sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Os gêmeos anões de Nova Orleans.


 Capítulo 1.

 Primeiro vem à ótima notícia. Sim o maior empresário musical de Chicago, Frank Sttit, está na cidade e quer ver a banda. Ele disse que já ouve o nome do anão trompetista há tempos. Veio junto com Tonny Gambale, um mafioso da família Gambellini. Eles vêm dispostos a investir muito dinheiro. Eles querem levar uma banda nova para o Timbum Clube, a mais nova sensação em matéria de casa de show de Chicago. Nada melhor do que levarem a banda Bisy de Sonny Wayne, um bamba, boa praça e nada talentoso. Mas que vem chamando a atenção aqui pra estes lados do Rio Mississipi.
 Depois vem a péssima notícia, a banda está desfalcada. Sua principal e real estrela, o anão trompetista, George Morgan, noite passada foi ao cabaret da senhora, Glen Ellis e bebeu. Encheu a cara com gin, uísque e tudo mais. Ninguém a principio se preocupou, pois George apesar de pequeno era bom de copo.
 A bebida procedia do pior traficante de bebidas da região, Joe Parker, que é de quem senhora Glen compra.
 Pior no sentido qualidade. Pois Parker, apesar de ter botado uma meia dúzia de quatro ou cinco sujeitos pra dormir, era um cara bom coração.
 Já nas altas horas da madrugada, George o anão, quis experimentar uma nova moça vinda do Tennessee, a menina de 18 anos.
 Uma garota mais fortinha, que é o tipo que George gostava. Valquíria seu nome. Ela em determinada hora subiu em cima de George e quando desceu o anão apesar de um sorriso na cara não respondia aos chamados.
  Doutor, Jacó Shorter, um médico de oitenta anos, quase sessenta de profissão, por sorte estava lá também. Na companhia de Jude, uma das meninas de dona Glen. Jude era bem diferente de Valquíria, ela tinha uma beleza do sul. Mas está é outra história, voltemos ao nosso anão trompetista.
 Ao que tudo indicava, George havia enfartado.
 O médico tentou reanimar George. Mas o anão parecia não mais respirar. Ele estava branco e frio.
 “Morreu coitado.” Disse doutor Jacó.
 Jude deu sorriso. Seria a primeira vez que veria um enterro de um anão. Já Valquiria gritava de horror:
 “Matei o trompetista! E agora?”
Esconderam o corpo e não anunciaram a notícia.
 Aquilo não pegaria bem para madame Glen. Ela sempre fora muito discreta. Por isso seu cabaret era frequentado, por políticos, artistas, comerciantes tanto brancos como negros.
 Apesar de um público bem diverso, os clientes tinham a certeza de que seriam bem tratados.
Sonny Wayne, o líder da banda, foi chamado às pressas ao cabaret. Ninguém sabia o que fazer. Era uma oportunidade única. Naqueles anos 20 todos queriam tocar em Chicago nos clubes dos mafiosos. Al Capone tinha algum dos melhores.
 E agora tudo perdido, lamentava-se Sonny. Os outros, o traficante Parker, madame Glen, doutor Jacó e as pequenas Valquíria e Jude, também suspiraram, quando Sonny explicou toda a história, do empresário que estava em Nova Orlenas para assisti-lo. Aquiolo doía mais do que a amizade que ele tinha com George.
 Aliás, nem tinham amizade. De uns tempos para cá Sonny estava já de saco cheio do estrelismo e a arrogância de George. O anão vinha recebendo a maior parte dos cachês, exigindo jantares, fazendo dívidas e dizia que se Sonny não estava feliz que ele, George, tinha outros convites para outras bandas.
 Será que o anão não percebia que o talento era dele Sonny? Ninguém percebia? Bem feito George. Mas agora o que fazer? Tinham se comprometido com Frank Stitt, o homem não tinha tempo a perder. Uma coisa destas não se desmarca. Mas talvez todos ficassem comovidos com a morte de George e... Mas pensando bem, quando é que mafiosos se comovem?
 Só quando algo acontece ao dinheiro deles. Todos ali de cabeça baixa, quase um velório.
 Foi Joe, o traficante quem deu a ideia. No fundo ele estava de consciência pesada porque acreditava que talvez sua bebida tivesse algo a ver com a morte de George.
Se realmente o problema era arrumar um anão, ele conhecia um lá pros lados da Rua dos Franceses. O pequeno Herbie cabeção. Trabalhava de faxineiro, lavador de pia, num restaurante barato.
 Seria tudo muito fácil, o século vinte afinal era o século das inovações. Era só colocar Herbie no palco fingindo tocar, e um trompetista de verdade atrás das cortinas. Afinal de contas, George nem era lá grandes coisas. O que valia era a sua figura. Um anão jazzista. Aquele velório de anão teria de esperar.
 Joe, além de ser o dono da ideia, era o mais empolgado. Mas Sonny, que não passava de um artista, estava receoso:
 ”Sei não, estes caras são ligados com a máfia, se descobrem a trapaça, são capazes de acabar com a gente.”
 “Deixa de ser um negro medroso Sonny! Eu mesmo faço isso com as minhas bebidas, troco gato por lebre, e ninguém percebe.”
  A senhora Glen, deu uma risada e resmungou:
 “Ninguém percebe. Sei. Foi a sua bebida que o matou.”
 No que Parker respondeu:
 “Morreu feliz. Eu não tenho culpa do governo proibir a bebida.”
 Mas eles não tinham tempo para pequenas brigas.
 “Agora, mesmo que funcione, quem colocaremos atrás das cortinas? A coisa não pode se espalhar, porque como eu disse, se Frank ou alguém da família dos Gambellini descobre...” Sonny faz um sinal com as mãos. “Nós morremos.”
 “Tem razão teria de ser alguém bem próximo e corajoso”. Pensou a madame Glen.
 “Mas quem? Nesta cidade são todos invejosos e linguarudos. Todos querem esta oportunidade com Frank Stitt. Todos sabem que se não for a nossa banda, a Bisy, ele acaba levando outra.” Se amargurava Sonny.
 E novamente foi Joe Parker quem teve a solução.
 “Porque não chamamos o Buddy Lee?”
 Todos riram. Buddy Lee era um músico, que estava praticamente surdo, por conta da idade.
 “Sim ele é surdo, por isso mesmo ninguém mais o chama. Mas o cara é bom no Trompete.”
 Foi aí que Joe deixou escapar algo que fez Sonny sorrir.
 “Buddy no fundo mesmo surdo é talvez melhor ainda do George fora.” Parker continuou.
 “E depois ele é ótimo em improvisação. E quer saber estes italianos de Chicago nem sabe porra nenhuma de música. Vai dar tudo certo. Eu assumo o comando, é minha especialidade.”
 Madame Glen que era vivida estranhou Parker querer ajudar o pobre Sonny Wayne, que não passava de um músico negro. Seriam aqueles anos vinte mesmo fantásticos? Não. Resolveu ficar quieta, mas no fundo não sabia, quem era pior os cara de Chicago, ou a criminalidade local.
 Como todos concordaram com o plano de Joe Parker. Dispensaram as meninas, que já haviam ouvido até demais. Colocaram o corpo de George num depósito ao fundo do cabaret .
 Decidiram que Joe mandaria um de seus homens atrás de Buddy, o surdo e ele e Sonny, iriam logo buscar o Herbie Cabeção. O outro anão. 

 A continuar.