sexta-feira, 27 de maio de 2011

O assédio.


 Meu amigo Thomas me liga:
 “Assediei uma personagem de Camilo Castelo Branco!”
 “Você o que? São três da manhã.” Eu digo.
 “Desce que eu estou passando.”
  Fomos para um bar e ele me conta tudo.
 “Uma atriz foi em casa, fazer uma leitura de um texto meu. Um amigo indicou. Ela é talentosa, inteligente, pura, livre e boa de coração. Sabe uma pessoa boa? Uma personagem romântica? Uma pessoa que faz tudo correto, e todos querem se aproveitar dela? Uma menina dedicada, que não sabe o quanto é linda. Uma menina... Uma menina... Sei lá uma personagem de melodrama romântico, sabe?” Ele pergunta.
 “Mas por que Camilo Castelo Branco? E não Júlio Dinis? Ou ainda Alexandre Dumas?”
 “Não sei. Só sei que eu a assediei.”
 “E como foi este assédio? Grave? Você tentou abusar dela?” Eu querendo detalhes.
 “Não. Eu escrevi um e-mail.”
 “Escreveu o que?”
 “Débora, sabe ontem quando você disse que quando vai há um espetáculo de dança ou ainda de teatro e você tem vontade de levantar da platéia e se jogar lá. De fazer. Então Débora esta é a mesma sensação que eu tenho quando te vejo.” Vira-se para mim. “Não é grave?”
 “Olha Thomas, grave... Grave, eu não diria. É cafona. É uma cantada ruim. Mas não é assédio.”
 “Não.”
 “Andy Warhol já dizia: Estamos nisso também pelo sexo.”
 Thomas de repente fica aliviado, bebe o chope e me encara com um sorriso.
 “Sábio o Andy Warhol.” Depois fecha a cara e se vira de novo para mim. “Onde você leu isso do Andy Warhol?”
 Eu não me lembrava mais. Nem se era do Andy, nem se era verdade. Me deu foi um sono.
 “É mesmo. Eu lembrei! É do Andy mesmo.” Disse o Thomas.
 Me levantei e fui pagar a conta. A menina do caixa estava com uma maquiagem muito bem feita. Cabelos presos e lindos olhos azuis. Quer dizer verdes. Lindos. Então eu digo.
 “Estes olhos lindos são de verdade?” Ela balança a cabeça, não sorri e responde.
 “São”.
 “Parabéns.” Por fim eu falo. Depois percebo que ela embora tenha se contido por fora, ela amou o elogio por dentro.
 Minha sorte foi ela não me perguntar:
 “E este Thomas é de verdade ou é um personagem que você inventou?”
 Não, ele não é de verdade. Eu inventei. Fui eu que escrevi aquilo para atriz. E provavelmente ela não é a pequena pastora das “Pupilas do senhor reitor.” Nem é menina, é uma mulher séria e determinada.
 Chegando ao carro Thomas me disse:
 “Leo se você pretende ser um grande dramaturgo vá se acostumando. As atrizes não vão se apaixonar por você. E os personagens são tão delas quanto seu.” No que eu me defendo:
 “Thomas a cantada seria muito boa se fosse dentro de uma peça.”
 DEBÓRA- Quando eu vou ao teatro ou a um espetáculo de dança, me dá uma vontade de levantar e me juntar a eles.
 ROBERTO- E eu quando vejo a tua boca Débi, me dá uma vontade de.... (Débora beija Roberto.)
 Thomas depois de ouvir.
 “Posso te perguntar uma coisa Leo?”
 “Claro Thomas.”
 “Você já pensou em escrever comédias?”
 “O tempo todo.”