quarta-feira, 27 de julho de 2011

23 Capítulo VI


O leitor deve antes ler os capítulos I, II, III, IV e V antes de prosseguir pelo VI. Grato.

 O trem bala estava realmente cheio. Era a primeira viagem da maioria dos passageiros, naquele trem. Todos com a cabeça no jogo, na final. Teriam duas horas e meia para chegar até o Maracanã.
 As pessoas observavam ainda atônitas enquanto o condutor chefe dizia pelo celular que haviam encontrado um passaporte venezuelano no atirador de Felipe Rulfo. Depois desligou. Disseram-lhe que uma equipe aguardava na estação de trem e levaria Felipe para um hospital.
 Uma mulher levantou no fim do corredor e veio em direção ao vagão onde Felipe estava no chão baleado e sangrando. Ela usava um vestido verde que combinava com seus lindos olhos também verdes e os cabelos soltos.  
 “Pode deixar comigo eu sou médica.”
 O condutor chefe estranhou, mas antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, um dos seguranças, um jovem atlético de boca carnuda lhe deu um choque elétrico que o fez perder os sentidos. Felipe quando percebeu que tudo havia sido feito como o planejado, abriu os olhos e se levantou. Na outra ponta do vagão o mesmo atirador apareceu, estava perfeitamente bem e vivo claro. Ele, o atirador, se juntou aos outros dois seguranças e seguiram atrás de Felipe, Letícia e Lucas.
 “Temos de descer do trem antes da estação!” Gritou Letícia.
 “Impossível.” Falou Felipe. No mesmo instante o trem começou a brecar. Puderam ver uns vinte agentes da central de segurança da Copa na estação.
 Felipe não teve dúvidas e pediu as algemas para um dos seguranças disfarçados. Na verdade eram todos do grupo 23. Antes que ele as colocasse em Letícia e Lucas, ela disse:
 “Você sabe que não temos nada a ver com isso. E só nós podemos salvar a plataforma.”
 “Eu sei”. Ele disse.
 Então passou as algemas nos dois. Saiu do trem com a carteira de Federal para fora. Disse que efetuara a prisão. Explicou que havia detido os dois fugitivos e que os levaria para a Central de segurança. Não deu tempo para que confirmassem na central. O agente Torres, responsável pela operação, os encaminhou para a cobertura do prédio da estação onde estava um helicóptero. Mal eles entraram na nave o piloto colocou as hélices em movimento. Já no ar Felipe abriu as algemas e ele e Letícia apontaram as armas para o piloto e para o agente Torres.
 “Mudança de curso!” Gritou Felipe. “Nós vamos para o estádio do Maracanã!”
 O agente Torres entregou a arma e pediu que o piloto cooperasse. A aeronave seguiu para o Maracanã.
 Camila comunicou ao comandante Alfredo Ferraz sobre o desvio e fuga de Felipe Rulfo. Mas Alfredo havia se lembrado de algo. Pediu para agente Camila entrar.
 “Camila você conhece o agente Pedro há quanto tempo?”
 “Alguns meses senhor, desde quando o treinamento para a Copa começou.”
 “Você lembra se ele é vegetariano?”
 “Nunca reparei comandante.”
 “Ontem, tivemos uns cachorros quentes e ele tirou a salsicha. Você lembra disso?”
 Sim Camila lembrava como também lembrava agora de ter visto Mariana fazer o mesmo. Nisso o comandante sentiu um cansaço e antes de desmaiar apontou o copo de suco para Camila.
 A agente Camila não teve dúvida ao ver o comandante desmaiar. Ele havia sido drogado. O agente Pedro era o segundo na hierarquia, mas agora tudo estava muito confuso. Se Mariana era a responsável por tanto tempo da operação “verde que te quero verde” como ela nada informou e não sabia como proceder? Ligou então para o agente Torres:
 “Me passa o Rulfo.”
 “É para você.”
 Correndo com o celular na mão, Camila entrou numa viatura e ela mesma dirigido acelerou em direção ao Maracanã.
 Ricardo Larkin sorriu ao ver sua bela amada entrar na sala. Ele estava sentado sendo vigiado por dois seguranças. Ela parecia diferente, fria. Chegou perto dele e foi quando ele viu a arma na mão dela. Depois não sentiu mais nada. Foi bem rápido. Depois ela virou-se e ainda caminhando com salto alto deixou a sala. 






 
 




 



































23 capítulo V


O leitor deve antes ler os capítulos I, II, III e IV antes de prosseguir pelo V. Grato.

 Felipe Rulfo acordou e seguiu para o escritório de paisagismo. A polícia federal tinha alugado uma casa numa vila e colocado além de Felipe e Mariana, mais cinco policiais na operação: “Verde que te quero verde.”
 Assim como os membros do grupo 23 saiam na Avenida Paulista pedindo doações, um disfarce para dar um tom amador nas ações terroristas, a polícia federal tinha também seu disfarce. A policia tinha que fazer eles, o grupo 23, entrar na de Felipe Rulfo.
 Por isso ele tinha sido escolhido. Felipe era também jovem e bonito. Tinha um aspecto descolado e de ser alguém com propensão à esquerda. Ou pelos menos parecer isso. Pois se sabia tratar-se de um grupo de esquerda.
 Já no atelier de paisagismo seu celular tocou. Todos agentes ouviram em silencio o convite de Letícia para que Felipe fosse jantar em sua casa. Ela passou no endereço e marcou para as oito horas.
 Mariana ficou muito animada. Ela imaginava que talvez fosse Felipe quem iria fazer o primeiro contato, mas depois ficou desconfiada. Não haviam afinal passado nem vinte e quatro horas do primeiro contato.
 Era uma casa grande na zona Sul de São Paulo. Um jardim bem arborizado. Foi Lucas quem abriu a porta e apresentou o casal de convidados. Um espanhol de nome Pablo e uma Argentina de nome Ana Laura.
 Letícia saiu da cozinha e veio dar um oi rápido e depois voltou para a cozinha. Lucas ofereceu uma cerveja que Felipe ou agora Rodrigo aceitou. A casa tinha vários livros e uma enorme mesa de madeira.
 Durante o jantar o casal de castelhanos contou da viagem que fizeram a Cuba. Eles tinham visto mais pontos positivos lá do que negativos. Verdade é que queriam mais ouvir as opiniões de Felipe do que falar das suas próprias.
 Pablo era um sujeito que sorria pouco. Disse a Felipe que odiou a Avenida Paulista porque lá só havia bancos.
 “Mas os bancos mudaram-se todos para a Avenida Faria Lima.”
 Pablo respondeu que esta Avenida Faria Lima então deveria ser também bem feia e desinteressante.
 A comida e o vinho eram maravilhosos. Felipe cogitou em se tornar até um vegetariano. Ele não podia parecer nem muito militante de esquerda e nem tão pouco a favor do sistema. Aqueles quatro jovens queriam testá-lo, mas também queriam recrutá-lo. E ele não podia mostrar-se pronto a se converter tão rápido. Aquilo traria desconfiança e não seria tão prazeroso para os outros.
 Lá pela meia noite, Pablo e Ana Laura se despediram. Felipe disse que também iria, mas Letícia o segurou.
 Lucas ofereceu mais vinho a Felipe enquanto Letícia aumentava o som. Quando o policial deu por si, ele estava beijando os dois Lucas e Letícia.
 Lucas tinha uma barriga durinha e era uma meiguice só. Pelo incrível que pareça aquela moça delicada e sofisticada era um furacão.
 Ora ele passava as mãos no corpo de Lucas que tinha uma boca carnuda, ora sentia a delicadeza de Letícia. Que embora muito feminina lhe dava umas pegadas mais agressivas, enquanto o doce Lucas ia bem de vagar.
 Letícia tinha uma boca fina e cabelos longos. Gostava de comandar, enquanto Lucas curtia ser comandado.
 Ele sentiu muito carinho daqueles dois e se perguntava como poderiam ser más pessoas se o abraçavam tanto. Com tanto afeto.
 Será que sempre fazem jantares e agarram os convidados depois? Toda semana? Dia sim, dia não?
  Acabou passando a noite lá. Teve receio de mandar um torpedo para Mariana e o resto da operação: “Verde que te quero verde.”
 Acordou com o jovem casal na grande cama deles. Na janela ele via as árvores enormes do jardim. Realmente era uma casa e tanto. Nem parecia que estavam em São Paulo. Lucas comentou que durante o café da manhã que Felipe poderia dar uns palpites no jardim.
 Mas Letícia o salvou. Dizendo que ele não faria uma consultoria de graça e que não cansassem o hóspede.
 “Mas o seu jardim já é lindo.”
 Letícia adorou aquilo. Felipe disse que tinha de ir trabalhar. Ele antes de sair perguntou:
 “E quando vocês irão à minha casa jantar?”
 Aquilo era bom. Mariana recomendou que ele retribuísse o convite. Letícia e Lucas sentiriam confiança em saber onde Felipe morava.
 Mas nenhum dos dois se animou em responder.
 “Nos falamos”. Disse simplesmente Letícia. De um jeito bem rica esnobe.
E logo depois Lucas começou a retirar a mesa. E disse um: “Tchau”.
 Felipe ligou o carro e se foi. Um outro carro logo em seguida o seguiu. E de novo Felipe não notou nada.
 Letícia fechou a porta, pegou o celular e ligou. 
 “Ele acabou de sair daqui.” A voz do outro lado disse.
 “O que você achou dele?”
 Lucas sorriu quando ouviu ela dizer:
 “Uma delícia.”
 “E o Lucas?”
 “Também gostou.”
 “Ótimo. Vamos prosseguir. O próximo a fazer contato será ele.”
 Letícia desligou o celular. Puxou Lucas pela camiseta.
 “Agora vamos cuidar do jardim.”  

terça-feira, 26 de julho de 2011

23 Capitulo IV


O leitor deve antes ler os capítulos I, II e III antes de prosseguir pelo IV. Grato.

 Pedro entra na sala do Comandante Alfredo e interrompe a narrativa de Mariana:
 “Senhor, o Ministro da defesa quer falar com você!”
 “Passe a ligação.”
 O comandante tentou explicar ao Ministro da defesa sobre a plataforma X. Estava claro que se não achassem uma solução rápida uma explosão da plataforma não só causaria um desastre ambiental sem precedentes como devido à profundidade da plataforma as usinas de Angra se abalariam e com isso soltando radiação para grande parte da região sudeste, incluindo a cidade do Rio a poucos quilômetros.
 Foi quando o Ministro quis saber sobre prováveis suspeitos e disse que todo o corpo de bombeiros, marinha, exército e policia estavam à disposição do comandante Alfredo.
 “Sim estamos investigando e caçando membros de um grupo de terroristas ambientalistas de nome 23. Ministro, eu acho melhor você pedir para tanto o presidente americano, bem como para a nossa presidenta Brasileira, seguirem para Brasília.”
 “Você está louco Alfredo. Eu quero que você encontre estes jogadores já! A marinha e a Petrobrás vão cuidar desta plataforma.”
 “Mas Ministro, eu insisto, não haverá tempo.”
 “Alfredo eu já falei com a assessoria da presidente. Eles querem que você encontre os jogadores antes da mídia saber do desaparecimento. Deixe a plataforma para os especialistas. Não há nada ali que você possa resolver. Já colocamos os melhores da área para resolver este problema." 
 “Sim senhor, entendido.”
 “E mais uma coisa, como um grupo ambientalista pode querer causar um desastre ecológico?”
 Aquilo era verdade, no fundo o Ministro tinha razão. Pedro interrompeu os pensamentos do comandante.
 “Senhor Mark Dahl e Thomas O’ Brien haviam jogado futebol em 2011 no juvenil do São Paulo”. E Camila completou.
 “Os dois são vegetarianos, ou melhor, vegans, que são pessoas que não comem nenhum derivado de animais. Nem leite, nem queijos, nada que tenha proteína animal.” 
  O comandante teve então um palpite. E perguntou pelo ônibus. Ninguém some assim. Desaparece na frente do mundo. A não ser que não houvessem sumido no túnel   
 A equipe no Maracanã, estava vasculhando o lugar atrás de Ricardo Larkin. E ninguém mais sabia do ônibus.
 “Quem liberou o ônibus? Quem revistou o ônibus?”
 Ninguém havia feito isso. Encontraram o ônibus no estacionamento do estádio. Os agentes perceberam que existia uma porta no chão do acento de onde estiveram os jogadores. Mal se podia notar o finíssimo corte. A equipe desvendou então que os próprios jogadores haviam aproveitado a escuridão, aberto a portinha, alçapão, e fugido para o subsolo do ônibus na parte de bagagem e com certeza se mantiveram abaixados até estarem em lugar deserto para sair. Para serem com certeza resgatados. 
 “Vocês estão dizendo que os Americanos fizeram uma espécie de Cavalo de Tróia, para enganarem eles mesmos?. Digo enganarem a própria delegação?" 
 “Exato comandante.”
 Neste instante o Ministro ligou novamente.
 “Alfredo a assessoria da Presidente recebeu um pedido de resgate dos jogadores Americanos. Os criminosos pedem que a Presidenta faça ao vivo na televisão para todo o mundo um discurso prometendo proibir não só a exportação de carne, mas também todo o consumo de carne no Brasil.”
 “Ministro. Temos evidencias de que os dois jogadores Americanos estão participando dessa ação. São cúmplices.”
 Alex correu o mais que pode, ao chegar à cadeira que estava reservada para Ricardo Larkin a encontrou vazia. A arquibancada já estava quase cheia e muitas pessoas vinham e sentar-se e levantavam-se atrás de comidas e bebidas. Outras cantavam. Neste tumulto, Alex notou que um senhor estava ao lado do lugar de Ricardo Larkin.
 “Você conhece o Ricardo Larkin?”
 O homem explicou que ele e Ricardo tinham vindo juntos. E que dois homens se identificaram como agentes do serviço de segurança da Copa. E o levaram. Alex se identificou e disse que ele sim era do serviço de segurança da copa. Agencia central. O homem que se chamava Marcel Oliveira e era também engenheiro, não da Petrobrás, mas civil acreditou em Alex, porque vinte homens o acompanhavam. Com um exército destes só pode ser o verdadeiro e os outros é que eram falsos. Não teve dúvidas em contar tudo.
 “Eles disseram que a plataforma X estava com problemas. O Ricardo não pareceu surpreso. Ele olhava para todos os lados antes mesmo dos homens chegarem.”
 “Marcel você deve me contar tudo. Muitas pessoas estão em perigo, inclusive você e sua família. Terroristas estão agindo e nós temos de impedi-los antes que eles cometam algum grande ato terrorista. Estamos correndo contra o relógio”.
 Marcel contou que o amigo conhecera há umas duas semanas uma mulher muito bonita. E que ele, Marcel, achava estranho.
 “Estranho por quê?” Quis saber o agente Alex.
 “Veja bem, eu e também Ricardo, não somos propriamente ricos e nem um exemplo de beleza e esta mulher além de ter uma aparência de classe média alta, era bem bonita para se interessar pelo meu amigo. Ele deveria ter comunicado a vocês. Mas o ser humano às vezes acredita em conto de fadas. Pobre Ricardo.”
 “Você sabe o nome desta menina?”
 “Sei sim. É Letícia. E um sobre nome árabe, como acho... Haddad.”
 Alex mostrou uma foto da líder do Grupo 23.  
 “É esta?”
 Marcel olhou a foto atentamente.
 “Só se ela estivesse bem mais nova nesta foto. A mulher que eu falo tem uns quarenta anos.” Ele olhou de novo para a foto. “Não definitivamente, não é esta mulher não.”
 Alex estava começando a ficar desanimado. E para o seu maior desespero o telão do estádio informava as ultimas notícias: Dois jogadores Americanos estavam desaparecidos. Agora o mundo todo já sabia.



  

23 Capítulo III


 O leitor deve antes ler os capítulos I e II, postados anteriormente, antes de prosseguir pelo III. Grato.

 A menina quase mulher, abordava os transeuntes na calçada da Avenida Paulista com a Rua Augusta. Ela mais cinco jovens tentavam conseguir assinaturas de doações para a sua ONG, via cartão de crédito.
 Não eram jovens com cara de contratados por empresas para fazer pesquisas sobre comportamento. Eles tinham algo de sofisticado e muitas vezes queriam mais comunicar-se com a rua do que propriamente conseguir fundos.
 Seu nome era Letícia. Parecia claramente ser a líder do grupo. De estatura média para alta, cabelos longos e echarpe no pescoço. Foi ela quem abordou Felipe naquele fim de tarde. Ele vinha passando olhando para ela. Claro que quase todos os homens vinham passando olhando para ela.
 “Oi tem um minuto.”
 Ele tentou fingir-se na dúvida. Na verdade ele não tinha só um minuto, e sim a vida toda. Mas fingiu tão bem que Letícia se esforçou no charme.
 “Você conhece o grupo 23?”
 Ele respondeu que não. Então ela explicou que eles ali eram um grupo que salvaria o planeta da cobiça e da ganância das grandes corporações capitalistas. Ou que pelo menos estava combatendo a idéia unilateral da exploração egoísta dos recursos da mãe Terra.
 “Você quer ajudar?”
 “Claro que eu quero!”
 Foram então para o segundo passo, preencher uma ficha com nome, endereço, e-mail, mas foi quando Letícia perguntou a ocupação, que ela teve uma surpresa e começou a se interessar realmente por aquele rapaz.
 “Biólogo.”
 “Jura?”
 “Juro! Mas eu trabalho com paisagismo.”
 “Aqui na Avenida Paulista?”
 “Às vezes”. Ele riu. Depois emendou. “Eu estou indo ao teatro.”
 Bem a conversa ia terminando, e Felipe arriscou.
 “Será que você não podia me dar um contato para eu saber mais sobre o grupo 23?”
 Até ali Felipe talvez estivesse sendo honesto, ele queria realmente saber mais, alias, saber tudo sobre o Grupo 23. O que ele não foi sincero é quando disse que não conhecia o Grupo. Há dois meses ele vinha estudando tudo o se sabia sobre o tal Grupo 23.
 “Você tem todas as informações no panfleto Rodrigo e também no certificado que eu te dei. Veja depois o nosso site."  Felipe agora era Rodrigo. E sim Felipe tinha ganhado não só um certificado de doador como uma meia dúzia de papéis informativos. Papéis recicláveis claro.
 “Mas eu vou te escrever o meu o contato, se você quiser participar mais. Seria ótimo um biólogo.” Ela escreveu então o número do celular. Depois pediu o dele. Nisso apareceu Lucas.
 “Este é o Lucas.” Os dois se cumprimentaram. Lucas usava roupas apertadas, tinha um corpo maravilhoso e um aspecto muito jovem. Teria no máximo uns 22 anos. Ele sorriu para Felipe.
 “Rodrigo é biólogo. E quer participar mais.”
 “Ótimo, bem vindo Felipe.”
 Era difícil saber qual a relação de Letícia e Lucas. Namorados? Amigos? Amantes? 
 Ele então se afastou, andou mais uns quatro quarteirões. Olhou em volta. Com a certeza de não ter sido seguido, pegou o celular e ligou.
 “Mari! Primeiro contato feito. Um sucesso.”
 “Eu já disse pra não usar uma linha aberta. Felipe, eles parecem inofensivos, mas não são.”
 “Desculpe.”
 “ Venha pra cá e depois falaremos mais.” 
 "A caminho." 
 "E Felipe?"
 "Sim."
 "Estou feliz." 
 Mariana tinha razão. Era a primeira missão do agente Felipe como infiltrado. Não era propriamente no crime organizado tradicional. A principio nada demonstrava perigo de violência. Mas o grupo ou clube 23 era extremamente organizado e competente. Felipe havia sim sido seguido. É difícil acreditar em teorias da conspiração. Mas aqueles jovens sabiam o que estavam fazendo. Eles não formavam uma organização secreta. Por isso eram ainda mais perigosos. Pois praticavam ações criminosas dentro de uma ONG. Ou ainda se disfarçavam de ONG para cometer ações criminosas. Eram lobos na pele de cordeiros. Prato cheio para a policia federal. 
 E isto Mariana gostaria que Felipe não se esquecesse. Eles eram a policia e Letícia, Lucas e quem mais fizessem parte do Clube 23 eram os bandidos.
 Mas eles pareciam tão doces, tão meigos. Só o tempo diria se a primeira abordagem havia sido realmente um sucesso ou não. Mas ele estava confiante. Agora era esperar.
 Uma coisa ele Felipe estava contente, teria de seduzir dois jovens muito atraentes. Melhor impossível. Entrou no metrô. Tão entusiasmado que nem se deu conta de um jovem de uns 28 anos que o seguia.




quinta-feira, 21 de julho de 2011

23 Capítulo II


 O leitor deve ler o capítulo I antes de se aventurar por este II. É a postagem anterior a esta.

 “Felipe, o que está acontecendo?”
 “Eu não sei se posso falar em uma linha aberta, senhor. Eles estão atrás de mim.”
 Aquilo irritava o comandante, até que ponto aquele policial era louco ou até que ponto ele sabia sobre os jogadores.
 “Onde estão os jogadores?” Insistiu Alfredo.
 “Quem?”
 “Os jogadores?”
 “Já disse que não posso falar em uma linha aberta.”
 “Linha aberta? O que diabos é isto?”
 Neste momento a agente Mariana interveio.
 “Felipe é Mariana quem está falando”.
 “Mari que bom ouvir sua voz!”
 "Bom ouvir a sua também." 
 “Você está no Rio? Quem é este que fala comigo?”
 “O comandante Alfredo é o responsável pela subdivisão de segurança da copa do mundo. Até o final da copa, ou seja, hoje nós estamos sob seu comando.”
 “Eles estão atrás de mim. A operação 23 já começou. O casal está em perigo Mari. Eles não têm nada a ver com isso.”
 “Onde estão os dois jogadores americanos Felipe?”
 “Que jogadores Mari?”
 Mariana corta o som. Ela percebeu que Felipe não sabia de nada. Foi o que explicou para o comandante Alfredo. Ele era um agente infiltrado já há anos na organização de nome 23. 
 “Felipe, aqui quem fala é comandante Alfredo. Dois jogadores da seleção americana sumiram. Você não deve dizer isto a ninguém. Agora me diga, você sabe onde eles estão?”
 “Porque eu deveria?”
 “Felipe, aqui é Mari. Um sinal nos levou a crer que era uma operação do grupo 23. Você sabe alguma coisa a respeito? Você tentou entrar em contato com o QG de São Paulo.”
 “Mari esqueça estes jogadores. O que está acontecendo é mil vezes pior do que dois jogadores terem sumido. Eles estão querendo distrair vocês. Os jogadores é algo para tirar a atenção, da verdadeira catástrofe”.
 O comandante e os agentes se entreolharam, parecia que Felipe estava dizendo a verdade.
 “Escute com atenção. Aqui é o comandante novamente. Uma equipe já o está esperando na estação. Eles foram de helicóptero e em poucos minutos vão trazê-lo para cá. Agora me conte o resto.”
 Neste mesmo instante a luz do trem bala caiu. Ouviram-se uns disparos. Os três seguranças e o chefe condutor puderam ver um homem correndo para o final do vagão. Dois seguranças foram atrás dele, mas o pânico das pessoas complicou a visualização. Quando deu por si o condutor viu que Felipe fora baleado. O policial estava todo ensangüentado. E pedia o celular que caíra no chão para o condutor.
 “O que aconteceu?” No quartel general ninguém sabia o que estava acontecendo. O condutor chefe, rapidamente alcançou o celular.
 “O cara foi alvejado e está sangrando!”
 Mariana deu grito.
 “Acho que ele ainda consegue falar senhor.”
 “Então passe o celular para ele.”
 Felipe pegou o celular mal conseguia se sustentar, o chefe condutor o segurava, enquanto os outros passageiros estavam atônitos olhando a cena.
 “Mari, encontre Ricardo Larkin. Só ele pode resolver isso.”
 Mariana com água nos olhos desesperada.
 “Felipe, você está bem? Pelo amor de Deus Felipe!”
 “Mari a Letícia e o Lucas são inocentes. Eu queria salvá-los, mas não posso. Por favor, agora eles dependem de você.”
 Sua mão largou o celular, seus olhos se fecharam e Felipe deitou no corredor do trem. Dois minutos depois a notícia de que os seguranças do trem haviam baleado e matado o atirador.
 "Droga, um policial inconsciente e um atirador morto! Levem Felipe Rulfo para o hospital e descubram quem era este atirador!" 
 No quartel general Alfredo Ferraz queria respostas rápidas. Ele, o agente Pedro e todos os outros esperavam que a agente Mariana esclarecesse o que estava acontecendo. A única pista ou informação sobre o desaparecimento dos jogadores tinha sido alvejada, talvez já estivesse morto neste momento. E a agente Mariana parecia ser uma amiga íntima do policial Felipe Rulfo.
 “Mariana o que está acontecendo afinal? Quem é este policial, como você o conhece?”
 A bela mulher deu um suspiro, pegou forças e respondeu:
 “Comandante, Felipe é um agente infiltrado numa organização de jovens de esquerda. Antes de ser sua comandada eu pertenço a federal e fui eu que sempre monitorei Felipe até ele sumir. Há uns dois meses ele já não respondia mais os chamados.”
 “Isso quer dizer que ele se tornou um criminosos?” Quis saber o comandante Alfredo.
 “Talvez sim, talvez não. Talvez ele estivesse sendo vigiado. Nós vimos que ele corria risco, alguém inclusive atirou nele, não se esqueça.”
 “Você tem razão. Mas o que será que ele quis dizer com um perigo maior?”
 “É o que vamos saber quando localizarmos Ricardo Larkin.”
 O avião do presidente americano pousava no Galeão. Eles puderam ver tudo numa das grandes telas. Na outra a agente Camila colocava a foto de Ricardo Larkin. O texto dizia quarenta e dois anos, engenheiro com doutorado MIT em Boston Massachussetts.
 “Na casa dele disseram que ele está no Maracanã. Nossos homens já o estão localizando no estádio.” Disse Pedro.
 Alfredo virou-se novamente para Mariana que agora tentava segurar as lágrimas.
 “Eu quero saber tudo o que você sabe sobre estas pessoas. Inclusive quem são Letícia e Lucas que ele mencionou.”
 Como ele o comandante geral não sabia a respeito de operação 23 nenhuma? Quem eram estes subversivos? Quantos eram, onde se baseavam?
 Então Mariana começou a narrativa que voltava três anos no tempo para São Paulo em 2011. Ao mesmo tempo que ela contava isto ao comandante, a agente Camila recebeu um telefonema:
 "Você diz que está me ligando da plataforma X?"
 "Sim senhora."
 "O que houve?"
 "Nós não sabemos ao certo. Os comandos não estão respondendo..."
 "E o que eu posso fazer? Não estou entendendo. Qual é o seu nome?"
 "Paulo Toledo... Olha vou tentar falar objetivamente. Se estes comandos não voltarem a funcionar em duas horas a plataforma X pode explodir. Ou melhor dizendo vai explodir!"
 "E jogar petróleo em toda costa do sudeste?"
 "Também. Mas não é só isso. A explosão, levando-se em conta a profundidade desta que é a maior plataforma já construída da história, pode danificar as usinas nucleares de Angra dos Reis."
 Camila pediu que o homem repetisse, porque ela não podia acreditar. Ele repetiu. Ela deu uma pausa e disse seu primeiro palavrão em quinze anos de trabalho:
 "Fodam-se os jogadores americanos! O cara aqui da Petrobrás está dizendo que em duas horas as usinas de Angra vão explodir!!!"
 O que todos pensaram ao mesmo tempo no QG é que se Camila estivesse falando sério, em duas horas todos ali estavam condenados. Inclusive o presidente dos EUA, a presidente do Brasil, muito provavelmente os jogadores americanos e a cidade inteira do Rio de Janeiro. 
 






quarta-feira, 20 de julho de 2011

23


Capítulo 1

 O ônibus da seleção americana de futebol deixa a concentração na Barra da Tijuca e segue para o Maracanã, onde daqui a quatro horas e meia enfrentará a seleção brasileira na final da copa do mundo.
 A atual presidente do Brasil confirmou a presença. Mais três ex-presidentes vão também assistir o jogo ao vivo no estádio. O presidente americano está quase aterrisando no aeroporto do Galeão.
 David Taylor o técnico americano está muito ansioso. Afinal a maior potencia do mundo nunca fora tão longe. E enfrentar logo o Brasil, a maior potencia futebolística de todos os tempos. 
 Para os brasileiros este é um dia que já está na história. Há mais de sessenta anos perdemos a final da copa o Uruguai. No mesmo Maracanã. Mas agora vai ser diferente. O Brasil vai mostrar que é um grande País para todo o mundo.
 Até a final, não houve sequer nenhum contra tempo. Tudo foi uma grande festa. A única surpresa foi os EUA derrotar a Espanha por três a zero e seguir para a final. Já o Brasil quase perde nos pênaltis para os Alemães.
 David vai sentado na primeira fila do ônibus. Ele mal pode apreciar a paisagem carioca. Agora o comboio, três ônibus, dezenas de vans e carros de seguranças, jornalistas, assessores, contornam a lagoa Rodrigo de Freitas e entram no túnel Rebouças.
 O transito fora todo desviado deste percurso. No meio do túnel a iluminação cai e permanece escuro até a saída do túnel. Já próximos ao estádio, David sente a mão do seu assistente no ombro. Ele vira-se e mal pode acreditar no que ouve:
 “Mark e Thomas não estão no ônibus.”
 Como assim? Dois jogadores, não estavam no ônibus? David se levantou e percorreu o corredor do ônibus. E realmente constatou que o seu assistente não estava brincando. Dois titulares estavam faltando.
 “Onde estão Mark e Thomas?”
 Ninguém sabia. Os jogadores se olhavam e todos estavam surpresos. Os lugares dos dois jogadores estavam vazios. Com toda esta ansiedade ninguém sabia ao certo o que se passava.
 Mas com uma coisa todos concordaram. Eles, ambos Thomas e Mark estavam lá até o ônibus entrar no túnel Rebouças. A delegação toda foi avisada. O time americano correu direto para os vestiários. E em cinco minutos o QG da inteligência da segurança da copa foi avisado. O quartel general ficava no bairro de Botafogo.
 O agente Pedro, 35 anos entrou na sala do comandante Alfredo Ferraz que estava assistido televisão, cinco canais de televisão ao mesmo tempo.
 “Senhor acabo de receber um telefonema da delegação da seleção americana. Dois jogadores deles desapareceram.”
  Neste instante em que aparentemente, Alfredo nem sentira a presença de Pedro, ele levantou os olhos e gaguejando perguntou:
 “O que houve Pedro? Dois jogadores americanos sumiram?”
 “Eles dizem que foi quando o ônibus com o time estava dentro do túnel Rebouças. Ao saírem do túnel que teve uma queda de luz, deram por falta de Thomas e Mark.”
 “Você está me dizendo que os dois melhores jogadores deles, desapareceram a quatro horas do inicio da partida da final da copa?”
 “É isso senhor.”
 “A imprensa não sabe de nada ainda?”
 “Provavelmente não. Foi há poucos minutos. Os americanos acabaram de chegar ao estádio.”
 Alfredo se levantou e disse:
 “Chame todos os agentes para sala de reunião Pedro. Alerta geral. Alex!”
 Alex, 40 anos. Responsável pelos agentes de rua. 
 "Vá até o túnel Rebouças, leve quantos agentes quiser. Quero saber como dois jogadores americanos sumiram.”
 “Como dois jogadores sumiram?” Perguntava atônito Alex, enquanto o comandante Alfredo deixava a sala.
 Já no corredor. “Senhor é o ministro da defesa, ele quer saber o que está acontecendo?”
 Em três minutos Alex deixava o QG com dois helicópteros. E a cúpula de nove agentes já estava na sala de reuniões.
 “Alguém pode me explicar o que está acontecendo? Porque eu não consegui explicar para o ministro da defesa, como dois jogadores desaparecem do nada.”
 “Estamos em contato com Alex no visor senhor. Ele está pousando em frente ao túnel.”
 Os agora dez agentes e mais Alfredo tentavam rapidamente saber como estava à delegação brasileira. A segurança do Maracanã comunicou que nada de errado tinha ocorrido. Com os brasileiros tudo na maior normalidade.
 Lá fora pelo vidro, as centenas de agentes estudavam as câmeras do hotel da concentração Americana. Outros estavam em contato com o Maracanã. Outros tentavam buscar explicações ou pistas. 
 “Senhor Alex no vídeo!”
 “Passe.” O agente Alex já estava dentro do túnel.
 “Não há nada de errado aqui aparentemente. Duas viaturas estão percorrendo todo o local.” Um outro agente se aproxima de Alex e lhe diz algo.
 “O que foi Alex?”
 “Eles encontraram um número escrito bem grande na parede do túnel.”
 “E que número é este?”
 “Vinte e três.”
 “Todo mundo dando um google em vinte e três. Alguém sabe algo a respeito?”
 “Senhor, 4.640.000 resultados.”
 Desta vez foi a agente Mariana que se aproximou:
 “Grupo 23 é uma ONG de militantes ecológicos. São vegans.”
 O comandante Alfredo deu um suspiro.
 “Estamos atrás de hippies?”
 Mariana, 40 anos, extremamente elegante. Magra, porém gostosa e sensual, respondia:
 “Não senhor. Eles são chamados de clube 23, operação 23. São jovens, inteligentes e bem relacionados. De classe alta. Não usam violência nas suas ações. São pessoas sofisticadas e que escorregam facilmente. Planejam muito bem suas ações.”
 Antes que o comandante pudesse prosseguir um outro agente disse:
 “O QG de São Paulo registrou ontem um individuo que tentou alertá-los sobre a operação 23.”
 “Liguem-me com São Paulo, já.”
 Realmente isso era correto, dizia um oficial de São Paulo. Mas nós o dispensamos, achamos se tratar de um maluco e era perda de tempo. O comandante Alfredo mal podia acreditar que inteligência paulista havia dispensado o cara.
 Mas conseguiram rastreá-lo e achá-lo. 
 “Felipe Rulfo! Encontramos. Está neste exato momento no trem bala que chegará ao Rio em 20 minutos.”
 “Liguem-me já com este trem!”
 O “capitão” do trem seguido por mais três seguranças, se dirigiam ao acento de Felipe. O trem estava lotado. Todos ansiosos para chegar ao destino. Muitos ali iriam ainda para o maracanã.
 “O senhor é Felipe Rulfo?”
 “Sim sou eu.”
 “Telefone para o senhor.”
 O jovem pegou o celular da mão do funcionário do trem.
 “Alo.”
 “Alo. É o Felipe Rulfo?”
 “Sim.”
 “Felipe, aqui é o chefe geral da inteligência e segurança do Brasil. Meu nome é Alfredo Ferraz.”
 “Chefe geral?”
 Foi quando Felipe se deu conta que um dos seguranças o estava filmando com um celular.
 “Felipe me conte o que está acontecendo.”
 “Mas eu é quem pergunto. O que está acontecendo?”
 “Você pertence ao grupo 23?”
 “Do que o senhor está falando?”
 “Nós sabemos quem é você Felipe.”
 “Claro que sabem. Eu sou um policial.”
 O comandante parou de falar, queria uma resposta. Pedro confirmou. Felipe Rulfo realmente era um policial federal.








quarta-feira, 13 de julho de 2011

16 final

Para ler este último capítulo é necessário ler os 5 primeiros. As cinco postagens anteriores a esta. 


 Constantinopla, o restaurante, estava mais cheio do que o dia anterior. O delegado Elias ainda não havia chegado. Bom ainda eram nove horas. Acontece que em lugares pequenos, como o Cacau,  as pessoas nunca se atrasam, não existe o trânsito como desculpa.
 Uma outra garçonete de nome Márcia veio me receber. Perguntei por Catarina, a garçonete que me atendera no dia anterior e soube que ela, Catarina, não aparecera para trabalhar. Provavelmente estava doente. Disse-me Márcia e também Lucas um outro garçom. Uma pena. Aproveitei o atraso de Elias para fazer alguns telefonemas. Assim que desliguei do último ele surgiu. Eram nove e dez.
 “Oi Victor. Desculpe o atraso.”
 “Imagina, fiquei aqui conversando com Lucas e a Márcia. Aproveitei para pedir um vinho.” A menina riu, enquanto servia Elias que acabara de sentar-se.
 “A minha garçonete preferida não apareceu hoje.”
 “Quem é?”
 “Catarina.”
 “Catarina. Claro.” Falou o delegado.
 “Você a conhece Elias?”
 “Victor, o Cacau é um lugar muito pequeno. Não há muitos lugares para se ir fora o Constantinopla, o Alpendre e o Kiwi.”
 “Entendi. Eu vou de pato com batatas.” Pedi para Lucas que anotava os pedidos.
 “E eu este risoto.” Elias apontou para um prato no cardápio. E os dois garçons se afastaram. 
  Depois ele me perguntou se eu estava, apesar de tudo, passeando e conhecendo as praias. Eu disse que já as conhecia de longa data. Mas dificilmente no inverno. Quando há poucos veranistas. Disse ainda, que a região estava transformada.
 Falei sobre o terreno que Juca tinha me oferecido. Nesta última fala ele levantou os olhos.
 “Que horas foi isso Victor?”
 “Umas seis da tarde.”
 “E por que você não foi encontrá-lo?”
 “Ele disse que tinha combinado de jantar com a esposa.”
 “A esposa?”
 “Sim.”
 “Você tem certeza que ele disse a esposa?”
 “Sim tenho.” De repente ele começou a olhar para o infinito e parecia que tinha caído a ficha de algo.
 “Victor, eu disse que não tinha um suspeito. Mas tenho.”
 “E quem é?”
 “Juca.”
 Quando Elias me falou isso fez todo o sentido para mim. Juca, com uma imobiliária própria, bonito, com carro. Faz seus próprios horários. Eu mesmo quando o vi pensei que até Luana ficaria caidinha. Até eu achei um cara simpático, sedutor. Imagine as vítimas, meninas de dezesseis anos. 
 “Meu Deus! Porque é mesmo que Catarina não veio hoje?”
 “Eles não sabem. Provavelmente ficou doente.”
 “Victor, o Juca mentiu. Ele não foi encontrar-se com a esposa e sim com Catarina.”
 “Como você pode saber disso Elias?”  
 “Porque a esposa dele é Márcia, a garçonete que nos atendeu.”
 Aquilo me assustou. 
 “Você acha que a Catarina está em perigo? O corretor é realmente um suspeito?”
 O delegado Elias não me respondeu. Apenas fez outra pergunta.
 “Você vem comigo?”
 “Onde?”
 “Não há tempo para explicar. Temos de agir. A vida da menina está em perigo.”
 Nem cancelamos a comida. Saímos correndo do Constantinopla e pulamos dentro da viatura. Elias sacou a arma. E em cinco minutos estávamos a alguns metros da imobiliária Sun Time, do outro lado da rua.
 “Espere-me aqui vou entrar na frente.”
 Pude ver o Delegado empurrar a porta que estava destrancada e entrar dentro da imobiliária. Minutos depois ouvi dois tiros. Ele então surgiu na porta e me fez sinal para eu sair do carro e atravessar a rua. Passamos pelo escritório e entramos numa espécie de quartinho. Os dois corpos estavam lá. O de Juca e o de Catarina.
 O delegado me explicou que quando entrou Catarina já estava provavelmente morta, a pauladas, e Juca surpreendido tentou atirar no delegado. Mas Elias foi mais rápido e liquidou Juca.
 Parecia que o caso havia sido resolvido. E o delegado tinha cumprido o dever. Era óbvio que Juca e Catarina tinham um caso. Mas isto era a única coisa real naquilo tudo.
 Elias estava de costas para a porta quando eu vi dois homens entrarem e o agarrarem pelo pescoço. O delegado foi desarmado e imobilizado com algemas.
 “Você está preso Elias.”
 O delegado não podia crer que o seu investigador Douglas e o delegado de Bertioga, Jacinto, acompanhado agora por mais três policiais militares, o estavam prendendo.
 “O que é isso Douglas? Eu peguei o criminoso, um assassino em série e você me coloca algemas?”
 “Você delegado matou um homem inocente. Juca já estava a mais de três horas morto. Você sabia dos encontros dele com Catarina. Veio aqui e o matou. Depois ficou esperando por Catarina, que você sabia que viria aqui também antes de entrar no trabalho no restaurante. Eles costumavam se encontrar neste horário.”
 “E por que eu faria isto?” Quis saber Elias.
 Agora foi o delegado Jacinto quem respondeu:
 “Para nos fazer crer que foi Juca quem matou aquelas três meninas e também o garoto Foguinho. Mas nós já desconfiávamos de você depois que Foguinho e a jornalista nos procuraram. No início achei que ele era um bandidinho com rancor de ter levado certa vez uma surra de você. Ele nos deu o nome de duas testemunhas que o teriam visto tanto na praia saindo do mar com a jornalista ainda boiando na água, bem como em companhia das três garotas assassinadas.”
 “E você vai acreditar nestes garotos delinqüentes?” Gritou Elias.
  Agora era o investigador Douglas quem falava:
 “No início não. Um garoto assaltante não serve como testemunha de acusação de um delegado. Mas daí ele morreu, e investigamos se senhor delegado conhecia as vítimas. Hoje mesmo as testemunhas que viram o senhor em companhia delas, viraram cinco. Temos agora cinco testemunhas Elias. Foi mais ou menos na hora em que o Victor entrou em contato com o doutor Jacinto em Bertioga.”
 “É! Ser filho de bicheiro tem suas vantagens. Liga direto para o secretário de segurança!” Gritou Elias.
 “O senhor Montale é um jornalista respeitado, por isso atendi ao telefonema.” Jacinto foi ponderado. Tínhamos que agir rápido. Entrei em contato com Douglas e por sorte ele estava passando por aqui e viu a sua viatura na frente da imobiliária. E viu também você saindo aí de dentro há poucos minutos e indo encontrar Victor no Constantinopla. “Como você pode ver Elias, você estava sendo fotografado e monitorado.”
 “Eu estava investigando o Juca. Ele se envolvia com meninas, como está aí que ele matou.”
 Desta vez fui eu:
 “Elias, as outras três vítimas eram loirinhas e branquinhas, tinham dezesseis anos e foram estupradas. Catarina é mulata, tem vinte e um anos e nunca foi estuprada por Juca. Se não ela não viria aqui dia sim, dia não. Ela não tem o perfil das meninas que você mata. Sabe-se quantas já foram neste mundo.”
 “Ela vinha aqui escondida!” Gritou Elias.
 “Escondida porque como você mesmo disse, ela é colega de trabalho de Márcia a esposa de Juca. Ele era casado, tinha de ser escondido. Você aproveitou o fato para tentar fazer crer que o assassino em série era Juca e não você.”
 “Mas como você chegou nestas conclusões absurdas Victor?”
 “Foi você quem disse, para fazermos tudo direito, correto, dentro da lei não foi Elias? Então eu fiz. Chamei a polícia. Eu acredito nela.” 
 Elias ainda não podia crer na minha abilidade. Ele pensava que eu não passava de um gay e tonto. Por isso tive que lhe contar seu outro deslize.
 “Você roubou o computador errado. Luana guardou o verdadeiro na recepção da pousada. E adivinhe? Estava tudo lá, fotos, nomes de testemunhas, documentos e até vídeos de foguinho. O menino tinha um dossiê completo sobre os crimes. Não só das meninas, mas também da chantagem e propinas que você recebia para fazer vista grossa das obras ilegais. Mas não fique triste. Meu editor me prometeu capa da revista nesta semana. Você será conhecido no Brasil todo, até na sua terra em São José dos Campos.”
 Tirei uma máquina e com a permissão dos policiais, comecei a fotografar tudo. Inclusive os corpos. Antes de sair eu falei por último, olhando nos olhos de elias:
 “Você é um nada.”
  Aquela noite depois que o levaram eu segui para o bar do Cacau. Encontrei as pessoas da praia que iam sabendo na notícia do delegado Elias preso. Muitos comemoravam, acho que o delegado não era muito amado no Cacau. Bebi muito.
 Dia seguinte fui à praia logo de manhã. O tempo estava mais fechado, nublado. Para minha surpresa, Ricardinho estava na praia, de sunga. E não que aquele magrelo tinha uma bundinha?
 Comecei a chorar. Minha amiga não estava vingada. Por mim eu teria matado Elias com um saco plástico, teria feito ele morrer asfixiado. Mas não é o que a Lu gostaria que eu fizesse. Quando liguei o computador estava tudo lá. Somos jornalistas. Ela merecia aquela reportagem, afinal foi a sua última. Por isso não mexi na parte já feita por ela, mas adicionei outros desfechos que ela não pode saber. 
 Cai de joelhos na areia. Eu chorava muito. Ricardinho me levantou. Eu o olhei e disse:
 “Obrigado.”
 Não preciso dizer que nos dias seguintes fiquei preocupado com o emprego o seu emprego. De ele, Ricardinho,  ser pego comigo na cama. Ele se revelou um amante e tanto. Mas qual não foi a minha alegria ao acordar alguns dias depois, e Ricardinho me mostrar a Revista, com o título: 16.

 Dezesseis. Por Luana Benevides e Victor Montale.

 Começava mais ou menos assim:

 Muitos sabem dos problemas e das maravilhas do Litoral Norte de São Paulo. Principalmente a costa sul com seus dezesseis quilômetros de praias. O que não enxergamos ou ainda vemos, mas não queremos enxergar é a juventude deste lugar. Meninos e meninas que são gastos não pela maresia e pelo tempo, mas por descaso tanto do poder público como do privado. Conheci Foguinho por acaso. Um menino brilhante, cheio de vida, bonito como a natureza deste lugar, porém triste pessimista. Ele vive com medo e vive atormentado, pois sabe o nome do assassino de três meninas. Três amigas que como ele, elas deixaram o mundo aos dezesseis anos. E quem se importa? Afinal não eram turistas e sim locais.

 Se o leitor quiser saber mais, compre a revista na banca. Ou visite a região no inverno. Mas vá com a alma livre e aberta. Não suje a praia, nem tão pouco seus habitantes. Você não irá se arrepender. Os locais costumam repetir uma frase de um antigo morador de lá:

“Um dia longe de Juquehy é um dia a menos na vida.”   


   


16 Capítulo 5

O leitor deve ler os capítulos 1, 2, 3, 4 anteriores para poder avançar no 5. Valeu.

Sentei-me numa barriquinha de praia e pedi uma água de coco. Abri a pasta lá estavam algumas fotos, datas e descrições dos crimes. Pessoas que haviam sido interrogadas. Eram meninas de cabelos longos, lisos. Todas branquinhas, embora morassem na praia. Talvez a minha primeira constatação, eram todas com estereotipo caucasiano. Européias do norte, eu não sei ao certo o  nome que se dá. Alemãzinhas? E magras. Pelas fotos elas eram magras de cabelos lisos e compridos. Mas que adolescente não é magra? Se bem que hoje em dia, com tantos carboidratos a disposição.
 Se Luana não reagiu, pelo menos não havia marcas em seu corpo, posso concluir que uma: Ela não tinha medo do assassino, pois era alguém conhecido dela, ou alguém conhecido como um salva vidas?  Como Foguinho? Duas foi surpreendida. 
 Uma coisa eu sei, este criminoso é um local. Seria impossível ele se relacionar com as vítimas, ou mesmo não ser visto perto de onde os corpos foram encontrados sem ser alguém que não chamasse a atenção. Todos reparam quando turistas ficam ou beijam uma local.  
  Certa vez li que quando se cruza com um Serial Killer, não há nada a fazer ele vai te matar. Sei. Gostaria de cruzar com um desses.
 Levantei nos olhos daquela pasta, dei um gole na água de coco. Aquele mar tão lindo na minha frente. Céu totalmente azul. Como o litoral paulista é tão mais interessante no inverno que no verão. Só pessoas realmente da praia e pouquíssimas.
 Nunca entendi como alguns de classe média alta chamam estes jovens locais de: “Gente feia”. Para muitos na capital bonitos são apenas pessoas com carros blindados e empregados. Já eu consigo ver sensualidade nas pessoas independente da classe social.
 Nada de inclinação a esquerda não. Apenas uma sensibilidade aos verdadeiros desejos. Não que isso me ajude a investigar e a entender os criminosos. Porque como diz no filme do Batman, criminosos não tem complexidade nenhuma. São criminosos e ponto.
 Na praia, estes jovens locais jogavam futebol. Outros se preparavam para uma capoeira. Algumas meninas riam em pé próximas a mim. Pediam que o dono da barraca, um tal Nicó, tocasse violão. Quando dei por mim Nicó me mostrava algumas poesias em seu caderno.
 Incrível como é fácil fazer amizades no litoral, porque embora esta gente tenha contato com turistas do mundo todo, sim o litoral paulista recebe gringos, muitos, claro que gringos residentes da capital São Paulo. Geralmente executivos de grandes empresas que vem com suas famílias, trazidos por outros brasileiros. E toda fauna de paulistanos, peruas, mauricinhos, surfistas, moderninhos, hippies... Ou seja, apesar de interior e muito, 5 mil habitantes, os locais não são ingênuos nem bonzinhos e um tanto até cosmopolitas.
 Não falo dos caiçaras em especial.
 Estes caiçaras gostariam de se convencer de que antes dos turistas, e os nordestinos, paranaenses o litoral era um paraíso. Um lugar onde todos eram iguais e não havia exploração do homem pelo homem. E que tudo de ruim foi trazido pelos turistas. Você leitor já ouviu falar de um lugar assim? Eu não, só em histórias.
 Alguém pode dizer que em maior escala a analogia serve para explicar a nossa colonização dita de exploração. Mas Victor pare de ser prolixo. Voltemos a nossa investigação.
 O fato é que com uma natureza dessa e uma juventude que embora use drogas tem corpos sarados e lindíssimos. A vida sexual destes jovens é bem resolvida. O problema deles é outro. Adolescentes grávidas, violência do tráfico, difícil acesso a cultura, a educação. Uma menina de São Paulo não tem tempo. Esta sempre correndo. Cursinho, vestibular, estágio, academia... Aqui não.
 Quando uma menina se desvia da rotina em São Paulo, logo é notada. Ou foi matar aula, ou seqüestrada, ou está doente. Aqui na praia não. Se uma menina desaparece por horas, ou até um dia todo, ninguém dá falta. O criminoso sabe disso.
 “Ei mina vamos dar tiro de cocaína? Mas vamos já, não conte para ninguém.”
 “Vamos”.
 Em São Paulo, em primeiro lugar homens adultos não se aproximam de adolescentes. Ok, na periferia sim. Mas na classe média é visto como anormal.
 Será que eu estou no caminho certo? Será que o criminoso tinha um carrão, era mais velho do que as vítimas e as impressionava com seu poder econômico? Ou poderia ser alguém como este Nicó, dono da barraca, e bom de papo. O maníaco do parque não era assim?
 Acontece que Luana iria sacar o maníaco do parque na mesma hora. A não ser que ela estivesse enganada em relação à identidade do criminoso.
 Toca o meu celular. É Juca o corretor.
 “Falei com um cliente e arrumei um terreno perfeito para você Rui!”
 Eu já estava ficando angustiado com as minhas reflexões sobre os assassinatos e seria uma boa idéia um colírio daquele me levar para passear e ver terrenos.
 “Juca e estou tranqüilo agora, podemos ir lá ver? Eu estou no Piabú.”
 “Desculpe Rui, mas pode ser amanhã eu fiquei de ir jantar com a minha esposa hoje”.
 “Claro eu entendo. Amanhã é ok para mim também.”
 Foi aí que eu o ouvi dizer: “Droga este cara de novo!”
 “O que Juca?”
 “Nada Rui. Eu tenho de desligar.”
 E bateu o telefone na minha cara. Começou a anoitecer e eu me despedi dos novos amigos. Disseram-me para ir à noite ao único bar de Piabú e Cacau. Eu disse que talvez fosse, o que fez a alegria das garotas. Coitadas mal sabem elas. Se eu fizesse este sucesso com os homens...  
 De volta ao hotel, pousada. Lá estava a tal Verônica tomando espumante.
 “Rui onde você estava? Foi na praia?”
 “Oi querida, não. Quer dizer eu fui conhecer a praia do Piabú.”
 “Nossa tem uma gente feia lá, não é?”
 “Você diz uns locais, nordestinos e caiçaras?”
 Ela fez uma cara de aprovação. “Isso mesmo, uma baianada. Um cheiro. E você ainda corre o risco de ser assaltado.”
 Ricardinho observava tudo ao longe. Mas qual não foi a sua surpresa quando um hospede que havia a pouco se registrado gritou:
 “Vic! Vic! Você por aqui?!?”
 Era Marcelo um amigo antigo do pólo aquático. Mal pude tentar explicar a confusão para Verônica. O fato é que Marcelo e Verônica se deram bem logo de cara.
 “Servido?” Ela perguntou para ele, enquanto Ricardinho me puxava. Depois de entregar uma taça para Marcelo. 
 “Então é você!!!!!” O rapaz estava muito eufórico. “É você Rui? Diga-me você é Vic?!” Ele parecia estar diante da revelação de um messias. Não podia desapontá-lo. 
 “Sim eu sou o Vic.”
 “Não acredito. Então é você!"
 "Sim sou eu." Mas o que era aquilo afinal?
 "Eu achei que Vic era uma mulher.”
 “Do que você está falando?”
 E aí eu descobri a coisa mais surpreendente de Lu. Ela pediu a Ricardinho que guardasse o computador e não entregasse a ninguém, exceto a mim. Victor.
 “Ela disse só eu e Vic podemos pegar este computador. E me fez repetir isto três vezes. Ela era maluquinha. Quando eu perguntei quem era Vic, ela disse: Você vai saber quando Vic aparecer. E você vai gostar.”
 Luana embora nunca tenha jogado pólo aquático, era uma excelente jogadora. Eu sempre fui banheira ou pivô no pólo. Alguns acham que a posição que mais precisa-se de força. Mas não é só isso. É preciso também enganar o adversário. Colocar um outro falso jogador para tirar o verdadeiro marcador de cima. Pretender que se é canhoto, quando se é destro. Fingir falta, quando a falta não existe. Eu era bom nisso e Luana mais dissimulada ainda.
 Por isso roubaram o computador falso. Ela tinha dois. Ótimo. Por outro lado talvez esta dissimulação seja que a tenha colocado em risco. Bom já estava ficando tarde e eu tinha um jantar para ir.


                                                             

segunda-feira, 11 de julho de 2011

16 Capítulo 4

E necessário o leitor ler os capítulos 1,2 e 3 antes de ler o 4. Valeu.  

 O nome do delegado era Elias. Ele me contou que se formara em São José dos Campos e há dois anos tinha assumido a delegacia de Piabú. Realmente o Brasil estava se transformando. Mesmo a polícia às vezes surpreende. Além de gato era um policial competente. Deu a entender que sabia da minha origem e da minha vida profissional. E ainda disse me considerar um grande jornalista investigativo e corajoso.  
 “A declaração que dei sobre a morte da sua amiga Luana foi para não prejudicar uma investigação em que trabalho há cerca de quatro meses. Nunca achei que Luana tivesse se afogado. Ela inclusive me procurou no dia anterior a sua morte”.
 “E o que ela queria?”
 “Disse que estava prestes a conseguir provas para incriminar o assassino de duas meninas daqui do Piabú e uma outra do Cacau”.
 “Você teve três assassinatos aqui em quatro meses?”
 “Sim. Três meninas na idade de dezesseis anos. As vítimas tinham em comum além da idade, de serem bonitas, usuárias de droga e de baixa renda”.
 “O que isso quer dizer?”
 “Que se fossem turistas de São Paulo, me mandariam reforços para ajudar na investigação.”
 “Entendi. E Luana não lhe deu nada?”
 “Foi tudo muito rápido, ela não queria que o suspeito soubesse que ela tinha me procurado.”
 “E o senhor sabe quem era o suspeito?”
 “Sei. Um garoto que você chegou a procurar hoje. Foguinho.”
 “E você acha que o Foguinho poderia ter cometido estes crimes?”
 “Victor, eu tenho dúvidas. A primeira morte foi por pauladas. A segunda por estrangulamento e a terceira com facadas. Nas três houve violência sexual, inclusive anal. Não posso afirmar que um garoto de dezesseis anos tivesse força e maldade suficientes. Mas claro posso estar enganado. Não tenho pessoal suficiente, por isso não pude colocar ninguém vigiando e seguindo Foguinho. O que sei é que duas testemunhas o viram na manhã em que Luana foi encontrada. Ele estava andando pela praia. O que também não quer dizer muito, as pessoas vão à praia.”
 “Mas Elias, digo Delegado Elias...”
 “Pode me chamar de Elias, Victor.”
 “E se Foguinho fosse uma fonte. Veja eu conhecia muito bem Luana, eu sei como ela seduzia para trabalhar.Para conseguir informações. Nós fazíamos uma equipe”.
 “Diga-me Victor você e Luana já namoraram?”
 Eu sorri. E fiz um gesto de não com a cabeça.
 “Imaginava que não mesmo.”
 Elias me propôs trabalharmos juntos. E me deu uma pasta com cópia de toda a investigação e informações sobre os assassinatos das meninas de 16 anos.
 “Ajude-me Victor a encontrar semelhanças nas vítimas, algo em comum. Aqui pessoas morrem frequentemente. Jovens. Muitas vezes mortes por vingança. Seja por dívidas de droga ou infidelidade. Mas estas meninas não estavam comprometidas. E eram usuárias casualmente. E existe a violência sexual. Estupro mesmo”.
 “Não passou pela sua cabeça as vítimas conhecerem o agressor?”
 “Eu entendo o que você quer dizer Victor. Mas lembre-se de que aqui todos se conhecem. Somos cerca de cinco mil habitantes. Vamos fazer assim, eu preciso sair agora. Por que não jantamos a noite?”
 “Claro Elias. Eu conheci um lugar... Constantinopla. Que tal?”
 “Lugar bem caro tanto para um jornalista quanto para um delegado. Mas para minha sorte eles não me cobram e eu erradamente aceito. Não sou nenhum anjo.”
 “Não tenho tanta certeza assim. Você parece um anjo da lei. Nove horas?”
 “Combinado.”
 Eu já ia deixar a sala com a pasta na mão, quando parei ao ouvir de Elias:
 “Victor só mais uma coisa. Eu sei que ela era sua amiga, mas aqui eu resolvo as coisas da maneira correta. Se você vai me ajudar, vamos fazer isso direito”.
 “Claro Elias.”
 Eu fingi concordar com aquilo. Entendi o recado. Um filho de bicheiro se vinga matando. E Elias achou que apesar de tudo eu era diferente. Mal sabia ele que meu pai perto de mim equivale a um carneiro perto de um lobo. Se uma merda de Serial Killer tivesse matado Luana, este ser iria se arrepender de cada morte cometida e iria implorar por piedade. Iria não. Vai.
 Antes de voltar para a pousada, fui conhecer Piabú. Andar pela praia. 




  

16 Capítulo 3.

O leitor deve antes ler os capítulos anteriores 1 e 2. Valeu.

  A música logo na entrada era muito agradável. Agradável, que palavreado é este Victor? O restaurante Constantinopla era bem iluminado e com muita vegetação. Uma linda garçonete, Catarina, veio me receber. Havia só mais duas mesas. Um jovem casal bem vestido e na outra, duas senhora e um senhor. Comi uma massa ao dente maravilhosa. Surfe da muita fome. Um vinho italiano acompanhando.
 Perguntei a Catarina se ela conhecia Foguinho. Este era o nome do menino.
 “O que é que você quer com ele? Coisa boa não pode ser.”
 “Disseram-me que ele da aula de surfe. Confere?”
 “Olha se ele não estiver ocupado assaltando nenhuma casa de turista pode até ser, porque ele é bom surfista. Mas todo cuidado é pouco.”
 Tentei mudar de assunto.
 “Por acaso Catarina você sabe de casas para alugar por aqui?”
 “Claro que sei. O meu amigo tem uma imobiliária, a Sun Time. Procure pelo Juca e diga que a Catarina é que te mandou.” Pegou a bandeja e se mandou.
 Quantos anos esta linda mulata poderia ter? Com certeza menos de vinte. A sobremesa uma deliciosa torta de limão.
 Voltei para o hotel e mal entrei uma mulher de uns quarenta anos e muito em forma me chamou:
 “Hei não quer me acompanhar num espumante?” Ricardinho estava atrás do balcão do bar da pousada e ria meio como piscando para mim. Meu Deus só podia ser a tal Verônica, e agora? Se eu disser a ela que sou gay terei um Ricardinho em cima se achando íntimo para sempre. Se continuar a bancar o heterossexual fazendo turismo, eu vou ter de pegar esta... Nossa que mulher vulgar!!!
 Tentei simular um mal estar e corri para o quarto. Mas Verônica bateu na porta junto com Ricardinho e me ofereceram remédios. Não teve jeito, tive de voltar ao bar e vencê-la no álcool. Pensei que uma mulher de 40, já alta não agüentaria muito. Ilusão, eu acordei numa resseca. Pelo menos acordei sozinho. Já era meio dia.
 O café da pousada já tinha sido tirado. Encontrei uma padaria e foi lá mesmo que tentei me informar sobre Foguinho, o menino de 16 anos.
 “O senhor está atrás de aula de surfe?” Me perguntou um rapaz de uns 25 anos que me atendia.
 “Isso”.
 “Sinto muito moço, o Foguinho faleceu ontem à noite. Hoje é o enterro dele.”
 “Como? Morreu ontem, de que?”
 “Provavelmente ou foi droga ou foi alguma coisa que ele roubou. O Foguinho mais uns por aqui vivem roubando as casas dos turistas. Trabalhar ninguém quer, uma hora daria nisso.”
 Minha única pista havia desaparecido. Pelo que eu soube depois com Ricardinho, Foguinho tinha levado umas facadas num beco que tem acesso à praia. Resolvi então visitar uma imobiliária. Ricardinho me sugeriu a mesma que Catarina. Sun Time, Juca.
 “O Juca é um cara sensacional. Se você quer uma casa boa ele te arruma.”.
 Conclui que o Juca era um cara bonito. Mas não imaginava que fosse tão bonito. Recebeu-me com um lindo sorriso. Tinha quase a minha altura, uns 35 anos. Cara de bem sucedido e de esportista. Um lindo corpo. Nossa comecei a me apaixonar.
 Com certeza Luana ficaria mexida com um tipo desses, apenas um detalhe ela não iria gostar, Juca era simpático, lindo mas sem conteúdo nenhum.
 Levou-me ver algumas casas para alugar. Eu disse que queria comprar um terreno também.
 “Juca eu ouvi dizer que para construir é muito difícil aprovar a planta na prefeitura?”
 “Rui, eu nunca soube de nenhuma casa que não teve a planta aprovada pela prefeitura, para tudo se dá um jeito.”
 Depois me disse que o governo vai duplicar a estrada e com isso os imóveis vão duplicar o valor.
 “Aqui o único problema é o transito nos feriados. Mas com a estrada nova, isso aqui não vai mais ter preço.”
 “Achei que estávamos na bolha.” Eu disse.
 “Rui a dez anos que eu escuto que o litoral norte chegou ao máximo, e por mais incrível que pareça todo ano os imóveis se valorizam”.
 Incrível, achei eu, porque se ele estava já há tantos anos como não havia ficado rico? Ele não me parecia muito feliz em morar lá. Era um tipo que se daria muito bem em São Paulo, no Itaim. Mas me contou que havia se casado com uma local e já tinha um filho de dois anos.
 Perguntei sobre a violência, e ele disse que tinha diminuído muito. Falei do assassinato de Foguinho.
 “Quer saber? Ainda bem que o mataram. Aquele garoto era um marginal.”
 Realmente Luana não teria gostado deste Joca, Juca sei lá.
 O que Luana tinha feito com Foguinho? Será que duas mortes não fariam a policia suspeitar de uma conexão? Será que Ricardinho não tinha contado a policia sobre os encontros de Foguinho e Luana?
 Fui até a delegacia, que ficava em outra praia. Na praia do Piabú. Qual foi não foi a minha surpresa ao reconhecer o Delegado. Era o bonitinho que estava ontem final de tarde surfando e havia sorrido para mim.
 E qual não foi uma surpresa ainda maior ao ouvir:
 “Queira sentar-se senhor Victor Montale, eu o estava esperando.”.


16 Capítulo 2

 Se o leitor ainda não leu o capítulo 1, não pode ler o dois. Para tanto é só ler, ele é a postagem anterior a esta. Valeu. 


 A praia estava linda naquele final de tarde. Ela tinha um quilometro e meio de extensão. Bem na frente da pousada é onde ficavam os surfistas. Uma linda coincidência. Se não fosse a dor da perda de Luana, eu estaria muito feliz.
 Não entendo como algumas pessoas se preocupam com a estética das casas na praia. Dentro da água o que se vê são as enormes montanhas verdes da mata atlântica, a praia, o mar e que Deus existe. Existe?
 Havia cinco caras na água, mas só um me cumprimentou. Era um cara bem definido. Passou e me deu um sorriso. Depois ficava me olhando, meio curioso. Acho que vou me dar bem aqui no Cacau.
 Depois do banho, uma bichinha da recepção passou a me perseguir.
 “Senhor Amaral está tudo bem com a sua estada? Precisa alguma coisa?” Rui Amaral, este era o meu disfarce.
 “Oi, você é?” Eu vi o crachá escrito Richard. Mas não queria dar a entender que eu fosse alguém esperto. Quanto mais tonto, mais informações nos dão.
 “Richard, mas pode me chamar de Ricardinho.” Sei... Eu hein! 
 “Ricardinho? Mas Richard é tão bonito. Combina com você.” É as vezes eu sou meio afetado.
 “Olha Ricardinho para falar a verdade sim. Você pode e ajudar.” O jovenzinho magrinho e muito feinho, ficou extremamente contente em ajudar.
 “Um amigo meu me disse de um lugar chamado... Que o nome era um número?”
 “O senhor Amaral quer uma sugestão de um restaurante?”
 “Sim, não existe nenhum lugar aqui com nome de número?” Claro que eu já tinha dado um google com todas as possibilidades possíveis: Cacau imobiliárias 16. Cacau 16, Dezesseis litoral norte. Restaurante 16.... Enfim, era a última tentativa.
 “Aqui no Cacau? Não.”
 “Acho que me confundi. Mas de qualquer maneira onde você me recomenda jantar?”
 “No Constantinopla! Sem dúvida o melhor restaurante da região. Não faz feio em nenhum de São Paulo.”
 “Ótimo, você poderia me reservar uma mesa?”
 “Sim claro.”
 “Me diga uma coisa Ricardinho... Eu estou aqui de férias, atrás de umas gatas, você entende, não é?” O Ricardinho ficou vermelho de vergonha. Parecia desapontado, mas ao mesmo tempo um papo tão direto assim o tirou da mesmice, da monotonia da portaria.
 “Tem uma moça de uns 35 anos acabou de separar, está no quarto 18. É muito bonita e tem um corpão.” Ele dizia isso num sussurro.
 “Sei, mas fora esta recém divorciada...”
 “Verônica, Dona Verônica, um charme e muito simpática.”
 “Sim Verônica, mas muitas outras mulheres sozinhas vêm para a pousada, não?”
 Foi aí que ele deu um suspiro.
 “Seu Amaral... Se o senhor soubesse... Se o senhor soubesse...”
 “Rui, pode me chamar de Rui. Mas então me conte, estou de férias adoro histórias.”
 Foi aí que ele falou de Luana. Não disse o nome, mas a descrição e as datas era ela.    Mas eu não podia acreditar no que eu ouvia. Um garoto de 16 anos vinha visitá-la no quarto? E eles ainda saiam juntos, sempre.
 Ela era a minha melhor amiga, e eu nunca soube que ela gostasse de garotos. Pelo contrário seus grandes amores sempre foram homens mais velhos do que ela. Mesmo assim consegui saber quem era o menino. E o mistério do número 16 estava resolvido.
 Conhecendo minha amiga, este garoto deve ter relação com a investigação imobiliária. O computador de Luana foi roubado no mesmo dia em que ela se afogou logo este menino era a minha única pista naquele momento.
 A fome apertou e segui a pé pela rua principal em direção a Constantinopla, o restaurante contemporâneo do cacau.







domingo, 10 de julho de 2011

16

 Victor Montale é um jornalista investigativo. Ele é de uma família da máfia. Mas resolveu seguir a sua própria vida. Ou talvez a máfia ainda não esteja pronta para um Chefão gay. Nada lhe coloca medo, afinal ele além de muito forte, foi treinado desde pequeno para comandar o submundo do crime organizado. Mas no fundo ele é um idealista.
 Agora sua bela amiga, Luana, que escrevia uma matéria bombástica sobre a especulação imobiliária no litoral norte de São Paulo, afogou-se na praia do Cacau. Se este fato não for realmente um acidente, como disseram as autoridades, que o culpado fuja o mais rápido que puder, porque Victor está na área. Ele é o nosso detetive em ação e não está convencido do “acidente”.  

Capítulo 1.


 A praia do Cacau no litoral norte de São Paulo tem cinco mil habitantes. E no inverno recebe pouquíssimos turistas. Por isso o afogamento da minha melhor amiga, Luana, foi o assunto em todos os lares e comércio do pequeno bairro de São Sebastião.
 Eu e Luana nos conhecemos na faculdade de jornalismo. Depois de formados fomos trabalhar em diferentes jornais. Os dois maiores concorrentes de São Paulo. Anos depois acabamos na mesma revista semanal. Formamos uma dupla de repórteres investigativos.
 Eu sempre quis trabalhar com crime. Luana dizia que eu deveria ter sido policial. Um cara com um metro e noventa, cem quilos. Com propensão para violência e uma disciplina militar. Mas como eu poderia ser policia se sou filho de um dos maiores bicheiros de São Paulo.
 Sim esta é a história da minha família. Meu pai administra cabarés, jogo e toda espécie de contrabando e contravenções. Ele não se incomoda em me ver jornalista. Mesmo porque no Brasil o crime organizado não tem este senso de corporativismo que vemos nos filmes americanos.
 A verdade é que meu pai está se lixando para o que as pessoas fazem ou não. Ele se preocupa com os negócios dele e só. Aliás, como todo brasileiro hoje em dia, é um individualista.   
 Não temos uma boa relação. Acho que ele ainda não aceitou que o filho é gay. Já minha mãe e eu nos damos muito bem.
 Luana ralou muito na vida. Nunca teve retaguarda familiar. Desde a faculdade ela trabalhou. Aprendemos tudo na rua, eu e ela. E embora ela não tenha sido uma jogadora de pólo aquático como eu, tenho certeza de que ela nunca teria se afogado.
 Luana foi para a praia do Cacau, fazer uma matéria sobre especulação imobiliária. Eu deveria ter ido junto. Mas uma coisa me segurou em São Paulo.
  Uma coisa que atende pelo nome de Fernando. E que eu sou apaixonado há mais de seis anos. Seis anos? Não, mais. Já vão fazer oito.
 Meu último telefonema com Luana, ela me disse que estava avançada na investigação, porém tinha achado outra coisa com a qual investigar e escrever. Disse-me que o novo texto se chamava Dezesseis.
 Dezesseis? 16? O que poderia ser? Algo que ela teria descoberto.  Sobre inúmeras denuncias de fiscalização da prefeitura? As obras estavam sendo feitas com irregularidades.
 Na verdade sempre foram, mas agora a coisa tinha se acelerado de tal forma que se não fossem reveladas para a sociedade o litoral norte de São Paulo corria sérios riscos de desaparecer.
 Sumir num conceito elitista. O “paraíso” de veraneio. Por isso quando pensamos na matéria, queríamos abordar de outra forma também.Um outro lado. Mostrar não só a parte criminal, mas também polemizar em relação as ideologias estéticas e ecológicas. Estas que sempre foram pré definidas há décadas assim como os infindáveis puxadinhos.
 Sim o Brasil é o país dos puxadinhos. E das praias também. E no Cacau haviam as duas coisas juntas. O mais estranho é que não se mata assim tão rápido alguém que investiga o meio imobiliário. O que Luana teria achado ou esbarrado?  
 Eu no meu egoísmo estava tão entusiasmado em contar as minhas eternas desventuras amorosas com o Fernando que nem a ouvi direito quando ela tentou me explicar. Este telefonema foi no dia anterior dela ser encontrada morta. Ela vestia um biquíni.
 Uma senhora disse que caminhava pouco antes do almoço pela praia e teria avistado uma moça estendida na areia tomando sol. A senhora achou que Luana estava numa posição estranha e ao chegar mais perto notou que minha amiga havia se afogado. Chamou a polícia dali mesmo pelo celular.
 A praia estava deserta, embora com o céu completamente azul, mas é inverno. E soprava um vento gelado neste dia.
 No litoral todas as mortes são vinculadas a drogas. A pessoa que morre sempre é usuária ou traficante. O delegado constatou um acidente. Mais um afogamento no mexido mar de inverno.
 “Uma turista deveria evitar nadar na água fria e num lugar deserto. Uma fatalidade para a família. Uma moça tão jovem e bonita”.
 É o que ele teria declarado. Eu avisei meu editor que eu precisava pensar na vida. Que eu estava abalado com a morte de Luana e pedi umas férias. Ele entendeu na hora. O que ele não sabe é que eu segui para a praia do Cacau.
 Luana é minha melhor amiga. Droga! Era a minha melhor amiga. Embora eu não tenha nada de afetado. Não se pode dizer que eu seja um gay convencional eu tenho algumas características ou estereotipo. Meu melhor amigo era uma garota.
 Por isso eu sei tudo da vida de Luana. São mais de dez anos de convivência. Se existe alguém para descobrir o que teria acontecido com ela, este era Victor. Ou melhor dizendo, Victor Montale, eu.
 Ao me registrar na pousada, a mesma em que Luana ficou eu não me identifiquei como jornalista e nem tão pouco insinuei saber do “acidente” de três dias atrás.
 O corpo de Luana fora para São Paulo e pouco depois de uma rápida perícia, liberado para o enterro. Não quero dizer o quanto isto foi triste e nem a quantidade de pessoas que compareceram. Luana era simplesmente amada. Claro, absurdamente inteligente, charmosa e linda. Não estou brincando não. Ela nunca passou despercebida.
 Luana é até hoje a mulher mais elegante e sensual que já conheci. Se eu gostasse... Juro que a teria pedido em casamento. Mas como dizem: Meu time é outro.
 Depois de me identificar como um empresário e surfista de férias. Dando um nome e documentos falsos, segui para o quarto. Ainda tinha um final de tarde e eu queria me trocar para conhecer este mar que levou a minha amiga embora. Aliás, minha única amiga.









sábado, 2 de julho de 2011

The girl from Nebraska.


 Dizem que Ava Gardner foi descoberta na rua. E se tornou alem de estrela de Hollywood o sonho de pelo menos duas gerações de homens e com certeza de algumas mulheres também. Inclusive o meu.
 Acontece que depois de duas semanas na Califórnia, forno quente em espanhol, eu já começava a acreditar que Los Angeles é um lugar decadente, habitado por pessoas com sobrepeso, derretidas, feias e mal vestidas.
 Finalmente encontrei uma espécie de café, que me pareceu ao mesmo tempo belo e com um toque de humor.     
 Eram duas da tarde, logo havia apenas uma mesa. Uma menina de óculos me sorriu atrás do balcão e disse, em inglês claro:
 “Onde você quiser”.
 Leitor, esta menina, saiu de trás do balcão e veio atravessando o salão em minha direção no jeito mais lânguido que já vi. Ela deslizava como numa tomada de cena de um filme, perfeita. Como a melhor tomada de cinqüenta, oitenta vezes. 
AÇÃO!
 “Você é realmente campeão mundial de frisbee?”
 Ela disse isso sem nenhuma pressa. E no mesmo instante eu pensei: “Encontrei.” Encontrei a loucura da Califórnia. A transgressão, a arte, o cinema... Tudo em apenas uma única frase.
 Frisbee? Que diabo é frisbee? Pensei. E me lembrei da camiseta que eu vestia. Sou realmente um brazuca. Vestia uma camiseta envelhecida artificialmente, que dizia ser eu vencedor do campeonato mundial de frisbee em 1979.
 A verdade é que apesar da minha altura não ser large a minha largura é. Logo eu tinha comprado àquela droga de camiseta porque outras tantas dez não haviam servido.
 “Não. Não sou não. É só...”
 Ela sorriu claro que estava me gozando.
 “O que você me sugere?”
 “Para café da manhã, almoço ou jantar?”
 Achei tratar-se de outra gozação, afinal eram duas da tarde. Mas percebi que não.
 Então veio um prato que era uma mistura de carne, espinafre, pimentões e cebolas. Na verdade dentro de uma tigela, tudo realmente misturado. E uma limonada. Depois ela me trouxe uma pimenta. E disse com sua voz sensual e tranqüila.
 “Feita aqui mesmo em Venice.”
 Falou de um jeito que Venice o bairro ficou mais charmoso do que Veneza a cidade.
 “De onde você é?” Ela quis saber.
 “De onde você acha?” Eu devolvi.
 “Continue falando.” E continuei.
 “Russo!”
 Russo? Acho que vi uns dois ou três Russos na vida, mas acho que eu não pareço um Eslavo. De maneira nenhuma.
 “Acertou.” Eu não gosto de desapontar as pessoas, depois os Russos não são mais inimigos da América há alguns anos.
 “E você?”
 “Eu sou de Nebraska”.
 “De Lincoln?”
 Ela não podia acreditar que aquele Russo pudesse conhecer a cidade de Lincoln. Fechou a mão e fez um “Yes!”
 “Mas não. Eu sou de uma pequena cidade de 400 habitantes”.
 Foi então que eu reconheci a música de Tom Jobim que estava tocando.
 “Olha que coisa mais linda que vem e que trás,
 Esta limonada
 A caminho de Santa Monica..."
 Isso foi no último dia de viagem. Porque se não fosse eu levaria meu violão lá todos os dias e cantaria, para aquela Deusa de óculos. A garota de Nebraska. 
 Isto foi em junho e ela disse ter chegado em L.A. apenas em janeiro.
 Ou seja, se esta garçonete se tornar uma estrela, porque ela inclusive já é, eu vou poder dizer que fui eu quem a descobriu.
 E quando eu menos esperava, ela veio com um outro copo de limonada. E disse agora como uma garota da fazenda.
 “Beba tudo. Você vai precisar.”
 CORTA!
  Perfeito. Ou melhor, perfeita!
 E aquele sussurro vai ficar para sempre nos meus ouvidos. Close da câmera nos lábios:
 “Venice”.