segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Verde que te quero. E um dia madura quererei também.


 Dizem que o Imperador Adriano de Roma queria avançar sempre em direção ao leste. Para o oriente. Ao norte não havia nada. Só uma imensa Europa entediante e bárbara. Segundo ele.
 Foi o primeiro a vislumbrar Roma eterna. Que seria uma continuação da cultura Grega. Adriano era Espanhol.
 Um tijolo demorava cerca de um ano até chegar ao topo da Torre de Babel. Era preferível um homem cair lá de cima a um tijolo.
 Mas o que tem tudo isso a ver?
Este final de semana ao invés de ir em direção a praia ou ficar nas torres da capital, eu fui para o interior.
 Fiquei pensando em você. Muito. Sonhando. Nada daquilo de ver o mar e dizer que ele agora é mais belo por sua causa. Vontade nenhuma de escrever poemas. Pra falar a verdade eu nem pensei em mar. E nem sei fazer versos. 
 O interior parece um imenso mar verde. O mesmo verde dos teus olhos. Com raios de sol da cor do seu cabelo.
 Manga, jabuticaba e cachorros.
 Cada mulher que eu chamo pra provar é como uma jabuticaba da árvore que apanho. Sempre na esperança de ter o teu gosto. E elas nunca têm. São jabuticabas.  
 No interior a gente se sente um estrangeiro, mas não é. Pois a terra é vermelha que nem a da Capital. E os seres são Paulistas que nem os do Sitio do Pica Pau Amarelo.
 E daí vou há um casamento. E penso que já sou velho pra ser noivo e você jovem pra ser noiva.
 A chuva dança lá fora e as pessoas ouvem música e comem na festa.
 A noite no interior é diferente. Adriano teria ficado triste, pois não há mais Roma. Nem a quantidade de línguas da torre de Babel.
 Aquilo tudo é tão calmo e tudo tão certo. Como se no interior não houvesse maldade. E o café nasce ali. Pra ser tomado de manhã.
 E você tem cheiro de leite.
 E aquele horizonte infinito dá uma solidão.
 Então eu pego um livro e leio, leio, leio, leio, mas não quero nunca chegar ao fim. Quero que você me alcance.
 O que é um egoísmo meu. Porque você deve aproveitar cada capítulo. Saborear devagar.
 Mas se um dia. Se um dia a sua curiosidade te fizer abrir o livro no meio, e você começar a ler...
 O sol se pôs. Você ficou no escuro. Mas você não tem medo e logo se encanta com as estrelas do céu.
 Porque a vida pra você é uma felicidade de um fim de semana na fazenda.
 Dizem também que diretores e dramaturgos se apaixonam por atrizes. E eu já te disse que eu não sei se me apaixonei pela atriz, pela menina, pelo personagem... Pelo personagem eu tenho certeza.
 Ou se foi pela mulher que está aí escondida dentro da moleca. Acho que foi pelo ser humano todo. Pela inteligência. Pela personalidade.
 To adorando este tal de amor platônico.  
 E não vou escrever K e Leo na árvore, porque tenho noção do ridículo.     

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Mulheres desinteressantes.

Em principio todas as mulheres bonitas são interessantes. Em principio. Pelo menos para mim. Mas aqui vou falar de mulheres bonitas, mas com almas e com personalidades desinteressantes.
 Desinteressante para mim leitor. Vamos ao primeiro tipo:
 Delegado do DOPS no corpo de um anjinho:
 “Ale vamos sentar ali perto da janela?”
 Aquela loirinha frágil de voz sensual me perguntava. Mas será que ela não sabe que o meu nome é Leo? E não Ale. Eu quis corrigi-la, mas de repente me deu um branco.
 “O...” Será Gabi, Camila, Luana? Por falta de opção. Confirmei com um sim. E ela:
 “Tá bom então aqui?”
 “Tá. Tá ótimo.”
 Nós já tínhamos saído anos antes. Uma única vez. As coisas até que estavam indo bem, quando, nesta primeira vez, eu acho que fiz um comentário que ela não gostou. Ela tinha dito:
 “Quando te perguntarem uma coisa. Responde? Tá.”
“Claro. Me diga uma coisa. Por um acaso, olha o que eu vou te dizer é sutil, mas por acaso, alguém já te disse... É discreto...”
 “Disse o que? Pergunta logo.”
 “Que você é um tanto quanto estrábica?”
 Depois desta, ela me fez levá-la embora do restaurante direto para sua casa, sem beijo de despedida.
 Bem, anos se passaram e estávamos ali agora, nos dando uma segunda chance. Um segundo jantar. 
 “Você ainda é palhaço Ale?”
 “Acho que vou ser palhaço...”
 “Ai desculpe Leandro, eu aqui te chamando de Ale, faz um tempão”. Ela disse isso sem sorrir. Aliás, este anjinho não sorri. Pelo menos comigo. Ela deixou bem claro que não gosta de deboche, piada, enfim humor em qualquer forma. De que será que ela gosta? Da morte?
 Meu nome é Leo, eu queria dizer. Mas também não lembrava o nome dela. Ah! Lembrei, é Danila. Mas será? Existe Danila? Dalila?
 “Então Leandro, você é muito esquisitinho. Você não pode sair por aí falando o que você quiser e dando uma de Zé Celso, subindo em cima da mesa e tirando a roupa. Você deve respeitar as pessoas Ale.”
 O que é que esta menina agora está dizendo? Zé Celso? Seria aquele diretor de teatro? Deve ser. Provavelmente ela está me confundindo.
 “Você pensa o que Ale? Uma conversa deve ser solidária. Que nem agora. Olha aí. Essas coisas que você faz. Fica aí parado me olhando, sem falar nada.”
 Será que uma noite, uma relação sexual vale tanto esforço? Eu tentei elogiar a entrada do prédio dela. Ela disse que era uma entrada comum.
 Eu disse que deveria ser muito bacana trabalhar na Berrini. Ela disse que era horrível. Eu disse, mentindo claro, que deveria ser muito bacana trabalhar numa empresa enorme. Ela disse que não, que era um stress e muito trabalho, não gratificante.
 “Vamos mudar o tópico da conversa Le? Posso te chamar de Le, não posso?”
 Claro que pode, Le é algo válido tanto pra Ale, Leandro ou Leo. Aquela menina tinha códigos, condutas, normas, formulários a conversa não fluía. Eu a desejava, por outro lado transar com o delegado do DOPS?  Sim, a alma dela era de um conservadorismo, algo tão reacionário.
 As mulheres dizem que os homens são seres insensíveis. Sei lá eu. De homem só conheço este aqui que escreve, eu mesmo.
 Agora tem cada coisa por aí. Cada mulher tão indiferente a poesia, aos sonhos, a fantasia. Às vezes são lindinhas, mas debaixo daquilo, da pele, elas são senhorinhas retrógradas.  
 No fundo eu acho que a... Danila deva ser muito infeliz. E por algum motivo não quer que eu seja feliz.
 Diz que não podemos falar o que pensamos por ai. Claro que podemos. Podemos até escrever o que pensamos. Porque os pensamentos são nada mais que sentimentos.
 Uma mulher que não sabe mais olhar olho no olho. Que fala com um garçom sem olhar na cara dele. Isso é ser civilizado? Corram! Invasões bárbaras!
 “Eu acho que um homem só amadurece aos 80 anos.”
 Foi com esta frase que eu saquei a menina.
 Eu nunca bati em mulher nenhuma. Nem uma ex-namorada tem queixas ou rancor de mim. Nunca explorei mulher, nunca enganei. Eu gosto muito de mulher. Mas daí a dizer que são seres mais frágeis, sensíveis e oprimidos. Não sei? Eu como feminista sei que existem muitos criminosos por aí.
 Mas me tratar como um ser humano a ser concertado? É fazer comigo, o mesmo que por milênios, fizeram com vocês mulheres.
 Desconfio as vezes que nem todo machismo nasce de um homem.
 “ Você não acha Ale que eu estou contribuindo para melhorar você?”
 “Claro que está menina. Você nem imagina como.”  
   
  

   

sábado, 19 de novembro de 2011

Somos o futuro da nação.


 Estava no teatro. Eu e meu amigo tínhamos pegado lugares separados. Era uma peça concorrida. A enorme platéia estava lotada. Eu fiquei lá no fundo. Ao meu lado um casal de jovens.
 É muito raro ver jovens no teatro. Ainda mais numa peça de uma companhia francesa.
 Eram os dois algo meio underground. O rapaz tinha um brinco bem interessante. Uma argola de um material que nunca tinha visto. Um tênis bem suave e camisa xadrez. Parecia mais pé no chão que a menina. Um futuro publicitário talvez. Havia nele algo de maduro. Alguém que curte estar entre os contestadores, mas que é absolutamente a favor do establishment. Ele poderia ser latino, mas tinha também algo nórdico na aparência. Poderia ser desde um anglo-saxão até um espanhol.
 Já ela era mestiça. Japonesa talvez. Ela era um tipo mais sensível. Cabelos coloridos, um ar de loucura. De alguém que mexe com criatividade e poesia. Parecia uma artista plástica. Alguém mais franciscana. Tinha um piercing no nariz.
 Quatro horas de peça, não me contive e puxei conversa durante o intervalo.
 “Vocês fazem teatro?”
 Eles riram e me disseram que não. Então perguntei se eram artistas. Se eles estudavam teatro. Outra vez uma negativa. E então a menina perguntou:
 “Pareço uma artista?”
 “Muito” Eu disse. “Vocês estudam o que?”
 Foi então que me disseram que eles estavam no colegial. Eram namorados. Estudavam na mesma escola.
 E depois da minha surpresa, não lembro qual dos dois disse a frase. Acho que falaram juntos:
 “Somos o futuro da nação.”
 Já faz mais de um mês eu acho. E desde então eu quero escrever algo sobre isso. Mas não sei o que afinal  mexeu comigo ao ouvir isto deles. A frase. Eles terem dito aquilo me deixou confuso, nervoso. O Renato Russo fez esta letra, “Geração coca cola” antes deles nascerem.
 Uma letra que eu acho tão boba hoje. Tão sem sentido. Um casal tão rico, moderno, fortes, altos. Tão americanos. Cultos, bonitos, internacionais. Ele nórdico e ela japonesa mestiça de cabelos pintados.
 Eles não tinham nada de Giberto Freire. Nada de Caio Prado Junior. Nada de Sérgio Buarque de Holanda. Nada de Leo Chacra e muito de Steve Jobs.
 Aqueles meninos estavam no SESC. Nenhum norueguês da idade deles tem acesso a coisas que eles não têm. Aquele casal não eram seres colonizados. São cidadãos inclusos.
 Eu não sei de que planeta eles vieram. E de que futuro e de que nação eles estavam falando. Mas eles, o casal de jovens é o que a humanidade tem de melhor. Eles são o esforço de milênios de cientistas, artistas, filósofos, políticos.
 Eles são o esforço de séculos de brasileiros que lutaram e morreram para termos gente como eles. E não eram a tal zelite não. Eles eram classe média, estavam lá de metro. Estavam lá porque queriam ver teatro.
Talvez eles ainda sejam exceção. Talvez sejam muito poucos. Mas nós vivemos os anos de ouro. Vivemos sim. Eles já transcenderam a própria idéia de “geração”, palavra, aliás, inventada pela geração baby boom.    
 “Que País é esse?” Eu não reconheço mais o Brasil. Aqueles meninos falam a mesma língua que eu. E só.
 Eu me emocionei ao ver a bandeira do Brasil ser hasteada na favela da Rocinha no Rio.
 Aquele casal, no fundo, no fundo mesmo, eles disseram aquela frase pra agradar. Eles eram cultos e espertos. Sabiam que eu conhecia muito bem a frase. Foi para me agradar. “Uma frase do seu tempo tiozão.”
 Até então nos meus 37 anos de vida eu nunca vira algo assim. Brasileiros sem a menor vergonha de ser brasileiro. Com uma segurança na voz e no olhar: “O mundo é nosso”.
 The world to be Brasil.