sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Paradoxo de Emília

Certa vez numa palestra da escritora Tatiana Belinky, a primeira autora e adaptadora da obra de Monteiro Lobato para a televisão, ela perguntou para a platéia:


“Vocês sabem quem era o Monteiro Lobato?”

E logo em seguida ela mesma respondeu.

“Monteiro Lobato é a Emília”.

Ontem li para a minha sobrinha a história de Ariel, uma princesa sereia que se apaixona por Eric, um príncipe. Venho aprendendo muito com minha sobrinha sobre o universo feminino. Eu não tive irmã. Sobre Branca de Neve e outras ditas princesas meninas. Aprendi que essas princesas vão à luta. No caso de Ariel, ela é quem vê e vai atrás do tal príncipe, esse que não diz ao que veio. A única qualidade dele é a beleza. Mas ela a sereiazinha fica obcecada por ele e se dispõe a qualquer prova para telo.

Eu assim como minha sobrinha me identifico muito mais com Ariel do que com o príncipe.

Certa vez no colegial eu contava as minhas inúmeras piadas para as pessoas numa roda, quando se aproximou “Boquinha”, que era um outro estudante e me deu uma cabeçada. Ele tinha o meu peso e o meu tamanho. Foi um golpe totalmente gratuito e que me pegou de surpresa, porem o coloquei no chão e quando ia dar um chute na cabeça dele, fiz tanta força que me desequilibrei e cai. A briga foi parar na diretoria.

Meu nariz, eu tenho quase certeza ficou torto desde então. Para a diretora, “Boquinha” alegou que havia me batido, pois eu era bonito, segundo ele. E ele feio, segundo também ele. A diretora se sensibilizou com o desgraçado.

Logo eu que pra falar a verdade ultimamente notei que tenho sim uma cabeça de Cearense Também minha mãe deu pra repetir isso...

“Você fala sempre do lado libanês, italiano e o cearense? Você tem vergonha?”

“Não mãe, eu não tenho”.

Ando notando também que uma das faces do meu rosto é maior que a outra. Mas sempre esqueço se é à direita ou à esquerda.

Voltando, talvez a mulher que eu mais gostei na vida, é muito mais parecida com uma Emília do que com uma princesa. Alias, eu me apaixono por meninas Emílias, por clowns e não por princesas. Defeitos, excentricidades, humor, loucura e talento me atraem.

E princesas nunca são cantoras, nem atrizes, nem bailarinas e escritoras. Não digo isso por dizer não. Penso e sinto assim.

Claro que se eu pegar uma princesa será um triunfo e quando algumas falam comigo eu travo.

Mas as Emílias... Ah! As Emílias são e sempre serão as verdadeiras protagonistas. Pouco ou nada sei sobre a Narizinho. O Pedrinho eu conheço bem até demais.

Aquele dia o “Boquinha” mentiu. Ele não me agrediu porque eu era um príncipe e sim porque eu era uma Emília. As pessoas aturam e gostam de príncipes, mas Emílias incomodam.

Aquele chute? Um príncipe não teria dado um chute no Boquinha. Mas eu não sou príncipe. Por outro lado eu sou super coordenado. Como eu fui cair? Por que eu errei aquele chute?

Bem Seu Boquinha imbecil, se você ainda estiver vivo, espero que não esteja, saiba que eu tenho 36 anos e já apanhei muito na vida. De mulheres principalmente. Mas nunca agredi gratuitamente nenhum ser humano.

E sei que muitos príncipes e sapos assim como você o fazem todos os dias.

A verdade é que eu tenho uma total indiferença por príncipes, princesas, bruxas, sapos e boquinhas.

Já as Emílias são toda a fonte do meu sofrimento. E das alegrias também.



P s: Não conheço tão a fundo a obra de Monteiro Lobato. Falo de Emília por memória de infância.