Estávamos num japonês e ela me falou assim do nada:
“Eu disse não pra globo.”
Joana é linda. Eu a chamarei de Joana. Na verdade seu nome é outro. Ela me ligou, somos amigos antigos. Às vezes bem próximos, outras quando um dos dois está namorando nos afastamos e depois voltamos a nos ver.
Joana é atriz e nós não somos amantes, lamentavelmente.
“Como assim? Não pra rede Globo de televisão? Você está louca!”
Essa menina de trinta anos recusara o que a maioria dos atores, uns 99,99 por cento sonham. Novela na Globo. Não digo sonham, digo não negariam. Ah sei lá. Falo mais por mim. Se fosse comigo já estaria em Ipanema.
“Leo, eu recebi a proposta. Fui andar no Ibirapuera e fiquei refletindo: Fazer novela... Talvez eu nunca mais tenha uma oportunidade dessas na vida. Algo como oportunidade única. Seria famosa.”
“Sim. Você nem faz idéia de quanto.” – Eu disse.
Ela continuou: “Dinheiro nunca me faltou. Eu tive até uma infância rica. O cara que eu amo não me ama. E se ele se interessasse por mim porque eu estou na novela, na mesma hora eu pararia de amá-lo.”
“Daí você concluiu que não havia interesses nem no campo econômico nem no pessoal?”
Não foi só isso. Joana que tem um corpo, não daqueles corpos só gostosos, mas um corpo gostoso e elegante, formoso assim como seu rosto também. Disse que a sensação de dizer não para uma oportunidade unica é também uma unica oportunidade.
“Essa sensação te dá um bem estar. É como se eu de repente, me torna-se livre. Livre de algo que eu sempre quis, mas que não tinha escolha. Depois disso eu sou o que eu quiser ser.”
“Quanta filosofia! Você anda lendo: (Quando Nietzsche chorou)? Vai fazer teatro alternativo para o resto da vida?”
Não havia dúvidas nas suas palavras, nem arrependimentos. Foi quando um casal se aproximou sorrindo. Chegaram até nossa mesa. A mulher disse para Joana:
“Você não é aquela atriz da peça Fantástica?”
Foi aí que eu reconheci era uma atriz da globo de uns quarenta anos famosérrima e seu marido diretor de cinema.
“Sou.”
“Nós amamos. Por sua causa menina eu larguei tudo no Rio e vou fazer teatro esse ano e o próximo!”
O marido o diretor, deu um cartão para Joana. Disseram que o que Joana precisasse eles a ajudariam. Quiseram ainda saber dos contatos dela para mandar um roteiro. Depois ainda a convidaram para almoçar na casa deles.
“Este é o Leo meu amigo”
“Prazer.”
E o casal se foi. Joana sorria, como alguém que triunfou por recusar fazer parte do establishment.
“Leo depois tem o seguinte, eu gosto de ir ao Ibirapuera. Na Praça Roosevelt, do Genésio, do Espaço Unibanco de Cinema... Fazer o que na Barra da Tijuca? Com tanto espetáculo aqui que eu quero assistir!”
Mais um pouco de sake e um pouco mais ainda. Fomos para a minha casa. Joana e aquele corpo lindo na minha frente. Aquela mulher maravilhosa que nunca me dera a oportunidade e agora se entregava só pra mim. O jazz tocando e eu:
“Coloca a roupa.”
“Como?”
“Eu também Joana. Eu também quero saber como é a sensação.”
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