Jovem, linda e fiel. Quer dizer só jovem e linda. Porque fidelidade está fora de moda. Quer dizer só linda, porque jovem está muito na moda. Quer dizer só mulher, porque linda é relativo. Ou melhor, só ideal porque mulher dá muito trabalho.
Vamos lá: Mais ou menos da minha altura, um tanto quanto de esquerda, um nariz parecido com o meu, artista...
“Espera um pouco, esta aí é você.”
Foi o que disse a minha psicóloga ao ouvir a minha descrição de mulher ideal.
“Você quer namorar você?”
Na verdade era uma lésbiquinha que eu saía na época. Há uns quinze anos atrás. A descrição que eu fazia era a dela, da menina, que naqueles tempos ainda não tinha saído do armário. Ou tinha? Mas a doutora estava tão eufórica com a descoberta, que deixei rolar e finge que ela tinha acertado. Deixei uma psicóloga feliz. "Você quer namorar com você." Repetia.
Mas desde então eu observo as mulheres que me atraem e notei um padrão. O padrão é o de não existir padrão algum. É isso mesmo.
No momento estou interessado numa menina brasileira que mora na Europa e numa européia que mora no Brasil.
O leitor vai dizer que achou um padrão aí. Apesar de tudo elas têm algo em comum, são estrangeiras. Mesmo a brasileira é estrangeira na Europa. No que eu digo: Pura coincidência.
Nenhuma das duas sabe que eu estou interessado. Outro padrão? Não senhor. Porque isto é padrão do meu comportamento e não das minhas preferências.
A mulher ideal é aquela que você se interessa e percebe que ela também se interessou. Quanto mais você se interessa, mais ela se interessa também.
Peguei a lésbiquinha em casa. Vamos parar com este termo politicamente incorreto e a chamarmos de Carla. Ela disse que tinha um aniversário e lá fomos nós.
Era uma casa no Pacaembu. E só havia mulheres na festa. Eu tinha vinte anos e estava muito feliz. Rodeado por mulheres.
Perguntei para a aniversariante se a senhora mais velha era a mãe dela.
“Aquela senhora ali é sua mãe?”
“Não! Aquela é a Silvia minha namorada.”
Foi aí então que as meninas começaram a se jogar na piscina. Algumas se beijavam. Mas o meu caso com a Carla ia bem. Achei legal ela ter tantas amigas sapatonas, como se dizia na época. Nossa eu ia ter coisas para contar para a doutora psicóloga.
A mulher ideal é aquela da qual você não sabe algumas particularidades dela.
“Leo vamos no jogo do São Paulo quarta com as meninas?” Me convidava Carla.
“Jo jo jogo de fu futebol?”
“Ué ficou gago?”
“Desculpa Carla, mas não!”
“Você não é são paulino?”
"Não." Eu era corintiano, quer dizer continuo sendo. E continuo detestando são paulinas, corintianos e jogos de futebol.
Carla me disse que eu era um homem ideal, não se metia no futebol dela com as amigas. Tinha bom gosto para mulheres. Era um cara meigo, sensível e com poucos pelos.
“Você está achando que eu sou algum objeto?” Um dia estourei.
“Não Leo. Não vá ficar bravinho. Só estou dizendo que te acho bonitinho, fofinho e te amo.”
Eu tinha virado um bibelô daquela Carla. E ela julgava estar com o rapaz ideal. Ela tinha um bom emprego num banco e me pagava jantares, comprava roupas. Mas eu me sentia assim um tanto sem liberdade. Sem independência.
Aí começou que ela saía para jogar pôquer com as amigas três vezes por semana. Não ligava para saber como eu estava. Enfim começou a perder o carinho, não discutia mais a relação. Terminei. Mesmo gostando dela um pouquinho ainda.
Nunca tive nenhuma outra mulher parecida com ela. Com a Carla. Já havia deixado a terapia há tempos, por isso à doutora psicóloga não teve contribuição nenhuma na minha decisão.
Enfim, acho que a mulher ideal, é aquela que você se dá bem no sexo. Muito bem, todos os dias. Pelo menos no começo. É aquela que você considera seu melhor amigo. É a que te faz rir, que você quer contar várias coisas. Que você morre de saudades. Que te faz sentir emoções que você não sente com nenhuma outra.
Na verdade é muito fácil dizer o que é a mulher ideal e não precisava desse texto todo não.
A mulher ideal é a que você ama e que te ama também. Pronto. Valeu.