sábado, 17 de setembro de 2011

Complicada e perfeitinha.


 Quando estamos apaixonados parece que as outras mulheres percebem. A garçonete me olha a cada dez segundos. Peço uma ajuda:
 “Pra beber. O que você sugere?”
 “Olha, nesse frio, eu to quase sentando com você e tomando um vinho.” Ela me diz sorrindo. Deve ter uns vinte anos.
 De repente uma outra mulher senta-se na mesa e para surpresa dos meus amigos me pergunta se eu sou Libanês. Diz que é por conta dos meus traços. Deixa-me um cartão e pede para eu ligar.
 O gordinho com uma mochila nas costas atravessa a Avenida Paulista correndo. Os carros quase o pegam. Sua barriga vai à frente.
 À noite vou ao concurso de Miss Universo.
 Ela é mais linda do que qualquer miss.
 “Quando eu te vejo de novo?”
 “Nunca mais.”
 Ela me diz assim. Depois de passarmos a noite juntos.
 “Você é doida.”
 “Não Leo. Você é que é doido por mim.”
 “Sabia que eu nunca abri a porta do carro para mulher nenhuma?”
 “Todos os homens sempre abrem à porta do carro pra mim!”
 Quando estamos apaixonados os mesmos lugares tão cotidianos se tornam tão interessantes.
 “Nossa como você está gatinho! Adoro o seu cheiro!”
 “Você também está... Bem bonita.”
 “To indo viajar.”
 “Pra onde?”
 “Outro País.”
 “E volta quando?”
 “Não sei. Mas você ainda tem algumas horas.”
 Quando estamos apaixonados nós vemos uma beleza até no gordinho que atravessa a Avenida Paulista. Adoramos o filme comercial. Amamos o prato feito, com arroz feijão. Eu pelo menos me sinto mais homem. Vou beber com meus amigos. Fico até com vontade de ter um time de futebol.
 O mundo começa a fazer todo sentindo. A profissão dos meus amigos deixa de ser um assunto monótono.
 As amigas dizem para eu usar camisinha.
 “Mas se eu usar camisinha como eu vou ser pai?”
 E ela vai cantando um samba.
 E eu descubro que gosto muito de mulher. Ainda mais esta, que é complicada e perfeitinha. 

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Complicada e perfeitinha.

    Caro Leonardo, quando estamos apaixonados parece que somos outra pessoa. Descobrimos uma pessoa nova em nós. Nosso cérebro primitivo intervém de tal maneira que o desejo passa ser nossa única razão e, satisfazer esse desejo; quem não gosta?
    Algumas partes do nosso cérebro relacionam o ambiente e a cultura às nossas respostas e os estímulos visuais são os galardões que oferecem as mais inenarráveis sensações de prazer.

    O resultado das investidas nesta química da ciência pode ter maior ou menor eficácia e, para nossa tristeza tudo depende do outro. Pode haver maior indignação do que saber que o outro tem nas mãos este poder?
    Razão, fantasia, emoção e aprendizagem se misturam é tudo realmente complicado e perfeitinho.
    Existe um limite de tempo para homens e mulheres sentirem os arroubos da paixão, os estudiosos dizem até que tem prazo determinado, mas, os espertos em paixão, aquels que as vivenciam, são assim simples: Dizem que a parte mais interessada tem de saber o exato momento de entrar em cena ou, sair dela.
    É...os neurotransmissores cumprem sua função, os cientistas explicam, o poeta declama, o cronista expõe, mas, no final, tudo está, na mão do outro. Que dor.
    Bjo
    Parabéns pela crônica.

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