sexta-feira, 17 de junho de 2011

Você vai se apaixonar pela pessoa mais imprevisível na hora mais inesperada.


 Ela estava parada no trânsito. Tinha uma reunião e já estava atrasada. Resolveu olhar o facebook no celular: “Você vai se apaixonar pela pessoa mais imprevisível na hora mais inesperada”.
 Riu da frase que leu postada por uma amiga. Droga agora se não acelerasse ela perderia a hora mesmo.
 Ele vinha tranqüilo pensando na vida. Em direção ao parque para caminhar e relaxar naquele lindo dia azul de inverno. Não teve tempo de pular levantou a mão como quem pede para parar. Ele estava no meio da faixa de pedestre e um carro a direita dela tampou a sua visão.
 Aquele enorme jipe veio brecando e o pegou em cheio. Ele viu uma escuridão e só. Ela desceu correndo. Esse lindo jovem rapaz no chão ensangüentado parecia um anjo caído do céu. Foi o que ela pensou na hora: “Atropelei um anjo”.
 Pessoa prática que é, chamou logo um resgate.
 Mas com tantas buzinas e pessoas dando palpite, pediu ajuda e colocou o moço no banco de trás. Voou agora com atenção máxima para o pronto socorro.
 O menino, rapaz, ele tinha 24 anos e foi para a UTI. Pelos documentos entraram em contato com a família. Muitos amigos e parentes seguiram para o hospital e começaram a doar sangue.
 Ela só pensava positivamente para aquele menino não morrer. Não conseguia encarar a família dele direito. A jovem cirurgiã percebeu a sua aflição e foi conversar com ela. Eram quase da mesma idade.
 A reunião nunca chegou a acontecer. Ela acabou que se esqueceu para sempre da reunião. A médica fez um trabalho e tanto e um dia depois o menino saiu do coma.
 Durante uma semana, ela foi todos os dias, no hospital visitar o Marcelo. Começaram até a ficar amigos. A médica disse que ele se recuperaria bem e que por milagre nada de grave lhe ocorrera. Ele deveria descansar alguns meses e depois poderia voltar a freqüentar parques, baladas e tudo mais que quisesse.
 No último dia de hospital veio o inusitado. Um convite para jantar. Ela pensou: “Por que não?”
 Foram a um restaurante japonês. Conversaram sobre suas vidas. Seus ex-amantes. Sobre solidão e tomaram saque.
 Já na casa dela rolou um beijo. Ela que fazia atendimento numa agencia de publicidade nunca imaginou aquilo. De repente por causa de um atropelamento, ela estava ali apaixonada.
 Apaixonada por uma médica. As duas logo em seguida começaram a namorar e foram morar juntas.
 E se você leitor acha improvável histórias de amor que começam em prontos socorros, saiba que elas existem. Eu mesmo nasci de uma. Afinal sou filho de médico com enfermeira.
 E as duas fazem tudo por Marcelo. Arrumam a casa dele. Fazem os trabalhos de faculdade, apresentam amigas, o que ele pedir. Porque ele é um anjo. Um cupido que caiu do céu.  


segunda-feira, 6 de junho de 2011

A cachorra.


 Eu tive uma namorada, Adriana, que me batia. Sim. Ela era muito ciumenta. Mas esta não era a sua única característica. Ela também gostava de animais. De cachorros. Seus lindos olhinhos verdes não podiam ver nem saber de nenhum sofrimento de animais fossem eles domésticos ou selvagens.
 Sofria, ao ver um cachorro abandonado. Fazia-me parar no meio da estrada para pegar um cão no acostamento. E me batia. Ouvia meus recados no celular, me vigiava o tempo todo.
 Para os cachorros aqueles olhinhos verdes cheio de água, e aquele narizinho que pareciam um mangá japonês, eram só carinho e afeto.
 Para mim era porrada mesmo, ela praticava boxe, às vezes praticava em mim. Certo dia um mendigo que andava próximo a Faap começou a vender dois filhotinhos de vira-latas.
 “Leo pelo amor de Deus vamos pagar o que ele pede! Este homem é um alcoólatra veja como ele trata estas duas criaturinhas? Ele as deixa dentro de uma caixa de sapato, e eles passam frio, fome, sede.”
  Levamos então os dois filhotes para praia, para Juquehy. No meu restaurante um garçon o Gil se entusiasmou quando soube que Adrina havia dado um dos filhotes para um cliente. Um americano músico de jazz.
 “Sobrou uma fêmea, você a quer?”
 Gil olhava aquela patricinha da Faap, com olhos verdes e um nariz arrebitado e imaginou que estava fazendo um grande negócio. Era um sujeito malandro que trabalhava no meu restaurante durante o fim de semana e estudava em Santos durante a semana onde era casado.
 Quando vinha para Juquehy ficava num lugar misto de pousada com pensão. E já pensava por quanto ele venderia aquele filhote em Santos.
 “Que raça que é?”
 Quis saber Gil já pegando a cachorrinha das mãos de Adriana.
 “Raça?” Exclamou um cozinheiro.
 “Isso aí é um tomba lata!” E todos em volta riram de Gil.
 No dia seguinte, a mulher do músico Americano veio trazer o filhotinho macho de volta. Depois deu uns gritos com Adriana e foi-se embora. Por sorte conseguimos rapidamente um novo lar, com o fornecedor de bebidas.
 “Minha filhinha vai adorar, como é que chama?”
 “Chama Leo.” Ria Dri.
 E seguimos para São Paulo. Livres de dois filhotes. Missão cumprida, nós arrumáramos dois lares para dois cães órfãos.
 E não é que já em São Paulo alguém liga para a Adriana e diz que a cachorrinha tinha sido vista no meio da praia.
 “Agora já é tarde, três da madrugada. Amanhã a gente vê isso.” Tentei.
 Mas Adriana com cachorros é doce, mas com quem os maltrata, sai de baixo. Ela conseguiu o telefone da pensão do garçon Gil e ligou. Atendeu a dona da pensão. Uma senhora de uns cinqüenta e poucos anos.
 “Alo.”
 “O Gil está?”
 “Sim. Deve estar no quarto.”
 Gil já tinha alertado a dona da pensão sobre sua mulher santista. Se ela ligar diga que depois eu retorno.
 “E a cachorra está no quarto?!” Perguntou Adriana já bem alterada.
 “Mas não tem cachorra nenhuma no quarto não, o moça.” A dona da pousada pensou estar acalmando Adriana, mas isso soou o oposto para a protetora dos bichos.
 “Como que a cachorra não está?”
 “Não está.”
 “Mas a senhora foi ver se ela realmente não está?”
 “Olha moça, o Gil é um homem correto, e ele nunca trouxe nenhuma cachorra para cá.”
 “Como que não levou?! Então cadê a cachorra? Eu mato este Gil! A senhora vá até o quarto já e veja se a cachorra está lá!”
 “Olha moça, agora você me cansou! Eu já disse que não há nenhuma cachorra e nem nunca ouve. E já está muito tarde, por isso se a senhora não se importa eu vou desligar o telefone.”
 “Vai desligar nada! E a senhora vai presa junto com o Gil!”
 “Presa eu? Você tinha é que mandar prender é a cachorra e não eu!”
 “Prender a cachorra? Tá louca?!” Ninguém toca nesta cachorra que eu vou buscá-la!”  
 “Mas se eu estou dizendo que não há cachorra!”
 “A senhora é cúmplice deste bandido!”
 “Ah não! Agora foi demais. Boa noite.” E desligou o telefone.
 “A filha da mãe desligou o telefone e tirou do gancho!!! Culpa sua Leo!”
 "Culpa minha nada. Você não explicou e ela deve ter achado que tratava-se de uma cachorra."
 "Mas trata-se de uma cachorra! Seu burro! Imbecil!"
 "Mas não uma cachorra mulher!"
 "Claro que não!" De repente Adriana abaixou os braços. Acho que tinha caído a ficha. Deu de ombros e fingiu que não entendia.
 "Leo sua besta!" 
 Nossa! Como eu apanhei aquela noite. Justo eu que sempre fora fiel. Que gastara uma grana comprando os dois cachorrinhos órfãos.
 Matilde, este é o nome daquela filhotinha de vira-lata foi encontrada em Barra do Sahy, uma praia a seis quilômetros de Juquehy. Gil foi levado do restaurante um dia pela delegacia das mulheres e nunca mais voltou. Parece que tinha quebrado o dedo da namorada.
 Adriana já faz uns oito anos me deixou. Ficamos eu e ela.
 Matilde, que está aqui deitada no chão junto dos meus pés enquanto eu escrevo esta crônica. E hoje vai dormir na minha cama que está frio pacas.
 Adriana se casou. Mas até hoje vez ou outra me liga.
 “Como ela está? Você está cuidando bem dela?”
 Na verdade Matilde cuida bem mais de mim do que eu dela. Mas eu lá sou louco de dizer isso para a Adriana?
“Ela está ótima. Pergunta sempre quando você vai vir visitá-la.”
“Manda um beijo e diz que eu vou sim em breve.”
“Matilde! Mamãe diz que vem te ver em breve. Mandou outro, Adriana.”
 O ser humano às vezes é tão doido. Bom, vou levar a Matilde para passear. Tchau. Fomos.  

O encontro.


 Marcamos de sair lá pelas oito horas. Da noite, claro.
 “Eu te pego ou você me pega?”
 “Vamos ser machistas Leo. To te mandando o endereço.”
 Ela disse que sairíamos como amigos. Cinqüenta por cento delas me falam isso no primeiro encontro. Calma leitora, eu não tenho tantos encontros assim. Aliás, esta menina em questão, já são alguns meses em que venho trabalhando nela. Claro tudo virtualmente e pelo telefone. 
 Manda-me torpedo de madrugada. Ouviu minha vida toda já.
 Eu também já sei tudo da dela. Sobre o cara que a abandonou. Sobre os currículos que ela vem mandando para empresas. Sobre a família. Sobre o trabalho. Sobre os namorados antigos.
 Enfim. Oito horas, dá tempo de nadar, tomar banho e chegar um pouquinho atrasado como o meu avô ensinou. Afinal “amigos” sempre se atrasam.
 Essa menina me lembra aqueles filmes americanos. Sabe leitora, quando o roteiro é sobre duas pessoas carentes que se aproximam se tornam amigos? E depois numa noite qualquer, eles se encontram bebem um vinho e acabam se beijando sem querer.    
 Pior é que eu não estou apaixonado por esta menina. Apesar de ela ser bem bonita. Conheci numa festinha, uma reunião na casa de um amigo. Diz que gosta de me ouvir. Louca.
 Quando eu tinha vinte anos coloquei na cabeça que queria ser modelo. Top-model, sei lá como se chama hoje em dia. Um manequim. Deram-me o telefone de uma fotógrafa e ela disse que eu deveria ir lá no seu estúdio antes para uma entrevista. Para ver se eu tinha o perfil de um modelo.
 Passei na entrevista. Marcamos as fotos para mesma semana. Mas no dia senti que não estava pronto. Achei que eu estava gordo, meio barrigudo.
 “Oi Dona fotógrafa, você é gatinha e tal... Foi super legal comigo, mas eu acho que não estou pronto para as fotos agora.”
 “Como assim? Eu te vi anteontem e você estava ótimo.”
 “Mas eu estou meio gordo e acho que tenho que fazer umas flexões e uns abdominais antes do book de fotos.”
 “Olha... É Leo, né?”
 “É.”
 “Cada um tem uma qualidade, pelo que eu vi a sua é o rosto. Você nunca vai fazer nenhum trabalho de corpo. Nem se fizer um milhão de abdominais.”
 Não é que a Dona fotógrafa tinha razão?
 Toca o meu celular é a menina:
 “Leo... Eu to aqui vendo um filme na casa de uma amiga. Você acha que a gente marca pra mais tarde, ou ainda marca outro dia?”
 “A gente já remarcou isso Carla.”
 “É, né?”
 “É.”
 “Sabe o que é? Eu não estou pronta pra sair com você? Preciso mais tempo.”
 Fiquei tão aliviado. Porque esta menina é um achado. Ouve todas as minhas histórias absurdas. Diz que me acha interessante e é linda.
 Depois aonde eu ia com ela num frio destes? Acabei indo almoçar com os amigos. Almoçar mesmo que hoje é domingo e acabou num almojanta.
 Chego em casa e toca o telefone. É a pessoa que eu mais queria que me ligasse. Não leitora, não é a Carla.
 “Só estou te ligando porque você diz que eu não ligo para você.”
 “Então é para provar que eu estou errado?”
 “Fui na D-Ege ontem.”
 “E eu quase fui na D-Ege ontem, juro! Uma amiga me chamou a Franziska!”
 “Então foi um desencontro.”
 “Foi.”
 “Pena.”
 “Ainda bem porque eu não estou pronto para te encontrar.”
 “Não está pronto?”
 “Isso, eu não estou pronto.”
 “E quando o senhor vai estar pronto, para me encontrar?” Ela ri.
 “Nunca. Eu nunca vou estar pronto para te encontrar.”
 “Leo, eu só te liguei para dar um oi, tenho que voltar a trabalhar.”
  Sinceramente acho que nessa minha vida eu já tive muitos encontros. Muitos. E mesmo assim eu não tenho conselho nenhum para dar. Apenas sonhe.
 E acredite alguns encontros são até melhores que nos nossos sonhos. E não raras vezes com a mesma pessoa. Eu trocaria mil encontros com a mesma mulher do que mil mulheres lindas em milhares de encontros. Porque talvez num encontro a gente tem de encontrar.
 “Leo, eu só te liguei para dar um oi, tenho que voltar a trabalhar.”
 "Bom trabalho."
 "Fazemos assim, amanhã eu te ligo e quem sabe a gente não se encontra."
 "Ok, amanhã."
 "Amanhã."
 Eu rio.