segunda-feira, 20 de setembro de 2010

De livre espontânea vontade

Uma história real




O noivo



Ele e seus pais tinham perdido à hora da igreja, logo iriam direto para festa no bufett. Pegaram sua namorada e lá se foram perfumados e em trajes de gala. Avistou o primo distante, não tinha como errar, era o único vestido de noivo.

Por um minuto se surpreendeu que o primo não estivesse tão calvo (carequinha), e bem mais magro.

O noivo por sua vez pareceu não reconhecê-lo. Apresentou sua namorada à noiva, bom a noiva não era parente e só ria. Um conhecido se aproximou e quis saber como ele estava no casamento, qual era a filiação, o conhecimento, enfim a relação dele com o casamento:

-Hora o noivo é meu primo.

-Você é primo do Feirnman?

-Não. Eu sou primo do noivo.

Ele seguiu de mãos dadas com a namorada à procura do pai e da mãe, esses já tinham pegado uma mesa e conversavam alegremente com os outros convidados. Mas onde estavam os parentes conhecidos? De repente se deu conta.

-Mãe, o Jocão tem apelido de Feirnman? Foi aí que a mãe olhou em volta, fechou o sorriso e falou no ouvido do pai. Esse por sua vez também ficou sério largou o uísque e em segundos estavam pedindo o carro no vallet.

Já no carro a mãe olhou o convite, era o lugar certo, mas o dia errado. O casamento havia sido um dia antes.



A noiva



Lá estava eu numa igreja linda, sentado naqueles bancos desconfortáveis. Feio dizer isso, mas no catolicismo se os bancos da igreja são esses, imagine os de lá de dentro da terra. Casamentos nunca dão errado. Digo sofremos, mas a trama sempre acaba bem.

Aquela música clássica, coral, flores e eis que naquele lugar de figuras masculinas mal-humoradas (os santos), entra a noiva. Um casamento é a vingança das mulheres, porque ninguém está nem aí para o noivo. A noiva é a protagonista. É o feminino dominando o pedaço.

E nesse dia a noiva era realmente um espetáculo, e antes daquele sim no microfone, aquele: “Aceito, na saúde e na doença”. Eis que uma outra linda jovem grita:

-Não case Marta. (Pausa). - Não se case Marta.

Só tinha visto aquilo em filme, alias nem em filme. Uma menina pedindo à noiva que não se case?

Uma pausa, um silencio. Quebrado de novo pela jovem:

-Eu te amo Marta.

E do meio da igreja, um rapaz magro e feio também se levanta e diz:

-Marta não se case com ele.

Eu nessa hora pensei, quantos apaixonados têm essa Marta? Deve ser horrível ver alguém que se ama casar com outro. E ele continuou:

Não se case Marta. Eu te amo Alberto!

Aí o padre parou. Aí o mundo parou. Aí eu juro que eu vi os santos sorrirem. Os bancos ficaram mais confortáveis.

Marta saiu correndo e abraçou Joana e se beijaram. Alberto gritava do altar:

-Ta louca? Ta louca? Ta louca?

E depois saiu correndo. Não entendi se a louca era Marta ou outro rapaz magro e feio.





Epílogo



Mas a família não desanimou, e não sei por que motivo, se os trajes, a lua, a economia indo bem, que o pai, ainda no carro, teve a idéia de ir jantar no Fasano. Os funcionários do fino restaurante acharam se tratar de gente interiorana ao verem todos com roupa de festa.

Isso tudo leitor não é ficção. Aconteceu de verdade. Ok os santos não sorriram. Aumentei, mas o resto é real.

Brindamos ao primo Jocão. Olhei um homem na mesa ao lado e o reconheci. Era Chico Buarque de Holanda e esse sorria. De livre espontânea vontade.