domingo, 11 de setembro de 2011

Me conta uma história.


  “Leo me conta uma história”.
 Eu estava ali com aquela menina ouvindo o mar. No meu quarto em Juquehy.
 A luz da lua entrando e eu completamente apaixonado. Mas e agora?
 Não era a primeira vez que uma menina me pedia uma história. Minha sobrinha sempre me pede. Acontece que a minha sobrinha tem 3 anos. E acredito que ela se prende mais aos gestos e sons improvisados que eu faço, do que na trama propriamente dita.
 E como minha sobrinha não tem ainda um repertório grande, ela nem pode saber se a minha história é realmente boa.
 Mas a outra menina, não a sobrinha, mas a de 1,77 metros virou-se e ficou me olhando:
 “E então? Conte-me uma história pra eu dormir.”
 E agora Leo? Você diz que cantar não sabe. Não escreve poesia, não pinta nem toca violão. Logo ou você diz que está cansado e prepara um super almoço amanhã, finja ser um grande Chef, ou pense logo numa história. Sem nada é que não dá para ficar. 
 Não que eu não saiba muitas histórias, mas eu precisava uma original. Não quero que ela se apaixone por um outro escritor, mesmo se for um morto. Respirei fundo e me lembrei de uma história. Mas uma história que aconteceu ali mesmo em Juquehy. Me lembrei? 
 “Eu estava com o meu amigo Teco, no carrinho de coco dele. Eu já tinha andado a praia toda e agora estava sentado numa cadeira de praia com ele ao meu lado e ambos víamos o mar, num lindo domingo azul.
 O movimento do carrinho estava devagar, pois era inverno. Dois casais se aproximam. Eram quatro jovens na casa dos 20 ou dezoito. Vinham de mãos dadas. Um menino com um corpo perfeito, sem gordura, alto e uma menina mais baixa, também maravilhosa se aproximaram, enquanto o outro casal ficou um passo para trás. 
 -Quanto é o coco? Perguntou o rapaz. No que Teco respondeu 4 reais. -Eu quero 4 cocos, mas vou pagar só 10 reais. É melhor você aceitar os 10 porque você não vai vender mais nada hoje e vai acabar jogando os cocos fora.
 O rapaz ia dizendo estas teorias econômicas de mercado e Teco ia retrucando que não, que os cocos eram 4 reais cada um. -Dezesseis reais. Se não eu não tenho lucro. 
 Eu percebi que quanto mais o rapaz falava mais a menina ficava sem graça. E notei ainda mais. Pelo jeito de falar, os modos e o tom de voz, percebi que se tratavam não de classe média alta, mas de classe alta mesmo.
 O rapaz queria impressionar a garota, como se ele estivesse negociando milhões. O outro casal ficava apático ao lado só observando. Mas durante as negociações que já se estendiam e o rapaz já ia querer ensinar matemática financeira ao Teco, o outro rapaz tirou vinte reais do bolso da bermuda e disse:
 -To fica aí com o troco. Teco então guardou o dinheiro, sorriu e cortou os cocos.”
 Minha amiga me interrompeu:
 “Teco é aquele cara meio surfista que você conversou no carrinho de coco hoje?”
 “É ele mesmo.”
 “Um que tava com uma menina sarada e bronzeada bem bonita?”
 “Esta é a menina que estava com o rapaz do coco.”
 “Então ela largou o carinha mauricinho e agora está com o vendedor de coco?”
 “Isso. Não é uma história de amor linda?” Eu perguntei.
 “Não.” Ela disse.
 “Como não? A patricinha gostar de um cara duro e não de mauricinho? Não é bonito isso?” Eu quis saber.
 “Leo, isto aí não é uma história. É uma fofoca.”
 Minha amiga então se virou puxou o cobertor e disse baixinho.
 “Boa noite Leo. História de amor... Até parece.”
 Mas daí já era tarde demais. E eu não consegui dizer a verdade.
 Que nunca vi nenhum Teco. Nem conhecia o cara do carrinho hoje. Nem a menina bronzeada. Nem nunca vi casais de mauricinhos, comprando coco. E nem sei teorias econômicas.
 E pensei em silencio: O que eu queria menina era me acertar com você. Igual o cara com a menina bronzeada que vimos hoje. Os dois riam, e ninguém nem comprava coco nenhum.
 Juventude, beleza, praia e céu azul já bastam para uma história de amor. Trama pra que? 
 E já no escuro ouvi:
 “Leo eu gosto de você. Mas ainda quero saber o fim desta história.”
 Eu também. Eu também quero menina. E nela você é a protagonista. Minha protagonista.
 E antes de dormir ainda mandei um torpedo pra minha tia.
 “Querida tia, amanhã logo cedo vou te ligar pra saber a receita daquele peixe. Caso de vida ou morte.”
 E no dia seguinte depois do almoço.
 “Leo, suas histórias são ruins, mas já o seu peixe... Delicioso.”
 Será que ela soube que eu atravessei a rua e peguei o prato pronto com o Chef de cozinha do meu restaurante? Que não fui eu, nem minha tia? Essa que aliás sumiu.  
 Então ela suspirou e disse:
 “Depois deste almoço me deu um sono". Bocejou, virou o rosto pra mim:
 "Me conta outra história para eu dormir a sesta?”
 “Não prefere uma massagem no pé?”
 “Pode ser." Fui indo pegar o pé dela.
 "Pode ser uma massagem com histórias." 
 Ufa! Leo, ou bem você começa a cozinhar ou arrume mulheres menos lindas e mandonas. E pra minha sorte, acho que ela não conhecia Giovanni Boccaccio. Ou fingiu não conhecer.
 “Que histórias lindas Leo! Eu não vou nem dormir para ouvir o final.”
 “No final ela lava a louça.”
  E ambos rimos. Ouvindo jazz e vendo o mar.