quinta-feira, 12 de maio de 2011

O lado italiano delas.


 Meu pai não me ensinou nada sobre a arte da sedução de mulheres. Esta arte milenar que os italianos são mestres. Claro meu pai não é italiano, mas meu avô materno era.
 “Meu neto veja bem, tem uma freirinha que eu estou de olho.”
 Meu avô morava em frente a uma igreja católica, como um bom italiano.
 “Ela, a freirinha, é parecida com a sua prima, minha neta. Um pouco mais rechonchuda.”
 “Sei vô...”
 “Então onde é que compra a tal da camisinha?”
 “Olha vô, eu mesmo não sei nem o tamanho que eu uso.”
 “Ah! Tem este negócio de tamanho? Bom.” E deu de ombros.
 Verdade é que tanto se fala da pizza e do spaguetti contribuições da Itália pelo mundo, que esquecemos de dizer que a arte da conquista também se espalhou.
 Difundiu-se tanto que mesmo por aqui em terras brasileiras não só os homens a dominam, mas também as mulheres que eu ando saindo.
 Elas aprenderam a cozinhar uma deliciosa massa. Perguntam do que gostamos na cama. Escolhem um vinho. Elas nos ligam no dia seguinte. Tanto que ultimamente elas andam me lembrando meu avô. É.
 Mas o que eu queria mesmo falar aqui agora, como o próprio título da crônica diz é o lado italiano delas. Das italianas. Que são umas injustiçadas, porque os homens italianos têm uma fama de conquistadores e sedutores pelo mundo e para elas sobra o que?
 Eu estava no Fórum Romano que são as ruínas do antigo império Romano. Os banheiros ficam ao ar livre. São pequenas construções entre árvores que tentam ser as mais discretas possíveis. Em frente ao banheiro feminino umas dez jovenzinhas universitárias conversavam algo relacionado à Van Gogh. Sei disso porque a única palavra que entendi foi essa, Van Gohg.
 Então a vejo de longe. Eu mesmo esperava o banheiro masculino ser liberado. E estava até sem pressa porque aquelas italianinhas eram bem bonitinhas, descoladas e sofisticadinhas.
 Mas ela não se movia. Ela tinha a mesma idade das outras italianinhas. Mas esta era chinesinha.
 Ela ao mesmo tempo queria perguntar sobre o banheiro, se era uma fila e tal e ao mesmo tempo pedia desesperadamente um contato visual com uma das italianinhas. Definitivamente o povo italiano é o mais extrovertido do mundo. Um italiano não sabe o que significa timidez, por outro lado um italiano, não faz questão absoluta em se comunicar bem.
 Mas por um instante vi que uma das italianas percebeu a chinesa. Acho que a italiana pensou: “Minha avozinha tem orgulho enorme do nosso país, mas estes chineses do outro lado do mundo, estes bárbaros vão mandar em tudo. E com certeza esta chinesa nunca ouviu falar no Império Romano.”   
 E a chinesa por sua vez: “Nossa minha avó nunca saiu da China, nem minha mãe e nem ninguém da minha família veio tão longe. Veja os narizes destas meninas. É algo grande e bonito. Mas nossas roupas são as mesmas. Aliás, estas roupas são feitas na China. Mas estes narizes destas tais italianas são tão lindos.”
 Eu tentei olhar para a chinesa e poder falar que eu também era de longe. Que eu não era romano. Que eu sabia o que era ser de um país gigante e mesmo assim ser desprezado.
 Ela fazia o caminho inverso de Marco Pólo. Enfrentar aquelas meninas da sua idade que tinham aqueles narizes grandes e poderosos era um esforço gigantesco. Pensou em desistir do banheiro.
 A italianinha engoliu todo o orgulho encarou a chinesinha e perguntou num inglês todo cheio de ginga e com aquele excesso de gestos pontuais dos italianos, se era o banheiro que a outra procurava. E antes que a chinesa pudesse responder à italiana se apressou em dizer que ela a chinesa poderia passar na frente delas. Que elas estavam só fazendo hora.
 A chinesinha tirou forças sabe-se lá de onde e disse: “Thank you”.  Na verdade ela não entendera absolutamente nada do que a italiana dissera. Nem ela nem eu. Mas uma italiana é sempre tão expressiva com os gestos que ela a chinesinha foi passando pela roda das meninas.
 Parou na minha frente e eu abri caminho. Ela sorriu e me disse: “ Grazie.” E entrou no banheiro.
 As meninas italianas se animaram e começaram a falar comigo em italiano. Deveria ser algo a respeito da chinesinha que era linda. Eu sorria enquanto um menino italiano saia do banheiro e me liberava o acesso.
 Não sei se fui eu que fantasiei tudo e a atração pelos narizes das meninas italianas era, e é uma coisa minha. E não da chinesa. Elas tinham o meu nariz, a minha cor, a minha afetação gestual, meu jeito malandro, cafajeste, debochado e feliz.
 Outras meninas chinesas vieram atrás da chinesinha que saiu do banheiro num movimento leve e encontrou com as outras que riam e saíram alegres para tirar fotos pelo antigo e milenar fórum romano.
 Quando eu saio do banheiro não havia nem mais chinesas e nem mais italianas. Um vento frio soprou e parecia que se encerraria a visitação as ruínas.
 Restava ir jantar num bom restaurante sozinho e comer um spaguetti ao pesto quem sabe.
 Que vergonha se meu avô me visse nesta miséria humana. E que inveja os Romanos antigos teriam de mim. Eles viram leões, gladiadores, feiticeiros, corridas de bigornas e até o grande circo. Por outro lado nunca puderam ver um narizinho de uma chinesinha.
 E tão pouco o incrível charme de uma italiana de calça jeans e tênis All Star.
 “Scuzzi!”
 Olho para trás e lá estão elas as italianas. Perguntam-me se eu sei a que horas fechava a exposição do Van Gohg?
 “Van Gogh? I just love him.”
 Eu disse, enquanto as três italianas riam de um jeito sacaninha igual meu avô me ensinara.     
 “Love?” Disse a mais baixa de um jeito muito, mas muito sarcástico.
 Tchau bella. 

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