Fiúza fora quem marcara naquele restaurante. Ele almoçava umas duas, às vezes três vezes por semana lá. Estava em casa por assim dizer. Sabia os nomes dos garçons. Cumprimentava os clientes assíduos. Talvez por isso e também por ele, Fiúza ser um policial, percebeu que Rubens já tinha uma história. E que os fatos que ele ia contando não modificavam em nada a conclusão de Rubens. Só temperavam, como um molho. Por isso resolveu guardar munição e saber o que aquele sociólogo tinha para lhe falar.
-Escute Rubens antes de continuar eu quero lhe dizer que estudei muito esse caso. Por tratar de pessoas bem relacionadas e poderosas, pode parecer um clichê, mas foi por isso que me colocaram no caso. Desculpe-me a prepotência, mas eu sou um dos melhores. As coisas não podiam vazar.
-Mas você mesmo disse agora a pouco delegado, lá se vão dez anos.
-Rubens, na época eu calculei distancias. Fiz mapas, perfis psicológicos. Investiguei álibis. Procurei motivos... A verdade é que nunca desconfiei de nenhum irmão da vítima.
Fiúza disse ainda acreditar que o assassino fosse alguém de fino trato. Alguém, aliás, da convivência dos Chavez. Um tipo de assassino que poderia estar num período de silencio, mas poderia como um vulcão ser acionado rapidamente. É uma pessoa comum, finalizou.
-Esse assassino, poderia estar quieto por conta de um evento como um casamento? Ou nascimento de um filho?
-Ou um emprego novo. Sim exatamente. –Disse o delegado. Ele o assassino pode ser acordado em qualquer instante. Rubens o que eu vou lhe dizer pode ser estranho, mas lembre-se é o meu trabalho. O delegado esperou um momento, repirou e falou:
-Você foi um grande suspeito.
Rubens abriu os olhos. Não podia acreditar no que ouvira. Ele um suspeito?
-Sim. Num depoimento, Guilherme Chavez me contou que você certa vez o procurou em uma pousada em Paraty. E lhe disse estar loucamente apaixonado por Gabriela e que faria uma besteira do tipo se matar, se ela não correspondesse.
Aquilo era verdade. E Giovanni confirmou a história ao ver uma foto de Rubens.
-Eu sempre amei minha esposa. Mas qual mortal não se apaixonaria por Gabriela? Eu sei, ela não era para mim. Queria me usar e depois jogar fora.
-Ela te usou Rubens e te jogou fora, mas você não desistiu. O próprio Guilherme Chavez te viu certa vez num posto de gasolina seguindo Gabriela.
-Mas ele também a estava seguindo.
-Na verdade não.
Foi ai a revelação. Guilherme já não mais namorava Giovanni. Aquele era o posto em que a família Chavez tinha conta. Por isso tudo não passou de uma coincidência. Guilherme e Gabriela no mesmo lugar.
Giovanni já não mais entusiasmava Guilherme que na verdade havia começado um romance com a sua grande paixão, seu companheiro até hoje. Um ministro do Supremo, que na época já era um ministro do supremo. Para um rapaz clássico como Guilherme aquele homem representava poder, cultura e sei lá mais o que. O fato é que Giovannis se acham em qualquer balada, ministros não.
Rubens entendeu então o que o delegado queria dizer com cair a republica. Um ministro Gay? Há dez anos atrás? Seria um assunto maior do que o próprio crime. Foi quando o celular de Fiúza tocou e ele levantou-se e foi atender num lugar em pé em que Rubens não pode ouvi-lo. Ao retornar se desculpou, mas disse que era chamado com urgência em uma operação policial.
-Rubens eu ainda quero terminar nossa conversa. Falta esclarecer muita coisa a você. Adianto-te algo que lhe disse. Gabriela era adotada. Cris sabia. Não sei com certeza se Gabriela sabia. Mas devia imaginar três irmãos e pais altos e morenos e ela loira de olhos verde e era baixa...
-Delegado antes de você ir, me responda: Você nunca cogitou de o assassino ser ela e não ele?
-Ser uma mulher você diz?
-Sim o porteiro pode ter se enganado. Algumas mulheres são altas e tem cabelos curtos.
-Eu sei. Sua esposa, Carla Tornemberg tem a mesma altura que você, um metro e oitenta.
Rubens tomou um susto. Aquilo o atravessou. Era talvez uma confirmação?
-Sociólogo, não se esqueça, eu sou um dos melhores, talvez o melhor.
Despediram-se e prometeram continuar a conversa. Ainda naquela semana. Rubens permaneceu sentado no restaurante.
Fiúza se dirigiu a Rua Gabriel Monteiro da Silva, tinha estacionado dois quarteirões para baixo. Pegou o celular e discou para Jair seu investigador há doze anos.
-Jair sou eu escute. Acho que fizemos uma burrada há dez anos atrás. Gabriela Chavez. Você tinha razão. Espera aí to atravessando a rua.
O investigador Jair pode ainda ouvir o celular cair no chão.
-Fiúza! Fiúza!
Mas ninguém respondeu e o carro não parou seguiu em frente. A rua tranqüila a garoa caindo e molhando o corpo do delegado.
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