas chorar?
É quando Galileu traz toda humanidade com ele. A Europa toda querendo que ele não renegasse sua fé na razão, e ele fraqueja. 
Neste dia, neste momento, eu, Leo Chacra, estou lá em Roma. Eu, você leitor, todos nós humanidade. Pedindo que ele encare a inquisição e diga a verdade. 
Eu sei o que aquelas igrejas são belas, e o que a mensagem de Cristo é, e continua a ser linda, contituiam uma situaçao bem diferente da de hoje. Outro contexto. Ainda mais naquele século XVII. 
Mas ele calou-se. Pior, Galileu voltou atrás. Em dois ou três minutos de fala, Galileu regrediu milênios.
Brecht acertou aí. Se este dia fatídico não foi o mais triste da humanidade, com certeza foi um dos mais, junto com o inverso da bomba atômica. 
Por isso eu entendo Galileu. Mas não o perdoo. E reverencio Brecht por pegar uma emoção tão grande, que ninguém via, pois Galileu não foi um general, não foi herói, não foi um revolucionário, foi simplesmente um dos maiores cientistas que a história já teve. 
Pegar esta foto, e fazer um espetáculo tão lindo. 
Já Macbeth, um homem comum, não muito inteligente, não se acovardou. Macbeth, sem ideologia nenhuma, de um egoísmo total, quis ser rei. Ou ainda, viu a possibilidade de mudar tudo, e mudou. Macbeth nunca se acovardou. Claro que durante o processo, Galileu deve ter cogitado falar a verdade, e Macbeth teve medo e quase desistiu. Mas Macbeth não desistiu. E para ser rei, matou o rei e todos que se opuseram contra ele. 
Macbeth amou muito. E aí, é que entramos num jogo maluco. Macbeth só fez é matar e cometer o mal. Neste sentido, todos admiram Macbeth, porque bem da verdade, o outro Rei, o que ele matou, não era lá muito diferente dele. 
Já Galileu... Um homem brilhante. E nos desapontou. 
Vá ver Galileu no teatro Tuca. E observe que você quererá no momento da inquisição, se levantar da cadeira, ir até o palco fazer Galileu dizer a verdade, e depois matar todos aqueles cardeais “filhas da puta”. 
Mas você não vai. Não vai, porque você leitor, também é um cagão assim como Galileu. 
E neste momento, você vai invejar a coragem de Macbeth. Deste escocês que nunca fez nada, absolutamente nada, pela humanidade. 
E vai desprezar Galileu. Este italiano, que talvez se não tivesse existido, ainda não teríamos nem pisado na lua, quanto menos construido bombas nucleares.

Atores, diretoras e gastronomia.

Era só um teste de publicidade. Mas a minha mente já ia longe. Sempre que me chamam para trabalhar como ator, me vem James Dean na cabeça. 
Por que James Dean? Acho que quando criança, ou entrando na vida adulta, quando temos de escolher o que fazer da vida, eu ora queria ser arquiteto, ora cineasta. Mas antes disso, de ambas ocupações, eu queria ser ator. 
Queria ser James Dean. 
Meus pais é que me falaram de James Dean pela primeira vez. Disseram-me que ele, o James Dean, tinha algo de sobre natural. Um mito. A geração dos meus pais tem outros mitos também. Che Guevara, Beatles... 
Mas Leo! Você já tem 40 anos de idade, James Dean morreu com 24. James Dean fazia filmes grandiosos. Você está indo fazer um simples teste publicitário. Não tem nada a ver. 
James Dean, não ficava pensando numa crônica antes de filmar. Ele provavelmente pensava no texto, no personagem, na cena, ele era um ator, não um escritor. 
Acho que o negócio do James Dean comigo, era, ou ainda é, algo só pra agradar meus pais. 
Nesta mesma época, em que eles compraram um video cassete, e colocaram “Casablanca” e “Rebelde sem causa” para vermos, eu era fã mesmo do Eddie Murphy, Clint Eastwood e principalmente do Errol Flynn. 
Depois conheci Al Pacino, Jeremy Irons e Peter Sellers. Ai quando entrei na escola de teatro, queria ser Jardel Filho e Sergio Cardoso. 
Então veio uma fase de Diogo Vilella, Pedro Cardoso. E hoje minha cabeça confunde tudo, penso no James Dean, mas é uma mistura de Leonardo de Caprio com Marlon Brando que me vem na cabeça. 
Enfim. Decorei todo o texto. Mas ao chegar ao teste, o produtor de casting, me diz que o meu texto é outro. Que eu não aparento o perfil do texto que eu tinha decorado. Que haviam me mandado. Registro mais jovem no video, ele diz. 
Ao mesmo instante uma menina sai do estúdio e diz pra entrar mais dois atores. Ela passa por todos e vai na rua fumar. É muito jovem. Descubro que é a diretora. Me pareceu simpática. Empolgada. Nunca fui de querer agradar diretores. Sempre quis é agradar a mim mesmo. 
Tento argumentar com a diretora que eu decorei o outro texto, e se por um acaso, eu não poderia fazer os dois textos. O que eu tinha decorado antes, e o novo, que eu tivera só 5 minutos durante a maquiagem pra decorar. 
Claro que eu sabia, que absolutamente, ela não iria perder tempo comigo, fazendo um texto que não é o meu perfil. 
Mas o que queria mesmo era me desculpar, justificar, por não saber tão bem o texto. As vezes atores passam por ingênuos, mas são bem ligeiros. 
“O que você é do Guga Chacra? ”
Ela me perguntou isso depois de olhar para a minha claquete com o meu nome: Leo Chacra. 
“Você conhece o meu irmão? ”
Perguntei por perguntar. É claro que conhece, ele é da TV. 
A verdade é que eu não sabia o texto. A pior coisa que pode acontecer a um ator, é não saber o texto. Fica parecendo que ele é ruim. É como um cantor tentar cantar, sem saber a letra da música. 
Mas há coisas que ninguém explica. Pouco antes de começar a cena, nosso cérebro se divide em dois. Duas metades bem definidas. 
Uma metade busca o texto desesperadamente, busca as marcas, a indicação da diretora, fica pensando na crônica que vai escrever, fica imaginando se a diretora está de regime, por isso sai tanto pra fumar. Se a diretora gosta de meninos, ou de meninas. Se o corpo está solto, na maldita camisa que a figurinista escolheu apertada pra caralho, que me deixa gordo. Na dicção, na contenção dos gestos... 
Já a outra metade da cabeça, sabe-se la de onde, começa a dar entonações, sabe o texto, tem um domínio total do que está acontecendo. Se joga e começa a fazer coisas que nada tem a ver com Leo, ou com James Dean, começa a querer mais. Fazer mais. Não quer mais sair dali. Esta segunda metade, quer fazer a cena, de mais dez maneiras diferentes. 
Enquanto a outra metade, a mais moderada, tímida, racional, só pensa em ir embora, pegar o cache teste. Sair dali o mais rápido possível. Ela sente que eu estou duro. Que as frases saem tremidas. 
No final a diretora bate palmas. 
“Você conseguiu. Deu o texto inteirinho sem errar”.
Convivendo com atores há 23 anos, dirigindo atores, namorando atrizes, e ainda fazendo pontas aqui e lá como ator, chego cada vez mais a conclusão, que ser ator, é a capacidade, de deixar o cérebro funcionando com duas partes independentes que se dão muito bem. 
Mas também sou obrigado a concordar, que a simples química com o diretor, pode fazer um ator render ou ser um total desastre. 
Porque a cena nunca é só do ator. É do diretor também. Pelo menos quando eu estou dirigindo. Como disse o Boal uma vez:
“O diretor, quando dirige, está assim como o pintor quando faz uma tela, criando arte, fazendo arte”.
Deixar de dirigir, quando o ator está sublime, também é uma arte. 
Mas nesta vida já vi de tudo. Já vi diretor dizer que o ator não sabe, e é ruim. Humilhar o ator. E mesmo assim, o ator ir pra casa feliz. 
Como eu disse. Cada um com a sua química. 
O fato é que assim como um grande chef sabe:
“Que um prato, nunca será melhor do que os ingredientes”. 
Um diretor deveria saber, que uma cena, nunca será melhor que o texto e os atores.

Um lugar, de lindos sonhos doces, com cachaça.

Quando as cidades históricas de Minas Gerais foram construídas no século XVIII, não se imaginava qual seria a verdadeira vocação delas: Turismo. 
Diferente de Veneza, por exemplo, as cidades Históricas de Minas Gerais, tiveram o sua ascensão e decadência num intervalo de mais ou menos 50 anos. Ou seja, aquela civilização foi rápida. 
Foram os Paulistas quem descobriram Minas. E por mais absurdo que possa parecer, em São Paulo a arte Barroca, as grandes Igrejas do século XVIII, quase não existem. Ou melhor dizendo, quem já foi ao museu de arte sacra de São Paulo, sabe que elas não existem. 
Em primeiro lugar, os bandeirantes não se consideravam Paulistas. Já que as províncias como são conhecidas hoje, não o eram naquela época.
Com a invenção do Turismo, que consiste em visitar outras regiões, lugares, sem o intuito de conquista-los, os sítios arquitetônicos antigos ganharam outra função. 
Ninguém mais luta no Coliseu em Roma. Bem como ninguém mais é enterrado numa Pirâmide. 
Mas viajamos para ver estereótipos. Mesmo o turismo ecológico, natureza pela natureza, ou o paradisíaco, praias e resorts. Sempre buscamos os Estereótipos. 
No caso de Minas, fogão a lenha, cachaça, roça, leitão, tutu de feijão, paçoca, queijo, lugares bucólicos, construções barracos, artesanato, café, pão de queijo, viola, Guimarães Rosa, grupo Corpo, Inhotim... 
Mas pra mim, e não sei de onde tirei isso, Minas me remete a infância. A ingenuidade. O primeiro beijo atrás da Igreja, festa Junina. Vaquinhas no campo, almoços sem pressa. Pinturas de Guignard. 
De onde viria esta ideia, da falta de maldade em Minas. Como se todos la fossem seres honestos, beirando a pureza?
Depois de mundo refletir, creio que no meu caso, esta ideia vem da Inconfidência Mineira. 
A Coroa Portuguesa, querendo amedrontar a população punindo Tiradentes, fez o oposto. Escrevo isto com base num ensaio do Historiador Boris Fausto, mas só a base. 
Esquartejar um cidadão em praça pública, Tiradentes foi pendurado em Ouro Preto e não no Rio, como um exemplo a ser temido, só fez com que o povo tivesse uma forte identificação com o mesmo. 
Um Império que mata um rebelde, que assumiu a culpa de um grupo, e espalha seu corpo nas ruas onde existem imagens por todo lugar de um Cristo que morreu com o mesmo julgamento, de forma muito semelhante, só poderia ser recebido ao contrário. E foi. 
Alguns Historiadores creem que Tiradentes foi invenção de Vargas. O fato é que ele só veio a luz na República, porque ambos os Pedros Imperadores, eram descendentes diretos de Maria Louca que ordenou a morte de Tiradentes. Logo ignoraram o fato histórico. Que só retornou com a proclamação da República. 
Hoje se sabe, que os Inconfidentes, tiveram contato com as ideias Iluministas mais avançadas da época. E que um dos intuitos era a libertação dos escravos e a fundação de uma Republica na colônia Brasil. Não era pouca coisa. 
De uma atividade tão pesada, como a mineração escravista, vir um sonho de liberdade, igualdade e fraternidade, é algo para se pensar. São contrários. 
Contrários estes, que fizeram a Republica de Minas Gerais, ser um lugar amargo, onde um escravo tinha uma expectativa de vida de sete anos, e ao mesmo tempo um lugar de poetas. Um lugar, de lindos sonhos doces, com cachaça.