quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Mulheres que eu conheci.

Eu queria chamar este post de: “Mulheres interessantes”.
 Mas dai pensei. Interessantes para quem? Então vou fazer assim, chamar de: “Mulheres que eu conheci”.  Vou trocar os nomes de umas com as outras, assim, talvez só elas mesmas, se vierem a ler, saberão de quem falo. Afinal ninguém quer ser exposto, né?Mesmo porque, na verdade são mulheres que nem existem de fato, são construções em cima de mulheres de fato, mas sempre exagerando um ponto aqui, tirando um defeito acolá... Misturando lembranças, paixões, risadas e épocas:





1-    ISABELA.



 A primeira vez que vi Isabela, ela estava descalça com um vestidinho estampando, destes leves de verão, em cima de uma mesa de boteco nos jardins, a cantar Cartola em Francês.
 Morena jambo, depois descobri que era do Mato Grosso, daquele lá mais longe, o do “norte”, de uma tal Cuiabá. Ela dizia descender de índios. Como não conheço índios, na minha fantasia, ela me parecia alguém às vezes do Paquistão, às vezes do Sul da Espanha, tinha um rosto exótico, bem exótico. Sorria o tempo todo.
 Mas embora fosse bem doida e boêmia, Isabela acordava cedo. Era empreendedora. Seu forte era cozinha europeia.  Havia vivido em Paris. Ela sorria muito. Mas sua felicidade era um pouco como a do samba, um sorriso com uma melancolia.
 Era um equilíbrio entre mentalidade europeia, e a selvageria do Pantanal.








2-    JANAÍNA.



 Eu vi uma moleca na pista de dança. Ela dançava meio com os olhos fechados, como alguém que ouvi a música e imagina paisagens.
 Achei que ela, Janaína, tivesse uns 17 anos. Mas tinha 20. Dei uma carona de volta pra casa dela, e ela esqueceu o RG no meu carro. Dias depois marcamos um almoço para eu lhe devolver o documento.
 Janaína tinha os cabelos curtos, era bonita, mas o que chamava a atenção era o seu nariz. Lindo. Falamos de cocaína, pintura, ela era estudante de artes plásticas, e de mulheres. Janaína gostava muito de mulheres.
 O segundo encontro foi num bar na Rua Augusta. Ela tomava Cosmopolitan e eu cerveja e cachaça. Falamos da sua ex namorada. Era final de um feriado, fui deixa-la em casa, na porta ela me deu um beijo, dos melhores da minha vida, e me perguntou o porquê eu de não a ter levado para minha casa.
 No terceiro encontro, eu estraguei tudo. A coloquei na parede, a questionei deste negócio de ela gostar de mulheres. Perguntei onde eu ficava na estória. Enfim, o que era para ter sido uma curtição foi uma troca de gêneros onde a menina era eu. Mal tínhamos transado e eu querendo saber das intenções dela. Mas que nariz! Que perfil!
 Teríamos sido grandes amigos. Em outras circunstâncias. No fundo o que não deu certo, foi à diferença de idade.







3-    GABRIELA.



 Um casal, um amigo meu e sua namorada, resolveram me apresentar à irmã dela. Marcamos num bar, estes bares que já na época faziam drinks clássicos. Na verdade a ideia surgiu por sermos todos de ascendência Libanesa. E para ser sincero talvez isso fosse a única coisa que tínhamos em comum.
 No primeiro encontro correu tudo bem, a menina, não era lá muito alta, mas tão pouco baixa, eu é que tenho uma preferência pelas altas. Mas era muito bonita. Parecia muito mais uma Inglesa de comportamento, e também na pele, no cabelo, e uma francesa no estilo, do que o estereótipo da Libanesa.
 Gabriela nunca tivera uma calça jeans, segundo ela mesma. Ela criava vestidos de alta costura. Mas não tinha aquela afetação da moda. Era uma artista de verdade, se é que moda é arte. Mas ela era extremamente ambiciosa artisticamente. Levava sua profissão muito a sério. Mas sem perder a elegância, seus gestos, seus olhos, a maneira de falar, eram de uma mulher madura, que sabe o que quer.
 Aconteceu que ela ficou bem mais interessada em mim, do que eu nela. Acho que o negócio de não ter a calça jeans, não me caiu bem. Era muita sofisticação para mim. E me sentia mal vestido o tempo todo. Adoro champanhe, mas também quero tomar cerveja, ir à Vila madalena. E a verdade, embora muito gente ria disso, me considero um hippie.
 Sou muito mais anos 60, do que anos 50. E Gabriela era a consagração dos anos dourados. Eu era Tropicália, e ela JK. Eu era Woody Stock e ela Bossa Nova. Eu era Avenida Paulista e ela Copacabana Palace. 
 James Bond adoraria Gabriela. No final, das contas, eu fiquei no meu provincianismo e ela seguiu.
 Anos depois a encontrei no supermercado. A mesma elegância. Ela estava morando num dos prédios mais charmosos de São Paulo, um que eu amo. É porque eu sou anos Sessenta na alma, mas sou apaixonado pelos prédios paulistas dos anos 50.
 Demorei um tempão, mas acabei descobrindo, que sim, eu e Gabriela temos gostos em comum.








 4-    HELO.



 Franzisca era uma alemãzinha, que adorava capoeira, samba, praia, açaí e bicicleta. Estávamos já no segundo encontro, e eu sentia que algo estava travado.
 Tínhamos ido almoçar na Liberdade, era um sábado de calor. Depois acabamos numa festa na Vila Madalena. Franzisca impressionava tanto homens quanto mulheres. Era muito charmosa e carismática. Também uma alemãzinha, falando português com sotaque, e vestindo-se como uma carioca, atraiu muitos olhares na festa.   
 Um dos olhares foi de Helo. Uma mulher de 30 anos, um avião. Saca mulherão¿ Voz, corpo, maturidade, uma leoa.
 Acho que Helo se impressionou por eu estar com Franzisca. Tipo: “ Este Leo ai deve ser bom”. Ou talvez ela estivesse a fim do casal.
 O Fato é que dias depois, marcamos um encontro, eu e Helo.
 E a Alemã? Não sei, mas acho que eu não era o tipo dela.
 Helo e eu fomos encontrar uma turma bem divertida. Aniversário de um amigo gay, com muitos gays, que adoram as imitações de Helo. Todos riram um bocado com ela.
 Ela era do tipo mulher engraçada, tipo estas do Stand Up. Que vivem no limite da vulgaridade.
 Helo nunca deu nenhuma dentro comigo, mas seu discurso parecia tão honesto que eu não ligava.
 Primeiro disse que odiava Teatro. Helo era diretora de TV. Depois vir a descobrir que ela é irmã de uma amiga atriz. Atriz de teatro.
 Helo dizia que queria só sexo e nada mais. Que fora casada por oito longos anos, e agora queria se divertir. Estava numa fase de curtição.  Viemos pra casa, fizemos um amor intenso. E ela poucos minutos depois, disse que iria me deixar dormir tranquilo. Como ela quem estava de carro, só fiz foi acompanha-la até o carro.
 Bem vindo ao século 21 Leo.
 O que afinal Helo tem de interessante? Já disse, é um mulherão.  Melhor dizendo, Helo é um caso antropológico. Ela tem toda uma estética brasileira, ginga, sensualidade, lembra demais destas cantoras sapatas de MPB, demais.
 Ela é a famosa garota do Bar.
 A rainha do bar. E me fez um favor, ninguém acorda com a rainha do Bar. Seria muita pretensão da minha parte.


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5-    CAMILA.




  Liguei para minha amiga Suzana, convidado pra passar à tarde de sábado comigo. Ela disse que não poderia, mas a irmãzinha dela, Camila, estava louca por uma companhia para ir junto comprar um vestido de formatura da escola, do colegial.  
 Nesta época eu já passara dos 30. Conhecia Camila, porque a vira certa vez num jantar que Suzana fizera para os amigos. Na época do jantar, a jovem com agora 19 anos, tinha 15. Vestia uma jardineira jeans. E me lembro dela ter me chamado muito a atenção no meio daquelas 20 pessoas.
 Camila me serviu almoço e começou a falar como uma metralhadora. Era um doce. Fomos à galeria Ouro Fino comprar o vestido. Ao deixá-la em casa, depois de falarmos de teatro, artes, e montão de coisas mais.
 Quando ela desceu eu pensei: “Nossa! Nunca mais vou ficar com uma menina de 19 anos. Ainda mais porque eu tenho 32”.  
 Lá se vão quase dez anos. E eu achando que era um senhor.
 O encontro veio, fomos ao Bar Balcão, e a menina conhecia tanto rock clássico dos anos 60, e artistas plásticos dos anos 60. E tinha um All Star azul, uns peitos que depois vim a descobrir que faziam jus a propaganda da irmã Suzana sobre os mesmos. Minha irmã tem os peitos mais lindos que eu conheço. Ela dizia. Que por conta disso mais um pouco de álcool me apaixonei.
 Esta sim, bem alta. Mais do que eu. Tempos depois fomos para fazenda dela. Ela selou os cavalos e de posse de chapéu, me colocou em cima de um cavalo e fomos tocar gado. Foi a primeira vez que eu toquei gado na vida. E por enquanto a única.
 Depois Camila, tirou as selas lavou e alimentou os cavalos.  
 Nunca entendi bem Camila. Quem a visse na fazenda acharia que ela era quase um Vaqueiro. Mas me dizia que gostava mesmo era de Nova Iorque.
 A louca mais suave que eu já conheci.  Na manhã seguinte me levou dar milhos aos fofos carneirinhos.
 À noite, no jantar da fazenda elogiei a carne. Para minha surpresa, Camila me disse que eram os carneirinhos. Os mesmos que horas antes tínhamos dado milho para eles comerem.








6-    FERNANDA.



 Ela era morena de cabelos cacheados e olhos verdes. Mais velha que eu alguns anos, mas só na idade, não na aparência. Viera do interior, para cursar Direito em São Paulo.
 E me dizia que depois de refletir muito, tomara uma decisão. Iria fazer uma revolução para acabar com os Burgueses do mundo. Era rica de pai e mãe. Geralmente os comunistas são ricos.
 Me explicou o quanto as presas (presidiárias) eram exploradas, e mal tratadas. De como a mídia deveria ser cerceada. Me levou na casa de Espanhóis comunistas, células revolucionarias, discutíamos arte. Ela dizia que arte não deveria ser burguesa.  Deveria servir ao povo.
 O primeiro desentendimento foi em relação ao sexo. Eu transava como burguês, segundo ela. E isso não queria dizer que eu era machista.
 E sim que eu deveria gritar mais, aceitar fio terra, enfim... Desempenhar sei lá que papel, que personagem.
 Fora este pequeno desentendimento, o resto eu aceitava, porque ela era convincente.
 Mas acho que ela me achava um frouxo. Minha época de marxista, sempre foi muito frágil.
 Não me empolguei com a ideia de colocar tijolos em escolas do MST.
 Afinal nunca fui burguês. Sempre fui artista. Tempos atrás, soube que Fernanda agora está com a missão de acabar com o cigarro no mundo.
 Às vezes acho que ela é a reencarnação da Maria Bonita, ou da Olga Benário.







7-    JULIE.


 Uma Chinesinha- Norte Americana. Nascida em Taiwan, criada em Boston. Julie nos anos 90 era a traficante da faculdade onde eu morava em Boston. Ela reciclava as coisas. Na época eu nem entendia o que era aquilo. Afinal nem internet existia.
 Logo no começo ela explicou, eu tenho que ser má, se não, não me respeitam. Comigo ela nunca foi má.
 O primeiro encontro foi o dia das Bruxas. Fomos até Salém, no dia das bruxas. Muitas fogueiras, pessoas de preto, e uma maconha muito forte que ela me deu. Na volta eu ria muito no carro. Quer dizer, meus músculos riam, não havia graça nenhuma em nada. Ou se havia, era um outro código.
 Chegamos no dormitório feminino. Fazia muito frio. A menina que dividia o quarto com Julie estava fora da cidade. Logo ela me convidou para ficar.
 Fui para a outra cama, no que ela disse que se fosse para eu dormir na cama da colega, era melhor eu ir embora. Nos juntamos na mesma cama. A dela, com vista para o bosque. Eu ia no banheiro do dormitório cheio de meninas.
 Combinamos em fugir para Londres no dia de Ação de Graças, já que ela dizia que Chinês não comemorava esta data. Naqueles tempos, creio que ainda hoje, Boston- Londres era bem em conta. Menos que uma ponte área Rio- SP.
 Mas Julie acabou me dando o Bolo. O que também foi bom. Imagine ir para Londres com uma dealer?
 Acho que Julie foi uma das pessoas mais alternativas que já conheci. Tudo nela alternativo. O modo de encarar a vida, de curtir, de descobrir. Mas nada nela era politizada.
 Ela era visionária. E eu estava numa época de descobrir o mundo. Minha vida inteira eu quis ser polícia.
 Hoje penso, na minha fantasia, que Julie não era uma policial infiltrada.
 Isso explicaria o interesse em um Brasileiro, que dividia o quarto com um Colombiano. Este, por sua vez me dizia que sua família, estava no ramo de laboratórios farmacêuticos, lá na Colômbia.

 Foram muitas noites, dormindo no aquecimento, ouvindo Shakira, com vista para o gélido bosque, no quarto da chinesinha Julie. Ah! Os anos 90!