segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Alfredo!

 As mulheres mais lidas que já vi foram no cinema. Com exceção deste domingo último. Ontem. Uma mulher ao meu lado me tirava a concentração do filme do Coppola.
 Quando eu comecei este blog eu prometi pra mim mesmo que não falaria de assuntos, notícias ou fatos do dia. Evitaria opiniões e polemicas. E vou cumprir a minha promessa a mim mesmo.
 Pra isso preciso da ajuda de quatro pessoas: João Bethencourt.
 -Presente.
 Oliver Hardy.
 -Presente.
 Stan Laurel.
 -Presente.
 E claro a menina, ops quer dizer a mulher, que sentou ao meu lado no cinema domingo.

 A função ou as funções da sala de cinema:

 Quando aberto é um excelente pretexto para convidar uma moça para sair. Isso desde a época dos meus avós. Ao chamar a moça para ver um filme no cinema você rapaz estará colocando a moça sentada ao seu lado. Logo sua mão estará ao alcance da mão dela.
 Terá assunto para depois da sessão. Poderão comer algo e até marcar um próximo filme.
 Mas que seja um cinema de rua. Ir a um shopping não terá o mesmo romantismo de ouvir um tango na calçada, como eu ouvi ontem. Nem ver livros em sebos, as pessoas nos bares e se sentir um cinéfilo. Comprar ainda uma flor para moça.

 Quando fechado é um alívio aos direitistas. Os bares se esvaziam, e os restaurantes também. Não se vêem beijos nas ruas, nem músicos, nem sebos. Nem sonhos.

 Um rapaz estudou direto no sul dos EUA. Outro era filho de atores ingleses de vaudeville. Foram apresentados. Deram-se as mãos. E não imaginaram que aquele seria um dos momentos mais importantes da história da humanidade.
 Esses dois então jovens rapazes criaram uma maneira de transformar adultos em crianças em questão de segundos.

 Sempre que eu ouço falar em progresso, mudanças, transformações eu lembro deles. Porque eles são e sempre serão atuais. Como uma criança é. Como são o Gordo e o Magro. 

 Não tenho certeza se ela percebeu que eu a assistia assistindo ao filme. Um perfil uma interpretação digna de Cannes. Antes de começar enquanto subíamos à escada, ela perguntou se eu também ficava nervoso antes de um filme.
 Isso porque eu disse que fico ansioso antes de uma peça de teatro, mesmo quando eu sou só platéia.

 A coisa mais estranha é que cinema pra mim é muito mais antigo do que teatro. A primeira vez que eu fui sozinho ao cinema eu tinha 11 anos. Teatro eu acho que foi com 20.

 Um dia as salas de cinema não terão mais nomes. Não terão história. Nem programação. Esse dia é hoje. Uma pena.

 Um dia, talvez em breve, eu não terei mais notícias daquele espanhol filho de artistas de circo e aquele pequeno ator negro, o interprete mais inusitado da tragédia de Veneza.

 Pelo menos nesse domingo, eles, Oscarito e Grande Otelo, me deram uma piscadinha enquanto eu subia com ela a escada do cinema.

 Alfredo!  Alfredo! Alfredo!