quinta-feira, 3 de março de 2011

O banho da cunhadinha



 “Minha irmã vem do Rio vai passar uns dias aqui. Quer dizer, tudo bem pra você Leo?”
 Eu faço uma cara neutra, fingindo que no íntimo acho que aquela mulher, ou ainda aquela menina gatíssima da minha cunhada, vá me trazer algum aborrecimento e desgosto. Alguém já ouviu piada de cunhada? Se as sogras se parecessem com as cunhadas o mundo seria muito mais tranqüilo, ou melhor dizendo... Acho que não seria não.
 “Sua irmã?”
 “É a Paulinha.”
 Só de ouvir o nome da minha cunhada eu fico arrepiado. Mas leitora antes de me condenar e chamar de machista italiano, veja bem a minha namorada é linda, inteligente, meiga, fiel, charmosa, estilosa é a mulher ideal.
 Agora imagine todos estes atributos numa menina quatro anos mais nova e que eu nem se quer posso cantá-la.
 A famosa impossibilidade do amor, como diz um amigo meu. Abro a porta e lá está ela, me abraça apertado. Passa a mão no meu cabelo, me dá um beijo melado no rosto. Tira um vinho e diz que estava morrendo de saudades do “irmãozinho” que ela ama tanto.
 “Vamos tomando este vinho enquanto a gente espera a Marina, votar do trabalho.”
 “Foi boa a viagem?” Falo isso enquanto levo a mala dela para o quarto de hospede, bem ao lado do meu quarto e da Marina.
 Diga-me leitora como conversar e ser você mesmo com uma menina que tem toda a genética que você adora e a cada cinco minutos te pergunta:
 “Quem você acha que é mais gorda eu ou a Marina?” E levanta a blusa e me mostra a barriga.
  “Diga sinceramente Leo, você acha que eu engordei? Qual cabelo tem mais brilho, o meu ou da Marina?”
 Será que essa é a vida dos padres? É óbvio que ela está me provocando.
 No dia seguinte vem um acontecimento que nenhum juiz homem hetero me condenaria. Paulinha vem de toalha na sala sorrindo e me diz:
 “Leo me ajuda eu não consigo ligar a água quente do banho.”
 Eu acho que um homem que tem uma namorada filha única ou ainda só com irmãos também homens, é muito feliz.
 A questão da dúvida então é cruel. Dúvida de não saber se aquela ninfeta maravilhosa daria para você ou não pelo contrário, não tem nada a ver. Ou ainda só tem a ver porque ela tem um tesãonzinho no cunhado, você Leo. Meu Deus!
 Como alguém pode não conseguir ligar a água quente? Vou saindo do banheiro e ela diz ainda:
 “Fica por aqui, vai que a água esfrie de novo.”
 “Paulinha... Fica por aqui onde?”
 Pausa. Encaramos-nos ela sorri e depois.
 “Leo eu estou te incomodando, né? Desculpa.”
 Por que só mulher linda fala essas coisas? Mulher feia diria:
 “Nossa como você é grosso! Só pedi para me ajudar com a água, porque você é homem, seu babaca!”
 O espelho embaça e ela com o dedo desenha um coração. Depois me puxa e fecha a porta.
 “Não vai me dizer que você tem medo de tomar banho sozinha Paulinha?”
 “Depois de ver Hitchcock... Tenho sim.”
 Marina chega do trabalho, eu estou lendo um livro e Paulinha no computador com os cabelos ainda molhados. Marina diz:
 “Oi família! Espero que vocês dois estejam se entendo.”
 Eu e Paulinha fazemos cara de tédio.
 “Vamos jantar fora?” Pergunta Marina.
 Qual é leitores quem nunca sonhou com o banho da cunhadinha?
  “Vocês estão muito esquisitos, o que é que está acontecendo aqui?” Marina olha para os cabelos molhados de Paula e vê que os meus cabelos também estão molhados...
 Então eu escuto a campainha, um barulho alto. Acordo de um sono mal dormido bem no meio da tarde e vou abrir a porta.
 É Paulinha chegando do Rio. Ela entra meio de mau humor. Não sorri. Me olha e diz:
 “Fica longe que eu estou de TPM”.
 Depois entra pra dentro do quarto e tranca a porta. À noite pedimos uma pizza e ela e Marina discutem o jantar todo.
 Depois percebo que as pernas de Paulinha são tão menos bonitas que as da Marina. Finalmente Paulinha dá um arroto e vai dormir, sem ajudar com a louça, sem dizer boa noite.
 Pelo menos a minha sogra tem um papo muito mais interessante. Cozinha bem pacas e além de lavar tudo, sabe cada piada.
 “Como vocês vivem sem ar condicionado em São Paulo?” Ela, Paula ainda diz antes de deixar a porta aberta e começar a roncar.
 Já dizia Sartre: “O inferno são os outros”.