domingo, 29 de abril de 2012

Vantagens de ser solteiro.


 O funcionário da rádio se aproximou do casal e disse que faltavam cinco minutos para eles entrarem no ar. A menina olhava a cidade lá embaixo. Estavam num andar muito alto na Avenida Paulista. Depois olhou para o rapaz.
 “O que você está escrevendo?” Ela quis saber.
 “É uma ideia para um conto. Um cara que vai dar uma entrevista com uma garota, sobre uma peça que estão fazendo juntos, e ele se declara pra ela no ar.”
 “Coitada!” Diz a moça. Depois completa. “Mas isso já aconteceu de verdade. Só que na televisão. Acho que foi lá pros lados dos Estados Unidos.”
 Meus irmãos vivem me dizendo que eu deveria frequentar palestras. E eu nunca vou à palestra nenhuma. Por que, quer saber o leitor? Não sei dizer. Todas as que eu já fui gostei muito. E eis que me chega um convite para dar uma palestra. O tema era: “As vantagens de ser solteiro.”
 O público seria composto por membros de um tal Pink Clube. De inicio pensei tratar-se de um público gay. Mas depois vim a saber, que seria uma palestra, seguida de um debate com mais dois oradores. Um casado, eu e uma terceira opção.  Falaríamos para um público eclético.
 Pensei então nas vantagens de ser solteiro:
 Meu Deus! Eu não conseguia pensar em nenhuma.
 “Onde vocês se conheceram?” Perguntou no ar e ao vivo o radialista.
 E toda aquela plateia, de duzentas pessoas, me olhando e esperando as vantagens de ser solteiro.
 Me apresentei, andei de um lado para o outro do palco. E comecei:
 “Vocês sabem quais são as maiores vantagens em se ser solteiro?”
 Para aumentar meu desespero ninguém na plateia pareceu querer responder.
 “Vamos lá podem falar.” Um gordinho timidamente, olhou para os lados e foi levantando a mão. Bem lentamente.
 “Pois não, pode falar.”
 “Se a gente é solteiro, não seremos cornos.”
 “Muito bem observado". Ele sorriu satisfeito com o aparente acerto. "Mais alguém?”
 Neste instante a plateia começou a rir.
 “Como vocês se conheceram?”
 A moça sorriu. Olhou todos sentados na mesa. Era uma pizzaria.
 “Eu fui dar uma entrevista na rádio, pra ele.”
 Andei de um lado para o outro do palco, esperando outra resposta...
 Desta vez uma linda menina, nem levantou a mão, já foi falando:
 “Poder assistir ao canal que quiser não ter de dar satisfação, usar o banheiro de porta aberta, não precisar tomar banho...”
 A menina falou outras escatologias, enquanto metade da plateia aplaudia e outra vaiava.
 Na hora em que o rapaz criou coragem, que decidiu após vinte minutos de entrevista, que este agora era o momento, respirou e já ia falar, quando foi pego, ou atropelado pelo radialista:
 “Vocês não estão vendo o quanto esta garota é bonita... Olha, eu acho que nunca entrevistei uma mulher tão charmosa e linda aqui no rádio...”
 Agora era tarde. Ele tinha perdido o momento.
 Alguém mais sabe outra vantagem?" Uma senhora agora.
 “Poder vir a palestras com esta”.
 “Muito bem. Esta é sem dúvida uma enorme vantagem”.
 Não preciso dizer ao leitor que perdi o debate, para o palestrante casado. Mesmo tendo ajuda do palestrante, terceira opção, que se dizia enrolado.
 Porque a verdade é que alguém casado, pode optar por fazer algo só, ou estar com o companheiro ou companheira. Pode ir ao cinema só ou acompanhado. Pode escolher jantar só ou acompanhado. Já o solteiro, embora aparentemente tenha todas as opções do mundo, na verdade ele tem uma só. A solidão. 

terça-feira, 17 de abril de 2012

Asterix, Malvinas e minha namorada.


 O leitor deve estar acompanhando as “celebrações”, dos trinta anos da guerra das ilhas Malvinas.
 Acho que desde que o enorme e perigoso Paraguai nos invadiu, nenhum outro conflito de proporções desta magnitude ficou tão perto da gente aqui de São Paulo.
 E falando em São Paulo estava eu subindo hoje a Alameda Casa Branca, e sem querer me escapa:
 “Oh mochila pesada!”
 Minha namorada parou me olhou, e disse:
 “Da isso aqui pra mim. Eu já disse que não queria que você a carrega-se. Se ela é minha...”
 “Eu só disse que ela é pesada.” Ela me olhou ainda mais brava e falou séria.
 “Você nunca fez exercito, né Leo? Você daria um péssimo soldado.”
 Eu no meu machismo ia começar a gritar o que ela sabia sobre exército?  Já ia com dedo apontado para a cara dela. Ela já estava com a mochila nas costas, e não parecia achar nada pesado. Continuou a subir a rua.  Sem me dar importância.
 Quando me ocorreu que assim como ela, eu não sei nada a respeito de exército.
 Por que afinal o povo que mora naquelas ilhas, sem árvores, com muitas pedras e um vento gelado, deve optar ou por Inglaterra, ou por Argentina?
 Não podem simplesmente serem uma vila livre e independente como a do Asterix? Um lugar bulcólico, autossuficiente?
 Você sabia leitor, que foi uma mulher chamada Margaret quem aceitou começar a guerra das ilhas Malvinas, ou ilhas Falklands?  
 Dias antes no parque do Ibirapuera, dois jovens falavam de carreiras, salários, chefes e colegas enquanto tomavam um lanche depois dos exercícios. Aqueles dois jovens nunca haviam se alistado no exercito. Porque eram jovens, mas eram meninas. Nada na fala delas lembrava o feminino.  Elas conversaram uma hora só sobre valores, mercado, preços. Nada sobre homens, crianças, moda...
 E como não estamos nem na Suíça nem em Israel, por que deveriam ter se alistado?
 Há algo interessante em ser Brasileiro. Nós não sabemos direito para que serve um exército.
 Para o Chaves não tomar o Amapá? Para vermos desfiles no sete de setembro? Uma vez me ensinaram que ele serve para além de proteger as nossas fronteiras, fazer a nossa constituição ser respeitada.
 Na volta da exposição do museu quando, ela, a minha namorada, reclamava dos pés que doíam, eu disse:
 “Eu teria dado um excelente soldado.”
 Ela que já nem se lembrava, franziu a testa. Acho que depois lembrou e deu de ombros.
 “Sabe por que eu teria dado um bom soldado?” E ela que é mais alta do que eu:
 “Não. Não sei. Por quê?”
 “Porque lamentavelmente todo garoto de 17 anos é louco para ser soldado. E os caras de 37, por mais aliviados que são por nunca terem sido, sempre terão uma curiosidade. Como seria ter ido para a guerra?”
 Acho que é a mesma sensação da mulher que nunca deu a luz. Mas isso tudo tem os dias contados. Com os aviões caças robôs, e os homens engravidando.
 Felizes, mais felizes ainda que o Asterix e Obelix é o povo das Malvinas.
 Asterix tem de se defender por si só. Agora o povo das ilhas, têm Inglaterra e Argentina brigando por eles. O conflito mais improvável e fictício dos últimos tempos.
 Será que é realmente só uma vontade masculina adolescente de brigar?
 Ou será que de novo tem uma mulher querendo ver um monte homens se matando? Hein Cristina? 

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Sherlock Holmes e a empregadinha.


O caso que vou contar aqui aconteceu por coincidência. Meses atrás eu mal conhecia Holmes. Claro que temos muitos amigos em comum. Frequentamos os mesmos bares da Vila madalena. Às vezes o vejo em vernissages, shows e outros lugares frequentados pelo público alternativo.
 Sim escutei boatos sobre ele. Aliás, todos nós já ouvimos. Uma conhecida certa vez foi a sua kitinete. Ela disse que estava fascinada por ele. Mas ao ver aquele lugar todo sujo, largado, com pizzas e cinzeiros espalhados por todo canto. Ela não conseguiu.
 Existe uma diferença entre ser famoso, ser talentoso e ser rico propriamente dito. Eu sei que existem várias meninas loucas pra dar pra ele pela cidade a fora. E de todos os tipos, ninfetas, mulheres exuberantes, peruas, universitárias... Enfim, uma gama bem diversa.
Mas não desviemos do assunto. Durante um período da vida, eu passei por grande mistério. Sim leitor. Eu ia ao supermercado da esquina que é 24 horas e entre as coisas que eu comprava, havia um sal cine. Sim aquele que vem com um bonesinho de tampa.
 Chegava com as sacolas, na época de plástico, e ao retirar os produtos percebia que o sal havia sumido. Me aconteceu durante umas dez visitas ao supermercado. De todas as mercadorias a única que nunca chegava era o sal cisne. Cheguei a só comprar o sal. O que me causou constrangimento na fila. Mas mesmo assim ao chegar em casa ele havia sumido. Como? Um mistério leitor. Um verdadeiro mistério.
 Mas este ainda não é o mais intrigante. Certo dia eu passei a usar o elevador de serviço. Sei lá por que? Para variar um pouco talvez. Escapar dos vizinhos malas. Na segunda vez o elevador parou no quarto andar e ela entrou.  Era uma empregadinha ruiva, com sardinhas no rosto.
 Sorriu, falamos da chuva e tal, chegamos ao térreo e ela se foi. Toda vez que comecei a usar o elevador de serviço ela surgia. Sempre sorrindo e falando do tempo, do transito, da cidade do barulho. Mas sempre feliz, simpática e sorridente.
 Incrível, mas não havia uma única só vez que eu não usasse o elevador de serviço sem que ela não estivesse lá. Passei a usar o social. Mas na quarta vez ela também surgiu no social. E agora não importava qual elevador eu escolhesse, ele o elevador, sempre parava no quarto andar, e ela aparecia.
 Então um dia saí pela escada. Um horário que nunca saio, seis horas da manhã, e quando eu passava pelo quarto andar, eis que a empregadinha ruiva surge. Aquilo me intrigou demais.   
 No dia seguinte fingi que ia para o outro lado, mas a verdade é que passei a segui-la. Tinha virado para a esquerda, andei uns oito passos, parei e dei meia volta, pegando agora a direção da direita.
 Leitor você não vai acreditar. A empregadinha pegou o caminho do bairro da Vila Mariana. Foi indo pela Avenida Paulista. Entrou numa rua a esquerda, depois à direita. E eu sempre tomando cuidado para não ser visto.  Com óculos escuros, um gorro e uma cadeira de rodas. Mas qual não foi a minha surpresa a ver a empregadinha entrando na Baker Street. Parou em frente ao prédio de Sherlock Holmes tocou a campainha e entrou.
 Bem, não era lá uma ruivinha nota dez. Mas se levarmos em conta a mocréia que o Strauss Kahn é acusado de ter agarrado, até que a ruivinha era ajeitada.
 Esperei duas horas tomando uma água de coco na banca da esquina. Fiquei de saco cheio e desiste. Me mandei.
 À noite pensei comigo, caso encerrado. O Holmes está comendo a empregadinha aqui do prédio. Logo, os boatos são somente boatos. Senti até uma inveja do detetive. No dia seguinte ela não estava no elevador. Nem no outro dia tão pouco. E nem outro ainda. Em nenhum dos elevadores. 
 Somente uma semana depois é que fui reencontrá-la. De novo me sorriu, falou do tempo. E eu, debochado como sou, quando o elevador ia chegando ao térreo, emendei:
 “Acho que você conhece um amigo meu. O Sherlockinho?”
 “O Seu Holmes? Claro. Sou diarista dele. Doutor Watson é que me recomendou. O senhor conhece o doutor?”
 “De vista. De vista.” Disfarcei e sai andando. “Até logo.”
 “Até logo”. Ela sorriu. 
 Elementar. Elementar. Mas até que a empregadinha ruiva é charmosa. Não consegui tirar ela do pensamento a noite toda. Na manhã seguinte interfonei para o quarto andar.
 “Aqui é o moço do elevador. Você por um acaso não tem sal para me emprestar?”
 Ela tinha. Ela me deu um potinho de sal cisne. Mas quando retornei para a minha casa, procurei nas mãos, nos bolsos e nada. O sal cisne havia desaparecido. Um mistério. Um verdadeiro mistério.  


domingo, 15 de abril de 2012

O bosque dos eucaliptos.


Era um bosque com enormes eucaliptos. O dia estava mais para o frio do que para o calor. O carro parou. Fizeram com que ela descesse. Devia ser de tarde. Um vento gostoso soprava nas folhas das árvores.
 Era tanto silencio que se ouvia o vento. Então é o fim. Ela pensou em quantas pessoas ao longo da história, não haviam sido assassinadas. Em quantos animais também. Ficou triste por todos, mas não por ela mesma. Pensou na sua mãe e família, em como todos ficariam tristes. Era o começo da década de 70.
 Um dos homens se aproximou e disse:
 “Nós vamos te soltar. Mas você tem de sumir para sempre.”
 Então entraram no carro e sumiram.
 Carlos Paiva era um industrial, também fazendeiro e no ramo da construção civil. Diziam que o seu patrimônio com ajuda do BNDES girava em torno de uns 300 milhões. De reais. Seu quinto neto nascera há uma semana.
 Ninguém sabia muito de onde era Carlos Paiva, algum interior de Minas Gerais é o que diziam. Casou-se em 1972 com Silvana, a filha de Mário Chirolli, um rico industrial. Agora estava ali com um sujeito que dizia ter provas de que ele Carlos Paiva, na verdade fora um guerrilheiro durante os anos de chumbo.
 A questão não era convencer aquele rapaz de que ele fora ou não um guerrilheiro, mesmo porque a própria presidenta fora uma guerrilheira.
 Era a de descobrir se ele, o rapaz, sabia das dezenas de assassinatos que Carlos havia cometido ainda durante o período militar, para que sua verdadeira identidade não fosse revelada.
  O rapaz falava em comissão da verdade e que dia menos dia tudo seria revelado. Por fim disse o objetivo de sua visita:
 “Senhor Carlos, em breve se nada for feito, toda a sociedade saberá do seu passado”.
 “Meu passado? Mas todos sabem do meu passado.”
 “Todos sabem que o senhor nasceu no interior de Minas, veio a São Paulo estudar, casou-se e se tornou um rico e honesto empresário. Um pai exemplar, um patrão amigo, um cidadão filantropo, conservador, católico...”
  Carlos Paiva orgulhoso ia concordando com a cabeça e sorrido.
 “Pai de três filhas maravilhosas, sócio de clube tradicional, empreendedor, um pouco reservado aos eventos sociais, mas alguém conhecido nas grandes rodas. Mas o que não sabem é que você era um espião dos subversivos.” Carlos fez uma cara ensaiada de espanto.
 Como aquele rapaz de trinta e poucos anos poderia saber de tudo. As pessoas envolvidas haviam sido eliminadas. Os próprios assassinos haviam sido assassinados por ele. Em que ponto precisamente, a história vazara. Era o que ele queria descobrir.
 “O senhor Carlos Paiva, tem um segredo. O de que ainda jovem foi introduzido nas altas rodas com a missão de espionar a direita no Brasil.”
 “Esta é a história mais absurda que já ouvi. Não vou dizer que não a achei criativa. E já que o senhor não pode prová-la, por quanto estaria disposto a me vender os direitos desta ficção?”
 “Uma das testemunhas das quais o senhor tentou assassinar, Eleonor Siqueira, está viva e hoje vive em Sorocaba". 
 “Nunca ouvi falar de Eleonora.”
 “O caso é o seguinte, se o senhor me der um incentivo, eu posso garantir que o senhor e todos vão ficar sem ouvir falar de Eleonora Siqueira. “
 “Um incentivo de quanto?”
 “Sua casa na praia da Baleia.”
 Carlos depois de muito pensar acabou por fechar o acordo com o Rapaz. Um apartamento no Guarujá e um carro Toyota Corolla usado.
 O rapaz voltou rico e feliz para casa, e naquele dia, digo noite, pediu uma pizza, para comemorar junto com a sua mãe. A ex-guerrilheira Marlene Damasceno.
 Semanas depois, mãe e filho, leram no jornal sobre a morte da ex-guerrilheira Eleonora Siqueira em Sorocaba.
  “Olha só o que fizemos mãe! Você sabia que Eleonora ainda estava viva?”
 “Claro que sabia. Eu era Eleonora Siqueira. Mas eu ia adivinhar que o Carlos Paiva ia sair matando qualquer Eleonora Siqueira?”
 Qual não foi a surpresa de Carlos Paiva, ao receber o recado de sua secretária sobre um rapaz que estava lá para vê-lo. O mesmo rapaz de dias antes. Aquele mesmo, dizia a secretária. Um que parece seu parente Dr. Carlos.
 “Você de novo? Em que posso ajudá-lo agora?” Quis saber Carlos Paiva.
 “É sobre uma questão de paternidade Seu Carlos. Veja bem, eu conheço um rapaz que parece que é seu filho.”
 “Sei. E quanto este rapaz quer para sumir da minha vida?”
  “A sua casa em Campos do Jordão”.
 “Fechado. Vamos comemorar.” Sorriu Carlos. 
 Desta vez Carlos chamou apenas um segurança. Seguiram para o interior. Saíram do asfalto, e entraram numa pequena estrada de terra. Foi quando o rapaz viu um bosque com enormes eucaliptos. O dia estava mais para o frio do que para o calor. O carro parou. Fizeram com que ele descesse. Devia ser de tarde. Um vento gostoso soprava nas folhas das árvores.
 Era tanto silencio que se ouvia o vento. Então é o fim. Ele pensou em quantas pessoas ao longo da história, não haviam sido assassinadas. Em quantos animais também. Ficou triste por todos, mas não por ela mesma. Pensou na sua mãe e família, em como todos ficariam tristes.
 Viu ainda a arma preta ser apontada na sua direção. Depois o barulho do tiro. Caiu. O carro se afastou enquanto o vento soprava nas folhas dos eucaliptos. E a poeira era levantada na estradinha. 


quinta-feira, 5 de abril de 2012

Os falsificadores. Integra.


Os falsificadores.

  Primeira parte
 Foi uma coincidência, fui almoçar no árabe perto de casa. Sentei numa mesa na calçada. Na mesa vizinha um senhor na casa dos sessenta, vestido com uma camisa marrom tomava uísque com mais dois senhores de uns cinquenta anos cada um.
 Era um sujeito magro, careca e sua roupa parecia dos anos setenta. Os outros dois, vestiam roupas contemporâneas. O de marrom acendeu um cigarro, desses que parecem pequenos charutos. Eu já estava quase desistindo de ficar ali fora e ia pedir para me mudar para dentro, quando ouvi o nome de Ismael Neto.
 Aquilo me chamou a atenção, porque Ismael Neto é o meu pintor brasileiro preferido. Eles falavam sobre uma onda de falsificação.  Eu havia lido qualquer coisa nos jornais. Mas a coincidência foi outra.
 Tempos antes, uma estudante de artes plásticas, esquecera sua carteira no meu carro. Foi depois de uma carona que eu a havia dado da balada de volta para sua casa. Ela devia ter uns vinte e um anos. Mas aparentava uns dezoito talvez. Enfim uma jovem. Piercing no nariz, cabelos curtinhos e um corpinho de bailarina. Um tipo alternativo.
 Quando ela foi buscar a carteira no dia seguinte, almoçamos no mesmo árabe, e depois fomos à livraria. Ela falava muito sobre artes plásticas, balé e artes em geral. Tinha uma cultura extensa para a idade. Vendo alguns livros junto com ela, na livraria, me chamou a atenção um do Ismael Neto.
 Começamos a folhar as páginas do livro e em determinada telas do pintor, Marta começou a rir. Eu quis saber o por que ? E ela disse simplesmente porque a tela da foto era ela quem tinha pintado e não Ismael Neto. Na hora eu achei que ela estivesse querendo fazer graça e não dei muita atenção.
 “Então você é uma falsificadora senhorita Callieri?”
 Callieri era o seu sobrenome. Marta Callieri.   Saímos da livraria e a levei pra casa.
 Como Marta é muito jovem, acabei que não a procurei mais. Ficamos de nos falar, mas nenhum dos dois se aproximou de novo.
 Aqueles três tomando uísque e fumando cigarros de charuto, no meio da tarde de um dia de semana, começou a me inervar. Mas a curiosidade fazia com que eu continuasse a prestar atenção. Ele o homem da camisa marrom, disse que os três casos vieram de um mesmo escritório de arte. Mas que havia outros, que foram abafados.
 Afinal tanto um comprador, como um marchand não gostam que este tipo de informação vaze. O primeiro para não parecer bobo e o segundo porque prejudicaria os negócios, claro.
 Talvez eu tivesse esquecido toda aquela história. Pedi a conta para a minha amiga dona do árabe. Segui para o ensaio. Os atores já estavam lá. Terminado o ensaio, eu e um dos atores fomos tomar uma cerveja na Vila Madalena.
 Escolhemos o bar de sempre, um lugar frequentado por artistas e boêmios. Não estava abarrotado, afinal era segunda feira. Marcelo, o ator da minha peça e também amigo, estava apaixonado pelo nosso produtor. Falávamos disso, quando surgiu Carol. 
 Uma amiga publicitária, ótima companhia, na casa dos trinta. Sabe sempre o que está rolando. O tipo de solteira que ainda tem um pé na vida universitária, apesar de ter se formado há anos. Ela quis saber como estava a minha vida. Contei que iríamos em breve estrear um clássico. Uma peça do Shaw, Bernard Shaw. Bebíamos e riamos. Mas Carol lembrou algo. Arregalou os olhos. Me olhou, como quem vai contar uma bomba, mas não sabe qual será a reação do outro. De repente ela me da à notícia:
 “Você viu o que aconteceu com aquela ninfetinha que você catou na festa do Dado?”
 Foi então que fiquei sabendo, a menina havia sido atropelada por um ônibus. Há uns cinco dias talvez. Ela morava com outra amiga em Santa Cecília, um bairro de São Paulo.
 Aquilo me deixou chocado. Eu pouco sabia da vida de Marta. Ela era uma menina interessante, seria em breve uma bela mulher. Inteligente, articulada. Verdade que eu havia visto só duas vezes. Mas deu pra fazer um bom retrato.
 Como Carol não tinha detalhes, voltamos a falar de outras coisas. Quando nos despedimos Carol quis saber se aquilo não me abalara. Imagina, mal conhecia a menina. Eu fico comovido afinal...
 Marcelo notou que eu ficara mais que comovido. A sensibilidade dele dizia que eu nem sabia ao certo, o que eu estava sentindo. Não falei sobre a coincidência do almoço do pintor Ismael Neto, mesmo porque muito provavelmente eles nem conheceriam Ismael Neto. E teriam a impressão de que eu delirava.
Só fui lembrar de Marta no dia seguinte. Ao sair de casa a pé o porteiro me entregou um DVD. Disse que um moto-boy havia deixado para mim. Pedi que o porteiro me lembra-se dele na volta.
 Tomei café na padaria. Depois resolvi passar na galeria de uma amiga. A Marina. Era uma galeria nova. Marina tinha mais duas sócias. Elas trabalhavam com artistas jovens. Não sei o que eu estava interessado ainda. Se minha curiosidade era em relação à Marta, as falsificações ou ainda o atropelamento em si.
 Eu havia beijado aquela menina há poucos dias, umas costas maravilhosas, zero de gordura. Também com vinte poucos anos. Uma voz doce, meiga, feminina. Gestos duros ao mesmo tempo suaves. Como de um menino afetado. Sei lá. Agora Marta não saia da minha cabeça.
 Marina não estava e foi sua sócia Renata que me recebeu. Uma menina de 1,80 metros e 25 anos, muito sorridente. Depois de me mostrar o trabalho de um fotógrafo que elas estavam expondo, fomos tomar um café no seu escritório. Eu contei o motivo da minha visita para Renata.
 “Mas Leo! Quem não conhece Marta Callieri no mundo das artes?”
 Aparentemente Renata não sabia que ela, Marta havia sido atropelada.
 “Há quanto tempo?”
 Eu disse o pouco que sabia:
 “Há alguns dias.”
 “Engraçado, eu pensei tela vista anteontem. Você não usa Google não, Leo?”
 Foi então que Renata me contou sobre Marta. Sim ela realmente era uma das maiores falsificadoras do mercado de arte de São Paulo. Era tão boa que nunca havia sido pega. Na verdade me disse que só se você assinar a tela é que se considera crime de falsificação.
 Marta não era boa só porque conhecia as cores certas. Como construir cores antigas, ou fazer a tela parecer envelhecida. Ela também captava o estilo do artista a ser falsificado.
  “Pelo que eu sei Leo, que é baseado no que eu escutei, a menina é um gênio. Você estava saindo com ela? Ou também tomou um golpe de algum falsário?”
 “Renata, deixe um beijo para Marina. Obrigado pelas informações.”
 Voltei para casa. Ao chegar à portaria, novamente o porteiro me lembrou do DVD. Sem outra prioridade, resolvi assistir ao DVD.
 Qual não foi a minha surpresa. Um ator fazia uma cena de Nelson Rodrigues de dois minutos. Claro que isto não tem novidade nenhuma. Atores interpretam Nelson. Acontece que o ator era eu. Tentei me lembrar de quando eu havia feito uma cena de Nelson Rodrigues na vida. A resposta era nunca. Nunca fiz Nelson Rodrigues.
 Eu estava ainda atordoado com aquilo. Meu celular tocou. Na tela do celular surgiu o nome: Marta Callieri.
 “Alo.”
 “Gostou da cena?”
 “Marta?”
 “Eu mesma Leo.”



 Segunda parte

“O que aconteceu? Onde você está Marta?”
“Não se preocupe, apenas escute. Eles vão tocar sua campainha a qualquer momento. Não diga que eu telefonei. Entrarei em contato mais tarde. Leo, não aceite trabalhar para eles.”
 “Eles quem? Alo!”
 “Confie em mim Leo, você não vai se arrepender. Até mais tarde.”
 Marta desligou o telefone. Pouco depois a campainha tocou. Era um casal. Uma mulher de uns quarenta anos e um cara de uns trinta e cinco. A mulher parecia estrangeira e o cara era bem grande. Convidei os para entrar. Não tenho ideia de como passaram pelo porteiro sem serem anunciados. A mulher me parecia bem esperta e ótima negociadora.
 “Leo sem rodeios, onde estão as telas?”
 Eu entendi rápido, aquele casal por algum motivo acreditava que eu estava fazendo parte da quadrilha de falsificadores. Maldita Renata da galeria, deve ter espalhado a notícia bem rápido.
 “Me desculpe a senhora está me confundindo. Não sou colecionador, nem tão pouco negocio arte.”
 “Leo sabemos que ela acabou de te telefonar.”
 “Ela?”
 “Isabella Cordiolla.”
 “Desculpe. Quem são vocês?”
  Desta vez foi o grandalhão quem falou.
 “Policia federal.”
 “Olha gente, eu não conheço nenhuma Isabella Cordiolla.”
 A mulher sorriu, estava calma, ao mesmo tempo parecia maternal.
 “Você a conhece por Marta Calliere. Este é sobrenome da mãe, Calliere.”
 “Talvez eu conheça. Mas alguém pode me explicar o que está acontecendo.”
 Mal terminei de falar e outro homem entrou na minha sala. Ele e a mulher cochicharam por estantes. Depois ele se virou para mim.
 “Senhor Chacra, temos tudo para acreditar que o senhor está envolvido numa quadrilha de falsificação de telas. Acontece que nossa especialidade não é falsificação de arte. Aliás, pouco me importa.”
 “Do que estamos falando então?” Eu perguntei. O homem me encarou com dúvidas e me perguntou:
 “Meu nome é Armando Gentil. Sou chefe da divisão antiterrorismo do Brasil. Uma agencia secreta dentro da policia federal. Agora me diga, pois não temos muito tempo, o que há de especial no DVD que você acabou de assistir?”
 Armando parecia realmente honesto. Então expliquei. Tudo, como eu conheci, Marta, agora Isabella. De nunca ter feito aquela cena do DVD. Mas então quem seria? Um irmão gêmeo? Armando, talvez por falta de tempo, foi bem objetivo:
 “Isabella vem de uma família de oito gerações de falsificadores. Os Cordiollas. Eles agiam na Itália até se mudarem para o Brasil nos anos cinquenta, depois da guerra. Os que ficaram na Itália partiram para outros ramos de atividade, mas os daqui do Brasil continuam. Acontece que a única realmente talentosa é Isabella. Talvez a mais talentosa das oito gerações. A Interpol diz que a menina é um gênio. Mas o tempos mudam, as tecnologias se aperfeiçoam. E Isabella sempre foi procurada por muita gente. Criminosos de todos os tipos, sempre se interessaram pelo talento da menina. Este vídeo que você acabou de ver é uma falsificação de você mesmo, senhor Chacra. Estela, esta linda policial que está aqui com Marcos, acreditavam que você tivesse algo a ver com estes criminosos. Mas a minha experiência diz que você só um contato desta menina com o mundo real. Ou ainda com o mundo artístico. De alguma forma ela precisa de você, senhor Chacra.”
 Aquilo me deixou atordoado, eram muitas informações.
 “Mas afinal quem morreu atropelada pelo ônibus?”
 Armando deu de ombros e disse.
 “Um boneco, ou ainda boneca. A falsificação dos tecidos, dos órgãos era tão perfeita, que os médicos legistas quase deixam escapar.”
 “Você está me dizendo que esta menina pode falsificar seres humanos?”
 “Mais ou menos. Ela pode fazer vídeos conseguir impressões digitais... Verdade que até hoje ela, e seus cúmplices não haviam conseguido ir tão longe. Mas agora ela nos amedronta.”
 Desta vez Estela foi quem falou:
 “Ela, ou eles, podem falsificar uma autoridade, um rico empresário, desviar dinheiro, entrar em salas de segurança... A vida da própria presidente da república corre perigo. Precisamos agarra-la o quanto antes, Mesmo porque este tipo de tecnologia que ela desenvolveu não pode cair em mãos erradas.”
 “Outras nações você diz?”
 “Sim”.
 Eu não tive escolha a não ser aceitar trabalhar para a polícia. Me disseram que eu seria vigiado vinte quatro horas por dia, para deixar o meu celular ligado. E não se preocupar, o celular estava grampeado, e todos meus passos monitorados.
  “Acontece que ela sabe que vocês entraram em contato comigo.”
 Armando Gentil me olhou e disse:
 “Sabemos disso senhor Chacra. E se ela o fez é porque existe um motivo. Como eu lhe disse anteriormente você deve ter algo de que ela precise.”
 O celular de Estela tocou. Sua cara deixou de ter o tem maternal. Ela parecia apavorada.
 “Senhor acharam a casa onde estavam as telas falsificadas.”
 “Ótimo.”
 “Um homem estava armado e foi rendido.”
 “E já o identificaram?”
 “Sim. É o senhor.”


Terceira parte

 A situação parecia agora for a do controle. Aqueles três intrusos começaram a se estranhar dentro da minha própria casa. Até que Armando tirou do bolso da camisa um pequeno cigarrinho. E o ascendeu. Eu o reconheci. Era o mesmo senhor que esteve no Árabe almoçando no dia anterior. O mesmo que falava das telas falsas de Ismael Neto.
 Estela sacou a pistola. Seu parceiro o grandão fez o mesmo. Eles não sabiam em quem mirar as armas, se em mim, ou em Aramando. Este mantinha a calma e dava pequenas baforadas no cigarro.
 Acho que pensou que eu o ofereceria um cinzeiro, mas há muito não havia um cinzeiro na minha casa.
 “Me diga senhor Leo Chacra. Você inventou esta história de cena de Nelson Rodrigues. Não inventou?”
 Como eu não respondi ele continuou a olhar pela minha sala. Levantou e começou a procurar alguma coisa nos meus livros.
  “Você leu todos estes livros, estes romances policiais, senhor Leo Chacra?”
 “A maioria deles”. Eu respondi.
 Estala interrompeu Aramando. A outra detetive queria saber aonde o interrogatório iria nos levar.
 “Abaixe a arma e tenha calma Estela” Pediu Aramando. Então virou-se para mim e perguntou, ou ainda me acusou.
 “Estes contos você escreve...”
 “O que têm eles?”
“Até que ponto eles são seus?” Como eu e os o casal também fizeram cara de não estar entendendo nada, ele prosseguiu. “Vou me explicar.” Deu uma risada.
 “Você escreve tramas. Muitas vezes que não dizem nada. Só prendem a atenção do leitor. Um estilo que não é naturalmente seu. Você coloca o suspense pelo suspense.”
 “Por isto que este tipo de escrita é chamado de gênero.” Eu me defendi.
 “Você senhor Leo Chacra é apenas um falsificador”.
 Os três riram de mim. E começaram a folhear os romances policiais. Estavam distraídos. Não tive dúvidas. Fugi pela porta. Desci as escadas e corri para rua. Em frente a minha casa estava aquele mesmo bar da Vila Madalena.
 Entrei e pedi um chope. O mesmo chope que todos os bares de São Paulo têm. Minha amiga Carol surgiu e sentou-se a mesa. Marcelo voltou do banheiro.
 Mas como poderia ser o mesmo bar? Se eu nem na Vila Madalena moro. Bebemos, bebemos e bebemos.
 Quando atravessei a rua e cheguei em casa o porteiro me deu um livro. Embrulhado para presente. Havia um cartão.
 “Foi uma menina que passou e deixou. Bem menina. Não quis dizer o nome, disse que você saberia quem é.”
 Livros, livros, livros, livros.
 Cheguei em casa comi uma trufa e fui para quarto. Antes de dormir peguei um romance policial para ler.
 No dia seguinte, acordei fui à padaria tomar café. Na volta passei na galeria de arte. Desta vez foi Marina quem me recebeu. Fomos a sua sala tomar um café.
 “Eu nunca havia observado esta foto Marina.”
  Era uma foto na parede. Nela Armando e Estela, os detetives estavam num restaurante árabe, envoltos por fumaças de cigarro.
 Me despedi. Voltei pra casa. Abri o livro da noite anterior. Um livro de Ismael Nery.
 Junto com um cartão que dizia:
 “Obrigado pelo almoço. Saiba que agora também sou fã do Ismael. Beijos Marta”.
 Fechei os olhos e escutei o ônibus freando. A menina ria. Puxei-a pelo braço e fomos para a calçada. Mesmo dentro da livraria ela ainda ria.
“Você conhece Ismael Nery?”
 E ela ria. “Você sabia que você poderia ter morrido atropelada?” E aquela linda menina de cabelos curtos ria.
 “Leo, a bicicleta estava a dez por hora, Não tinha como ter morrido. Você tem uma imaginação Leo!”
 E ela continuava sorrindo. 

Os falsificadores. Terceira parte.


Terceira parte

 A situação parecia agora for a do controle. Aqueles três intrusos começaram a se estranhar dentro da minha própria casa. Até que Armando tirou do bolso da camisa um pequeno cigarrinho. E o ascendeu. Eu o reconheci. Era o mesmo senhor que esteve no Árabe almoçando no dia anterior. O mesmo que falava das telas falsas de Ismael Neto.
 Estela sacou a pistola. Seu parceiro o grandão fez o mesmo. Eles não sabiam em quem mirar as armas, se em mim, ou em Aramando. Este mantinha a calma e dava pequenas baforadas no cigarro.
 Acho que pensou que eu o ofereceria um cinzeiro, mas há muito não havia um cinzeiro na minha casa.
 “Me diga senhor Leo Chacra. Você inventou esta história de cena de Nelson Rodrigues. Não inventou?”
 Como eu não respondi ele continuou a olhar pela minha sala. Levantou e começou a procurar alguma coisa nos meus livros.
  “Você leu todos estes livros, estes romances policiais, senhor Leo Chacra?”
 “A maioria deles”. Eu respondi.
 Estala interrompeu Aramando. A outra detetive queria saber aonde o interrogatório iria nos levar.
 “Abaixe a arma e tenha calma Estela” Pediu Aramando. Então virou-se para mim e perguntou, ou ainda me acusou.
 “Estes contos você escreve...”
 “O que têm eles?”
“Até que ponto eles são seus?” Como eu e os o casal também fizeram cara de não estar entendendo nada, ele prosseguiu. “Vou me explicar.” Deu uma risada.
 “Você escreve tramas. Muitas vezes que não dizem nada. Só prendem a atenção do leitor. Um estilo que não é naturalmente seu. Você coloca o suspense pelo suspense.”
 “Por isto que este tipo de escrita é chamado de gênero.” Eu me defendi.
 “Você senhor Leo Chacra é apenas um falsificador”.
 Os três riram de mim. E começaram a folhear os romances policiais. Estavam distraídos. Não tive dúvidas. Fugi pela porta. Desci as escadas e corri para rua. Em frente a minha casa estava aquele mesmo bar da Vila Madalena.
 Entrei e pedi um chope. O mesmo chope que todos os bares de São Paulo têm. Minha amiga Carol surgiu e sentou-se a mesa. Marcelo voltou do banheiro.
 Mas como poderia ser o mesmo bar? Se eu nem na Vila Madalena moro. Bebemos, bebemos e bebemos.
 Quando atravessei a rua e cheguei em casa o porteiro me deu um livro. Embrulhado para presente. Havia um cartão.
 “Foi uma menina que passou e deixou. Bem menina. Não quis dizer o nome, disse que você saberia quem é.”
 Livros, livros, livros, livros.
 Cheguei em casa comi uma trufa e fui para quarto. Antes de dormir peguei um romance policial para ler.
 No dia seguinte, acordei fui à padaria tomar café. Na volta passei na galeria de arte. Desta vez foi Marina quem me recebeu. Fomos a sua sala tomar um café.
 “Eu nunca havia observado esta foto Marina.”
  Era uma foto na parede. Nela Armando e Estela, os detetives estavam num restaurante árabe, envoltos por fumaças de cigarro.
 Me despedi. Voltei pra casa. Abri o livro da noite anterior. Um livro de Ismael Nery.
 Junto com um cartão que dizia:
 “Obrigado pelo almoço. Saiba que agora também sou fã do Ismael. Beijos Marta”.
 Fechei os olhos e escutei o ônibus freando. A menina ria. Puxei-a pelo braço e fomos para a calçada. Mesmo dentro da livraria ela ainda ria.
“Você conhece Ismael Nery?”
 E ela ria. “Você sabia que você poderia ter morrido atropelada?” E aquela linda menina de cabelos curtos ria.
 “Leo, a bicicleta estava a dez por hora, Não tinha como ter morrido. Você tem uma imaginação Leo!!!!”
 E ela continuava sorrindo. E rindo. 

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Os falsificadores. Segunda parte.


  O leitor deve antes ler a primeira parte. Que é o post anterior a este. 


 Segunda parte

“O que aconteceu? Onde você está Marta?”
“Não se preocupe, apenas escute. Eles vão tocar sua campainha a qualquer momento. Não diga que eu telefonei. Entrarei em contato mais tarde. Leo, não aceite trabalhar para eles.”
 “Eles quem? Alo!”
 “Confie em mim Leo, você não vai se arrepender. Até mais tarde.”
 Marta desligou o telefone. Pouco depois a campainha tocou. Era um casal. Uma mulher de uns quarenta anos e um cara de uns trinta e cinco. A mulher parecia estrangeira e o cara era bem grande. Convidei os para entrar. Não tenho ideia de como passaram pelo porteiro sem serem anunciados. A mulher me parecia bem esperta e ótima negociadora.
 “Leo sem rodeios, onde estão as telas?”
 Eu entendi rápido, aquele casal por algum motivo acreditava que eu estava fazendo parte da quadrilha de falsificadores. Maldita Renata da galeria, deve ter espalhado a notícia bem rápido.
 “Me desculpe a senhora está me confundindo. Não sou colecionador, nem tão pouco negocio arte.”
 “Leo sabemos que ela acabou de te telefonar.”
 “Ela?”
 “Isabella Cordiolla.”
 “Desculpe. Quem são vocês?”
  Desta vez foi o grandalhão quem falou.
 “Policia federal.”
 “Olha gente, eu não conheço nenhuma Isabella Cordiolla.”
 A mulher sorriu, estava calma, ao mesmo tempo parecia maternal.
 “Você a conhece por Marta Calliere. Este é sobrenome da mãe, Calliere.”
 “Talvez eu conheça. Mas alguém pode me explicar o que está acontecendo.”
 Mal terminei de falar e outro homem entrou na minha sala. Ele e a mulher cochicharam por estantes. Depois ele se virou para mim.
 “Senhor Chacra, temos tudo para acreditar que o senhor está envolvido numa quadrilha de falsificação de telas. Acontece que nossa especialidade não é falsificação de arte. Aliás, pouco me importa.”
 “Do que estamos falando então?” Eu perguntei. O homem me encarou com dúvidas e me perguntou:
 “Meu nome é Armando Gentil. Sou chefe da divisão antiterrorismo do Brasil. Uma agencia secreta dentro da policia federal. Agora me diga, pois não temos muito tempo, o que há de especial no DVD que você acabou de assistir?”
 Armando parecia realmente honesto. Então expliquei. Tudo, como eu conheci, Marta, agora Isabella. De nunca ter feito aquela cena do DVD. Mas então quem seria? Um irmão gêmeo? Armando, talvez por falta de tempo, foi bem objetivo:
 “Isabella vem de uma família de oito gerações de falsificadores. Os Cordiollas. Eles agiam na Itália até se mudarem para o Brasil nos anos cinquenta, depois da guerra. Os que ficaram na Itália partiram para outros ramos de atividade, mas os daqui do Brasil continuam. Acontece que a única realmente talentosa é Isabella. Talvez a mais talentosa das oito gerações. A Interpol diz que a menina é um gênio. Mas o tempos mudam, as tecnologias se aperfeiçoam. E Isabella sempre foi procurada por muita gente. Criminosos de todos os tipos, sempre se interessaram pelo talento da menina. Este vídeo que você acabou de ver é uma falsificação de você mesmo, senhor Chacra. Estela, esta linda policial que está aqui com Marcos, acreditavam que você tivesse algo a ver com estes criminosos. Mas a minha experiência diz que você só um contato desta menina com o mundo real. Ou ainda com o mundo artístico. De alguma forma ela precisa de você, senhor Chacra.”
 Aquilo me deixou atordoado, eram muitas informações.
 “Mas afinal quem morreu atropelada pelo ônibus?”
 Armando deu de ombros e disse.
 “Um boneco, ou ainda boneca. A falsificação dos tecidos, dos órgãos era tão perfeita, que os médicos legistas quase deixam escapar.”
 “Você está me dizendo que esta menina pode falsificar seres humanos?”
 “Mais ou menos. Ela pode fazer vídeos conseguir impressões digitais... Verdade que até hoje ela, e seus cúmplices não haviam conseguido ir tão longe. Mas agora ela nos amedronta.”
 Desta vez Estela foi quem falou:
 “Ela, ou eles, podem falsificar uma autoridade, um rico empresário, desviar dinheiro, entrar em salas de segurança... A vida da própria presidente da república corre perigo. Precisamos agarra-la o quanto antes, Mesmo porque este tipo de tecnologia que ela desenvolveu não pode cair em mãos erradas.”
 “Outras nações você diz?”
 “Sim”.
 Eu não tive escolha a não ser aceitar trabalhar para a polícia. Me disseram que eu seria vigiado vinte quatro horas por dia, para deixar o meu celular ligado. E não se preocupar, o celular estava grampeado, e todos meus passos monitorados.
  “Acontece que ela sabe que vocês entraram em contato comigo.”
 Armando Gentil me olhou e disse:
 “Sabemos disso senhor Chacra. E se ela o fez é porque existe um motivo. Como eu lhe disse anteriormente você deve ter algo de que ela precise.”
 O celular de Estela tocou. Sua cara deixou de ter o tem maternal. Ela parecia apavorada.”
 “Senhor acharam a casa onde estavam as telas falsificadas.”
 “Ótimo.”
 “Um homem estava armado e foi rendido.”
 “E já o identificaram?”
 “Sim. Este é problema."
 "Por que Estela?"
 "É o senhor. O homem rendido é o senhor."

 (fim da segunda parte).  

terça-feira, 3 de abril de 2012

Os falsificadores.



  Primeira parte

 Foi uma coincidência, fui almoçar no árabe perto de casa. Sentei numa mesa na calçada. Na mesa vizinha um senhor na casa dos sessenta, vestido com uma camisa marrom tomava uísque com mais dois senhores de uns cinquenta anos cada um.
 Era um sujeito magro, careca e sua roupa parecia dos anos setenta. Os outros dois, vestiam roupas contemporâneas. O de marrom acendeu um cigarro, desses que parecem pequenos charutos. Eu já estava quase desistindo de ficar ali fora e ia pedir para me mudar para dentro, quando ouvi o nome de Ismael Neto.
 Aquilo me chamou a atenção, porque Ismael Neto é o meu pintor brasileiro preferido. Eles falavam sobre uma onda de falsificação.  Eu havia lido qualquer coisa nos jornais. Mas a coincidência foi outra.
 Tempos antes, uma estudante de artes plásticas, esquecera sua carteira no meu carro. Foi depois de uma carona que eu a havia dado da balada de volta para sua casa. Ela devia ter uns vinte e um anos. Mas aparentava uns dezoito talvez. Enfim uma jovem. Piercing no nariz, cabelos curtinhos e um corpinho de bailarina. Um tipo alternativo.
 Quando ela foi buscar a carteira no dia seguinte, almoçamos no mesmo árabe, e depois fomos à livraria. Ela falava muito sobre artes plásticas, balé e artes em geral. Tinha uma cultura extensa para a idade. Vendo alguns livros junto com ela, na livraria, me chamou a atenção um do Ismael Neto.
 Começamos a folhar as páginas do livro e em determinada telas do pintor, Marta começou a rir. Eu quis saber o por que ? E ela disse simplesmente porque a tela da foto era ela quem tinha pintado e não Ismael Neto. Na hora eu achei que ela estivesse querendo fazer graça e não dei muita atenção.
 “Então você é uma falsificadora senhorita Callieri?”
 Callieri era o seu sobrenome. Marta Callieri.   Saímos da livraria e a levei pra casa.
 Como Marta é muito jovem, acabei que não a procurei mais. Ficamos de nos falar, mas nenhum dos dois se aproximou de novo.
 Aqueles três tomando uísque e fumando cigarros de charuto, no meio da tarde de um dia de semana, começou a me inervar. Mas a curiosidade fazia com que eu continuasse a prestar atenção. Ele o homem da camisa marrom, disse que os três casos vieram de um mesmo escritório de arte. Mas que havia outros, que foram abafados.
 Afinal tanto um comprador, como um marchand não gostam que este tipo de informação vaze. O primeiro para não parecer bobo e o segundo porque prejudicaria os negócios, claro.
 Talvez eu tivesse esquecido toda aquela história. Pedi a conta para a minha amiga dona do árabe. Segui para o ensaio. Os atores já estavam lá. Terminado o ensaio, eu e um dos atores fomos tomar uma cerveja na Vila Madalena.
 Escolhemos o bar de sempre, um lugar frequentado por artistas e boêmios. Não estava abarrotado, afinal era segunda feira. Marcelo, o ator da minha peça e também amigo, estava apaixonado pelo nosso produtor. Falávamos disso, quando surgiu Carol. 
 Uma amiga publicitária, ótima companhia, na casa dos trinta. Sabe sempre o que está rolando. O tipo de solteira que ainda tem um pé na vida universitária, apesar de ter se formado há anos. Ela quis saber como estava a minha vida. Contei que iríamos em breve estrear um clássico. Uma peça do Shaw, Bernard Shaw. Bebíamos e riamos. Mas Carol lembrou algo. Arregalou os olhos. Me olhou, como quem vai contar uma bomba, mas não sabe qual será a reação do outro. De repente ela me da à notícia:
 “Você viu o que aconteceu com aquela ninfetinha que você catou na festa do Dado?”
 Foi então que fiquei sabendo, a menina havia sido atropelada por um ônibus. Há uns cinco dias talvez. Ela morava com outra amiga em Santa Cecília, um bairro de São Paulo.
 Aquilo me deixou chocado. Eu pouco sabia da vida de Marta. Ela era uma menina interessante, seria em breve uma bela mulher. Inteligente, articulada. Verdade que eu havia visto só duas vezes. Mas deu pra fazer um bom retrato.
 Como Carol não tinha detalhes, voltamos a falar de outras coisas. Quando nos despedimos Carol quis saber se aquilo não me abalara. Imagina, mal conhecia a menina. Eu fico comovido afinal...
 Marcelo notou que eu ficara mais que comovido. A sensibilidade dele dizia que eu nem sabia ao certo, o que eu estava sentindo. Não falei sobre a coincidência do almoço do pintor Ismael Neto, mesmo porque muito provavelmente eles nem conheceriam Ismael Neto. E teriam a impressão de que eu delirava.
Só fui lembrar de Marta no dia seguinte. Ao sair de casa a pé o porteiro me entregou um DVD. Disse que um moto-boy havia deixado para mim. Pedi que o porteiro me lembra-se dele na volta.
 Tomei café na padaria. Depois resolvi passar na galeria de uma amiga. A Marina. Era uma galeria nova. Marina tinha mais duas sócias. Elas trabalhavam com artistas jovens. Não sei o que eu estava interessado ainda. Se minha curiosidade era em relação à Marta, as falsificações ou ainda o atropelamento em si.
 Eu havia beijado aquela menina há poucos dias, umas costas maravilhosas, zero de gordura. Também com vinte poucos anos. Uma voz doce, meiga, feminina. Gestos duros ao mesmo tempo suaves. Como de um menino afetado. Sei lá. Agora Marta não saia da minha cabeça.
 Marina não estava e foi sua sócia Renata que me recebeu. Uma menina de 1,80 metros e 25 anos, muito sorridente. Depois de me mostrar o trabalho de um fotógrafo que elas estavam expondo, fomos tomar um café no seu escritório. Eu contei o motivo da minha visita para Renata.
 “Mas Leo! Quem não conhece Marta Callieri no mundo das artes?”
 Aparentemente Renata não sabia que ela, Marta havia sido atropelada.
 “Há quanto tempo?”
 Eu disse o pouco que sabia:
 “Há alguns dias.”
 “Engraçado, eu pensei tela vista anteontem. Você não usa Google não, Leo?”
 Foi então que Renata me contou sobre Marta. Sim ela realmente era uma das maiores falsificadoras do mercado de arte de São Paulo. Era tão boa que nunca havia sido pega. Na verdade me disse que só se você assinar a tela é que se considera crime de falsificação.
 Marta não era boa só porque conhecia as cores certas. Como construir cores antigas, ou fazer a tela parecer envelhecida. Ela também captava o estilo do artista a ser falsificado.
  “Pelo que eu sei Leo, que é baseado no que eu escutei, a menina é um gênio. Você estava saindo com ela? Ou também tomou um golpe de algum falsário?”
 “Renata, deixe um beijo para Marina. Obrigado pelas informações.”
 Voltei para casa. Ao chegar à portaria, novamente o porteiro me lembrou do DVD. Sem outra prioridade, resolvi assistir ao DVD.
 Qual não foi a minha surpresa. Um ator fazia uma cena de Nelson Rodrigues de dois minutos. Claro que isto não tem novidade nenhuma. Atores interpretam Nelson. Acontece que o ator era eu. Tentei me lembrar de quando eu havia feito uma cena de Nelson Rodrigues na vida. A resposta era nunca. Nunca fiz Nelson Rodrigues.
 Eu estava ainda atordoado com aquilo. Meu celular tocou. Na tela do celular surgiu o nome: Marta Callieri.
 “Alo.”
 “Gostou da cena?”
 “Marta?”
 “Eu mesma Leo.”

(fim do capítulo 1). 

domingo, 1 de abril de 2012

O técnico dos olhos verdes.


Eu estava feliz e ao mesmo tempo nervoso. Afinal a maioria deles, eu não os via há exatos 25 anos.
Desde a quinta série.  Era um colégio alternativo. Bem alternativo. O nome era “Soma”. Isso mesmo Soma.
 Alguns, já tinham filhos com dez anos. Um tornara-se médico. O outro um publicitário, uma nutricionista, outro grafiteiro, produtora musical... Judeus, japoneses, árabes, nordestinos. No "Soma" havia de tudo. Digo, era uma escola que refletia a própria cidade de São Paulo.
 Tiramos fotos. Bebemos umas cervejas. Verdade é que nos emocionamos, mas não tínhamos muito a dizer um para os outros.  
 Todos estavam iguaizinhos. Como pode uma criança de onze anos ser igual há um adulto de 36,37?
 As meninas me disseram que eu fora mais alto. Parecia mais alto há 25 anos. Meninas não. As mulheres. 
 Olhei o relógio, já era hora de ir para o teatro.
 Como é que eu posso começar esta história? Bem eu sou diretor de teatro. Estou tendo um caso com a minha atriz. Ela é casada. É a atriz que faz a minha peça.
 Aconteceu domingo retrasado. Ou domingo passado, já que ainda é domingo, são dez e trinta agora. Da noite.
 Letícia, este é o nome dela. Ficou uma fera porque eu quando cheguei ao camarim, perguntei:
 “Oi, dormiu bem?”
 Acontece que o resto do elenco ouviu e ela não gostou. Claro ela é casada. O marido trabalha numa multinacional. Sujeito bem sucedido, mas a verdade é que eles não têm nada em comum. Não sei o que ela disse, inventou pra ele, mas ela passou a noite anterior na minha casa.
 Deve ter dito que dormiria na irmã. Sei lá.
 “Não. Não dormi. E você?”
 Ela tentou disfarçar e uma atriz que estava ouvindo, riu alto.
 Naquele dia uma jovem, outra atriz que está num outro projeto comigo, uma futura comédia, bem esta menina apareceu para finalmente assistir ao nosso drama.
 Eu a vi descendo do taxi, que parou em frente ao teatro. Ela estava parecendo uma noviça. Não tinha um ar muito feliz. Me contou que terminara com o namorado. Um poeta, que nas horas vagas era músico, num teatro underground bem próximo dali.
 Na verdade fora o poeta quem terminara. Não sei por que o técnico de olhos verde nos observava no café do teatro. Faltavam 15 minutos e o técnico desceu. Quinze minutos para começar.
 Ao final do espetáculo eu e Fernanda, este era o nome da jovem atriz, fomos jantar. Não leitora, não aconteceu nada. Eu ainda estava, estou apaixonado pela atriz casada.
 Eu e Fernanda ficamos falando de autores norte americanos “clássicos” e montagens contemporâneas.
  Deixei Fernanda em casa e no dia seguinte ela havia desaparecido.
 O investigador da homicídios, não me achava um suspeito. O sujeito, uns 45 anos, era bom. Logo chegou a Letícia.
 Verdade é que não havia ainda um corpo. E que corpo Fernanda tinha. Mas já era quinta feira.
 O investigador Vieira, tinha o seguinte raciocínio, diretor de teatro envolvido com duas atrizes. Se uma sumiu é porque a outra a matou.
 Conversara com todos no teatro, os funcionários, elenco, técnicos, pipoqueiro, bilheteiro, segurança e também todos no restaurante em que eu e Fernanda havíamos jantado.
 Por via das duvidas resolveu conhecer o antigo namorado de Fernanda, o tal músico underground. Não é que ao perguntar no local pelo rapaz, o investigador Vieira achou ter reconhecido outro personagem?
 Na hora, o estiloso rapaz de olhos verdes, se despediu rápido.
 Deixando o investigador e Paulo a sós. Realmente aquele músico não tinha nada com a história. Depois de uma pequena conversa, o investigador seguiu para a casa de Letícia.  
 Já era noite quando o marido de Letícia abriu a porta. Seu nome era Rogério, e em pouco tempo o investigador Vieira, teve a certeza, se  é que já não tinha, de que Letícia realmente, tinha um caso comigo. Todos sabiam. 
 Rogério disse que há dois dias Letícia dormia na casa da irmã. O que Vieira já sabia ser mentira. Mas quando me procurou e eu lhe disse que desde domingo não vira mais Letícia. Foi então que ele entrou em contato com a irmã dela, que também tão pouco sabia o paradeiro dela.
 Vieira foi tomar um chope, e enquanto fumava um cigarro, de repente se lembrou do rapaz dos olhos verdes.
 “É isso! Mas como fui tolo! É o operador de luz e som do teatro”.
 O músico Paulo e o técnico dos olhos verdes eram amantes! São gays. Sabia que já o tinha visto antes. Mas onde estaria Letícia nesta história toda?  
 Ligou no teatro para saber qual era o endereço do técnico. Já não havia mais ninguém lá que pudesse ajuda-lo então voltou até a minha casa. E me contou tudo. Foi quando perguntei.
 “Mas como então explicar o sumiço da Letícia? Será que ela descobriu tudo isso antes de nós?”
 Neste momento o meu celular tocou era Letícia.
 “Leo me encontre no Bar Seleto em meia hora.”
 “Letícia, onde você está?”
 “Não posso falar agora, só vá até o bar em meia hora. E me encontre lá.”
 E desligou. Já estávamos saindo do meu apartamento quando damos de cara com o técnico de olhos verdes. Seu nome era Antonio.
 “Leo, investigador Vieira, tem algo que vocês precisam saber. Me falaram que vocês estão atrás de mim.”
  Aquele dia eu nem fui ao Bar Seleto. O técnico me mostro às fotos. Nada poderia desmentir aquilo.
 Fernanda e Letícia passaram o resto da temporada toda indo para praia, juntas.
 Sim leitor, os ciúmes que Letícia tinha de mim com Fernanda, era mais por conta do amor dela por Fernanda, do que sentimentos dela por mim.
 “E onde você conseguiu essas fotos?”
 Perguntou Vieira ao técnico dos olhos verdes.
 “No facebook.”
 Numa coisa o investigador Vieira acertou, ele o técnico, havia ido lá para mostrar as fotos para Paulo, o poeta e músico. E sim ele estava apaixonado por Paulo.
 E pensar que há 25 anos elas nem eram nascidas. E lá fomos os três: Eu, Vieirinha, e o técnico de luz e som, tomar um chope num bar muito longe do Seleto.
 “Saudades do meu tempo de colégio. A gente podia fumar em qualquer lugar”. Suspirou o investigador.