segunda-feira, 6 de junho de 2011

O encontro.


 Marcamos de sair lá pelas oito horas. Da noite, claro.
 “Eu te pego ou você me pega?”
 “Vamos ser machistas Leo. To te mandando o endereço.”
 Ela disse que sairíamos como amigos. Cinqüenta por cento delas me falam isso no primeiro encontro. Calma leitora, eu não tenho tantos encontros assim. Aliás, esta menina em questão, já são alguns meses em que venho trabalhando nela. Claro tudo virtualmente e pelo telefone. 
 Manda-me torpedo de madrugada. Ouviu minha vida toda já.
 Eu também já sei tudo da dela. Sobre o cara que a abandonou. Sobre os currículos que ela vem mandando para empresas. Sobre a família. Sobre o trabalho. Sobre os namorados antigos.
 Enfim. Oito horas, dá tempo de nadar, tomar banho e chegar um pouquinho atrasado como o meu avô ensinou. Afinal “amigos” sempre se atrasam.
 Essa menina me lembra aqueles filmes americanos. Sabe leitora, quando o roteiro é sobre duas pessoas carentes que se aproximam se tornam amigos? E depois numa noite qualquer, eles se encontram bebem um vinho e acabam se beijando sem querer.    
 Pior é que eu não estou apaixonado por esta menina. Apesar de ela ser bem bonita. Conheci numa festinha, uma reunião na casa de um amigo. Diz que gosta de me ouvir. Louca.
 Quando eu tinha vinte anos coloquei na cabeça que queria ser modelo. Top-model, sei lá como se chama hoje em dia. Um manequim. Deram-me o telefone de uma fotógrafa e ela disse que eu deveria ir lá no seu estúdio antes para uma entrevista. Para ver se eu tinha o perfil de um modelo.
 Passei na entrevista. Marcamos as fotos para mesma semana. Mas no dia senti que não estava pronto. Achei que eu estava gordo, meio barrigudo.
 “Oi Dona fotógrafa, você é gatinha e tal... Foi super legal comigo, mas eu acho que não estou pronto para as fotos agora.”
 “Como assim? Eu te vi anteontem e você estava ótimo.”
 “Mas eu estou meio gordo e acho que tenho que fazer umas flexões e uns abdominais antes do book de fotos.”
 “Olha... É Leo, né?”
 “É.”
 “Cada um tem uma qualidade, pelo que eu vi a sua é o rosto. Você nunca vai fazer nenhum trabalho de corpo. Nem se fizer um milhão de abdominais.”
 Não é que a Dona fotógrafa tinha razão?
 Toca o meu celular é a menina:
 “Leo... Eu to aqui vendo um filme na casa de uma amiga. Você acha que a gente marca pra mais tarde, ou ainda marca outro dia?”
 “A gente já remarcou isso Carla.”
 “É, né?”
 “É.”
 “Sabe o que é? Eu não estou pronta pra sair com você? Preciso mais tempo.”
 Fiquei tão aliviado. Porque esta menina é um achado. Ouve todas as minhas histórias absurdas. Diz que me acha interessante e é linda.
 Depois aonde eu ia com ela num frio destes? Acabei indo almoçar com os amigos. Almoçar mesmo que hoje é domingo e acabou num almojanta.
 Chego em casa e toca o telefone. É a pessoa que eu mais queria que me ligasse. Não leitora, não é a Carla.
 “Só estou te ligando porque você diz que eu não ligo para você.”
 “Então é para provar que eu estou errado?”
 “Fui na D-Ege ontem.”
 “E eu quase fui na D-Ege ontem, juro! Uma amiga me chamou a Franziska!”
 “Então foi um desencontro.”
 “Foi.”
 “Pena.”
 “Ainda bem porque eu não estou pronto para te encontrar.”
 “Não está pronto?”
 “Isso, eu não estou pronto.”
 “E quando o senhor vai estar pronto, para me encontrar?” Ela ri.
 “Nunca. Eu nunca vou estar pronto para te encontrar.”
 “Leo, eu só te liguei para dar um oi, tenho que voltar a trabalhar.”
  Sinceramente acho que nessa minha vida eu já tive muitos encontros. Muitos. E mesmo assim eu não tenho conselho nenhum para dar. Apenas sonhe.
 E acredite alguns encontros são até melhores que nos nossos sonhos. E não raras vezes com a mesma pessoa. Eu trocaria mil encontros com a mesma mulher do que mil mulheres lindas em milhares de encontros. Porque talvez num encontro a gente tem de encontrar.
 “Leo, eu só te liguei para dar um oi, tenho que voltar a trabalhar.”
 "Bom trabalho."
 "Fazemos assim, amanhã eu te ligo e quem sabe a gente não se encontra."
 "Ok, amanhã."
 "Amanhã."
 Eu rio. 

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