segunda-feira, 4 de abril de 2011

A Trupe. Capítulo 6


A travessia

 Rodolfo pegou a direção enquanto eu e Bia entramos carregando Mari para dentro do Jipe. Rodolfo acelerou e ultrapassou vários carros.
 Na emergência do hospital eu passei o telefone do médioco de Mari em São Paulo. Não tardou para os outros chegarem e todos nós, os seis mais a nova cenógrafa, Ale, ficamos esperando novidades dos exames.
 O médico apareceu e nos tranqüilizou.
 “Apesar do tumor, esta jovem tem uma genética esplendida. Não há nada de errado com ela. Falei com o médico em São Paulo, o neurologista. Recomendo um dia de repouso e que ela reinicie suas atividades em seguida.”
 Não foi fácil explicar aos outros sobre a gravidade de Mari. Eu mesmo sabia daquilo há pouco. Foi uma choradeira. Até que Frederica quebrou aquilo com a pergunta:
 “Será que ela consegue fazer a travessia?”.
 Todos nos olhamos. Era óbvio que Ale a cenógrafa, não sabia do que estávamos falando. Afinal era um segredo nosso.
 Talvez você leitor me ache meio desequilibrado. Mas nós da Trupe do Sol somos mesmo. Não é só o Duda não. Certa vez um grupo de pessoas nos procurou. Eram três: Um antigo crítico de teatro paulistano, um jovem estudante e teórico de teatro e um homem esotérico, místico... Eles nos informaram de que nós tínhamos uma ligação espiritual com um antigo grupo francês de teatro do século 18, chamado a Trupe de Azul.
 Claro que convenceram Duda, Bia, Mari, Napoleão rapidamente, já eu e Rodolfo e Frederica demoramos um pouco. Aliás, eu só me convenci quando entrei no teatro em Tiradentes.
 Enfim até então era um segredo. Já com o espetáculo pronto seguíamos para um teatro secreto escondido atrás de uma fonte em Tiradentes, ambos do século 18. E no palco nos apresentávamos para uma platéia francesa, do século também 18. Loucura? Também acho, mas é verdade.
 Nesse instante no Hospital ocorreu à mesma pergunta a todos. Mas Rodolfo foi o primeiro a dizê-lo:
 “Será que isso que a Mari está, tem algo a ver com a Travessia?”
 E tinha. Mas naquele momento ninguém sabia de nada. E ainda não havíamos entrando em contato com aquele antigo grupo de mestres teóricos do teatro.
 Antes de alguém responder meu celular tocou.
 “Leo quem fala é Matheus. Quanto tempo querido. Já reservei o hotel para vocês em Tiradentes. Diga a todos que está tudo bem. Eu torno a ligar depois.”
 Matheus já não era um jovem e sim um homem. Naquele momento entendemos que a doença de Mari tinha sim um propósito ou talvez uma cura. Todos estavam naquele misto de medo e desejo, quando Duda ordenou:
 “Alguém fica com a Mari. O resto cama. Amanhã começamos os exercícios na praia. Quero todos em forma.”
 “Eu fico” Eu disse.  
 Neste momento inúmeros fotógrafos invadiram a sala de espera e começaram a fotografar Rodolfo e Bia. A informação tinha vazado e a notícia de tanto o casal divorciado estar num projeto juntos novamente,  como também a de trazerem uma atriz ao pronto socorro era notícia das grandes para os tablóides.
 Bia teve ao mesmo tempo vergonha e orgulho, por eu ver que ela era agora uma pessoa pública importante. O constrangimento foi notar que aquilo desequilibrava o grupo. Mas eu dei uma piscadinha para ela e acho que ela entendeu o: “Vai em frente, é bom para o projeto este marketing”.
 Deixei-os lá respondendo as perguntas dos jornalistas e entrei para ver a mulher de genética fenomenal e talento mais fenomenal ainda. Aquela atriz Mariana, que talvez estivesse apaixonado.

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