quinta-feira, 4 de novembro de 2010

“Como matar um playboy”

Ontem sonhei acreditem que eu havia morrido. Antes de chegar ao inferno um anjo intercedeu por mim e disse ao demoniozinho que eu por ter feito teatro em vida, poderia levar cinco coisas brasileiras para o inferno.


“Mas escolhe logo”. Disse o demoniozinho e apontou pra Kombi já lotada e sem ar condicionado que já ia sair.

Acabei que pedi logo o que veio na minha cabeça:

“Uma baianinha, negra, jovenzinha e com os peitinhos duros”.

“Vamos, vamos, vamos logo”. Apressava-me o demoniozinho.

“Uma rede do ceará, uma cozinheira mineira, um disco de samba e um computador”.

Bom, nos apertamos na Kombi lá fomos nós.

Depois de 18 horas de viagem chegamos num planalto com prédios parecidos com o do Niemeyer.

Ao meu lado na fila, um americano trazia o Elvis, um hambúrguer, um saxofone, um chapéu de vaqueiro e uma coca-cola. Disse-me que era ator de teatro e perguntou-me se era a minha primeira vez no México.

“México?”

Depois de mais de 12 horas na fila chegou a minha vez. Um sujeito, que acredito era o Collor de Melo, me perguntou em inglês se era a primeira vez que eu tirava visto para os EUA?

Por sorte acordei desse sonho pesadelo por conta de um alarme de carro.

Lembrei-me de uma coisa que uma amiga minha sempre me diz:

“Leo você precisa aprender a desentralhar-se.”

Que seria a capacidade de jogar as coisas velhas fora. Tipo ex-namoradas, documentos da década passada (sem valor histórico nenhum), roupas, cenários e figurinos de espetáculos antigos, móveis, textos, computadores, remédios, cosméticos, jornais velhos, romances sem paixão, cds, vídeos... Enfim uma infinidade de coisas.

Porque quando morremos deve ser tudo novo, mesmo a cultura, crenças, ideologias, não dá pra ser uma múmia e querer levar tudo.

E o título?

É uma peça do João Bethencourt, dos anos sessenta. A menina quer se livrar do “sofisticado” namorado do Leblon e pede ao pai. Esse contrata dois cangaceiros para o serviço. Mas ela doente como eu resolve que não deveria mais desentralhar-se do namorado-marido. E volta atrás.

Alguém tem um telefone de um carreto? De um sebo? De um “família vende tudo?”

Até o porquinho do espetáculo de 2008 está aqui me olhando. Vai embora!

As memórias também, pra que tantas? Vão embora. “Como matar tudo isso?”

Não vou trazer absolutamente nada da Índia! Nem memórias! Nem fotos!

E olhe que nada já é muito!

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