quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Você quer ver ela?

Anos cinqüenta, Nova York. Duas mulheres andam pelas movimentadas ruas da cidade.


-Esta vendo, ninguém te percebe. Por isso que você tem de estudar, para ser uma atriz de verdade, se não você é só mais uma bonitinha como milhares de outras.

São Paulo, 2010, eu vejo duas meninas meio loiras, num restaurante japonês almoçando. Elas estão à-vontades com os palitinhos, pronunciam os nomes dos pratos num japonês impecável, o garçom nordestino também fala como se não fosse um gaijin. Elas tinham tudo para serem sensuais, mas não são. É como se fossem dois corpos tranqüilos, zens. Os corpos são jovens, mas há algo nelas de senhoras.

 Eu penso comigo mesmo, será que elas estariam ali se nunca houvesse existido Marilyn Monroe?

Antes que o leitor me ache cafona, eu explico. Atrizes e cantoras são seres feitos de sonhos. Bailarinas e qualquer mulher que seja uma mestra no palco também.

Aquelas duas meninas no japonês me hipnotizaram. Não pela beleza e sim porque nada acontecia. Elas conversavam com tranqüilidade, como se fossem de água. Até que elas se transformaram num retrato, numa tela. Até que elas se transformaram em duas japonesas. Não eram mais elas e sim um quadro.

As pessoas numa cidade, ou na praia, nas calçadas, sempre se tornam paisagens.

Não as cantoras, nem as atrizes e claro nem bailarinas. Quando são talentosas, por mais comuns que pareçam, meu radar apita. Nenhum fotógrafo, nenhum retratista consegue aprisioná-las. Por isso os paparazzis tentam em vão tirar centenas de retratos.

Aquela tarde em Nova York a modelo-atriz não queria atenção, não queria puxar o foco, mas a professora, mulher do Lee Strasberg provocou tanto que numa doce voz ela disse:

-Você quer ver ela?

E no instante seguinte todas as pessoas na rua que pareciam antes não tela notada, agora se aglomeravam em volta dela.

Antigamente uma mulher assim teria sido considerada uma bruxa e queimada numa fogueira.

Marylin não foi queimada. Não acordou. O FBI disse que foi over dose.

Espanta-me aquela intelectualidade sem talento querer ensinar alguma coisa, para a mulher que seduziu não só o maior dramaturgo de seu tempo, como também o presidente mais famoso da história do seu país. Ensinar o que?

Outro dia saiu um livro dizendo que a cena de “Psicose” (a do chuveiro) é a maior seqüência da história do cinema. Sei lá.

Pra mim Marilyn é mais que cinema. Não existe nenhum “parabéns a você” em que eu não vejo essa mulher saindo do sopro do aniversariante ao apagar as velas. Como uma Millus de vênus.

O rei Arthur teve seu feiticeiro Merlin. Arthur Miller a bruxa Marylin. E Billy Wilder nos deu Marylin Monroe.