terça-feira, 29 de março de 2011

A Trupe. Capítulo 2


  A hegemonia do diretor.

Não foi difícil achar o enorme instituto Bairral em Itapira. Com vários pavilhões, me lembrava muito uma universidade com seus campos e árvores. Ou ainda uma fazenda. Deu-me vontade de passar férias ali. Mas eu e Mari tínhamos uma missão, achar Duda e levar ele embora dali.
 Os artistas de teatro quando estão trabalhando estão bem. É o teatro que dá disciplina e não a tira, como muitos pensam. E Duda por mais doido que seja era um diretor invisível. Isso quer dizer que embora ele tivesse surtos e delírios, ele não estragaria um texto meu.
 Seu estilo nunca foi o de atravessar um texto, ou seja, a obra é que prevalecia e não o diretor com suas viagens. E ele era um excelente diretor de atores, era o que eu precisava e queria.
 A família dele permitiu que o visitássemos.
 “Qual é o plano?” Perguntei para Mari.
 “O escritor criativo é você.”
 Não havia plano. Chegaríamos o colocaríamos no carro e iríamos embora. Sem o truque da loteria, sem fingirmos que éramos psiquiatras nem nada. Vimos Duda na piscina, no pavilhão dos jovens excêntricos com propensão para o uso de entorpecentes.  
 Quando nos reconheceu abriu um sorriso e gritou:
 “Jesus e Nossa Senhora! Vieram me visitar!” Mal estacionamos e perguntamos para ele:
 “Quer ir embora?”
 “Quero.”
 Entrou no porta-malas. Passamos pela guarita, devolvemos os crachás, andamos alguns quilômetros. O tiramos do porta-malas e agora estamos aqui na estrada. Indo buscar Napoleão em um show de Stand-Up em Campinas.
 “Vocês já pensaram em algum teatro?” Quis saber Duda.
 Naquela frase eu senti que éramos de novo a Trupe. Lembrei de quando morávamos juntos e nos três anos em que o grupo existiu.
 O Show de Stand-up de Napoleão já havia começado. Nós três quase não conseguimos lugar na platéia. Eram constrangedoras as piadas de Napoleão não eram ruins eram péssimas. Eu sempre achei ele um grande comediante e definitivamente aquilo não era sua praia, mas não é o que ele achava.
 “Não posso sem mais nem menos voltar a fazer teatro, tenho inúmeros shows marcados pelo Brasil. Na minha agenda não cabe, pelo menos agora.”
 “Uma leitura pelo menos”. Tentei ainda como último recurso.
 “Não.” Ele respondeu, virou-se e começou a tirar a maquiagem no espelho do camarim. Sim Napoleão fazia Stand-up maquiado com uma leve base.
 “A Bia vai ficar tão chateada.” Arriscou Mari.
 “A Bia aceitou? Ela vai montar um espetáculo com vocês?”
 Quando Napoleão soube que Bia, uma celebridade televisiva tinha aceitado, mudou de idéia.
 “Uma leitura acho que não tem problema. O personagem é grande, né?”
 “É a sua cara. Você vai adorar.” Disse Duda.
 “E você Duda, por onde andava? Anos que não te vejo, nem sei dos seus trabalhos.”
 “Nova York, meu amigo. Montei o espetáculo “Instituto Bairral” por lá. Um sucesso.”
 “Sei. E quando vai ser esta leitura.”
“Não se preocupe, estou dando um último ajuste no texto. Mas provavelmente esta semana. Te ligamos.” Eu disse.
 “Mas com antecedência. Minha agenda é cheia. Conforme for eu mando um substituto fazer minhas participações em shows.”
 Despedimos-nos e seguimos para São Paulo. Bem agora éramos quatro.
 Mari na direção ainda disse:
 “Alguém ai pode entrar no decolar ponto.com? Acho que hoje é um bom dia para irmos jantar no Rio.”

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