domingo, 15 de abril de 2012

O bosque dos eucaliptos.


Era um bosque com enormes eucaliptos. O dia estava mais para o frio do que para o calor. O carro parou. Fizeram com que ela descesse. Devia ser de tarde. Um vento gostoso soprava nas folhas das árvores.
 Era tanto silencio que se ouvia o vento. Então é o fim. Ela pensou em quantas pessoas ao longo da história, não haviam sido assassinadas. Em quantos animais também. Ficou triste por todos, mas não por ela mesma. Pensou na sua mãe e família, em como todos ficariam tristes. Era o começo da década de 70.
 Um dos homens se aproximou e disse:
 “Nós vamos te soltar. Mas você tem de sumir para sempre.”
 Então entraram no carro e sumiram.
 Carlos Paiva era um industrial, também fazendeiro e no ramo da construção civil. Diziam que o seu patrimônio com ajuda do BNDES girava em torno de uns 300 milhões. De reais. Seu quinto neto nascera há uma semana.
 Ninguém sabia muito de onde era Carlos Paiva, algum interior de Minas Gerais é o que diziam. Casou-se em 1972 com Silvana, a filha de Mário Chirolli, um rico industrial. Agora estava ali com um sujeito que dizia ter provas de que ele Carlos Paiva, na verdade fora um guerrilheiro durante os anos de chumbo.
 A questão não era convencer aquele rapaz de que ele fora ou não um guerrilheiro, mesmo porque a própria presidenta fora uma guerrilheira.
 Era a de descobrir se ele, o rapaz, sabia das dezenas de assassinatos que Carlos havia cometido ainda durante o período militar, para que sua verdadeira identidade não fosse revelada.
  O rapaz falava em comissão da verdade e que dia menos dia tudo seria revelado. Por fim disse o objetivo de sua visita:
 “Senhor Carlos, em breve se nada for feito, toda a sociedade saberá do seu passado”.
 “Meu passado? Mas todos sabem do meu passado.”
 “Todos sabem que o senhor nasceu no interior de Minas, veio a São Paulo estudar, casou-se e se tornou um rico e honesto empresário. Um pai exemplar, um patrão amigo, um cidadão filantropo, conservador, católico...”
  Carlos Paiva orgulhoso ia concordando com a cabeça e sorrido.
 “Pai de três filhas maravilhosas, sócio de clube tradicional, empreendedor, um pouco reservado aos eventos sociais, mas alguém conhecido nas grandes rodas. Mas o que não sabem é que você era um espião dos subversivos.” Carlos fez uma cara ensaiada de espanto.
 Como aquele rapaz de trinta e poucos anos poderia saber de tudo. As pessoas envolvidas haviam sido eliminadas. Os próprios assassinos haviam sido assassinados por ele. Em que ponto precisamente, a história vazara. Era o que ele queria descobrir.
 “O senhor Carlos Paiva, tem um segredo. O de que ainda jovem foi introduzido nas altas rodas com a missão de espionar a direita no Brasil.”
 “Esta é a história mais absurda que já ouvi. Não vou dizer que não a achei criativa. E já que o senhor não pode prová-la, por quanto estaria disposto a me vender os direitos desta ficção?”
 “Uma das testemunhas das quais o senhor tentou assassinar, Eleonor Siqueira, está viva e hoje vive em Sorocaba". 
 “Nunca ouvi falar de Eleonora.”
 “O caso é o seguinte, se o senhor me der um incentivo, eu posso garantir que o senhor e todos vão ficar sem ouvir falar de Eleonora Siqueira. “
 “Um incentivo de quanto?”
 “Sua casa na praia da Baleia.”
 Carlos depois de muito pensar acabou por fechar o acordo com o Rapaz. Um apartamento no Guarujá e um carro Toyota Corolla usado.
 O rapaz voltou rico e feliz para casa, e naquele dia, digo noite, pediu uma pizza, para comemorar junto com a sua mãe. A ex-guerrilheira Marlene Damasceno.
 Semanas depois, mãe e filho, leram no jornal sobre a morte da ex-guerrilheira Eleonora Siqueira em Sorocaba.
  “Olha só o que fizemos mãe! Você sabia que Eleonora ainda estava viva?”
 “Claro que sabia. Eu era Eleonora Siqueira. Mas eu ia adivinhar que o Carlos Paiva ia sair matando qualquer Eleonora Siqueira?”
 Qual não foi a surpresa de Carlos Paiva, ao receber o recado de sua secretária sobre um rapaz que estava lá para vê-lo. O mesmo rapaz de dias antes. Aquele mesmo, dizia a secretária. Um que parece seu parente Dr. Carlos.
 “Você de novo? Em que posso ajudá-lo agora?” Quis saber Carlos Paiva.
 “É sobre uma questão de paternidade Seu Carlos. Veja bem, eu conheço um rapaz que parece que é seu filho.”
 “Sei. E quanto este rapaz quer para sumir da minha vida?”
  “A sua casa em Campos do Jordão”.
 “Fechado. Vamos comemorar.” Sorriu Carlos. 
 Desta vez Carlos chamou apenas um segurança. Seguiram para o interior. Saíram do asfalto, e entraram numa pequena estrada de terra. Foi quando o rapaz viu um bosque com enormes eucaliptos. O dia estava mais para o frio do que para o calor. O carro parou. Fizeram com que ele descesse. Devia ser de tarde. Um vento gostoso soprava nas folhas das árvores.
 Era tanto silencio que se ouvia o vento. Então é o fim. Ele pensou em quantas pessoas ao longo da história, não haviam sido assassinadas. Em quantos animais também. Ficou triste por todos, mas não por ela mesma. Pensou na sua mãe e família, em como todos ficariam tristes.
 Viu ainda a arma preta ser apontada na sua direção. Depois o barulho do tiro. Caiu. O carro se afastou enquanto o vento soprava nas folhas dos eucaliptos. E a poeira era levantada na estradinha. 


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