quarta-feira, 30 de março de 2011

A Trupe. Capítulo 4


 Um por todos e todos por um.

 Quem abriu o elegante apartamento no bairro do Jardim Botânico, foi ninguém menos do que Frederica. Ele estava mais magro do que antigamente. Convidou-nos para entrar e eu Mari com não entendíamos nada, ainda mais com o sumiço do Duda que não apareceu de manhã. De manhã, entenda-se ao meio dia, que foi o horário em que acordamos.
 “O que você está fazendo na casa da Bia?” Eu quis saber.
 “Eu moro aqui.” Frederica respondeu.
 Explicou-nos que quando estava em cartaz na cidade, e ele estava num musical, um grande musical como ele disse se hospedava na casa da amiga Bia.
 “E cadê o Rodolfo e a Bia?” Perguntou Mari.
 Fred fez uma cara de espanto. “Então vocês não sabem?”
 Não. Não sabíamos que Bia e Rodolfo já não estavam juntos há um ano. Frederica nos contou que Rodolfo conhecera uma menina, uma atriz de 19 anos e se apaixonara. Bia por sua vez havia conhecido um publicitário quarentão. A separação foi numa boa porque nenhum dos dois, mas se aturavam.
 Depois de separados voltaram a sair junto e resolveram sair de casal. Bia com o publicitário e Rodolfo com a atriz adolescente. Dois meses depois, Bia pegou o publicitário quarentão com a menina adolescente.
 “A mesma?” Mari colocou a mão na boca.
 “A mesma.” Contou Frederica que agora estava satisfeita com tanta fofoca.
 Minutos depois Bia chegou. Entrou na sala nos viu e parou. Ficamos os três nos olhando. Até que Frederica cortou o silencio. Vieram almoçar conosco. Eu já mandei a Marlene ir ao supermercado.
 Foi uma choradeira. Dez anos sem nos ver e sem conversar.
 “Por que ficamos tanto tempo sem nos falar?” Quis saber Bia. Ninguém sabia. Ninguém se lembrava. Napoleão brigou com Fred, eu com Bia, Duda brigou com o Rodolfo, e Mari?  Mari não brigou com ninguém.
 Contamos a história toda aos dois. Que queríamos juntar a Trupe, fazer teatro novamente. Que nunca esquecemos o quanto, nós fomos felizes.
 “Eu te assistir na sua última peça Mari.” Disse Bia.
 “Eu sei Bia. Quando uma atriz da novela das oito vai ao teatro todos a vêem, mesmo que ela fuja sem ir ao camarim falar comigo depois.”
 “Eu amei sua peça. Eu estou adorando que vocês estejam aqui. Mas eu não posso aceitar este convite. E mesmo porque vocês dois estão loucos. Por que voltar uma coisa que já aconteceu? Ok nós fomos felizes, mas temos de seguir em frente. Eu já não sou aquela Bia. A Frederica também já não é mais a Frederica daquela época. Mesmo que vocês dois estejam lindos e o Leo embora com uns fios grisalhos no cabelo, mesmo assim não mudou quase nada. Mas nós envelhecemos. Tudo tem um começo, um meio e um fim. Foi o Leo que me ensinou isso. Lembra querido? Meu Deus! Dez anos sem nos falar!”
 “Bia, nós poderíamos ensaiar aqui no Rio para não te atrapalhar na Televisão.” Tentou Mari.
 “Mari eu não faço mais teatro. E eu estou feliz. Depois quem iria me dirigir aquele maluco do Duda, que até hoje é louco e socialista?”
 A empregada entra na sala e diz:
 “Dona Beatriz o porteiro disse que tem um homem lá embaixo procurando à senhora, diz que parece um mendigo e o nome dele é Carl Marx. Deve ser do teatro também, né?”
 “Falando nele.” Eu disse.
 “Mande subir.”
 Duda salvou o plano. Quando Bia o viu entrar, tremeu toda. Dizem que a primeira transa a gente nunca esquece e nem o primeiro diretor.
 “Sinto lhe dizer Beatriz que a sua interpretação caiu muito pelo que eu ando vendo na televisão.”
 “E você tem me assistido Eduardo?”
 “Que jeito se a TV do instituto Bairral não sai da Globo.”
 “Instituto o que?” Quis saber Frederica e depois continuou. “Desculpe-me Mari, o problema ainda é outro mesmo se aceitássemos...” De repente parou. Começou a chorar. “Eu quero Bia! Eu quero Bia! Eu amo essa gente cadê o texto?”
 Bia prometeu que ia pensar e a noite nos responderia. Despedimos-nos e seguimos para a Rede Globo. Faltava um ainda.
 “Eu acho que ela nunca deixou de te amar.” Me disse Mari.
 “Mas eu acho que eu deixei.” Respondi.
 "Me engana que eu gosto." 
 Não sei se era verdade o que eu dizia. Nós nunca sabemos. A voz de Bia me atravessou. O olhar era o mesmo e parecia que ela só melhorara com o tempo.
 No caminho me deu saudades de Rodolfo. Enfim ele não era mais um concorrente. E eu tinha um personagem para ele.
 “Afinal aonde você se meteu Duda?” Mari perguntou.
 “Eu fui rezar. Vocês podem não estar levando isto a sério, mas eu sou o Diretor desta Trupe eu sou o responsável. E eu não vou desaparecer. Afinal já pensaram em que teatro?”
 E o táxi chegou à rede Globo. Em 36 anos de vida assistindo a Globo eu nunca estivera lá pessoalmente. E acho que tanto Duda quanto Mari também não.
 "É aqui?"
 "Deve ser." 
 "Então vamos".
 E entramos.  

  

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